quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Máquina Espiã Suíça Usada por EUA e Alemanha

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A máquina suíça que espionou dezenas de governos durante décadas
Isto permitiu à CIA e ao Serviço de Inteligência alemão ter acesso a comunicações sigilosas.
A companhia suíça Crypto AG fabricou máquinas que forneceram informação secreta de outros governos à Inteligência estadunidense e alemã. Foto:  BBC
Foi uma espionagem de décadas, que começou antes da Guerra Fria e durou até começos deste século.
Os Serviços de Inteligência dos Estados Unidos e Alemanha tiveram acesso às comunicações criptografadas de vários governos graças a uns dispositivos de Crypto AG, uma companhia suíça de criptografia.
A empresa forneceu os aparatos a mais de 120 governos desde fins dos anos 40 até os anos 2000.
O que as autoridades destes países não sabiam era que as máquinas estavam manipuladas e pertenciam em segredo aos governos da Alemanha Ocidental e dos EUA.
Com elas, tanto a Agência Central de Inteligência (CIA) como o Serviço Federal de Inteligência alemão (BND) tiveram acesso a informações criptografadas de vários países, entre eles Irã, Índia, Paquistão, várias nações de América Latina e inclusive o Vaticano.
Assim foi revelado em reportagens do diário estadunidense The Washington Post, da agência alemã ZDF e o canal suíço SRF.
Esses meios tiveram acesso ao historial interno sigiloso da CIA, em que a Operação era descrita como "o golpe do século dos Serviços de Inteligência".
Em 1980, os Oficiais de Inteligência da CIA processavam 40% das comunicações estrangeiras, providas pelos dispositivos Crypto.
A companhia suíça faturou milhões de dólares com as máquinas que foram parar na CIA e no BND.
"Os governos estrangeiros estavam pagando bom dinheiro aos EUA e Alemanha Ocidental por suas comunicações mais secretas, que foram lidas por ao menos dois (ou até cinco ou seis) países", diz um relatório da CIA sobre esta Operação.
O documento indica que Reino Unido, Israel, Suíça e Suécia se encontravam cientes destas atividades e receberam informação recolhida por EUA e Alemanha.
A estrategia permitiu aos EUA monitorar os funcionários iranianos durante a denominada "crise dos reféns", quando um grupo de estudantes do Irã tomou 66 diplomatas e cidadãos estadunidenses como reféns por 444 dias, entre novembro de 1979 e janeiro de 1981.
E, também, fazer chegar aos Serviços de Inteligência britânica informação sobre o Exército argentino durante a guerra das Malvinas e rastrear os movimentos das juntas militares sul-americanas, de acordo com o The Washington Post.
O jornal menciona que a espionagem também afetou  Brasil, Chile, Colômbia, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Uruguay e Venezuela.
No entanto, Russia e China nunca confiaram nas máquinas suíças e jamais as usaram.
Em 2018 um investidor adquiriu a companhia suíça original, que passou a chamar-se Crypto International.
Nesta empresa, afirmam que não há "conexão com a CIA ou o BND" e que estão "consternados pelas conclusões dos relatórios".
O governo suíço foi informado desse caso em novembro passado e nomeou a um antigo juiz do Tribunal Supremo da Suíça, Niklaus Oberholzer, com a finalidade de "investigar e esclarecer os fatos".

Aflição na Suíça 
Análise da jornalista da BBC, Imogen Foulkes, desde Genebra, Suíça:
Na Suíça a noticia foi recebida com angustia.
"Nossa reputação foi feita em tiras", escreveu um periodista político a respeito. "Nossa neutralidade é uma hipocrisia", declarou outro.
Havia rumores sobre os negócios turvos da Crypto AG desde alguns anos. Seus empregados suspeitavam de que algo não andava bem.
O governo suíço sabia do assunto. Na verdade, foi um dos poucos que não recebeu uma máquina Crypto alterada pela CIA.
No entanto, é doloroso que os meios internacionais divulguem esta questão.
A revelação volta a por os suíços em evidência, com uma imagem da qual sempre se esforçaram em desfazer: que fariam qualquer coisa pelo preço adequado.
Houve tempos em que seus bancos cuidaram do dinheiro que governantes de fato saquearam aqui e ali, fazendo vista grossa à evasão fiscal em escala massiva.
Se supunha que tudo isto era parte do passado. Mas agora outro setor, o da engenharia de precisão suíça, também tem motivos para envergonhar-se.
Precisamente, a CIA usou Crypto AG pela reputação suíça de neutralidade e qualidade, segura de que isso atrairia a clientes (governos) de todo o mundo.
Suíça ficou com o dinheiro e vendeu as máquinas manipuladas. Agora, todo mundo sabe.

A historia por trás de Crypto
Um inventor russo chamado Boris Hagelin criou uma máquina de criptografia portátil quando fugiu para os EUA durante a ocupação nazista da Noruega em 1940.
O dispositivo era suficientemente pequeno para poder ser usado em campanha e foi fornecido a cerca de 140.000 militares estadunidenses.
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, Hagelin se mudou para a Suíça.
Sua tecnologia evoluiu tanto que o governo estadunidense temeu que deixasse de funcionar como recurso para espiar as comunicações de outros governos.
Mas William Friedman, um descifrador de códigos estadunidense, convenceu a Hagelin para vender os dispositivos mais avançados somente aos países aprovados pelos EUA.
Assim, as máquinas antigas, que a CIA sabia como acessar, foram vendidas a outros governos.
Na década dos 70, EUA e Alemanha adquiriram Crypto e controlaram a quase totalidade da operação, incluindo a contratação de pessoal, o desenho da tecnologia e a estratégia de vendas.
Fonte:  tradução livre de El Tiempo

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