por Janer Cristaldo
Um insólito debate tomou conta da Câmara Municipal de Porto Alegre no início deste mês. A bancada do PSOL — os vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna — elaborou um projeto de lei que propunha a alteração da denominação da Avenida Presidente Castelo Branco para Avenida da Legalidade.
A medida pretendia reescrever a história do país, homenageando os participantes do Movimento da Legalidade, de 1961. O projeto não passou. Se a moda pega, os cartórios terão muito trabalho no Brasil todo. Pois o país está cheio de ruas e avenidas não só Castelo Branco, como Garrastazu Médici, Costa e Silva, Ernesto Geisel, João Figueiredo. Mas a proposta dos vereadores é curiosa. Pelo jeito, não gostam de ditador nordestino.
Ditador gaúcho pode. O Rio Grande do Sul está eivado de ruas que homenageiam o ditador Júlio de Castilhos e há inclusive uma cidade que leva seu nome. Pelo jeito, o PSOL nada conhece da história do Estado, nem nunca ouviu falar da “ditadura científica” de Castilhos, inspirada no positivismo.
Isso sem falar nas ruas que, no Estado todo, homenageiam o ditador Borges de Medeiros, que durante 25 anos — sete anos a mais que o regime militar de 64 — foi presidente do Rio Grande do Sul. Até hoje me pergunto como a capital gaúcha não se envergonha ao dar o nome do ditador à sua avenida mais central. Gaúchos a parte, Porto Alegre — como também vários municípios do Estado — têm largos, ruas e avenidas chamadas Floriano Peixoto e marechal Deodoro. Homenagens que se repetem no país todo, tendo Floriano dado seu nome à capital catarinense.
Se os vereadores porto-alegrenses queriam tecer loas à democracia, esqueceram de pedir a troca de outros nomes na cidade. O historiador Sérgio da Costa Franco observa: “Prova da absoluta tolerância de Porto Alegre é que temos uma Praça Che Guevara, e uma rua do bairro Cascata com o nome de Carlos Marighela. Nem um nem o outro passariam num exame de fidelidade à democracia e à legalidade”.
A bem da verdade, até Dom Pedrito tem uma rua Ernesto Che Guevara. Como a cidade vive um tanto afastada da história contemporânea, poucos sabem quem foi o celerado e a rua passou a ser chamada de a Rua do Che. Palavra que, lá na Fronteira Oeste, designa qualquer um. Marighella, por sua vez, mereceu uma rua em Salvador. E Luís Carlos Prestes, o gaúcho a soldo de Moscou que pretendia fazer do Brasil uma republiqueta soviética, deu seu nome a uma rua na burguesa Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Costa Franco esqueceu de mencionar a rua Capitão Carlos Lamarca, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. O assassino mereceu outra homenagem no bairro Las Palmas, em São Bernardo do Campo.
O projeto de lei do PSOL foi rechaçado. Defensores da ideia aventam o absurdo de existir uma rua chamada Hitler, Franco, Stalin ou Lênin. Bom, Hitler não vale. Perdeu a guerra. Se a tivesse ganho, daria seu nome a praças e avenidas em toda a Europa. Quanto a Franco, até bem pouco era homenageado em toda Espanha. Stalin deu nome a não poucas ruas e logradouros não só na União Soviética como na Europa e, mesmo após as denúncias de Kruschov em 1956, era homenageado com estátuas colossais. O mesmo diga-se de Lênin, cuja múmia ainda é venerada em Moscou. Pelo que sei, aquela estátua colossal em frente à Estação Finlândia, em São Petersburgo, continua em pé. A propósito, Paris conserva até hoje uma rue Lenine, em Baingnolet.
Diz o manifesto do PSOL: “considerando tudo o que o Marechal Castelo Branco fez na qualidade de representante da ditadura civil-militar, remonta um período marcado por severas violações aos direitos fundamentais, a lembrança pública desta personalidade afigura-se incompatível com os ideais defendidos pelo Movimento da Legalidade. Por isso, ao realizarmos a alteração proposta, estaremos, ao mesmo tempo, renovando os ideais legalistas e repudiando qualquer forma de violação aos direitos humanos e às liberdades democráticas, tornando ainda mais justa a homenagem ao movimento gaúcho pela legalidade”.
Como se Júlio de Castilhos ou Borges de Medeiros fossem paladinos da democracia. Sem falar em Getúlio Vargas, o mais querido ditador gaúcho, que foi reconduzido à Presidência da República por voto popular. Mas as esquerdas gaúchas jamais ousariam pedir a retirada do nome do Velho, onipresente nas cidades do Rio Grande do Sul. Que mais não seja, era idolatrado por Leonel Brizola, o alvo oculto do projeto do PSOL.
Puro preconceito do PSOL gaúcho contra nossos irmãos lá do norte. Ditador gaúcho pode. Nordestino é que não pode.
A medida pretendia reescrever a história do país, homenageando os participantes do Movimento da Legalidade, de 1961. O projeto não passou. Se a moda pega, os cartórios terão muito trabalho no Brasil todo. Pois o país está cheio de ruas e avenidas não só Castelo Branco, como Garrastazu Médici, Costa e Silva, Ernesto Geisel, João Figueiredo. Mas a proposta dos vereadores é curiosa. Pelo jeito, não gostam de ditador nordestino.
Ditador gaúcho pode. O Rio Grande do Sul está eivado de ruas que homenageiam o ditador Júlio de Castilhos e há inclusive uma cidade que leva seu nome. Pelo jeito, o PSOL nada conhece da história do Estado, nem nunca ouviu falar da “ditadura científica” de Castilhos, inspirada no positivismo.
Isso sem falar nas ruas que, no Estado todo, homenageiam o ditador Borges de Medeiros, que durante 25 anos — sete anos a mais que o regime militar de 64 — foi presidente do Rio Grande do Sul. Até hoje me pergunto como a capital gaúcha não se envergonha ao dar o nome do ditador à sua avenida mais central. Gaúchos a parte, Porto Alegre — como também vários municípios do Estado — têm largos, ruas e avenidas chamadas Floriano Peixoto e marechal Deodoro. Homenagens que se repetem no país todo, tendo Floriano dado seu nome à capital catarinense.
Se os vereadores porto-alegrenses queriam tecer loas à democracia, esqueceram de pedir a troca de outros nomes na cidade. O historiador Sérgio da Costa Franco observa: “Prova da absoluta tolerância de Porto Alegre é que temos uma Praça Che Guevara, e uma rua do bairro Cascata com o nome de Carlos Marighela. Nem um nem o outro passariam num exame de fidelidade à democracia e à legalidade”.
A bem da verdade, até Dom Pedrito tem uma rua Ernesto Che Guevara. Como a cidade vive um tanto afastada da história contemporânea, poucos sabem quem foi o celerado e a rua passou a ser chamada de a Rua do Che. Palavra que, lá na Fronteira Oeste, designa qualquer um. Marighella, por sua vez, mereceu uma rua em Salvador. E Luís Carlos Prestes, o gaúcho a soldo de Moscou que pretendia fazer do Brasil uma republiqueta soviética, deu seu nome a uma rua na burguesa Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Costa Franco esqueceu de mencionar a rua Capitão Carlos Lamarca, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. O assassino mereceu outra homenagem no bairro Las Palmas, em São Bernardo do Campo.
O projeto de lei do PSOL foi rechaçado. Defensores da ideia aventam o absurdo de existir uma rua chamada Hitler, Franco, Stalin ou Lênin. Bom, Hitler não vale. Perdeu a guerra. Se a tivesse ganho, daria seu nome a praças e avenidas em toda a Europa. Quanto a Franco, até bem pouco era homenageado em toda Espanha. Stalin deu nome a não poucas ruas e logradouros não só na União Soviética como na Europa e, mesmo após as denúncias de Kruschov em 1956, era homenageado com estátuas colossais. O mesmo diga-se de Lênin, cuja múmia ainda é venerada em Moscou. Pelo que sei, aquela estátua colossal em frente à Estação Finlândia, em São Petersburgo, continua em pé. A propósito, Paris conserva até hoje uma rue Lenine, em Baingnolet.
Diz o manifesto do PSOL: “considerando tudo o que o Marechal Castelo Branco fez na qualidade de representante da ditadura civil-militar, remonta um período marcado por severas violações aos direitos fundamentais, a lembrança pública desta personalidade afigura-se incompatível com os ideais defendidos pelo Movimento da Legalidade. Por isso, ao realizarmos a alteração proposta, estaremos, ao mesmo tempo, renovando os ideais legalistas e repudiando qualquer forma de violação aos direitos humanos e às liberdades democráticas, tornando ainda mais justa a homenagem ao movimento gaúcho pela legalidade”.
Como se Júlio de Castilhos ou Borges de Medeiros fossem paladinos da democracia. Sem falar em Getúlio Vargas, o mais querido ditador gaúcho, que foi reconduzido à Presidência da República por voto popular. Mas as esquerdas gaúchas jamais ousariam pedir a retirada do nome do Velho, onipresente nas cidades do Rio Grande do Sul. Que mais não seja, era idolatrado por Leonel Brizola, o alvo oculto do projeto do PSOL.
Puro preconceito do PSOL gaúcho contra nossos irmãos lá do norte. Ditador gaúcho pode. Nordestino é que não pode.
Fonte: Janer Cristaldo
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