por João Paulo da Fontoura
Todos nós tendemos a exagerar a importância dos nossos sobrenomes e muitos, pior ainda, a nos auto comiserar por tê-los como comuns, singulares. Os sobrenomes, tanto os portugueses, quanto os espanhóis, alemães, ingleses, franceses, todos têm basicamente uma mesma origem que denota, lá alhures num passado bem distante, um defeito físico (manco, torto, vesgo), um apelido ( alto, magro, branco, preto) uma profissão (sapateiro, ferreiro, padeiro) ou uma filiação (João, filho do Pedro), uma origem geográfica (da costa, acima do mar, perto do morro), etc..
A maneira que os portugueses e os espanhóis usam para grafar um patronímico é colocando um “s” no final do nome do pai, para os portugueses, e um “z” no caso dos espanhóis, ficando, por exemplo: Rodrigues (filho do Rodrigo, em português) e Rodriguez (em espanhol). Os ingleses acrescem um “son” ao nome do pai, ficando: John son of Eric - John Ericson. Os russos colocam um “ov”, ficando Ivanov (filho do Ivan). Vocês já devem ter notado que quando joga a seleção russa de futebol (ou outro esporte) é um festival de Ivanov, Karpov, Petrov, Antonov, etc..
Para aqueles que acham bonito um nome estrangeiro (e dê-lhe a dar nomes de Maicon, Robert, Joyce aos seus filhos) vou dar quatro exemplos de nomes “belos” e que, traduzidos são tão singulares e prosaicos quanto os nossos Pereiras, Martins e Silvas da vida: Rothschild, Schwarzenegger, Schumacher e Oxford. Vamos a eles:
Rothschild – os Rothschild pertencem a uma grande família que representa a nata da aristocracia bancária da Europa e do Mundo. É um nome que representa grandeza, fausto, riqueza; uma gigantesca auréola de sofisticação. Nada de Oliveira, Silveira! E de onde vem: mais simples impossível! O primeiro era um judeu de nome Issak, ourives, e que tinha na frente do seu negócio, uma placa de madeira, pintada de vermelho, identificando o nome. Logo ficou conhecido pela população local como Issak Placa Vermelha, ou, em alemão, Issak Rothschild. Entre “placa Vermelha” e Oliveira, prefiro o segundo. Nada contra!
Schwarzenegger – a tradução literal desse belo nome germânico é, simplesmente, “negro preto”. Deve ser um nome comum por lá, pois, quando eu era criança, lá na minha querida São Leopoldo natal, vinham as alemoadas em carretas de bois trazendo artigos da colônia para vender, e a mim, que era e sou moreno, me chamavam de “negro preto”. Que o Arnold nos desculpe: Silveira é bem mais bonito (e não carrega implícito um preconceito!).
Schumacher – O significado deste sobrenome do grande campeão de fórmula um: fazedor de sapato. Tem também outro, “Schuster” que é literalmente “sapateiro”. Não confundir uma tradução com a outra, pois, coisa que o campeão nunca foi, é sapateiro.
Oxford – Este nome é um dos mais interessantes. Eu tenho um amigo que estudou e se formou em não sei o quê, na Faculdade São Judas Tadeu, de Canoas. Ele nunca gostou muito do nome pouco “charmoso” da Universidade. Ele, por exemplo, sempre foi daqueles que adorava uma camisa colorida, de jovem, com uma bonita estampa no peito com “University of OxFord”. Mudou quando lhe perguntei se ele sabia o significado do nome “OxFord”. Não sabia. Ajudei-o na tradução: ox significa boi e ford tem o significado de vau, caminho, porteira; ou seja: University of OxFord é qualquer coisa como “universidade da porteira do boi”. Mudou de opinião na hora!
É importante entendermos que, durante muitos séculos os camponeses só tinham os nomes de batismo. A partir da idade média, quando as populações das vilas começaram a aumentar, começou a haver a necessidade de um acréscimo identificador aos nomes destes moradores. Por exemplo: como havia vários joãos, um era João filho do Pedro, outros, João Ruivinho, João da Ponte, João Padeiro e assim por diante.
Há duas singularidades em relação à fixação dos sobrenomes: Os judeus e os negros escravos.
No caso dos Judeus, pelo efeito Torquemada, eles foram obrigados a se converterem em “cristãos novos”, tanto na Espanha como em Portugal, ou fugir para outra região. No resto da Europa, foi em pouco diferente (depois, eu explico). Em Portugal, costuma-se dizer que os judeus que lá viveram até 1497, quando foram obrigados a escolher entre a conversão ou a expulsão, substituíram seus sobrenomes originais por nomes de árvores que não produzem frutos comestíveis, como Carvalho e Junqueira (cana-de-açúcar, bambu, junco). Outros dizem que os judeus normalmente escolhem nomes de árvores, tais como Pereira e Oliveira – neste caso, árvores frutíferas. No entanto, cuidado: esses nomes já eram correntes para designar cristãos velhos durante a Idade Média; portanto, ter um sobrenome Carvalho, Junqueira, Pereira não significa obrigatoriamente ter uma descendência judia. Do contrário, a minha terra, Taquari, estaria plena de Judeus e estaríamos todos ricos, culturalmente e de grana!
Quase todos os judeus que, quando da formação, a partir de 1948, do Estado de Israel, reverteram a diáspora bimilenar e tornaram à sua terra natal, passaram a usar nomes hebraicos: Dayan (quem não lembra do grande general Moshe Dayan, o herói da guerra dos seis dias, em 1967), Ben-Gurion, Sapir, Avron, Begin, Netanyahu, Sharett, etc..
Os judeus residentes na região onde hoje é a Alemanha (que na época medieval era uma colcha de retalhos de principados, ducados, reinados, cidades estado) foram apenas “extorquidos” pelos governantes, que encontraram na adoção obrigatória de nomes alemães uma boa fonte de aumento nos seus impostos. Aos judeus mais ricos, nomes mais belos: Rosenberg (montanha de rosas), Himmelblau (o azul do céu), Morgenstern (estrela da manhã), Blumenthal (vale florido), Silverberg (montanha de prata). Os nomes de profissões eram mais baratos: Meier (fazendeiro), Schneider (alfaiate), Goldschmidt (ourives), Fischer (pescador), Kaufmann (mercador). Cores e animais, mais barato ainda: Grun (verde), Weiss (branco), Schwarz (preto), Braun (marrom), Roth (vermelho), Lowe (leão), Wolf (lobo), Fuchs (raposa), Vogel (pássaro). Aí neste universo de nomes a possibilidade do proprietário ser judeu é muito boa. No caso de um Rosenberg, diria que quase 100% .
A outra singularidade, a dos negros, ocorre do fato dos mesmos, como regra, adquirirem seus nomes diretamente dos seus proprietários escravagistas. Aqui no nosso estado, temos o caso do nosso ex-governador Alceu de Deus Collares (o segundo governador negro do nosso estado; não nos olvidemos: o primeiro foi o riograndino Carlos Santos), nascido em Bagé, terra dos Collares, antigos e tradicionais proprietários de extensas fazendas e, certamente, ex-proprietários de muitos escravos. Eles, os negros, não podiam escolher: era compulsório. E aí meus amigos, eu rendo uma sincera e justíssima homenagem a dois extraordinários homens negros da nossa história recente: um ainda vivo, Muhammad Ali, outro, Malcolm X, assassinado em 1965. Eles mudaram seus nomes originais - nomes esses dados pelos patrões dos ancestrais escravos - por outros escolhidos de livre arbítrio. Senhores: quanto de inconformidade há na atitude desses dois gigantes, hein!
O campeão mundial de box, nascido Cassius Marcellus Clay Jr., optou por um nome muçulmano – Muhammad Ali.
O pregador religioso e líder de um dos movimentos civis pelo viés não pacífico (em contraponto ao pacifista Martin Luther King) dos Estados Unidos, nascido Malcolm Little, também optou por um novo nome muçulmano - Al Hajj Malik Al-Habazz, ou Malcolm X, sendo o “X” o símbolo do desconhecimento do seu nome africano original.
Há casos interessantes de nomes recentes, adquiridos por acaso, inconformidade ou interesse político. Citarei três: dois, aqui do sul e um, lá do Norte:
Silva Só: o português Manuel da Silva, nascido em 1792, migrou jovem para o Brasil - Porto Alegre - trabalhou muito e teve sucesso. Ficando rico e elitista, passou a se incomodar com as confusões que davam o seu nome tão plural (havia, na Porto Alegre de então, uma coleção de Manuéis da Silva). Resolveu o problema acrescentando um exclusivo “Só”, e virou Silva Só; muito mais charmoso e singular (ao menos na visão dele).
Charão: vem do militar dos Dragões do Rio Pardo, Antônio Adolfo Schramm, filho do médico austríaco Johann Adolf Schramm, nascido no Rio de Janeiro em 1729. Esse Schramm casa-se com a filha do também militar João Carneiro da Fontoura, de nome Isabel e, com a dificuldade dos locais na pronuncia do seu nome, passa a ser conhecido como “Charão”. Esse casal é o tronco dos numerosos “Charões” do nosso estado.
Sarney: O pai do atual senador e ex-presidente da República, José Sarney, Sr. Ney de Araújo Costa, adquiriu o nome Sarney pelo fato dos ingleses com os quais trabalhou durante um período de sua vida, o chamarem de Sir Ney, que para os ouvidos dos trabalhadores mais simples soava algo como “Sarney”. Seu filho José tornou-se então conhecido como o “Zezinho do Sarney”; e, quando da sua primeira campanha política, não teve dúvida e acresceu ao nome o apelido patronímico, ficando então, José Sarney de Araújo Costa.
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Em uma palestra recente com alunos aqui de Taquari, notei uma ávida curiosidade da gurizada em relação ao significado e origens dos seus sobrenomes. Resolvi, então, como apêndice a este texto, colocar, de uma forma bem resumida, alguns nomes com seus significados e conexões com o passado:
Almeida - Parece que todos os nomes portugueses iniciados com “al” vem do árabe. No caso de “Almeida” é tranquilo, pois: al+meida, significa “a mesa”, que num sentido geográfico, seria “a planície, planalto, chão plano”. De acordo com os estudiosos, descendem os Almeida de D. Fernão Canelas, senhor das Quintas do Pinheiro e Canelas, pai de João Fernandes de Almeida, o primeiro a usar esse sobrenome em 1258. Procede também desta família, Egas Moniz, conquistador de Almeida, da qual um de seus filhos também utilizou o sobrenome.
Azevedo – É um toponímico e vem de uma palavra latina usada para denominar arbustos espinhosos; muito provavelmente dai surgiu o mote para a denominação da região de Azevedo, situada no distrito de Cavado, em Portugal. Há também outra explicação para esse nome: como uma corrupção da palavra árabe Abdul Aziz que se transformou em Acevis, depois Acevedo e, finalmente, Azevedo. Também se afirma que um fidalgo de nome Dom Pedro Mendes De Azevedo foi o fundador dessa família, em, aproximadamente, 1124. Aqui no Brasil, o primeiro registro de um Azevedo é Ignácio Azevedo, um missionário jesuíta português que aqui chegou em meados do século 16.
Averedo - Provavelmente de origem toponímica, embora não se conheça em Portugal nenhum lugar com este nome. Vem, parece, do substantivo comum azeredo, mata de azereiros. Em espanhol aceredo. O solar desta família era na vila de Betamos - hoje cidade -, no reino de Galiza. Passou para Portugal na pessoa de Vasco Rodrigues de Azeredo, que viveu na vila de Guimarães. Não se pode garantir que todos os numerosos Azeredos brasileiros, sejam portugueses. É muito provável que haja um bom número de descendentes espanhóis, da Galícia.
Azambuja – Esse apelido é quase milenar, pois há nos registros oficiais de Portugal a informação de que o local onde hoje fica o município de Azambuja foi fundado em 1200. É um toponímico (ou seja: um nome derivado de um local). Este toponímico vem de uma planta chamada “azambujeiro”, que é um espécime de “oliveira braba” (do árabe, azzabuja). Azambuja é hoje uma vila portuguesa, com cerca de 8.100 habitantes.
Dornelles – É um toponímico e vem de Dornelas, uma freguesia portuguesa do Conselho de Aguiar da Beira. Provavelmente o nome da freguesia seja derivado do diminutivo da palavra dorna, que é uma vasilha que se utilizava para pisar uvas. Os primeiros a usarem o nome, usavam D’ornelas, Ornelas, passando com o tempo para a forma Dornelles. Espalharam-se pelas ilhas açorianas e Madeira. Por volta de meados do século 17 já existia um famoso fidalgo e politico açoriano de nome Francisco Ornelas da Câmara. Quando da vinda dos casais açoriano ao sul do Brasil, veio um João de Ornelas e Souza. Seu filho, também João, já registrado Dornelles, veio para Taquari e é - muito provavelmente - o ancestral da D. Cândida Dornelles, mãe do Pres. Getúlio Dornelles Vargas.
Freitas – Este sobrenome tem duas origens: uma, portuguesa, sendo um toponímico advindo da palavra latina “fracta” ou de seus derivados, tendo essa palavra o significado de “quebrado”. Alguns creem que o nome surgiu devido a algum lugar de pedras quebradas, talvez uma pedreira ou algum terreno muito acidentado. Atualmente Freitas é uma freguesia do Concelho de Fafe. O primeiro português a usar o nome foi João Gonçalves de Freitas, filho de Diogo Gonçalves, isso por volta do ano 1164. A outra origem vem do nome de uma família de origem alemã chamada Freitag (em alemão Frei, significa livre, e tag, dia, sendo assim “dia da liberdade”). Esta segunda explicação fecha com as informações que tenho há anos de que os Freitas sulinos açorianos são descendentes de famílias germânicas que migraram para estas ilhas e, com o tempo, tiveram o sobrenome adaptado ao falar dos ilhéus, ou seja: Freitas é mais simples de falar que Freitag.
Tavares – provavelmente deriva da palavra tafar, tafares, um tipo de planta rasteira existente com abundância numa região de Portugal conhecida como Mangualde e Viseu. Diz a lenda que, nessa região, um cavaleiro ancestral do Tavares, recebeu o titulo de “Senhor dos Tafares” por ter se destacado na luta contra os Mouros;
Guimarães – um patronímico; “filho de Guimaro ou Wimara”. Acredita-se que o nome deriva da palavra germânica Wigmar, significando cavalo de combate. Habitualmente designada por Berço da Nacionalidade portuguesa, pois, é nessa região no norte de Portugal que, segundo a tradição, nasceu - em 1179 - aquele que viria a ser coroado o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
Junqueira – é um topônimo derivado de um tipo de junco. A Freguesia de Junqueira fica no Concelho da Vila do Conde, perto da cidade do Porto. Em tempos idos era conhecida como Junqueira da Maia. Historicamente a freguesia cresceu ao redor do Mosteiro de São Simão da Junqueira, fundado no século XI e desativado em 1770. Os Junqueira aqui do sul certamente são açorianos, pois estavam já há bastante tempo nas ilhas e, inclusive, já tendo imigrado para as Minas Gerais.
Martins - um patronímico; “filho de Martin ou Martinho”, do nome latino Martinus, consagrado e dedicado ao deus da guerra Marte, com o sentido de homem marcial, que faz guerra, guerreiro. Aparece em documentos antigos na forma de Martiniz (1025) e Martíiz (1272). Muito difundido na Península Ibérica, não se sabe quando exatamente passou da França para Portugal e Espanha, onde é muito comum e se difundiu principalmente na Catalunha e Aragão: Martín, Martinez, Martins. Em 1560 foi dado brasão de armas a Diogo Martins, cavaleiro castelhano que passou a Portugal, pela rainha D. Catarina, regente durante a menoridade do rei D. Sebastião. Outros Martins, também com brasão de armas concedidos em Portugal, descendem de Ambrosio Martini, cavaleiro italiano a quem o imperador Maximiliano II, em 1565, deu brasão de armas. A maioria dos Martins aqui do sul, imagina-se sejam de origem açoriana.
Nunes - um patronímico; “filho de Nuno”. O sobrenome Nunes surgiu aproximadamente na idade média, na península ibérica. É difícil caracterizar uma origem única deste nome; na Espanha há uma série de variações em torno do nome: Nunez, Nuñes, Nuno, Nuño e outros. Há uma origem hebraica para este nome: vem do hebraico “Nun” (significa peixe), acrescido do sufixo “is” –Latim -, “es” – Português - e “ez” – Espanhol -. Segundo outros pesquisadores, existem dois grandes ramos dos Nunes como apelido em Portugal, sendo um descendente de uma relação amorosa de Dom Afonso III com a filha do Alcaide de Faro (Madragana); outro, da Beira Alta, de onde provem a maioria dos Nunes como apelido. Uma prova da origem judia dos Nunes é o fato da imolação de uma mulher de nome Clara Nunez - queimada em Sevilha, Espanha, em 1632 - e no mesmo ano, outras duas, Isabel e Helen Nunez, também foram condenadas à morte por sua lealdade à fé judaica.
Rodrigues – nome patronímico (filho de Rodrigo) português, ou seja: deriva do nome próprio Rodrigo. Também existente na Espanha, com a escrita “Rodríguez”; deriva do germânico “Hrod-rich", que significa “Rico em gloria" ou "Senhor da gloria". É um nome medieval, imortalizado pelo ultimo rei visigodo. Entre os casais açorianos que vieram para formar Taquari, havia três Rodrigues.
Rosa – Este sobrenome é uma tradução direta do nome holandês “Roose”. Rosa, em suas diversas variantes, é um nome comum em quase todos os países da Europa, tendo variações na Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha entre outros, sendo: Roze, Larose, Roz, Roos, Rosen e Roza. Sua origem é a palavra latina rosa, que é o nome de uma das flores mais conhecidas no mundo. Os Rosas ilhéus açorianos são, certamente, descendentes de um ancestral colono flamengo/holandês, de nome Pieter Roose (Pedro Rosa), que chegou às ilhas no final do século XV. Só como curiosidade, há um famoso nome de um ex-presidente norte-americano, de origem também holandesa, que não foi traduzido, e que tem rosa no meio. É “Roosevelt” (campos de rosas). Interessante, né!
Terra – Igual ao caso do nome Rosa, Terra também é uma tradução direta de um nome holandês “Van Asrd”. Esse nome é 100% açoriano, pois procedente de Josse van Aard (Jorge da Terra), fidalgo flamengo/holandês colonizador da ilha do Faial no final do século XV.
Sousa/Souza - É de origem portuguesa. A sua origem - com dúvidas - vem da baixa latinidade Sousa, Saucia ou Socia. Veio, bem lá atrás, do latim saza ou saxa, que significa seixos. Alguns estudiosos fazem diferença entre Sousa, nome do rio, e Souza, nome da povoação, derivando aquele de saza e este de socia. É também o nome de uma espécie de pombo bravo que, no século XI, foi registrado como Sausa. Portanto, a origem é confusa. Os genealogistas aponta o primeiro Sousa como sendo Egas Gomes De Sousa, isso lá pelo ano 1040;
Pereira – Um dos mais comuns em Portugal e havia muitos entre os açorianos. É um topônimo originado dum local onde havia peras, pereiras. Os primitivos Pereiras estavam ligados à casa de Bragança, em Portugal. Foi seu solar, a Quinta de Pereira (de onde tomaram o apelido), junto ao rio Ave, em terra de Vermoim. A origem mais remota da família, parece, provém do conde de Forjaz Bermudez, sobrinho neto de Desidério, o último rei dos longobardos, da Itália. No Brasil, o primeiro Pereira foi o donatário Francisco Pereira Coutinho, assassinado brutalmente pelos índios tupinambás em Itaparica, em 1549. Conforme já sabemos – só reforçaremos – o nome também foi adotado por cristãos novos.
Saraiva - provavelmente um topônimo com origem nos Celtas, habitantes antigos da península ibérica. Vem de “Sarawo ou Saraweno” que significava, na língua deles, “chuva de pedras” (nos dicionários portugueses, significa granizo, que é um tipo de chuva gelada que se transforma em pequenas pedras. Também temos, nós gaúchos, o hábito de usar a expressão “saraivada de balas”). Há outras explicações importantes: Pode ter vindo do nome Sarahyba que tem origem galego/asturo/leonesa, pois nestas regiões existiam (e ainda existem) várias localidades com este nome ou assemelhado, como, por exemplo, Saravi. Existe ainda na Galícia uma localidade chamada “A Sarabia”, que fica na província de Pontevedra, no Concelho de Tui.
Simões – Um patronímico; “filho de Simão”. Simão vem do hebraico Shimon, significando “Deus escutou”. Nomes com significados religiosos são comuns. É possível que “Simon, Simão” tenha origem em um ancestral que se converteu ao catolicismo e necessitou mostrar a sua nova fé. Outra possível origem para os nomes religiosos, como Simão, era de órfãos abandonados em igrejas e criados em orfanatos católicos por padres e freiras e geralmente batizados com um nome relacionado à data mais próxima do dia que eles foram encontrados ou batizados. Ainda outra fonte possível é de nomes próprios de religiosos anteriores (que exprimem devoção especial por parte dos pais ou dos padrinhos, ou a data de nascimento da criança) foram adotados como nomes de família. Aparece na forma arcaica de “Simoõez”, já no século XV, como sendo homenageado um fidalgo de nome Gil Simões, por algum ato heroico, pelo Rei Dom Duarte.
Silveira – Há várias famílias com este apelido na história portuguesa. Há os que descendem do holandês Willem Van Der Haegen, que, ao chegar à açores, perambular por várias ilhas e, por fim, fixar-se em São Jorge, traduziu seu nome para Guilherme da Silveira. Der Haegen vem da palavra holandesa “Haag”, que significa bosque. Praticamente todos os açorianos do sul do Brasil descendem deste ancestral. No caso dos Silveiras do continente, a origem é um toponímico originado da palavra latina “silveiria”, significando “moita de silvas”. O ancestral mais longevo é Vasco Lourenço da Silveira, nascido no início do século 14, e Senhor da Quinta e Paço da Silveira.
Vargas - É certo que os Vargas são de origem espanhola. Os nossos Vargas aqui do Sul, muito provavelmente são descendentes do espanhol Rodrigo Vargas, que, por volta de 1675 migraram da Espanha para a ilha de Faial. Há várias explicações para a origem do nome. Uma, seria uma rio na Trácia do mesmo, outra afirma que é alcunha dos godos (povo da antiga Germânia que invadiu a península ibérica) e quer dizer "pai bom", outra seria o nome de um local nas cercanias de Toledo, Espanha. Existem ainda mais explicações para a origem desta alcunha, porém, a exata, ninguém sabe. Além dos Vargas açorianos, muito outros vieram ao Brasil diretamente da Espanha. Os Vargas açoriano são os antepassados do ex-presidente Getúlio Dornelles Vargas.
João Paulo da Fontoura, de Taquari é escritor
Um comentário:
Sobre a origem do apelido Saraiva, outra origem provável é a antiga cidade romana de Savaria/Sabaria, na Panónia, actual Hungria(Scombathely). No dicionário Orbis Latinus: Savaria/Sabaria significa o mesmo que Sarabia, versão castelhana de Saraiva em Portugês. Noutras traduções da língua goda, o apelido Sarabia significa: aquele que provém de Sabaria. Segundo, o que foi possível apurar, os primeiros a utilizar este apelido, foram os familiares de S. Martinho de Tours, cavaleiro originário de Savaria/Sabaria, que se tornou Santo e converteu os Francos ao Cristianismo. Depois alguns destes familiares do Santo,também cavaleiros, passaram à Catalunha e ao País Basco e daí, com a Reconquista, para Castela, Galiza e para Portugal, onde Sarabia se traduz em Saraiva. Esta versão coincide, em parte, pelo menos desde a chegada do apelido à Catalunha, com a versão do historiador Garcia Lope de Salazar, e outras histórias. Outras curiosidades sobre este apelido:o primeiro indivíduo que se conhece ter utilizado o apelido, conforme placa fúnebre encontrada na Região da Panónia, actual Hungria, foi Lúcius Sabino Claúdia Savarienses, o qual seria filho de um senador romano e uma mulher da tribo Savariensis, que eram os habitantes de Savaria/Sabaria; na Hispânia, na área de Salamanca, Zamora, Benavente, logo a seguir à queda do Império Romano e às invasões bárbaras que se seguiram, existiu um pequeno reino autónomo, formado por Suevos, outros povos autoctenes, romanos e ex- legionários, oriundos que provinham da Região da Sabaria Panónica/Hungria, este Reino que se chamou Sabaria, foi conquistado pelo Rei Godo Leovigildo, que passou a etitular-se "Rex Sabaria"; existem alguns historiadores, que defendem que o Conde D. Henrique, pai do primeiro Rei Portugês D. Afonso Henriques, também era ascendência húgara, mais precisamente de Sabaria/Savaria.
Assim sendo, parece-me que a origem etimológica do apelido Saraiva, está mais próxima do Latim do que da versão Celta, sendo que esta última, estará mais apta a explicar a origem do substantivo saraiva enquanto chuva de pedra, por coicidência uma palavra homógrafa do nome/apelido Saraiva, de origem topográfica(savaria) ou mesmo antroponímica(savariensis).
Pedro Saraiva
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