por Janer Cristaldo
Não tenho maior apreço por Gisele Bundchen. Nada pessoal. É que não tenho apreço algum pelas celebridades construídas pela mídia. Sem querer bancar a raposa ante as uvas: se a encontrasse em um bordel, seria a última das mulheres que eu pensaria fretar. Não que ela seja feia, nada disso. Mas é de uma beleza insípida, hollywoodesca, sem sal. Pessoalmente, prefiro mais tempero.
Dito isto, a moça está sendo alvo de uma sórdida campanha desfechada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, que enviou, na terça-feira passada, um ofício ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pedindo a suspensão de uma campanha da fabricante de roupas íntimas Hope, estrelada pela modelo.
Os vídeos da campanha, chamada “Hope Ensina”, mostram a Bundchen contando ao marido que bateu seu carro e estourou o limite do cartão de crédito. Primeiro, Gisele revela os problemas vestida com roupa e, na sequência, apenas de lingerie. A propaganda diz que a primeira maneira é errada e, a segunda, a correta. E incentiva as brasileiras a usar seu charme.
Segundo a SPM, a campanha da empresa ensina como a sensualidade pode deixar qualquer homem derretido. Nela, a modelo Gisele Bundchen estimula as mulheres brasileiras a fazerem uso do corpo e insinuações “para amenizar possíveis reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano”.
E daí? Qual mulher não usa suas armas para passar bem? Segundo a ministra Iriny Lopes, que pediu a suspensão da propaganda, há queixas de que a campanha da Hope reforça o estereótipo da mulher como objeto sexual e ignora as conquistas da sociedade contra o sexismo (discriminação baseada no sexo). Por isso, o comercial da Hope estaria infringindo os artigos 1° e 5° da Constituição Federal que tratam da dignidade da pessoa humana e da igualdade perante a lei, respectivamente.
Ou seja, voltamos aos meados do século passado, quando as feministas — inspiradas em Simone de Beauvoir — lançaram a ideia estúpida de objeto sexual. Curioso observar que só a mulher é objeto sexual. O homem, nunca.
Ora, sexo é um valor, moeda que sempre teve alta cotação ao longo da história. Por que as mulheres não podem utilizá-la? Há um ranço católico tardio, empunhado pelas feiosas, nessa investida da SPM. Se o leitor procurar uma foto da ministra Iriny, forçosamente há de concordar comigo. A moça — estou usando de um eufemismo — está no PT desde 1984 e pertence à ala mais radical do partido, simpática ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), aquela quadrilha de narcotraficantes que se pretendem guerrilheiros. Nada sei da ministra, mas é bastante provável que tenha um passado igrejeiro. Feia ela é. Só falta ser católica.
Só o que faltava, neste país em que a sensualidade feminina é usada até para vender pneus e parafusos, proibir que uma modelo use seus atributos para seduzir o marido, em uma peça publicitária. A história é antiga e se repete. Ano passado, o anúncio de lançamento da cerveja Devassa Bem Loura, estrelada por Paris Hilton, caiu na mira do Conar, que abriu quatro processos contra a campanha do Grupo Schincariol, criada pela agência paulista Mood.
Três dos quatro processos diziam respeito ao suposto excesso de apelo sexual contido na propaganda veiculada na TV e no site da marca. A primeira denúncia foi de um consumidor, que reclamou da abordagem sexualizada das peças. A segunda reclamação era proveniente da famigerada Secretaria de Políticas para Mulheres, que alegou que a propaganda tinha conteúdo sexista. O terceiro processo foi aberto a pedido da Cervejaria Petrópolis, concorrente do Grupo Schincariol, que produz as cervejas Itaipava e Petra, entre outras. A fábrica concorrente também alegou que o conteúdo da campanha é muito sensual.
Pecado. Anátema seja! O anúncio, exibido na TV durante o carnaval passado, mostrava a modelo norte-americana dançando e fazendo poses dentro de um apartamento. Vestida com um vestido preto, Paris Hilton pega uma lata da cerveja da geladeira e passa a lata por seu corpo, enquanto é observada por admiradores que estão na praia e fotografada por um homem, aparentemente seu vizinho. O Conar considerou que o comercial fazia apelo sexual e o removeu do ar.
Sou totalmente refratário ao mundo da publicidade. Abomino toda e qualquer propaganda. Tenho um olhar seletivo. Um jornal pode anunciar um produto qualquer em página inteira e eu não o enxergo. Aconteceu há alguns anos. Eu lia um jornal em um café e fui abordado por uma marqueteira. Queria saber se eu havia visto algum anúncio das casas Bahia. Respondi que não. Ela pegou o jornal e mostrou-me. Havia seis anúncios das tais de casas, de página inteira e de meia página. Eu não havia visto nenhum.
Posso ser refratário à publicidade, mas sei muito bem em que mundo vivo. Vivo no Ocidente capitalista, cuja mola é a publicidade. Em minhas andanças, encontrei não poucos publicitários que se pretendiam de esquerda. Não fecha. Capitalismo nada tem a ver com esquerdas. Publicidade tem de apelar ao que promete prazer aos consumidores. Sexo ainda é, desde o início dos tempos, o mais poderoso fator de prazer. Ou a humanidade não se perpetuaria.
Só uma petista feia para censurar uma modelo bonita em uma propaganda de lingerie. Claro que a sensualidade deixa qualquer homem derretido. Se a Bundchen fosse feia como ela, certamente a ministra não estaria falando em objetos sexuais.
Fonte: Janer Cristaldo
COMENTO: não vou concordar plenamente com o ator do texto. Quanto à sua opinião sobre a Ministra, para não ser "politicamente incorreto", eu diria que ela não é feia, ela simplesmente não está em conformidade com os padrões de satisfação visuais masculinos. Quanto à propaganda em si, também discordo. Temos no Brasil muitas propagandas que são melhores de assistir do que a programação a que patrocinam. Me parece até que por trás desses "movimentos censuratorios" pode ter corrido algum "jabá" a fim de chamar a atenção do distinto público. A "censura" já alavancou tanta porcaria "neçepaíz" que "conhecendo os bois com que lavro", como costuma escrever o Janer, isso não me espantaria nem um pouco.
Acrescento, ainda, parte do texto do blogueiro Aluizio Amorim sobre o mesmo assunto: "A mesma Gisele Bündchen há alguns meses protagoniza uma hilária campanha para a TV paga Sky, onde aparece esfregando chão e limpando janelas, linda e submissa a um marido que não larga o controle remoto. Em uma das peças, ele a manda pegar cerveja. Em vez de um “por favor”, ele a chama de “gostosa”. Ninguém reclamou. "
Um comentário:
Ah,meu caro Mujahdin,
pra bonita a ministra não serve. Mas não descarto a sua hipótese de ter rolado um jabá para promover a publicidade. Publicitários não têm escrúpulos.
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