por Márvio dos Anjos
O que significa a aprovação de cotas de 50% de vagas das universidades federais para oriundos de escolas públicas? Essa é a pergunta que gostaria de fazer ao leitor, enquanto Dilma não sanciona a proposta.
Na sessão do Senado que aprovou as cotas, o senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou que apenas um em cada 10 estudantes do país estuda em escola particular. Ou seja, como argumento temos aí o tremendo fracasso da escola pública do país nas aprovações, o que já é também responsabilidade do partido do ilustre senador. O que o Senado está nos dizendo é: o governo não tem condições de proporcionar ensino capaz de concorrer com as escolas particulares, e a melhor saída para o acesso do aluno estatal à universidade federal tem que ser o atalho.
Universidades foram concebidas como centros congregantes de inteligência. A pesquisa científica, o avanço tecnológico e a interpretação dos rumos da civilização brasileira dependem desse conceito meritocrático de “melhores se reunindo para pensar e contribuir melhor”. Se ela não opera assim é outra história, e aí é o caso de repensar o papel dela, e não o acesso a ela.
Não posso fechar os olhos para o fato de que hoje um diploma universitário é vital para o desempenho de uma carreira, e as federais são uma grife e tanto. Mas justamente quem mais fala em ir contra as leis do mercado — a chamada “esquerda”, recheada de tantos intelectuais e acadêmicos — prefere fazer “justiça social” pelo viés mais mercadológico da educação acadêmica: o de que ela tem que preparar — ou melhor, chancelar — para o trabalho.
Vê-se também que a esquerda, não raro laica e até antiteísta, aposta demais num argumento igual ao da “culpa judaico-cristã” que despreza: o de que oriundos de certa classe ou cor teriam um “pecado original” a ser expiado por meio de gambiarras baseadas em cor e classe. Paim ainda afirma que “a rejeição desse projeto significaria não querer que os negros, índios e pardos tenham acesso à universidade”, um argumento tão válido quanto o de um chaveiro ruim que, incapaz de fazer chaves que abram a fechadura, bota a culpa no “preconceito” da porta e a arromba. Caso aprovado, o projeto de cotas dá o recado: nas escolas públicas, só somos capazes de ensinar o jeitinho.
Márvio dos Anjos é Diretor Editorial do Jornal Destak
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