por Rodrigo Constantino
Já escrevi textos sobre o contexto de 1964, mostrando que havia o clima da Guerra Fria, que os verdadeiros golpistas eram os comunistas, treinados em Cuba e financiados por Moscou. O próprio Fernando Gabeira já admitiu que a esquerda não lutava por democracia alguma naquela época, e alguns confessavam que o “golpe” viria de um dos dois lados.
Imagem da Internet |
“É sumamente melancólico — porém não irrealista — admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’”, disse Roberto Campos. A chamada “crise da legalidade” foi deflagrada com a renúncia de Jânio Quadros, quando os ministros da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica não aceitaram a posse do vice-presidente João Goulart, herdeiro político do ditador populista Getúlio Vargas e acusado de ligações com os comunistas. O país estava em sério risco de viver uma guerra civil.
Diante da estação da Central do Brasil, mais de cem mil manifestantes gritavam por mudanças, com faixas como “Reconhecimento da China Popular”, “PCB – Teus Direitos São Sagrados”, “Abaixo com as Companhias Estrangeiras”, “Trabalhadores Querem Armas para Defender o Seu Governo” e “Jango – Defenderemos as Reformas a Bala”. A classe média teve uma reação em cadeia contra essa radicalização estimulada pelo próprio governo.
Leonel Brizola, cunhado de Jango, defendeu a substituição do Congresso por uma Constituinte repleta de trabalhadores camponeses, sargentos e oficiais nacionalistas. Goulart assinou um decreto, em 1964, desapropriando todas as terras num raio de dez quilômetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais para sua reforma agrária, assim como encampou as refinarias de petróleo privadas, em outro decreto. Foi anunciado o tabelamento dos aluguéis.
O governo estava em crise, apelando para a intimidação, enquanto a economia afundava. A inflação fora de 50% em 1962 para 75% no ano seguinte. Os primeiros meses de 1964 projetavam uma taxa anual de 140%, a maior do século. A economia registrava uma contração na renda per capita pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. As greves duplicaram entre 1962 e 1963. O governo irresponsável acumulara um déficit equivalente a mais de um terço do total das despesas. Jango nomeou o almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues, próximo ao Partido Comunista.
O Congresso mostrava-se disposto a bloquear os projetos de reforma. Luiz Carlos Prestes, ligado ao Partido Comunista, chegou a defender a dissolução do Congresso. Um golpe, de um dos lados, parecia iminente e inevitável. Tancredo chegou a prever que os passos de Jango levariam a uma luta armada. O governador pernambucano esquerdista, Miguel Arraes, declarou estar certo de um golpe, “de lá ou de cá”. Brizola repetia que “se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”. Jango, na China, discursava sobre o socialismo no Brasil. A famosa Revolta dos Marinheiros foi como uma gota no copo d’água lotado. Ocorreu uma quebra de hierarquia militar. O cabo Anselmo liderou a revolta, que resultou na demissão do ministro da Marinha, almirante Sílvio Mota, por tentar reprimi-lo.
Era tempo de Guerra Fria, o eixo da luta entre capitalistas e comunistas tinha se deslocado para a América Central, e os ditadores da União Soviética estavam investindo pesado no continente, enviando bilhões de dólares e agentes da KGB para diversos países. Em 1962 ocorreu a crise dos mísseis nucleares, que os russos instalaram clandestinamente no território cubano. Quase foi deflagrada uma guerra nuclear pela tentativa de avanço imperialista dos soviéticos comunistas.
O perigo do comunismo era real para todos os países, incluindo o Brasil. Diversas nações caíram nas garras comunistas nesse período, entrando em ditaduras duradouras e caóticas, enquanto outras acabaram partindo para regimes autoritários de direita, tentando travar os avanços comunistas. E era esse regime, responsável pela morte de cerca de cem milhões de pessoas no mundo todo, que as “vítimas” da ditadura queriam implantar no Brasil à força.
Eis o contexto do “golpe” de 1964 pelos militares, que, na verdade, foi mais um contragolpe. O general Humberto de Alencar Castello Branco era chefe do Estado-Maior do Exército, e fora um respeitado chefe da seção de operações da Força Expedicionária Brasileira. Não cabe, aqui, analisar o regime militar como um todo, que teve vários acertos e inúmeros erros. Tampouco é foco deste artigo um julgamento das duas décadas de positivismo sob os militares, ou se a redemocratização levou tempo demais. Roberto Campos reconheceu que “o erro dos militares foi não terem feito a abertura econômica antes da política; o erro dos civis foi, depois da abertura política, praticarem uma fechadura econômica”.
O intuito do texto é fornecer ao leitor o clima de 1964, para demonstrar que não houve um golpe do nada por parte de militares ambiciosos e sedentos pelo poder, mas sim uma reação ao avanço comunista. Após a reação dos militares, com forte apoio popular na época, que culminou no “golpe” de 64, os comunistas intensificaram alguns ataques. Como os primeiros anos não foram na “linha dura”, os radicais de esquerda perpetraram ações que incluíram assassinatos e sequestros, como o do embaixador americano, o que acabou provocando o agravamento brutal da repressão, que chegou a partir do Ato Institucional nº 5.
Antes da assinatura do AI-5, já estavam no currículo desses terroristas o assassinato de pessoas como o Major do Exército da então Alemanha Ocidental, Edward Von Westernhagen, no primeiro dia de julho de 1968, e do Capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em São Paulo, no dia 12 de outubro de 1968.
Um dos grupos que defendia essa guinada violenta era o Agrupamento Revolucionário de São Paulo, inspirada em Carlos Marighela, que havia redigido o “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Em 21 de junho de 1968, na chamada “Sexta-feira Sangrenta”, ocorreu um confronto ininterrupto que resultaria em centenas de feridos, 23 pessoas baleadas e quatro mortos, incluindo um soldado da PM atingido por um tijolo. Tentaram arrombar também as portas da agência do Citibank, símbolo do “imperialismo ianque”, e jogaram vários coquetéis Molotov na sede do jornal O Estado de São Paulo. O AI-5 foi assinado apenas em 13 de dezembro de 1968, como resposta aos crimes bárbaros cometidos pelos comunistas.
Roberto Campos concluiu: “Comparados ao carniceiro profissional do Caribe, os militares brasileiros parecem escoteiros destreinados apartando um conflito de subúrbio”. Não obstante, a esquerda teve o caminho da cultura livre para ser totalmente aparelhado, e os pupilos de Fidel Castro assumiram um papel quase hegemônico nessa área. Dominando a academia, a cultura pop e a imprensa, a esquerda derrotada no campo político venceu no campo cultural. E conseguiu bancar a vítima, demonizar os militares e posar de democrata, enquanto defendia o comunismo assassino.
Aceleramos décadas no tempo e chegamos, então, à vitória de Lula em 2002, na quarta tentativa e com a embalagem criada por Duda Mendonça. O Lulinha Paz e Amor ludibriou parte da elite, enquanto seu braço-direito, José Dirceu, treinado em Cuba com o codinome Daniel, agia nos bastidores. O mensalão e o petrolão foram os maiores esquemas de corrupção já criados no país, com o claro intuito de alimentar um projeto totalitário de poder do PT. A coisa desandou quando a economia degringolou de vez e Dilma sofreu impeachment.
Lula acabou preso, mas os comunistas não desistem facilmente. Dirceu cantou a pedra: “Vamos tomar o poder, o que é diferente de ganhar eleições”. Quando alguém como Bolsonaro se tornou presidente, o sistema podre e carcomido entrou em pânico, e o petismo viu aí sua oportunidade. Numa aliança instável e oportunista, tucanos globalistas e petistas comunistas se uniram para eliminar a direita democrática. O aparelhamento de instituições, em especial o STF, foi crucial para o plano. Resumo a história pois ela é recente, e confio na memória do leitor.
Com malabarismos supremos, Lula foi solto e ficou elegível, enquanto Bolsonaro foi perseguido de forma implacável. Dirceu e sua gangue aprenderam lições importantes com o fracasso anterior: a velha imprensa precisava ser comprada, e as Forças Armadas deveriam ser domesticadas. No caso da mídia foi mais fácil: há muita pena de aluguel nas redações, além de simpatia natural pelo esquerdismo após décadas de doutrinação ideológica nas faculdades. Já com os militares o buraco é mais embaixo...
Os patriotas sérios deveriam ser caçados, e como muitos estavam ao lado de Bolsonaro, o pretexto era óbvio: são todos golpistas! General Heleno, Mauro Cid e até Villas Boas acabaram sendo alvos de ações do sistema e da imprensa para neutralizá-los. Por outro lado, uma cúpula de “generais melancias” — verdes por fora, vermelhos por dentro — foi cooptada em troca de cargos e poder. A base, certamente patriota, observa a tudo com uma mistura de revolta e decepção.
O desgaste militar faz parte da estratégia de Dirceu. O povo, que apostou suas fichas novamente nas Forças Armadas para conter o golpismo comunista, ficou a ver navios — ou pior, uma parcela acabou presa de forma arbitrária pelo ministro Alexandre de Moraes, pelos “atos antidemocráticos”. Nas redes sociais, muitos agora tiram sarro dos militares, vingam-se com “memes” alegando que nossos militares só servem para pintar asfalto ou prestar continência para ditador comunista como Maduro. Mas sem os militares, quem pode impedir o projeto comunista?
É preciso, então, tirar o chapéu para o brilhantismo de Dirceu. Os comunistas tiveram de esperar décadas, mas parece que dessa vez deu certo para eles. Os militares estão desacreditados perante a sociedade, os que ousaram resistir foram perseguidos ou até presos, e o caminho parece livre para o golpe fatal dos comunistas. O que teria acontecido no Brasil se os militares não tivessem agido em 1964? Nunca é possível saber com certeza, mas acredito que agora teremos uma ideia. E não é um futuro animador para quem preza a liberdade, a democracia verdadeira e a vida humana.
Fonte: recebido por mensagem eletrônica
Nenhum comentário:
Postar um comentário