por Janer Cristaldo
Michael Moore apresentou hoje em Veneza o filme Capitalism: A Love Story, no qual faz uma profissão de fé contra o regime que o nutre e sustenta. Segundo Moore, o capitalismo "não pode ser regulado, tem de ser simplesmente eliminado e substituído por um sistema mais justo”.
No final do século XIX, se bem me lembro, um outro iluminado já disse isto. Aliás, foi quem cunhou a expressão capitalismo. Vinte milhões de pessoas morreram na URSS em nome desta bandeira. Sessenta e cinco milhões na China. Dois milhões na Coréia do Norte. Dois milhões no Camboja. Um milhão no Vietnã. Um milhão e setecentos mil na África. Um milhão e quinhentos mil no Afeganistão. Mais um milhão na Europa do Leste. Cento e cinqüenta mil mortos na América Latina. Pelo jeito, Michael Moore ainda não ouviu falar disto.
O filme de Moore pretende retratar a ganância dos bancos e o resultado trágico, segundo ele, de uma desregulamentação do sistema financeiro. Além de acompanhar o despejo de alguns inadimplentes com as hipotecas, Moore denuncia verdadeiros crimes, como empresas que fazem apólices de seguro em favor de seus empregados e beneficiam-se delas, no caso de sua morte, em prejuízo das famílias dos mortos. O filme não se furta a indicar mesmo os nomes de diversas grandes empresas norte-americanas que usaram ou ainda usam este expediente.
Segundo os jornais, uma das seqüências mais provocadoras de Capitalism: A Love Story está em seu final — quando o próprio cineasta percorre diversos bancos em Nova York com um saco de pano na mão, com a intenção declarada de "recuperar" dinheiro subtraído aos contribuintes. Impedido de fazer esta coleta, Moore arranja então um rolo da fita normalmente usada pela policia norte-americana para isolar cenários de crimes, passando-a pela porta dessas instituições.
Seria interessante sabermos se Moore isolou os cenários dos bancos nos quais move o dinheiro que financia seus filmes e onde mantém suas contas. Pelo que li na imprensa, isto o filme não mostra. Michael Moore denunciando o capitalismo em nada difere de Eduardo Suplicy pedindo a renúncia de Sarney.
Os Estados Unidos também têm seu Suplicy.
Fonte: Janer Cristaldo
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