por Marco Antonio dos Santos
Você quase não os vê (porque são poucos, para um Brasil tão grande), mas eles existem. Aliás, insistem em fazê-lo.
Eles estão sempre prontos na hora que o Brasil precisa de alguém:
— eles estão lá na Fazenda Jarinã-MT;
— Aceitam morar na Amazônia e em outros lugares inóspitos e insalubres;
— insistem em continuar cumprindo com suas atribuições constitucionais, apesar de anos a fio de orçamentos gradativamente depauperados;
— fazem questão de constituir famílias (são ousados) e de tentar sustentá-las com os minguados salários; substituem forças de segurança em greve, cujos integrantes recebem vencimentos superiores aos seus (e ainda se julgam com direito de majora-los), só porque acreditam ser essa sua missão diante da Nação que os paga (ainda que mal) e os alimenta (parcialmente);
— constantemente têm atirados ao rosto questionamentos a respeito de sua utilidade e procuram justificá-la perante os ignorantes, revanchistas e derrotados no campo da luta ideológica e que se vingam lançando sobre eles falsas acusações difusas nas quais espelham, em realidade, o medo que a sociedade os chame de volta, como sempre o fizeram no passado histórico (aliás, a Nação tem o estranho hábito de recorrer a eles nos momentos de perigo);
— porque agem assim? Porque acreditam em valores e têm princípios. Além disso, a hierarquia lhes impõe submissão. A disciplina, o silêncio;
— perigo haverá quando deixarem de acreditar nos valores, perderem os princípios (como muitos segmentos da sociedade já o fizeram), a hierarquia for quebrada, a disciplina não mais justificar o silêncio e não puderem cumprir a missão que a Nação lhes atribui, por terem exaurido suas forças;
— agora, a elite conjuntural governante (ou desgovernante) parece ter um grande problema: como conceder a esses estoicos anônimos, que não têm o direito de greve ou de reivindicação por meio de outros movimentos paredistas (e nem devem tê-los, acredito) a correção do desgaste nos vencimentos (muito inferiores aos de categorias afins)? Afinal, eles já deveriam ter desaparecido (embora sejam partes de uma Instituição Permanente, como reza a Carta Magna), mas insistem em ter os maiores índices de aprovação popular nas pesquisas comparativas em relação a outros segmentos da chamada sociedade organizada.
— Alegam, os usuários do poder, falta de recursos, comprometimento do superávit primário, dificuldades com a previdência etc, toda uma ladainha que já beira as raias do ridículo, que a sociedade já reconhece como esfarrapadas, enquanto promovem desmandos e beneficiam bandidos e terroristas com polpudas indenizações vitalícias.
Em realidade, é preciso tirar-lhes os brios e os méritos, humilhá-los ainda mais, quebrar-lhes o ânimo. Quem sabe, assim, desistam de existir.
Mas parece que eles têm uma infinidade de vidas. São piores que a fábula das sete vidas dos gatos. Quando morrem, apenas se reagrupam na eternidade. Eles acreditam na Justiça e no ciclo da História. Talvez tenham aprendido a lição e não deixam que ela se repita. Um de seus antigos chefes já advertiu para a cólera das legiões.
Eles são os militares!
Apenas querem cumprir sua missão. Os políticos ainda não perceberam que o risco é infinitamente menor quando eles estão equipados com as melhores armas e idéias que a Nação puder lhes dar, conforme, sabiamente, profetizou o General Douglas MacArthur.
São preparados para sobreviver na adversidade. Alimentam-se da fé em suas crenças. Não pedem muito, apenas o mínimo — o respeito —, sem humilhações.
O perigo existirá quando acreditarem que estão por isso sós.
Marco Antonio dos Santos é empresário e professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário