por Olavo de Carvalho
Se há um brasileiro insuspeito de simpatias para com qualquer político, sou eu. Já escrevi o diabo contra todos eles, sempre da maneira mais descortês que me ocorresse no momento. Se falhei e dei a impressão de crítica construtiva — de reprimenda fraterna, como diz a Igreja — juro que não foi essa a minha intenção. Jamais quis corrigir nenhum deles: o que eu queria mesmo era mandá-los todos de volta para suas atividades particulares, se alguma tivessem.
Mas uma coisa tenho de reconhecer: o senador Gerson Camata (PMDB-ES), que pediu uma CPI sobre a ligação entre o Foro de São Paulo, as FARC e aquelas entidades comedoras de dinheiro conhecidas pelo nome pomposo de "movimentos sociais", é digno do meu maior respeito e consideração. Foi o primeiro político brasileiro a cumprir um dever que era de todos, e do qual todos fugiram ao longo de duas décadas e meia, uns por preguiça e covardia, outros porque lucravam com a omissão.
Não creio, porém, que a iniciativa do senador prospere — principalmente agora, quando a volta da guerrilha, subitamente revelada por uma reportagem da IstoÉ, arrisca tornar patente a imensidão de um concurso de crimes que a todo o establishment esquerdista interessa ocultar.
Nunca ouvi uma mentira mais sonsa, mais ridícula, mais desprezível, do que aquela história de o dossiê anti-tucano ter sido obra de um tucano infiltrado no PT. Mas não vou me meter nesse assunto, pois já não posso, sem ser acusado de "compadrio", defender nenhum jornalista acossado pela máquina petista de cortar cabeças. Eles, os mocinhos da fita, os bondosos, os humanitários, os gostosões, podem repartir entre seus amigos os cargos mais altos na profissão, as verbas mais polpudas nas universidades e instituições oficiais de cultura, os postos mais saborosos do alto funcionalismo público, como se a mídia, o Estado e o país inteiro fossem seu feudo comunitário.
Mas eu, se insinuo mesmo levemente que o outro lado tem seus direitos, que não há mal nenhum em que a minoria das minorias dê sua opinião com alguma liberdade, torno-me instantaneamente um corporativista maquiavélico.
Por isso, mesmo sabendo que tudo o que Reinaldo Azevedo tem escrito na Veja é verdade e que o ódio que tantos despejam sobre ele é prova de que têm muito a esconder, nada direi em favor dele. Nem direi que sua última crônica naquela revista, malgrado uma referência simpática a Voltaire que eu jamais subscreveria, é leitura indispensável a todos os brasileiros pensantes, membros de uma raça em extinção. Não direi, pensando bem, coisa nenhuma.
Se dezoito brutamontes cercarem o Reinaldo na rua para esmigalhar sua ossatura a pauladas, ficarei bem quietinho, para que ninguém saia espalhando que sou um mafioso empenhado em defender interesses sórdidos da camarilha direitista que, segundo o senhor presidente da República, governa este país há quinhentos anos.
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Por idênticas razões, não anunciarei nesta coluna o livro do coronel Lício Maciel, Guerrilha do Araguaia. Fingirei ignorar que o lançamento será dia 8 de abril, às 17 horas, no Clube Militar do Rio de Janeiro, Avenida Rio Branco, 251, sobreloja. Muito menos hei de sugerir que alguém seja malvado o bastante para chegar a ler esse depoimento, perfeitamente desnecessário uma vez que o autor já foi julgado e condenado pela mídia esquerdista, mais infalível do que a Santa Inquisição.
Pouco a pouco, sutilmente, imperceptivelmente, nossos compatriotas vão se acostumando à ideia de que "ouvir o outro lado" é extremismo de direita.
Eu mesmo já começo a meditar os benefícios da surdez, só comparáveis aos de um subserviente mutismo.
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