sexta-feira, 19 de julho de 2013

Ainda Sobre a Arapongagem Norte-americana

por Gélio Fregapani
Desde há muito tempo conhecimento é poder. Evidente porque o conhecimento oportuno e adequado permite a prevenção de ameaças e o aproveitamento de oportunidades. Indica qual o adequado emprego do poder, seja por Estados, organizações ou indivíduos. A espionagem é uma atividade milenar. Existe desde priscas eras, continuando ao sabor dos ventos dos tempos históricos. Ninguém está a salvo da espionagem — ou, pelo menos, quase ninguém. Apenas quem consiga se resguardar.
Os EUA, como todas as potências, buscam o conhecimento que permita o adequado emprego de seu poder para alcançar ou manter seus objetivos nacionais e conseguir vantagens econômicas, políticas, militares, tecnológicas e sociais. Talvez o Brasil seja a única nação no mundo que acredita que alguma outra vai lhe transferir conhecimentos sensíveis que possam acrescentar poder, e que não tentará monitora-lo, mesmo quando seus interesses colidirem. Um bom serviço de Inteligência não substitui as Forças Armadas, mas é quase tão importante com estas, até para a segurança da Pátria.
Oportuno lembrar que o primeiro "briefing" diário do presidente Obama é com o assessor de Segurança Nacional e com o Diretor Geral da CIA, que lhe transmite a Estimativa Diária de Inteligência. Entre nós, a Presidente não recebe o Diretor Geral da ABIN, e nem adiantaria mesmo receber porque ele sabe muito pouca coisa. Tem como interlocutor o GSI, que faz questão de não se meter com a “arapongagem”, talvez para não se queimar. Mesmo que se informasse eficientemente ele não tem acesso, ou não força o acesso. Até no gabinete de crises instalado durante o pico das manifestações, assinala-se sua ausência. Não é de hoje, desde o Collor que o serviço é sub utilizado, mas desde o Lula está pior. O PT sempre julgou Inteligência "coisa de direita", (embora use para ações partidárias). O partido proibiu a ABIN de monitorar os movimentos sociais. Não há como reclamar quando estes surgiram das trevas virtuais e surpreenderam o Governo.
Quanto aos EUA, é claro que desenvolveram operações de Inteligência no Brasil, assim como o fizeram ou tentaram em todo o mundo.
O que podemos (e devemos) fazer? Mostrar-se indignado é a atitude mais ridícula. Pode-se protestar (pro forma) e até retaliar, afinal, foram desmascarados, mas nesse jogo geopolítico não há leis nem ética, e a única regra é não ser apanhado.
Devemos sim é criar um Serviço eficiente, como já foi o SNI, lamentavelmente só no âmbito de Guerra Fria. Não é possível ter um Serviço Secreto eficiente se ele não tem nem permissão de grampear, onde os Oficiais de Inteligência são selecionados em concurso público intelectual e onde o chefe pode ser escolhido pelo critério da acomodação.
Assim nunca conseguiremos nem conhecimentos úteis nem impedir novas ações de Inteligência, não só dos EUA, mas de qualquer outro país que deseje algo do Brasil. A ABIN não devia existir apenas para servir de cabide de emprego e gerar gastos de milhões de reais anualmente, mas para descobrir o que os outros não querem que saibamos. Antes de tudo precisa receber missões, ou seja, que o Governo lhe diga o que quer saber, ou ao menos lhe dê liberdade para investigar o que achar conveniente.
A guerra de “Inteligência” também é chamada de “O Grande Jogo”. Primeiro é preciso querer jogar. Depois, saber jogar. No nosso caso, aprender a jogar. Poderíamos começar ameaçando contratar o Snowden. Isto nos daria um imenso poder de barganha (e outros problemas também), mas afinal, Snowden ajudou ou prejudicou o Brasil? Se prejudicou, colocando a boca no trombone, que Dilma e Patriota expliquem. Se ajudou, merece ser ajudado, e não vítima de ingratidão.
Alguém pode esperar que firmas estrangeiras não cooperem com seus governos? E quando essas firmas dominam a telefonia e a internet? É acreditar no coelhinho da Páscoa. Querendo se aprofundar no assunto, recomendo a leitura de livros especializados.
Fonte:  DefesaNet
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