Por Justicia
Imagem: Fiscalia General de la Nación |
Estas capturas se registraram desde 2 de julho, em diferentes zonas do país, por parte da Polícia e Procuradoria em uma segunda fase da investigação.
El Tiempo teve acesso ao Informe de Inteligência — sobre o trabalho de infiltração no ELN (Exército de Libertação Nacional) — e aos labores técnicos que após ano e meio permitiram identificar e localizar os capturados por aquele ato terrorista.
A investigação sobre o fato terrorista, é considerada como uma das maiores levadas a efeito na historia recente do país. "Desde o momento da ativação do carro bomba na Escola, 9:46h., se voltaram todas as atividades de Polícia Judiciária, Inteligencia e atos urgentes, em coordenação com a Procuradora para que não ficasse impune", disse a este diário um dos investigadores que esteve a frente do caso.
De fato, de acordo com o documento, os agentes encarregados da investigação realizaram 1.800 atividades de Inteligência, entre elas, a analise de 8 milhões de telefonemas realizados logo após a explosão do carro bomba, o que permitiu, por exemplo, traçar o percurso das motos que acompanharam a camioneta que ingressou na Escola com os explosivos.
Naquela primeira fase foi identificado Andrés Felipe Oviedo Espinel, vulgo Jesús ou 'Barbas' que havia recebido ordens diretas do COCE (Comando Central) do ELN para planejar o atentado. Ele é um dos capturados que o juiz enviou ao cárcere.
"´Jesús' foi identificado por um dos nossos agentes que se infiltrou em um acampamento do ELN — há uns anos — e que recebeu treinamento dele em Inteligência e Contra-inteligência delitiva para não serem identificados nas cidades. Esse acampamento estava em Arauca, mas no lado da Venezuela", disse o investigador.
Também foram autorizadas a interceptação de 165 linhas — que resultaram mais de 35.000 áudios para analisar. Assim como, foram trabalhadas 246 horas de vídeo e se cotejaram 813 imagens.
"65 evidencias eletrônicas com dados de importância relacionadas com o caso. 10 análises de evidencias genéticas (entre elas em um sapato e um gorro abandonados ao escapar nas motos e nos carros) e 298 buscas seletivas em bases de dados", ressalta o Informe, somado a entrevistas a fontes, retratos falados e outras atividades de Inteligência.
Durante o período de investigação, se realizaram 400 atividades de vigilância e seguimentos (encobertos), "dormíamos nos carros, vivíamos nos carros, eram turnos de 24 e até 48 horas. Com o objetivo de recompilar a informação que nos permitisse relaciona-los com o atentado terrorista", assegurou o investigador.
Jessica Barrientos Castilla, uma das capturadas, foi ludibriada através de um policial "que a conquistou e se tornaram namorados. Ela administrava a loja de queijos localizada a 200 metros da Escola. E pouco a pouco foi contando detalhes que fortaleceram o acervo probatório contra o grupo", assegurou a fonte.
Alem disso, durante este processo os agentes, montaram 45 disfarces para vigiar os hoje capturados, "se passavam por vendedores, mecânicos, trabalhadoras sexuais, técnicos de comunicações, vendedores de doces, cantores, o que fosse", disse a fonte.
"Tínhamos um companheiro infiltrado como morador de rua. Ele estava encarregado de vigiar a um dos cérebros do atentado. Levava mais de uma semana na rua, e em uma manhã, chegou um grupo de vigilância (Polícia), e o levaram. Não pudemos fazer nada, e ele não podia se identificar", relatou o investigador.
Andrés Felipe Oviedo Espinel, o "Jesus" e Angie Lorena Solano Cortés, conhecida como "Maco" — que na época do atentado formavam um casal —, foram capturados em 2 de julho junto a outras seis pessoas acusadas de participação na ativação de 80 quilos de pentolita no interior da Escola.
O Informe de Inteligência divulgado da conta dos movimentos dos dois no dia do atentado, e a forma como se obteve suas identificações e captura depois de ano e meio de seguimentos, escutas e infiltrações para deixar a descoberto seus perfis criminais. O casal, destaca o documento, se encarregou de fazer a espionagem na Escola para perpetrar o atentado.
De acordo com o documento, ‘Jesús’ e ‘Maco’ saíram em uma moto preta de placas CYN-03E do bairro El Tejar, e na transversal 72-F-39, no sul da cidade, começam a custodiar a camioneta carregada com explosivos em seu trajeto até a Escola.
Depois que o veículo ingressa no ponto de ataque, se registra a passagem deles por varias câmaras de segurança até a rua 45-Sul n° 72-J, onde abandonaram a moto e trocaram rapidamente de roupa.
Nesse local, os investigadores encontraram um par de tênis — que foi processado para obter mostras de DNA —; e foi registrado terem abordado um táxi para continuar sua fuga.
Os agentes de Inteligência da Polícia de Bogotá seguiram seus passos através das câmaras, e os localizaram na Primeiro de Mayo com 45-Sul, onde tomam um segundo táxi que os leva até a rua 60-Sul com Av. 80-D, onde sobem em outro táxi quando o rastro deles é perdido.
Os investigadores, com base nos registros filmados, começam a desenvolver o trabalho de inteligência interna, “e nesse processo, um de nossos homens que esteve infiltrado na zona de refúgio do ELN na Venezuela identifica o vulgo 'Barbas' o 'Jesús'”, disse um dos agentes frente ao caso.
O infiltrado se passou como integrante das células urbanas da guerrilha e recebeu “instrução” de ‘Jesús’. “Só o que nosso agente sabia, era que ‘Jesús’ procedia de Cundinamarca”, destacou o investigador.
Os seguimentos ao cérebro do atentado
De acordo com o investigador, identificado Andrés Felipe Oviedo, ao revisar seus antecedentes constatam que foi integrante de um grupo radical que na época se autodenominou ‘Chamado a Mentes Libertarias’, e que participou em ações terroristas registradas entre 2015 e 2016.
A ‘Jesús’, o localizam em Cajicá, Cundinamarca, e verificam que não tinha um trabalho fixo e que se “mantinha por semanas inteiras encerrado em seu apartamento”. Mas todas as quintas-feiras, sagradamente, sua mãe o visitava, fazia compras e pagava suas dívidas.
Durante mais de um ano, os agentes de Inteligência seguiram 'Jesús', recorrendo a disfarces de vendedores de frutas, habitantes de rua e até como vizinhos do setor.
Chamou a atenção dos agentes que a mãe “de um terrorista treinado e homicida” o acompanhava para pegar um ônibus e lhe dava a benção, nas poucas vezes que saiu.
Nessas esporádicas saídas, os investigadores notaram que tomava “medidas de segurança” que uma pessoa com uma vida normal não realiza. Em suas visitas a Bogotá, por exemplo, tomava um ônibus, esperava uns minutos, descia e abordava um táxi, e logo depois utilizava o serviço de TransMilenio.
“Seu comportamento claramente não era normal, não interagia com seus vizinhos nem falava com outras pessoas, isso nos dificultou um pouco as vigilâncias e seguimentos, mas estamos capacitados para isso, para não perder a pista”, afirmou o homem a frente do caso.
Ressaltou que em um dia ‘Jesús’ tinha o cabelo grande, e logo saiu com ele totalmente raspado, ou retirava a barba. “Durante o ano e meio em que o estivemos controlando, trocou de aparência varias vezes”, pontualizou.
Coevo a isto, ‘Jesús’ aproveitou que ‘Maco’ estava escondida em outro lugar, e teve uma relação sentimental com outra mulher, “a quem fazia dar duas ou três voltas na quadra — para verificar que não a estivessem seguindo — e só depois a deixava entrar em sua casa”, se lê no documento.
Outra das características do cérebro do atentado contra a Escola de Polícia é que não usava celular, e suas comunicações eram feitas através de correios humanos ou internet.
A 'Maco', atraíram um parente
Nesse período, outro grupo se dedicou a descobrir a Angie Lorena Solano, conhecida por Maco, e estabeleceram que poucos dias depois do atentado terrorista ela viajou à Argentina, para “enfriar-se”, como dizem os guerrilheiros que integram, as células urbanas.
“Para lá viajaram homens de Inteligencia, que trabalharam com nossos homólogos da Argentina e a acham em uma residencia universitária, onde já havia feito contato com grupos radicais”, assegurou o investigador.
Ela saiu da Argentina, fez uma parada no Brasil e outra na Venezuela. Finalmente, em 25 de dezembro de 2019 regressa a Bogotá.
‘Maco’ foi fotografada mais de 500 vezes durante o processo, e “sempre estava diferente, trocava a cor do cabelo, o corte, usava óculos, lentes de cor, buscava ver-se diferente”, disse o investigador.
No ambiente familiar de ‘Maco’, uma pessoa muito próxima a ela, e que conhecia suas atividades com o ELN — e dado a ter relações extraconjugais — foi identificada.
“Com essa informação, infiltramos a uma de nossas agentes de Inteligencia. Ela ganhou a confiança do homem, viam-se quase diariamente e assim conseguimos colectar muitos detalhes, como ‘Maco’ estar organizando outro grupo, base em Bogotá, e estavam recrutando jovens bem como os detalhes de sua viajem à Argentina”, ressaltou o investigador.
Logo que ‘Maco’ chega a Bogotá, se translada a Manizales, de onde vai para uma chácara, para seguir escondida, ali chegaram os investigadores no dia das capturas. A ‘Jesús’, o capturaram em Zipaquirá, Cundinamarca.
Os investigadores, em especial os de Inteligencia da Polícia de Bogotá, em coordenação com a Fiscalía e a Polícia Judiciária, foram somando um a um os elementos dos seguimentos e infiltrações com o que conseguiram as ordens de captura dos oito implicados, dos quais seis já foram enviados ao cárcere por um juiz.
As provas dão conta de que os processados fariam parte de duas estruturas do ELN, a Frente de Guerra Oriental e a Frente de Guerra Urbana, e desempenharam distintos papéis no ataque que deixou 22 cadetes mortos e 89 pessoas feridas, em 17 de janeiro de 2019.
Planejamento e execução
Pela suposta responsabilidade no planejamento e execução do ataque, um fiscal da Direção Especializada contra Organizações Criminais imputou a:
• Andrés Felipe Oviedo Espinel, vulgo 'Jesús ou Barbas', que teria recebido ordens diretas do Comando Central (COCE) do ELN para planejar o ataque à Escola General Santander. Foi imputado pelos delitos de homicídio de pessoa protegida e tentativa de homicídio de pessoa protegida; terrorismo e rebelião. Contra ele também há evidencia de envolvimento na detonação de artefatos explosivos contra duas sedes de PORVENIR em Bogotá (Calle 72 e Puente Aranda), em 2 de julho de 2015.
• Angie Lorena Solano Cortés, vulgo 'Maco', acusada de acompanhar em motocicleta o carro-bomba ativado na Escola de Cadetes. Foi imputada por homicídio de pessoa protegida, tentativa de homicídio de pessoa protegida, atos de terrorismo e rebelião. Contra ela, há elementos que a vinculariam diretamente à denominada Frente Urbana Nacional e de participar em algumas reuniões realizadas pelo ELN na Venezuela.
• Carlos Arturo Marín Ríos, vulgo 'Marín', imputado por atos de terrorismo. Também teria acompanhado o carro-bomba em motocicleta.
• Jessica Catherine Barrientos Castilla, a 'Jessica', seria integrante da Comissão de Finanças da Frente de Guerra Oriental do ELN. Foi imputada como presumível responsável dos delitos de financiamento ao terrorismo e atos de terrorismo, e rebelião.
• Miguel Antonio Castillo Rodríguez, alias 'Tonho', proprietário de duas empresas de produção e distribuição de queijos instaladas em Arauca e Bogotá que teriam servido para financiar a ação criminal. Foi imputado pelos delitos de financiamento ao terrorismo, rebelião e atos de terrorismo.
Por solicitação do Promotor do caso, ‘Jesús’ ou ‘Barbas’, ‘Maco’, ‘Jessica’ e ‘Toño’ receberam medida de asseguramento em centro carcerário; enquanto que Carlos Arturo Marín Ríos, vulgo 'Marín', foi beneficiado com detenção domiciliar devido à sua idade e sua condição especial de saúde.
Financiamento
Por sua parte, um Procurador da Direção Especializada contra Lavagem de Ativos imputou a três personas que fariam parte de uma rede criminosa do ELN apontada por lavagem de recursos obtidos de atividades ilícitas e financiar ações terroristas como a da Escola de Cadetes General Santander. Os processados são: 
• Carlos Felipe e Luis Sebastián Mateus Vargas, conhecidos como ‘Carlitos’ e ‘Sebas’, seriam, respectivamente, os encarregados dos lácteos que, supostamente, serviram de fachada para legalizar dinheiro da Frente Oriental de Guerra do ELN. O dinheiro obtido teriam sido usados para comprar material de intendência e armas que eram transportados em veículos refrigerados entre queijos e outros alimentos. Por dirigir comercializadoras de derivados 'Carlitos' foi imputado por enriquecimento ilícito. Por sua parte, a Fiscalía indicou 'Sebas' por lavagem de ativos e enriquecimento ilícito. Carlos Felipe e Luis Sebastián são irmãos de Álvaro José Mateus Vargas, vulgo 'O Quejeiro', capturado em maio de 2019 e condenado no final do ano passado a mais de oito anos de prisão por rebelião, concerto para delinquir agravado, e financiamento do terrorismo e de grupos de delinquência organizada.
• Angie Daniela Martínez Buitrago, a 'Dani', também chamada 'Arauquenha', que teria manejado durante oito anos milionárias somas de dinheiro sem uma clara procedência. A ela se atribui uma transferência de 1.500 milhões de pesos [cerca de 1,5 milhões de Reais] à estrutura do ELN que executou o atentado à Escola de Cadetes General Santander. Por estes fatos, a Fiscalía imputou-lhe os delitos de lavagem de ativos e enriquecimento ilícito. 'Dani' manteve vínculo sentimental com 'O Quejeiro', durante o tempo que exerceu a atividade ilegal.
Os irmãos Carlos Felipe e Luis Sebastián Mateus Vargas receberam medida de asseguramento em centro carcerário; enquanto que Angie Daniela Martínez Buitrago, a 'Dani', foi favorecida com detenção domiciliar, em atenção a uma enfermidade que padece e requer tratamento médico especializado.
Em outro processo que se segue contra os irmãos Mateus Vargas, a Direção Especializada de Extinção do Direito de Domínio impôs medidas cautelares a vários de seus bens, como a Sociedad Inversiones y Comercializadora Aldama S.A.S.; as lojas Lácteos Villa Yulita, Quesera Los Andes, Distriquesos F.F. e Lácteos Villa Esperanza; além de quatro veículos.
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