segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Ditadura de Segurança Nacional no RS

Por meio da página que o jornalista Políbio Braga mantém na rede mundial, tomei conhecimento do lançamento, pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, da coletânea "A Ditadura de Segurança Nacional no RS".
Interessado pelo assunto, busquei a coletânea na página da AL/RS. Trata-se de quatro volumes onde seus autores pretendem contar "a verdade" sobre o período do governo militar e seus reflexos no Estado gaúcho. O primeiro volume, "Da Campanha da Legalidade ao Golpe de 1964", com 272 páginas, se propõe a descrever a situação no RS no período que precedeu a Contra-Revolução de 1964. O segundo volume "Repressão e Resistência nos anos de Chumbo", com 302 páginas contém, como se depreende do seu título, versões de pessoas atuantes no combate ao governo implantado em 1964. O terceiro volume, com 290 páginas trata sobre "Conexão Repressiva e Operação Condor", com textos sobre a interação entre organismos de segurança dos países do chamado Cone Sul, objetivando o combate aos grupos terroristas que agiam na região. O quarto e último volume, "O Fim da Ditadura e o Processo de Redemocratização", com 262 páginas, contém textos sobre o início da abertura política e o processo que levou à Lei de Anistia.
À primeira vista, o conjunto é visto como uma obra que procura ajudar o esclarecimento de pontos ainda obscuros na história brasileira.
Porém, olhando-se com maior atenção já ficamos em dúvida. A lista de escritores, pesquisadores, historiadores e outros profissionais que trabalharam na elaboração da obra não contempla algum nome que possa ser considerado pelo menos isento quanto aos militares. São todos expoentes do que se denominou "esquerda", contra quem lutaram os militares e outros órgãos de segurança do Estado. 
Minha incapacidade e a extensão das obras impediram que eu lesse os quatro tomos. Porém, movido pela curiosidade, dei uma atenção especial ao segundo volume, e fui atraído pelo Anexo II denominado "RS: militantes mortos e desaparecidos". 
Tal apêndice, organizado pela sra. Suzana Lisboa, viúva de um dos citados, relaciona 42 pessoas tidas como mortas pelos organismos de repressão ou simplesmente "desaparecidas".
Dos 42 nomes citados, verifiquei que nove se referem a pessoas que não nasceram nem morreram no RS, e destas, dois são casos oficialmente considerados suicídio. Assim como suicídio é a causa atribuída a outros oito casos citados de forma a induzir o leitor a "reinterpretar" tais casos como assassinatos, sem que se faça referência a alguma prova além dos já costumeiros "depoimentos de outros presos políticos" — de difícil explicação essa versão de que os presos políticos eram mantidos em total incomunicabilidade, mas podiam assistir à morte de seus companheiros "sob tortura". 
É interessante também a citação, no rol, de uma pessoa morta em acidente de automóvel. Teria sido mais um "assassinato"?
Ficou-me uma dúvida: generalizando o conteúdo do citado anexo também se pode inferir a seriedade do total da obra? Assim indago em função de outra constatação. 
Houvesse algum escritor, pesquisador, historiador, revisor ou mesmo outro colaborador da "Coletânea" se dado ao trabalho de tentar aperfeiçoar a obra lendo alguma coisa "do outro lado", como o livro escrito pelo Coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra denominado "A Verdade Sufocada" (já em sua 5ª Edição), poderia encontrar a verdadeira história sobre a morte do Cel Alfeu Monteiro ("Diz o inquérito que Alfeu teria atirado primeiro e atingido o comandante, mas nunca apresentaram provas dos fatos." — Pág 268 do Anexo II)
No livro do militar, essa história e contada e contém um sugestivo comentário do autor, do qual transcrevo parte:
"Para a esquerda o IPM, o processo Judicial, os depoimentos das testemunhas em Juízo, o laudo do exame cadavérico do coronel Alfeu, as sentenças dos Magistrados, os ferimentos do major brigadeiro Lavanére Wanderley, o ato heroico do coronel Hipólito, não tem valor algum, pois 'tudo foi forjado pela ditadura'. ... Certamente, as mentiras desse Dossiê são infinitamente maiores do que os dezesseis projéteis inventados." (USTRA, Carlos Alberto Brilhante. A Verdade Sufocada. Brasília, Editora Ser, 2007. Pág 502-503).
No mesmo livro do Cel Ustra ainda pode ser lida a história do suicídio do 2º Sgt Venaldino Saraiva em 12 Mai 64 (e não Bernardino Saraiva "Assassinado em 14 de abril de 1964, segundo denúncia do livro Torturas e Torturados, de Márcio Moreira Alves." — Pág 271 do Anexo II) após ferir a tiros dois oficiais e atirado contra outros dois. É emocionante a descrição feita pelo hoje General R1 Flávio Oscar Maurer, atingido gravemente pelo sargento criminoso antes de morrer. (USTRA, op cit., Pág 504-506).
Não posso deixar de citar algo que me pareceu positivo na Coletânea recém lançada. É significativa a dedicatória constante no início de cada volume: "Dedicamos esta obra aos que ontem lutaram contra a ditadura e, também, aos que hoje lutam por Verdade e Justiça". A leitura que faço é a de que também são homenageados pela obra os que se dedicaram à luta contra a ditadura do proletariado, de modelo soviético-cubano, que alguns maus brasileiros queriam implantar no Brasil e hoje também se esforçam em prol de que sejam estabelecidas a Verdade e a Justiça, tanto às pretensas vítimas inocentes que dedicaram-se àquela derrotada implantação, quanto aos que os derrotaram na luta armada, forma de luta que aqueles escolheram.
Mas o que efetivamente macula o caráter da coletânea lançada é verificar-se que a sra Suzana Lisboa, organizadora do tal Anexo II ao segundo Volume, não poderia deixar passar mais uma oportunidade para agredir o Coronel Ustra. 
Diferentemente de alguns outros militares que também participaram ativamente na luta contra a subversão no Brasil, o Coronel Ustra, talvez por sua aparência tímida, de pessoa humilde, afável, tornou-se o alvo predileto dos vencidos que pretendem reescrever a história de sua derrota.
Prejudicado profissionalmente pela pantomima de Bete Mendes — e a falta de atitude dos chefes da instituição que lhe deviam ter proporcionado o necessário respaldo, de acordo com os princípios de chefia e liderança — a cada vez que se faz necessário o avivamento da fogueira de vaidades de militantes "de esquerda", o nome do Cel Ustra é lembrado para preencher o papel de saco de pancadas.
Dessa forma, foi "descoberto mais um crime" daquele militar. 
A ele é atribuída a responsabilidade sobre um 
"preso em Belém do Pará pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra e desaparecido em circunstâncias totalmente desconhecidas ... não resta nem ao menos uma foto ou sequer seu nome é conhecido. A vida e a morte de "Baiano" permanecem ocultas desde 2 de dezembro de 1973, data de sua prisão em Belém." (Pág 270 do Anexo II)
Bastaria uma olhada na contracapa da obra do Cel Ustra para saber que ele comandou o DOI-CODI de São Paulo/SP no período de setembro de 1970 a 23 Jan 74. Militares tem sua atuação limitada ao Comando a que se acham subordinados. Qualquer um que olhe o mapa do Brasil verificará que Belém/PA não pode estar sob a mesma jurisdição que o Comando de São Paulo/SP. Como teria, então, o Maj Ustra prendido "Baiano", um militante que "sequer seu nome é conhecido", atuando fora de sua jurisdição?
De onde teria surgido tal "estória"? Em tempos de indenizações a anistiados políticos, me parece um bom caso de processo judicial exigindo indenização por "danos morais" ao ilustre Coronel.
Ou uma acusação totalmente sem embasamento como essa pode ser feita e publicada sem o mínimo de responsabilidade por parte do acusador, no caso, a organizadora da tal relação, respaldada pela Assembléia Legislativa gaúcha?
É assim que são utilizadas verbas públicas orçamentariamente destinadas à "divulgação da verdade" e educação da sociedade? 
O povo pagante dessa farra está ciente do que acontece ou se deixa enganar por escritores, pesquisadores, historiadores e outros farsantes desse jaez?
Povinho de merda!!!!!!!!!!
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