Pierre Clostermann (à esquerda) e Egon Albrecht, ambos exibindo suas condecorações. Destaque para a Cruz de Guerra (“Croix de Guerre”) com 17 palmas (!) de Clostermann, e a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro (“Ritterkreuz des Eisernen Kreuzes”), de Albrecht. |
por Luiz Reis
Os entusiastas brasileiros em História da Aviação Militar se lembram dos feitos do 1º Grupo de Aviação de Caça (“Senta a Pua”) na Campanha da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, onde os pilotos brasileiros, em número muito menor do que uma típica unidade de caça norte-americana da USAAF (Força Aérea do Exército dos Estados Unidos), causaram grandes perdas ao inimigo em diversos ataques ao solo no Teatro de Operações italiano.
Entretanto os pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), embora muito bem treinados pelos norte-americanos, nunca tiveram a oportunidade de enfrentar a outrora poderosa Luftwaffe (Força Aérea Alemã) praticamente varrida dos céus italianos desde a invasão do país no ano de 1943.
Já os italianos, que haviam assinado o armistício tiveram sua Regia Aeronautica destruída pelos alemães quando eles invadiram a Itália, restando apenas uma pequena força aérea ligada a República Social Italiana, um Estado fantoche comandado por Benito Mussolini, concentrada no norte do país e que pouco atacava os Aliados.
Mesmo nenhum piloto da FAB tendo derrubado alguma aeronave inimiga, com apenas alguns poucos pilotos destruindo aeronaves inimigas no solo; o Brasil teve dois ases (pilotos que obtém cinco vitórias aéreas ou mais), nascidos no país (coincidentemente na cidade de Curitiba, Paraná), que lutaram na Segunda Guerra Mundial; mas ambos pelas forças aéreas dos países de suas origens étnicas: Pierre Clostermann e Egon Albrecht.
Pierre Clostermann
Pierre Clostermann, com o uniforme da RAF, em seu caça Spitfire com as marcas de suas vitórias aéreas. |
Pierre Henri Clostermann (Curitiba, 28 de fevereiro de 1921 – Montesquieu-des-Albères, França, 22 de março de 2006) foi um piloto de caça condecorado da Segunda Guerra Mundial, escritor, engenheiro aeronáutico e político franco-brasileiro. Filho de um diplomata francês em serviço no Brasil, um ano após seu nascimento, seus pais retornaram a França, mas durante sua juventude passava suas férias no Brasil. Em 1937 voltou mais uma vez ao país para estudar no Liceu Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, passou a escrever colunas para o jornal “Correio da Manhã” e obteve seu brevê de piloto no Aeroclube do Brasil. Com fim da Batalha de França, vencida pela Alemanha Nazista, em junho de 1940, recebeu um telegrama de seu pai com a mensagem: “Junte-se ao general de Gaulle ou não será mais meu filho.”
No mesmo ano de 1940 ele seguiu para a Inglaterra para juntar-se à “Força Aérea da França Livre” como parte da RAF (Real Força Aérea Inglesa), entrando em combate em 1942. Em 11 de junho de 1944, logo após o “Dia D” e o início da libertação da França, ele foi um dos primeiros pilotos da França Livre a pousarem em solo francês libertado. Tinha um distante primo alemão piloto da Luftwaffe, chamado Bruno Klostermann, que faleceu em 14 de janeiro de 1945 durante um combate aéreo, pilotando um caça Messerschmitt Bf 109.
Voando com os caças Supermarine Spitfire e Hawker Tempest, Pierre Clostermann obteve 33 vitórias aéreas (19 solo e 14 compartilhadas, a maioria delas contra caças) até o fim da guerra. Também foi responsável por destruir diversos alvos em terra e no mar, dentre eles, caminhões, tanques, locomotivas e até botes de patrulha da Kriegsmarine (“Marinha de Guerra”) alemã.
Em 1946 elege-se pela primeira vez deputado francês, sendo reeleito seguidamente até 1969. Dois anos depois inicia a atividade de escritor, lançando “Le Grand Cirque” (“O Grande Circo”, em português), sucesso de vendas na época e traduzido para várias línguas. Já formado Engenheiro Aeronáutico e num período de pausa na política, ocupou cargos executivos nas empresas de aviação Max Holste, Reims Aviation e Cessna Aircraft Company, até se aposentar.
Ele atingiu o posto de Wing Commander (“Tenente-Coronel”) na RAF, mas manteve o posto de Lieutenant (“Tenente”) na França por muitos anos, devido principalmente ter sido comissionado como Seargent (“Sargento”). Anos depois ele recebeu a patente de Coronel da Força Aérea Francesa.
Dentre as diversas condecorações e homenagens que recebeu como a Cruz de Guerra, a Grã-Cruz da Legião de Honra, a Silver Star, a Distinguished Service Cross (Estados Unidos da América), recebeu também em 2004 a Medalha do Mérito Santos-Dumont (Brasil), ato registrado no documentário “Um Brasileiro no Dia D”.
Egon Albrecht
O túmulo de Egon Albrecht (à esquerda) e uma arte representando a última aeronave que ele pilotou, um Messerschmitt Bf 109G. |
Egon Albrecht-Lemcke(¹) — (Curitiba, 19 de maio de 1918 - Creil, França, 25 de agosto de 1944) foi um piloto de caça teuto-brasileiro que combateu na Segunda Guerra Mundial pela Luftwaffe, tendo conquistado 25 vitórias aéreas confirmadas. Filho dos imigrantes alemães Frederico Albrecht e Hedwig Elditt Albrecht, do ponto de vista do Direito Internacional da época, para a Alemanha, Egon Albrecht era cidadão do Terceiro Reich, ou seja, era alemão (Jus sanguinis), mas para o Brasil, era brasileiro, porque nasceu no território brasileiro (Jus soli), podendo optar por uma das duas nacionalidades.
O pouco que se sabe de sua juventude antes de ingressar na Luftwaffe é que nasceu na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, Brasil, em 19 de maio de 1918, filho de Frederico Albrecht e Hedwig Elditt Albrecht. Partiu para a Alemanha antes de completar os 18 anos, já que era membro da Hitlerjungend (“Juventude Hitlerista”), na qual só podiam permanecer até os 18 anos de idade, onde provavelmente aprendeu a pilotar (ele usava um badge da Juventude Hitlerista em seu uniforme).
Ele emigrou para a Alemanha, provavelmente atendendo ao chamado do Führer Adolf Hitler para que os alemães étnicos retornassem a sua pátria (“Volksdeustche”), como muitos teuto-brasileiros — descendentes dos alemães que emigraram para o Brasil durante a segunda metade do século XIX — que partiram para lutar pela terra dos seus antepassados.
Após concluir o seu treinamento, em 1940, Albrecht, comissionado como Leutnant (“Tenente”), foi enviado para a 6./ZG-1 operando um caça bimotor Messerchmitt-Bf-110, “Zerstörer”.
Posteriormente, a 6./ZG-1 teve sua denominação mudada para 9./ZG-76 e, depois para 6./SKG-210 em 24 de Abril de 1941.
Com a 6./SKG 210, Albrecht voou em combate na Rússia, enfrentando o terrível inverno russo. No dia 4 de Janeiro de 1942, a 6./SKG-210 voltou a ser designada como 6./ZG-1. Albrecht foi designado Staffelkapitän da 1./ZG-1 em 12 de Junho de 1942.
Quase um ano depois, o Oberleutnant Albrecht foi condecorado com a “Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro”, em 25 de Maio de 1943, pelas suas então quinze vitórias aéreas, outras onze aeronaves destruídas em solo, 162 veículos motorizados, 254 veículos diversos, três locomotivas, oito posições de Flak (Artilharia Antiaérea), doze armas antitanques e oito posições de infantaria destruídos em solo.
Em 9 de Outubro de 1943, o Hauptmann (“Capitão”) Albrecht sucedeu Hauptmann Karl-Heinrich Matern (morto em ação no dia 8 de Outubro de 1943) como Gruppenkommandeur do II./ZG-1. Em Outubro de 1943, o II./ZG-1 foi deslocado para a frente ocidental com base na Costa do Atlântico de França, onde voou missões sobre a Baía de Biscaia. Em Outubro de 1943, o Gruppe foi transferido para Wels, na Áustria para combater as incursões da 15ª Força Aérea da USAAF, com base no sul da Itália. Em Julho de 1944, o II./ZG-1 retornou à Alemanha para realizar a conversão dos novos caças monomotor Messerchmitt-Bf-109G, “Gustav”, sendo redesignado III./JG-76. Albrecht liderou o Gruppe para a Frente de Invasão.
No dia 25 de agosto de 1944, durante uma missão de combate, Albrecht foi forçado a abandonar a formação devido a um problema no motor de seu avião (um Messerschmitt-Bf-109G-14, Werkenummer 460593, código “Schwarz 21″). Enquanto retornava para sua base sozinho, seu avião foi atacado por caças norte-americanos — não se sabe qual a unidade específica — e foi abatido próximo a St. Claude, noroeste da cidade de Creil (França). Embora Albrecht tenha conseguido saltar de paraquedas, ele chegou morto ao chão, onde seu corpo foi saqueado por civis. Ainda hoje especula-se se teria sido ferido em combate ou se foi metralhado pelos caças inimigos enquanto estava no paraquedas, sendo isso crime de guerra, algo não tão incomum, no período, para ambos os lados.
Egon Albrecht foi o único brasileiro condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, dentre outras condecorações do Terceiro Reich. Neste total de 25 vitórias, estão incluídos 15 vitórias na Frente Oriental e outras 10 na Frente Ocidental, incluindo pelo menos seis bombardeiros quadrimotores. Ele ainda destruiu onze aeronaves em solo, na Frente Oriental.
OBS: (¹) O seu nome de batismo, presente em sua certidão de nascimento em Curitiba, é “Egon Albrecht”, mas nos registros da Luftwaffe, consta “Egon Albrecht-Lemcke”. O motivo dessa discrepância é desconhecida.
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Fonte: Canal Militarizando
COMENTÁRIO (do autor): "O título original desse artigo era “OS DOIS MAIORES ASES DA AVIAÇÃO MILITAR BRASILEIRA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL … VOANDO PELA RAF E PELA LUFTWAFFE!!!”
Como eles não voaram pela Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial eles não são, realmente, ases da Aviação Militar Brasileira, e sim dos países pelos quais lutaram, mas isto não invalida o fato de serem ases brasileiros. Mesmo assim pedimos desculpas pelo erro e efetuamos as correções necessárias."
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