Na data em que reverenciamos as vítimas do vergonhoso episódio denominado como Intentona Comunista de 1935, lembro a história de “Elza Fernandes”, como uma pequena mostra do caráter dos idealistas revolucionários, hoje idolatrados por uma parcela idiotizada da sociedade brasileira.
Desde menina, Elvira Cupelo Colônio acostumara-se a ver, em sua casa,
os numerosos amigos de seu irmão, Luiz Cupelo Colônio.
Nas reuniões deles, militantes comunistas, fascinava-se com os discursos e com a linguagem complexa daqueles que diziam ser a salvação do Brasil. Em especial, admirava aquele que parecia ser o chefe e que, de vez em quando, lançava-lhe olhares gulosos, devorando o seu corpo de adolescente. Era o próprio secretário-geral do PCB, Antonio Maciel Bonfim, o “Miranda”.
Nas reuniões deles, militantes comunistas, fascinava-se com os discursos e com a linguagem complexa daqueles que diziam ser a salvação do Brasil. Em especial, admirava aquele que parecia ser o chefe e que, de vez em quando, lançava-lhe olhares gulosos, devorando o seu corpo de adolescente. Era o próprio secretário-geral do PCB, Antonio Maciel Bonfim, o “Miranda”.
Em 1934, então com 16 anos, Elvira Cupelo tornou-se a amante de Miranda
e passou a ser conhecida, no Partido, como “Elza Fernandes” ou, simplesmente, a
“garota”. Para Luiz Cupelo, ter sua irmã como amante do secretário-geral era
uma “honra”. Quando ela saiu de casa e foi morar com o amante, Cupelo viu que a
chance de subir no Partido havia aumentado.
Entretanto, o fracasso da Intentona, com as prisões e os documentos
apreendidos, fizeram com que os comunistas ficassem acuados e isolados em seus
próprios “aparelhos”. Nos primeiros dias de janeiro de 1936, Miranda e Elza
foram presos em sua residência, na Av. Paulo de Frontin, 606, Apt. 11, no Rio
de Janeiro. Mantidos separados e incomunicáveis, a polícia logo concluiu que a
“garota” pouco ou nada poderia acrescentar aos depoimentos de “Miranda” e ao
volumoso arquivo apreendido no apartamento do casal. Acrescendo os fatos de ser
menor de idade e não poder ser processada, Elza foi liberada. À saída,
conversou com seu amante que lhe disse para ficar na casa de seu amigo, Francisco
Furtado Meireles, em Pedra de Guaratiba, subúrbio do Rio de Janeiro. Recebeu,
também, da polícia, autorização para visitá-lo, o que fez por duas vezes.
Em 15 de janeiro, Honório de Freitas Guimarães, um dos dirigentes do
PCB, ao telefonar para “Miranda” surpreendeu-se ao ouvir, do outro lado do
aparelho, uma voz estranha. Nesse momento, o Partido soubera que “Miranda”
havia caído. Alguns dias depois, a prisão de outros dirigentes aumentou o
pânico.
Segundo o PCB, havia um traidor. E o maior suspeito era “Miranda”. As
investigações do “Tribunal Vermelho” começaram.
Honório descobriu que Elza estava hospedada na casa do Meireles, em
Pedra de Guaratiba. Soube, também, que ela estava de posse de um bilhete,
assinado por “Miranda”, no qual ele pedia aos amigos que auxiliassem a
“garota”. Na visão estreita do PCB, o bilhete era forjado pela polícia, com
quem Elza estaria colaborando. As suspeitas transferiram-se de “Miranda” para a
“garota”.
Reuniu-se o “Tribunal Vermelho”, composto por Honório de Freitas Guimarães,
Lauro Reginaldo da Rocha, Adelino Deycola dos Santos e José Lage Morales.
Prestes, escondido em sua casa da Rua Honório, no Méier, já havia decidido pela
eliminação sumária da acusada. O “Tribunal” seguiu o parecer do chefe e a
“garota” foi condenada à morte.
Não houve, porém, a desejada unanimidade: Morales, com dúvidas, opôs-se
à condenação, fazendo com que os demais dirigentes vacilassem em cumprir a
sentença. Honório, em 18 de fevereiro, escreveu a Prestes, relatando que o
delator poderia ser, na verdade, o “Miranda”. A reação do “Cavaleiro da
Esperança” foi imediata. No dia seguinte, escreveu uma carta aos membros do
“Tribunal”, tachando-os de medrosos e exigindo o cumprimento da sentença.
Os trechos dessa carta de Prestes, a seguir transcritos, constituem-se
num exemplo candente da frieza e da cínica determinação com que os comunistas
jogam com a vida humana:
“Fui dolorosamente surpreendido pela falta de
resolução e vacilação de vocês. Assim não se pode dirigir o Partido do
Proletariado, da classe revolucionária. ...
Por que modificar a decisão a respeito da “garota”? Há
ou não há traição por parte dela? É ou não é ela perigosíssima ao Partido...?
...
Com plena consciência de minha responsabilidade, desde
os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com
ela. Em minha carta de 16, sou categórico e nada mais tenho a acrescentar. ...
Uma tal linguagem não é digna dos chefes do nosso
Partido, por que é a linguagem dos medrosos, incapazes de uma decisão,
temerosos ante a responsabilidade. Ou bem que vocês concordam com as medidas
extremas, e neste caso já as deviam ter resolutamente posto em prática, ou
então discordam mas não defendem como devem tal opinião”.
Ante tal intimação e reprimenda, acabaram-se as dúvidas. Lauro
Reginaldo da Rocha, um dos “tribunos vermelhos”, respondeu a Prestes: “Agora,
não tenha cuidado que a coisa será feita direitinho, pois a questão do
sentimentalismo não existe por aqui. Acima de tudo colocamos os interesses do
P.”.
Decidida a execução, Elza foi levada, por Eduardo Ribeiro Xavier, para
uma casa da Rua Mauá Bastos, nº 48-A, na Estrada do Camboatá, onde já se
encontravam Honório de Freitas Guimarães, Adelino Deycola dos Santos, Francisco
Natividade Lira e Manoel Severino Cavalcanti. Ela, que gostava dos serviços
caseiros, foi fazer café. Ao retornar, Honório pediu-lhe que sentasse a seu
lado. Era o sinal convencionado. Os outros quatro comunistas adentraram à sala
e Lira passou-lhe uma corda de 50
cm pelo pescoço, iniciando o estrangulamento. Os demais
seguravam a “garota” que, mesmo jovem, tentava salvar-se. Poucos minutos
depois, com os pés junto à cabeça, o corpo de Elza foi enfiado num saco e
enterrado nos fundos da casa. Perpetrara-se o hediondo crime, em nome do
Partido Comunista.
Logo após este fato, em 5 de março, Prestes foi preso em seu
esconderijo no Méier. Ironicamente, iria passar pelas mesmas angústias, quando
sua mulher, Olga Benário, foi deportada para a Alemanha nazista.
Alguns anos depois, em 1940, Luiz Cupelo Colônio, o mesmo que auxiliara
o secretário-geral na tentativa de assassinato do “Dino Padeiro”, participou da
exumação do cadáver de sua irmã. O bilhete que escreveu a “Miranda”, o amante
de Elza, retrata alguém que, na própria dor, percebeu a virulência comunista:
“Rio, 17-4-40.
Meu caro Bonfim.
Acabo de assistir à exumação do cadáver de minha irmã
Elvira. Reconheci ainda a sua dentadura e seus cabelos. Soube também da
confissão que elementos de responsabilidade do PCB fizeram na polícia de que
haviam assassinado minha irmã Elvira.
Diante disso, renego meu passado revolucionário e
encerro as minhas atividades comunistas.
Do teu sempre amigo
Luiz Cupelo Colônio”.
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