por UNIDAD INVESTIGATIVA
“¿Os Estados Unidos estão negociando com (Nicolás) Maduro? Não. Mas Maduro quer, sim, uma negociação secreta com o Governo dos Estados Unidos”.
A afirmação foi feita há poucos dias (14 Abr) por Michael Kozak, Secretario Adjunto da Oficina de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado.
Não deu maiores detalhes, mas fontes em Caracas confirmam que a recente acusação formal por narcotráfico e apoio ao terrorismo contra 15 membros do regime, incluído seu líder, fizeram com que as lealdades internas comecem a romper-se e que alguns busquem acertos por "baixo dos panos".
O procedimento, unido às substanciais recompensas que o governo Trump oferece por Maduro e seus paladinos — e a movimentação de navios antinarcóticos em direção às costas venezuelanas —, começaram a exercer uma pressão que se traduz em vazamentos de informações e em mensagens de colaboração para com a justiça dos Estados Unidos.
Assim confirmaram a El Tiempo, oficiais de Inteligência colombianos e fontes em Caracas que fornecem dados a investigadores e a agencias federais estadunidenses .
“O regime está alarmado. Alguns de seus oficiais, militares e operadores políticos estão buscando um ‘salva-vidas’ que permita negociar sua entrega; ou sua liberdade em troca de informações relevantes. Há muitos buscando contacto com agencias de Inteligencia dos Estados Unidos, e até de outros países”, assegura Johan Obdola, presidente da Organização para a Segurança e Inteligencia (IOSI), que faz parte de uma rede global de especialistas e colaboradores que operam desde a Venezuela.
A Rede
Esse cenário de naufrágio, ao qual se une a emergência desatada pela pandemia do coronavírus, botou a circular a informação de que Maduro está reativando um "plano B".
Se trata de um complexo subterrâneo de túneis em varias locações em Caracas, tido como um de seus anéis de proteção para ocultar-se e se entrincheirar por meses em caso de um ataque.
Um dos primeiros a referir-se aos túneis foi Germán Varela, ex-oficial da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), que em maio de 2019 falou de três que saíam ou conectavam com o Palácio de Miraflores.
Supostos túneis de escape apontados pelo ex Tenente Germán Varela. Foto: Arquivo particular |
Porém, informação consolidada, a partir de informes de militares e funcionários ativos, fala de vários quilômetros, que guardam material estratégico.
“Há uns seis anos, aproximadamente, com a assistência do Irã e do Hezbolah (movimento libanês pro-iraniano), o regime iniciou a construção. Averiguamos a informação de que, em Caracas, há aproximadamente 17 quilômetros e sua finalidade é brindar seguridade de movimentações estratégicas dos grupos de elite do regime, em caso de uma ação armada”, assegurou o venezuelano Obdola em uma comunicação com El Tiempo desde Vancouver (Canadá), onde permanece exilado desde que começou a denunciar o chamado ‘cartel dos Soles’.
Alojamentos e armas
Além, de Miraflores se sabe que há alguns localizados no Banco Central (500 metros a leste do palácio presidencial), no Forte Tiuna (complexo militar a cerca de 6 Km ao sul), na praça de Venezuela e até no quartel de La Montaña (800 metros a oeste), onde repousam os restos de Hugo Chávez. Aí guardam armamento, munição, equipamentos de comunicações e alojamentos para albergar cerca de 1.500 homens. A informação de Obdola — que agrescenta que La Montaña serve como sede do Hezbolah — coincide com a de agentes de Inteligência que investigam os tentáculos dessa organização na Colômbia.
El Tiempo revelou em meados de 2019 como funciona uma mafia enquistada em oficinas de registros, notarias e na Registradoria que vende identidades falsas a estrangeiros, inclusive os membros do Hezbolah.
Para agentes da Oficina de Imigração e Aduana (ICE) e para a Migração Colombiana é claro que essa organização criminal transnacional, com ramos em pelo menos 12 departamentos [estados], está vendendo registros civis, cédulas e passaportes por tarifas que alcançam os 20 milhões de pesos por cabeça.
Os pagamentos seriam feitos através de bancos europeus e de Miami e garantiriam a entrega da nova identidade na Venezuela, Turquia, Iraque, Líbia, Síria e Palestina, até onde chegam escondidas em peças de carne exportadas desde a Colômbia através de empresas ligadas a patrocinadores do Hezbolah.
Na Colômbia também analisam a informação sobre o papel que a Ilha de Margarita desempenha no tema do narcotráfico.
“Os cartéis das drogas de Colômbia vem controlando a zona costeira oriental venezuelana há bastante tempo. Delta do Amacuro, Sucre, Anzoátegui e Nueva Esparta (ilha Margarita) tem estado sob seu controle, assim como das FARC; e nos últimos anos, o cartel de Sinaloa, tem tentado se impor de maneira agressiva”, explica Obdola.
Inclusive, se fala de enfrentamentos pelo controle das rotas que vão até Trinidad e Tobago e outras ilhas do Caribe, no trajeto em direção à Europa.
Alcalá e Padrino
No momento, Clíver Alcalá, é o único “lugar-tenente” de Nicolás Maduro em poder dos Estados Unidos — ele viveu mais de um ano em Barranquilha —, que começou a entregar informações.
O General (r) Clíver Alcalá se entregou às autoridades dos EUA dias depois que saiu a acusação contra Nicolás Maduro e seus "lugar-tenentes". Foto: AFP |
Não obstante, o fato de que seu irmão, o General Carlos Antonio Alcalá Cordones, ser embaixador da Venezuela no Irã é pelo menos inquietante.
“Clíver Alcalá estava fazendo jogo duplo, trabalhando para Nicolás Maduro (com um aparente enfrentamento), e para Juan Guaidó. As armas apreendidas eram para um ‘falso grupo’ que supostamente existe na fronteira com o Brasil, chamado Operação Aurora, liderado por outro aliado de Maduro: o tenente José Rodríguez Arana”, insiste o especialista em Inteligência e seguramça Obdola.
Ele acrescenta que um dos "arquivos vivos" do regime, o general inativo Hugo ‘el Pollo’ Carvajal, que recentemente se entregou à DEA na Espanha, está escondido em Portugal, sob o amparo da diplomacia do regime.
E há outros fatos interessantes.
O Ministro da Defesa, Vladimir Padrino, aparece no cartaz dos mais procurados, mas sem recompensa.
Foto: Carlos Becerra - Bloomberg. |
Há o General Vladimir Padrino López (Ministro da Defesa), por quem o governo Trump não ofereceu recompensa, apesar de inclui-lo no cartaz dos mais buscados.
Sua esposa e familiares aparecem como responsáveis por varias empresas — Brisana LLC, Urtaris Realty Group e Majalud LLC — e imóveis localizados na Florida e Texas. Segundo o Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCCRP), o custo das propriedades superariam os 4 milhões de dólares.
Sobre os supostos nexos de Clíver Alcalá com Juan Guaidó, Estados Unidos já deu uma resposta. “Apoiamos Guaidó como presidente interino e a Assembléia da Venezuela”, puntualizou Kozak na mesma mensagem em que disse que não estão negociando em segredo com Maduro.
Agora, o que se indaga é o que há por trás do ‘convite’ do regime para que os venezuelanos regressem em plena pandemia.
O oficial por trás do retorno de venezuelanos
Nas conversas digitais de grupos de venezuelanos na Colômbia começou a aparecer um suposto coronel — que se identifica como José Abigaíl Jaspe Castellanos — dando instruções para o retorno àquele país. “Boa noite. Sou um coronel do Exército da Venezuela. Não sei por que me escolheram. Vocês são compatriotas e vou receber todas as suas inquietudes. (…) Vou lhes enviar um vídeo para que vejam como estamos esperando nossos compatriotas aqui na Venezuela”, se escuta em um áudio.
Nas bases de dados oficiais aparece um militar com esse nome, graduado no Curso de Formação de Suboficiais Profissionais de Carreira n° 10.
Jornalistas tentaram comunicar-se com o celular do qual foram enviadas as mensagens, mas ele foi desativado. Mas em Cúcuta asseguram que é um venezuelano quem paga os 4 milhões de pesos (cerca de 4 mil reais) que vale cada viajem de um ônibus ao centro da Colômbia para recolher venezuelanos.
UNIDAD INVESTIGATIVA
u.investogativa@eltiempo.com
Em Twitter: @UinvestigativaET
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