Os bandidos eram procurados por serem dois dos mais perigosos narcoguerrilheiros dissidentes, e aparentemente morreram em uma explosão na Venezuela.
por Nelson Matta Colorado
e Daniela Osório Zuluaga
O som de uma explosão na madrugada de 4 de maio teria pego de surpresa dois dos dissidentes mais procurados do país: Miguel Botache Santillana, vulgo "Gentil Duarte", e Javier Alfonso Velosa García, vulgo "Jhon Mechas", que controlava mais de 600 homens e 6.000 hectares de cocaína em todo o país.
Segundo as suspeitas das autoridades, foram seus próprios inimigos criminosos que conseguiram assassiná-los do outro lado da fronteira, no estado venezuelano de Zuila, em meio a uma disputa pelo controle territorial e rotas de narcotráfico.
Gentil Duarte foi o primeiro chefete das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) a não aceitar o Processo de Paz com o governo colombiano e e continuar a luta armada.
Após pelo menos três golpes do Exército colombiano contra ele, Duarte fugiu para o estado fronteiriço e de lá comandou mais de 600 homens. Em Zuila, Jhon Mechas, também dissidente, foi quem o acolheu e o protegeu com suas tropas daquele lado da fronteira.
Essa proximidade também teria custado a vida de Jhon Mechas, que estava no local da explosão quando os fatos ocorreram, segundo informações recebidas pelo general Jorge Luis Vargas, diretor-geral da Polícia.
A disputa pelo controle de um dos principais corredores de coca entre Catatumbo e Venezuela tem sido mais eficaz no combate aos grupos armados do que todos os esforços da Força Pública.
Em menos de dois anos, essa guerra de traição e morte removeu do mapa pelo menos quatro dos mais altos escalões dissidentes das FARC: Seuxis Pausias Hernández, vulgo “Jesús Santrich”; Hernán Darío Velásquez, vulgo “El Paisa”; Henry Castellanos, vulgo “Romanha”; e Miguel Botache Santillana, vulgo “Gentil Duarte”, cuja morte é noticiada como um fato.
O outro lado da fronteira, na Venezuela, deixou de ser o abrigo perfeito onde se escondiam guerrilheiros e narcotraficantes e se tornou em mais um território onde cerca de 17 estruturas criminosas disputam o chamado Arco do Caribe, caminho por onde transitam coca, armas e outros tipos de substâncias sem o assédio das autoridades, como explica Néstor Rosanía, diretor do Centro de Estudos de Segurança e Paz.
O Primeiro Dissidente
A bandeira de Miguel Botache Santillana sempre foi a revolta. Primeiro, declarou-se em rebeldia contra o Estado — tornando-se um dos mais importantes comandantes das extintas FARC — e depois voltou-se contra esse grupo guerrilheiro, sendo o primeiro a abandonar o Processo de Paz e formar sua própria quadrilha de dissidentes.
Desconfiado, esquivo e com boa capacidade de controle de rotas, Gentil Duarte tornou-se um dos homens mais procurados pelo governo colombiano, antes de sua desmobilização e após seu retorno às armas.
Segundo a Insight Crime, sob sua coordenação, os dissidentes de Duarte e Néstor Gregorio Vera Fernández, vulgo “Iván Mordisco” expandiram-se rapidamente por todo o país, consolidando suas ações em pelo menos 17 departamentos e três países: Colômbia, Venezuela e Equador.
Após deixar as negociações do Acordo de Paz em meados de 2016, Duarte se juntou aos ex-integrantes da Primeira e Sétima Frentes e continuou com a luta armada e negócios de tráfico de drogas, extorsão, mineração e sequestro, entre outros.
Santillana nasceu há 58 anos em Florencia, Caquetá, e na década de 1980 foi recrutado pelas FARC aos 14 anos. Por esse grupo militou nos departamentos de Caquetá, Putumayo, Guaviare, Meta, Guainía, Vichada e Arauca e tornou-se comandante da Sétima Frente e membro do Estado-Maior do Bloco Oriental da narcoguerrilha.
Atualmente os homens sob o comando de Duarte lutam contra a Segunda Marquetalia, liderada por "Iván Márquez"; e contra o ELN e o Clan del Golfo.
De fato, as autoridades culparam a dissidência de Duarte por provocar a onda de violência que atingiu Arauca no início deste ano.
Em meio a essa guerra cruzada entre as estruturas criminosas e a Força Pública, Duarte é acusado de assassinar soldados e lideranças sociais e de controlar cerca de 6.500 hectares de cocaína em Meta, Guaviare e Caquetá. Ele teria sido cruel até contra seus ex-companheiros de luta, já que lhe são atribuídos os assassinatos de 14 signatários da paz que se recusaram a pegar em armas e se juntar às suas fileiras.
As autoridades estão trabalhando para confirmar as mortes de Gentil Duarte — por quem a Casa de Nariño ofereceu até 3.000 milhões de pesos — e John Mecha, que é outro dos comandantes mais importantes dos dissidentes.
Este último aderiu às guerrilhas das FARC em 1996 e decidiu não aderir ao processo de paz de 2016. Além dos crimes de extorsão, tráfico de drogas e recrutamento forçado, “Mechas” também é acusado do ataque a um CAI policial em Ciudad Bolívar, onde duas crianças morreram; pelo ataque ao presidente Iván Duque em Cúcuta; e pelo assassinato de dois jovens de 12 e 18 anos em Tibú, Norte de Santander, em outubro de 2021.
Espera-se que o comando das estruturas que agora teriam ficado sem líder seja assumido por “Iván Mordisco”, um experiente ex-guerrilheiro das FARC com mais de 32 anos de experiência criminosa e um temperamento forte que o tornou famoso como "a mais radical" das dissidências.
Dissidentes se escondem na Venezuela
Os assassinatos de líderes em território venezuelano já não são mais algo estranho. Com a suposta morte de Gentil Duarte seriam quatro dissidentes de alto escalão das FARC que morreram do outro lado da fronteira em menos de dois anos. De fato, o governo colombiano insinuou que a presidência de Nicolás Maduro está abrigando grupos como o Clã del Golfo, o ELN e dissidentes para se esconder das autoridades colombianas. Após o boato da morte de Jhon Mechas e Duarte, o ministro da Defesa, Diego Molano, voltou a atacar aquele regime, assegurando que “esta é mais uma prova, se esse fato se confirme, de que o regime de Nicolás Maduro protege grupos terroristas e traficantes de drogas em seu solo e não os combate”.
Os que mataram Duarte
Apesar de vários grupos se movimentarem ao longo da fronteira, incluindo gangues que se vendem ao melhor lance e até supostas milícias norte-americanas, a verdade é que o poder é distribuído entre três grandes grupos: A Segunda Marquetalia — que tem mais poder pelo nome do que pelo homens armados, como diz Rosanía —, a Frente de Guerra Oriental, do ELN, e os então dissidentes de Gentil Duarte e Javier Alfonso Velosa García, vulgo Jhon Mechas.
Depois de dois anos brigando entre si para dominar rotas, fornecedores e mercado, Gentil Duarte começou a se aproximar, como antigamente, de seu antigo parceiro de insurgências Iván Márquez, um homem que não havia conseguido alianças porque pretendia continuar com a estrutura dos comandantes das FARC em um ambiente que só visava o dinheiro e o tráfico de drogas e que não estava disposto a se subordinar novamente.
Ao saber dessa traição, o também dissidente, Iván Mordisco, teria traçado um plano para assassinar Duarte e impedir o fortalecimento da Segunda Marquetalia.
Esta hipótese foi confirmada no terreno com membros dos grupos armados e habitantes do setor onde se concentram os dissidentes.
Mas assassinar Duarte não foi uma tarefa fácil. Aparentemente, os dissidentes de John Mechas e da 10ª Frente, comandada por Arturo, teriam conspirado para armar uma armadilha para ele do outro lado da fronteira e assassiná-lo enquanto dormia, como de fato aconteceu.
Por enquanto, os grupos de inteligência contra o crime organizado estão tentando verificar se as mortes de Gentil Duarte e Jhon Mechas realmente aconteceram, e se a nova reestruturação vai gerar retaliação que afete a população civil.
Enquanto isso, Iván Mordisco é o líder natural daquelas subestruturas que antes estavam sob o comando de Duarte e Mechas, que se caracterizavam por atrair dissidências com comandos regionais independentes.
De fato, Néstor Rosanía analisa que essa estrutura descentralizada de poder permitirá que as coisas não mudem muito, embora dependa das represálias que a Segunda Marquetalia possa tomar.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
ATUALIZAÇÃO EM 7 JUL 22: Aparentemente está em andamento uma limpeza na estrutura de mando das antigas FARC. Mais um "capo" do bando está sem sinal de vida, e outros três parecem estar em maus lençóis no território venezuelano. Ainda não se sabe se a iniciativa é de quadrilhas rivais, ou se do governo de Nicolás Maduro, em uma tentativa de "queima de arquivos", que anteceda uma negociação de retorno da Venezuela à uma vida diplomática normal.
https://www.eltiempo.com/unidad-investigativa/ivan-marquez-los-audios-que-confirmarian-su-muerte-en-venezuela-684710
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