sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rendição e Outros Conceitos Velhos e Novos, Úteis ou Inúteis à Sobrevivência

por Vania Cintra
Devo estar precisando voltar urgentemente à Escola básica para adquirir não só um vocabulário mais rico e flexível como conceitos novos, mais adequados à nossa “pós-modernidade”. Os meus se estão mostrando insuficientes e/ou ultrapassados. Muito equivocados.
Utilizando-os em meu raciocínio, eu diria que:
— uma placa, em bronze, dedicada à memória dos Cadetes mortos acidentalmente em treinamento militar já deveria ter sido providenciada por iniciativa do Comando da AMAN há muito tempo. A inexistência de tal placa é inexplicável e é também uma falha imperdoável. Todos aqueles que se apresentaram naquela Academia e cumpriram o que ela lhes exigia merecem grande consideração por terem, algum dia, desejado servir à Pátria — ou seja, por terem desejado nos servir, oferecendo, para tanto, sua própria vida. Nenhum deles estaria ali pretendendo pular corda, brincar de amarelinha ou jogar conversa fora;
a assistência médica integral prestada por um corpo de profissionais altamente qualificados e o controle constante, atento e rígido do estado de saúde dos alunos da AMAN são nada mais que uma obrigação resultante da responsabilidade do Comando da Escola. Selecionar instrutores íntegros e impedir a prática de agressões desnecessárias, igualmente. Se alguém se omite e, comprovadamente, essas providências não são tomadas por qualquer que seja o motivo (orçamentário inclusive), ou se alguém se excede em suas funções, desvirtuando-as, puna-se o indivíduo responsável (ou os indivíduos responsáveis, qualquer que seja a sua alçada), nunca a Instituição Militar, nunca o Estado brasileiro;
— determinar que, ao som de discursos e fanfarra, seja exposta ao público uma placa fixada na Academia Militar das Agulhas Negras com uma inscrição que declara que ela, Academia, e o Exército Brasileiro homenageiam os mortos em atividade de instrução em obediência ao que determina um “acordo de solução amistosa” celebrado entre o Estado Brasileiro e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, bem, isso não será outra coisa senão um imenso desaforo. É muita falta de respeito não só aos mortos na AMAN e aos que dela saíram vivos e cientes do que ali buscaram aprender a fazer bem feito, como também a todos os brasileiros, vivos ou mortos. E submeter-se a tamanha afronta é muita pouca-vergonha;
— se tal ato não significa a rendição incondicional a uma força internacional, força essa que, por luxo, é meramente verbal, ou seja, é só lero-lero, sem que qualquer resistência tenha sido sequer insinuada ou ensaiada, já não sei mais que poderia significar a palavra “rendição”. Nem sei mais que significaria a palavra “conchavo”. Ou a palavra “derrota”. Ou a palavra “covardia”;
— ao que se saiba, não estamos em guerra e ninguém nos invadiu ou ocupou o território militarmente. Nem por isso será absurdo concluir que estamos, todos nós, subordinados a um Comando ideológico inimigo muito semelhante, nos efeitos de sua ação, a um Comando invasor de fato. O Ministério da defesa-do-não-se-sabe-bem-quê não ordena ao EB que ocupe seu tempo — que, no entender de uns, é vago —, que empregue seus recursos — que, no entender de outros, são suficientes — e ofereça seu “braço forte” para encarregar-se de dar soluções eficazes, bem educadas e bem baratinhas a assuntos que vão desde a construção do que será em seguida privatizado (estradas, aeroportos, campos de futebol...) até o recolhimento do lixo das favelas, a distribuição de água na indústria eleitoral da seca etc. etc.? Pois nada mais natural que utilize esse know how em “economia” em benefício da projeção internacional de nosso Governo, mostrando o quanto ele pode ser confiável. Basta exigir do mesmo EB que estenda sua “mão amiga” às garras daqueles que a querem ver algemada e estendida à palmatória. Vai daí que, pensemos: por que e para que seríamos invadidos e ocupados militarmente, uma vez que nos mostramos perfeitamente capazes de, com as palavras certas, poupar, a nós mesmos e ao mundo, um transtorno de ordem prática e um desgaste financeiro? Que se danem, portanto, as Instituições brasileiras e o Estado brasileiro, do qual nem uma tênue ideia sequer alguém ainda consegue manter.
Nos velhos, sim, significaria, mas nos novos dicionários e nos novos manuais politicamente corretos nada disso significa submissão, desarticulação ou humilhação de todos nós, brasileiros, civis ou militares. Talvez signifique uma ... “sadia sublimação”... sei lá.
Obedeçamos, pois, gentil e “diplomaticamente”, às ordens da OEA, da ONU, do Conselho do Mercosul etc. etc... E ninguém se surpreenda quando, muito em breve, o MD determinar que, na AMAN, atendendo aos preceitos que orientam a busca da paz universal e observando os cuidados com os direitos humanos, os “jogos” de sobrevivência na selva, de combate de montanha, de patrulha de longo alcance e outros “jogos” mais, divertidos mas muito violentos, sejam praticados apenas virtualmente. Na hora do recreio. Entre as lições de Filosofia e as de Excelência Gerencial, que são, de fato, muito, muito árduas. Ou não são?
Já no que só de mim depende, prometo que vou procurar me instruir mais e melhor ... e não direi mais bobagens. 
Quem sabe se, assim, não perco o bonde da História e ainda consigo me pôr a salvo?
Vania L Cintra é Cientista Política
Fonte:  Alerta Total
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