O ministro de Petróleo, Tareck El Aissami, é tido como quem abriu as portas da Venezuela ao Hezbolah. FOTO: Prensa Miraflores. EFE
Um ex-membro de Inteligência, que esteve atuando até há alguns meses no corpo diplomático de Israel na Colômbia, começou a ser seguido pelas ruas de Bogotá.
Informação recolhida por agentes estrangeiros, inclusive do MOSSAD (o poderoso serviço de Inteligência de Israel), indicava que sujeitos vinham espiando suas rotinas na academia, no escritório e até na casa de uma amiga colombiana.
Estados Unidos já advertiram que células do Hezbolah vem sendo dispersando por América Latina. Foto: Arquivo EL TIEMPO
Autoridades colombianas foram notificadas de que tudo indicava que o estrangeiro — que, após cumprir sua comissão diplomática, havia aberto uma companhia de importação e comercialização de câmeras de vigilância e tecnologia — ia ser assassinado.
E apesar de ter sido retirado para Tel Aviv em uma operação discreta e sigilosa, o relato confidencial, destacava que ele não era o único que estava sendo monitorado. Um punhado de estrangeiros aparecia na lista de potenciais objetivos de um grupo de extremistas que opera há anos na região de Bogotá: o Hezbolah.
Pompeo e Duque
Reunião, do presidente Iván Duque e o ex-secretario de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo. Foto: Presidência
Para alguns oficiais de Inteligência locais, que há anos haviam detetado a presença desse grupo pró-iraniano — qualificado como terrorista por vários países, incluído os Estados Unidos e Colômbia — o relatório causou surpresa.
Até agora, o que se sabia era que o Hezbolah só atuava buscando financiamento por meio de negócios (legais e ilegais) ligados ao setor têxtil, da construção, de carnes e de carvão.
Porém, antes da explosão da pandemia e em plena visita a Bogotá, o então secretario de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, já havia lançado um alerta sobre a latente ameaça. E, agora, agências estrangeiras já começaram a falar de possíveis ações terroristas.
Assim foi informado o governo de Iván Duque, segundo altas fontes oficiais. De fato, essas advertências estão ligadas às polêmicas declarações feitas pelo ministro de Defesa, Diego Molano.
“Aqui temos um inimigo comum e é o caso de Irã e Hezbolah, que opera contra Israel, mas também apoia o regime da Venezuela e, portanto, é um esforço importante de intercambio de informação e Inteligência o que desenvolvemos com as Forças Militares e Ministério de Defesa de Israel”, disse Molano.
A outra delegação na mira
No encerramento de sua visita oficial a Israel e após varias críticas a seu ministro, o presidente Iván Duque teve que dar uma rápida guinada diplomática e marcar limites esclarecendo que há relações com Irã desde 1975.
“
Colômbia não usa a palavra inimigo para referir-se a nenhum país (…) Isso não quer dizer que não tenhamos diferenças em temas puntuais com Irã (…) Sempre levantaremos nossa voz, em qualquer cenário internacional, contra a proliferação de armas nucleares”, afirmou o mandatário.
Diego Molano, ministro Defesa. Foto: Arquivo El Tiempo |
No entanto, a informação que está na mesa, qualificada como sensível, está sendo tomada muito a sério por Colômbia e outros governos.
De fato, em recente entrevista, o ministro Molano confirmou que há dois meses se desenvolveu uma operação para “capturar e expulsar dois criminosos patrocinados pelo Hezbolah, que tinham intenções de cometer um ato criminoso na Colômbia”.
No dossiê que cita a informação cedida pelo MOSSAD (entre outras agências) se destaca que, além do ex-diplomata israelense, também estariam em risco membros da delegação dos Estados Unidos em Bogotá.
Diz, também, que os ‘cérebros’ dos potenciais atentados estão na Venezuela. Inclusive, há pouco tempo, houve uma visita discreta naquele país, de três diretores de MOSSAD, para tratar do assunto.
O General e os ex-FARC
O General Soleimani era um dos chefes militares mais poderosos do Irã. Foto: EFE |
O pano de fundo dos potenciais atos terroristas é um plano muito mais ambicioso que, conforme a Informação de Inteligência, inclui outros países da região, entre eles os EUA.
Se trata de uma eventual resposta à morte do general Qasem Soleimani, o poderoso e temido chefe da Força de Elite Quds do Irã.
Soleimani foi morto nos arredores do aeroporto de Bagdá, no Iraque, em 3 Jan 2020, em um ataque aéreo estadunidense executado com drones.
Ainda que seis meses depois tenham executado Mahmoud Mousavi Majd, o tradutor acusado de haver entregue informação à CIA e ao MOSSAD sobre os movimentos do general, a morte de Soleimani é considerado um tema pendente.
A Informação que chegou à Colômbia destaca que
o Hezbolah estaria usando membros das dissidências das ex-FARC para as vigilâncias em Bogotá.
El Paisa - Hernán Darío Velásquez Foto: Twitter: @MargaritaRepo |
De fato, investigam se homens de Hernán Darío Velásquez, vulgo "El Paisa", estão executando esse labor, o que coincide com documentos achados pela Polícia e Procuradoria Geral em um computador apreendido em Cali no agosto passado.
Ali encontraram planos das dissidências da ‘Segunda Marquetalia’ nos quais falam sobre executar uma ação de alto impacto.
Inclusive, dizem que já haviam lançado homens no terreno, o que coincide com a historia do israelense que teve que ser tirado de Bogotá para Tel Aviv.
Mais ainda, no dossiê de Inteligência se fala que dissidentes das ex-FARC estariam recebendo armamento e treinamento em território venezuelano para executar essas ações.
“O propósito é que o pessoal das ex-FARC realizem as tarefas e não apareçam forças estrangeiras vinculadas”, disse um agente.
A espionagem sofisticada
Tareck El Aissami, teria aberto as portas da Venezuela ao Hezbolah. |
Acrescentou, ainda, que para facilitar os planos, na Venezuela já opera um sistema de espionagem (ou Unidade Estratégica Radio-eletrônica) avançado, com o que escutam comunicações em Cúcuta e tem interceptado até vídeo-conferencias do Exército e da Polícia.
O que diz o agente coincide com o especialista em segurança e defesa Johan Obdola sobre a participação da Venezuela nesta trama.
“Nos últimos anos, tem ocorrido um processo constante de presença do Hezbolah na Venezuela e a provisão de identificações a seus elementos, os quais tem se dispersado pela América Latina. Tareck El Aissami (hoje ministro de Petróleo) foi quem abriu a porta para essa organização na Venezuela e logo se estabeleceu o nexo com as FARC e outros grupos de colombianos”, explicou Obdola.
Johan Obdola, especialista em Inteligência e Segurança. Foto: Archivo Particular |
E acrescentou que Colômbia é um ponto sensível onde se desenvolve uma grande operação de espionagem por parte do regime de Nicolás Maduro, com assistência e participação direta de vários agentes externos, incluídos cubanos.
Segundo o especialista, o Hezbolah tem na região “células adormecidas, que podem ser ativadas em qualquer momento, cuja capacidade, estratégias e técnicas terroristas são de alto nível de efetividade; que devem ser consideradas seriamente, independente da cara diplomática que mostrem”.
¿O quê vem agora?
Além disso, autoridades sabem que o ELN também tem nexos com essa organização.
Um sujeito identificado como Cristóbal Grimaldo, vulgo Jaime, é o enlace entre essa quadrilha e o grupo de origem libanesa.
Marta Ramírez, chanceler. |
Mas analistas acadêmicos asseguram que Colômbia, tanto no que resta desta administração quanto nas que se seguirem, tem que tomar posturas mais firmes sobre a venda de armas de Irã à Venezuela e não subestimar a possibilidade de que se possa chegar a produzir uma ação do Hezbolah em algum ponto do território nacional.
Porque, sublinham, o ataque em 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires, que deixou 85 mortos e mais de 300 feridos — e que foi obra do Hezbolah —, ilustra até onde eles podem chegar.
A resposta que deu a diplomacia iraniana
Mohammad Ali Ziaei, embaixador do Irã em Bogotá. |
“Irã e Colômbia são dois países amigos e tem uma histórica relação. A destruição dessa relação não beneficia aos povos dos dois países”, assinalou, através de um comunicado, o embaixador da República Islâmica do Irã em Bogotá, Mohammad Ali Ziaei.
O embaixador iraniano também se referiu às relações do Irã e Venezuela. A respeito, advertiu que estas se concentram em termos beneficiosos não só para as partes, mas também para a região, rechaçando as afirmações sobre o comercio de armas (mísseis) entre ambos países.
Sem dúvidas, informes de Inteligência destacam que 3.970 mísseis iranianos estão já em plataformas instaladas na Venezuela e que há outros tipos de apoio militar a Caracas.
De fato, Estados Unidos investiga se o colombiano Álex Saab — capturado em Cabo Verde quando ia para o Irã — teve nexos com essas aquisições, que são monitoradas por agencias estrangeiras.
Unidad Investigativa
u.investigativa@eltiempo.com
No Twitter: @UinvestigativaET
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Fonte: tradução livre de
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