"A Colômbia foi além no caso da Odebrecht; no Brasil não tem mais nada"
O promotor renunciante Andrés Jiménez revela reuniões secretas com promotores no Brasil e no caso Cemex.
O demissionário Andrés Jiménez afirma que Colômbia avançou muito mais nas investigações dos subornos da Odebrecht. Foto: Abel Cárdenas |
Por Unidade de Pesquisa
Andrés Jiménez, promotor encarregado contra crimes financeiros, renunciou ao cargo, fez malas há oito dias e foi para a Europa para executar um projeto particular. Porém, antes admitiu a El Tiempo que teve acesso ao processo que o Brasil tem sobre o escândalo da Odebrecht e garantiu que o Ministério Público da Colômbia avançou muito mais naquele trabalho.Além disso, ele revelou que parte dos subornos que o ex-vice-ministro Gabriel García recebeu foram perdidos em investimentos fracassados na Bolsa de Valores de Nova York. E ele disse, ainda, por que os pré-acordos principais no caso Cemex não prosperaram.
Ele também falou de outros processos emblemáticos, como o da Lamborghini dos Ambuila e o processo de lavagem de dinheiro contra o renomado empresário Salomón Kor.
Jiménez disse que deixa como legado uma Promotoria empoderada, com 500 promotores e investigadores treinados na investigação de crimes financeiros e com a melhor sucessora: Luz Ángela Bahamón.
— Quais foram os principais casos adiantados em seu mandato?
Os Documentos do Panamá; a corrupção no INVIMA e até os produtos "esotéricos" que Stella Durán vendia. Quanto à luta contra o contrabando e a corrupção, o caso mais falado foi o de Ómar Ambuila e sua filha Jenny. Ela morava em uma cobertura na Trump Tower em Miami e tinha uma Lamborghini de US$ 300.000, paga na Colômbia. De mãos com a DIAN, retiramos muitos funcionários corruptos dessa entidade. Também emitimos um mandado de prisão contra Álex Saab — o chamado "testa de ferro" do regime venezuelano — muito antes de ser incluído na lista de Clinton. Somente nas operações de lavagem, nos últimos três anos, processamos 16 bilhões de pesos.
Em termos de extinção de domínio, os resultados também são históricos. De agosto de 2016 até a semana passada, quando me aposentei, esse número estava em pouco mais de 17 bilhões de pesos: [equivalentes a] duas reformas tributárias. Houve resultados notáveis contra o tráfico de drogas e mercadorias que não foram entregues pelos ex-guerrilheiros das FARC, cerca de 2,5 bilhões do total que mencionei.
— O contrabando e a lavagem são comparados ao tráfico de drogas?
Esta é uma das imagens de Jenny Ambuila no carro de luxo.- Foto: Acusação
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— Quais foram os principais casos adiantados em seu mandato?
Os Documentos do Panamá; a corrupção no INVIMA e até os produtos "esotéricos" que Stella Durán vendia. Quanto à luta contra o contrabando e a corrupção, o caso mais falado foi o de Ómar Ambuila e sua filha Jenny. Ela morava em uma cobertura na Trump Tower em Miami e tinha uma Lamborghini de US$ 300.000, paga na Colômbia. De mãos com a DIAN, retiramos muitos funcionários corruptos dessa entidade. Também emitimos um mandado de prisão contra Álex Saab — o chamado "testa de ferro" do regime venezuelano — muito antes de ser incluído na lista de Clinton. Somente nas operações de lavagem, nos últimos três anos, processamos 16 bilhões de pesos.
Em termos de extinção de domínio, os resultados também são históricos. De agosto de 2016 até a semana passada, quando me aposentei, esse número estava em pouco mais de 17 bilhões de pesos: [equivalentes a] duas reformas tributárias. Houve resultados notáveis contra o tráfico de drogas e mercadorias que não foram entregues pelos ex-guerrilheiros das FARC, cerca de 2,5 bilhões do total que mencionei.
— O contrabando e a lavagem são comparados ao tráfico de drogas?
Eles são primos de primeiro grau. Nos dois anos de permanência no cargo, aumentamos a produtividade da Diretoria contra o Branqueamento de Capitais em 65%. Atacamos estruturas que lavavam dinheiro de organizações criminosas. Entre outros, processamos o empresário Salomon Korn, que aparentava trocar cotoveladas com o show business enquanto interceptações mostravam como ele concordava em lavar o dinheiro.
— Dois comerciantes de ouro são processados por lavagem. O que acontece nesse setor?
Hoje, a mineração ilegal constitui uma economia criminosa gigantesca que ataca o meio ambiente e fortalece grupos ilegais. Hoje, é mais lucrativo exportar ouro ilegalmente do que o próprio negócio do narcotráfico. Um quilo de coca nas ruas de Nova York custa US$ 36.000 e um quilo de ouro, US$ 42.000, e os reembolsos são feitos pelos bancos. Faça contas
— Dois comerciantes de ouro são processados por lavagem. O que acontece nesse setor?
Hoje, a mineração ilegal constitui uma economia criminosa gigantesca que ataca o meio ambiente e fortalece grupos ilegais. Hoje, é mais lucrativo exportar ouro ilegalmente do que o próprio negócio do narcotráfico. Um quilo de coca nas ruas de Nova York custa US$ 36.000 e um quilo de ouro, US$ 42.000, e os reembolsos são feitos pelos bancos. Faça contas
Concentramos os esforços nos profissionais de marketing interno, que compravam ouro independentemente da origem e sem cumprir o regulamento. Também em profissionais de marketing internacionais, que movimentam bilhões. Em três anos, foram realizadas operações que representaram quase 12 bilhões de lavagem através dessas operações.
— Fontes no Brasil disseram a El Tiempo que você viajou para negociar o acordo para acessar as evidências do caso Odebrecht. Por que ele não assinou?
Tens boas fontes. No início do processo da Odebrecht, em 2017, como Diretor da Polícia Financeira (PEF), viajei várias vezes ao Brasil em busca de trocas de dados probatórios. Em junho de 2017, eu me encontrei em Brasília — na companhia de um dos Promotores colombianos no caso Odebrecht — com o coordenador de cooperação judicial do Ministério Público, Vladimir Aras. Havia também cinco ou seis Promotores que faziam parte da Força-Tarefa de Curitiba e Brasília. Trocamos informações. O resultado é que apenas 6 meses após o início do caso na Colômbia, nosso Ministério Público já tinha mais evidências de corrupção do que o Brasil e os Estados Unidos haviam coletado juntos. Os brasileiros ficaram surpresos e informalmente nos mostraram o resumo das evidências que o Ministério Público daquele país tinha e o que os colaboradores haviam dito no processo de Lava Jato.
O acordo proposto pelo Brasil implicava que as evidências que eles nos deram não poderiam ser usadas contra a Odebrecht ou seus executivos. A Colômbia não poderia aceitar essa condição, ainda mais se as evidências existentes já tivessem sido obtidas em nosso país, como resultado de nosso trabalho e dos princípios de oportunidade negociados com Luis Bueno e Eleuberto Martoreli. Teríamos ficado com as mãos atadas. Que eu saiba, a Colômbia foi o primeiro país em que mandados de prisão foram processados e emitidos contra brasileiros.
Penso que o papel dos 14 promotores do caso Odebrecht na Colômbia não foi reconhecido nem dimensionado aqui. Eles conseguiram descobrir mais coisas do que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou.
Otto Bula, ex-senador da Cordilheira condenado pelo escândalo da Odebrecht. Foto: Abel Cárdenas / A HORA |
— El Tiempo revelou evidências que o Brasil tem sobre o caso colombiano. Mas o Supremo Tribunal tenta acessar o arquivo. Será que eles vão encontrar algo mais?
Como é bom que você tenha divulgado essa informação. Sabíamos tudo o que o Brasil tem. De acordo com o que vimos com o promotor com quem viajei, não há mais nada além do que já foi investigado na Colômbia. Eles não encontrarão nada além do que o Ministério Público já investigou e enviou ao Tribunal e a Procuradoria Geral da República.
Em junho de 2017, a justiça estrangeira falava em subornos na Colômbia em dois contratos de 11 milhões de dólares e, nessa época, o Ministério Público já havia estabelecido quatro contratos corrompidos: Ruta del Sol, Ocaña-Gamarra, Estabilidade Legal e Tunjuelo-Canoas, com pagamentos ilegais no valor de 84.000 milhões de pesos, três vezes o valor revelado pelos gringos e pela justiça brasileira.
— Setores da opinião insistem que não houve progresso aqui como no Peru, com ex-presidentes envolvidos ...
O caso do Peru é diferente. Lá, a corrupção chegou aos bolsos dos ex-presidentes, o que dá muito para manchetes. De acordo com as evidências que vimos no Brasil e as coletadas no país, outro modelo de corrupção foi escolhido aqui: a compra de funcionários de entidades contratantes e congressistas, como aconteceu na República Dominicana. Existem alguns setores que, por razões políticas, continuarão sustentando que, enquanto ex-presidentes e parceiros nacionais da Odebrecht não forem processados, nada foi feito. É um absurdo, pois as muitas evidências coletadas no Brasil e na Colômbia que já são públicas não os envolvem.
A memória é frágil. Duas semanas após a explosão do escândalo, o ex-vice-ministro Gabriel García e o ex-senador Bula já haviam sido capturados. Nada disso aconteceu na América Latina. Dou uma cifra única: no Brasil 89 pessoas foram processadas, aqui superamos a cifra.
Uma das evidências que o Brasil tem sobre o caso na Colômbia. Luiz Bueno detalhou as reuniões com o vice-ministro Gabriel García Morales e o pagamento de 6,5 milhões de dólares. Foto: El Tiempo |
— E sobre as campanhas presidenciais?
A acusação provou há três anos que havia chegado dinheiro a campanhas presidenciais. No início, essas notícias foram recebidas com ceticismo e hoje não são questionadas. No Brasil, havia alguma evidência sobre o financiamento político de 2014, mas eles não sabiam das contribuições de 2010 que encontramos na Colômbia e, de qualquer forma, esse financiamento não estava relacionado a subornos.
Também conseguimos pela primeira vez na história da cooperação judicial com o Panamá, receber informações bancárias e corporativas. Isso permitiu rastrear todo o dinheiro corrompido. Portanto, o vice-ministro Garcia não é o único envolvido no manuseio de dinheiro sujo. Há mais condenados por corrupção e lavagem de dinheiro.
Ninguém questiona a justiça americana ou a justiça brasileira no caso da Odebrecht. Aqui, se encontrou o dobro de contratos públicos denunciados internacionalmente por corrupção, foram identificados dezenas de contratos ilegais para mover verbas irregulares, que não eram conhecidas no Brasil, e ficou provado que o dinheiro de propinas era o triplo do valor divulgado pelas autoridades estrangeiras.
A ironia é que o debate nacional é feito com as informações coletadas pelo Ministério Público da Colômbia.
— El Tiempo revelou como foi transferida verba do 'carrossel' das contratações para os EUA. Como está o caso?
Isso era uma dívida que a justiça da Colômbia tinha. Quando assumi o cargo, fizemos um balanço das operações financeiras vinculadas ao 'carrossel' de contratações. Ainda que as investigações de corrupção progredissem — ainda na semana passada, o ex-prefeito Samuel Moreno recebeu sua terceira condenação — o mesmo não ocorreu com a questão financeira. Uma das dificuldades foi montar um rastreio financeiro quase dez anos após a pilhagem. Em alguns casos, a informação já não existia; alguns não queriam cooperar já estando condenados; ou entidades, através das quais os recursos eram movidos, já não existiam mais. Mas tivemos dois resultados importantes.
Um foi saber como os recursos foram transferidos do 'carrossel' para os Estados Unidos; e o papel do ex-embaixador Fernando Marín Valencia. Descobrimos uma rede de empresas que foram estabelecidas para comprar bens relacionados a Moreno em Miami. As empresas foram liquidadas em 2012, mas ainda estão investigando o que aconteceu após o fechamento. Também foi revelado que parte dos recursos acabou em um projeto imobiliário em Miami, cujo valor comercial seria de 70 milhões de dólares. Essas questões ainda estão em andamento com o objetivo de buscar esses recursos e rastrear outros.
O Ministério Público garante que o dinheiro do saqueio a Bogotá acabou investido em Miami. O caso envolve o ex-prefeito de Bogotá, Samuel Moreno Rojas. Foto: Ana Maria García-El Tiempo |
— E o outro resultado?
O segundo resultado foi a apreensão de dois apartamentos relacionados com os Nule nos Estados Unidos. Eles valem aproximadamente dois milhões de dólares e foram apreendidos por ordens de um promotor de extinção de domínios da Colômbia. Mais importante ainda, essa medida foi reconhecida por um tribunal federal dos Estados Unidos. Conseguir isso em termos de cooperação judiciária internacional em tão pouco tempo é muito notável. Isso também foi alcançado graças ao acordo de compartilhamento de bens existente com os Estados Unidos, assinado no final de 2016 que, é claro, ajuda a viabilizar essas questões.
Nesse caso, foram obtidos resultados nunca obtidos antes no Ministério Público, mas também se perdeu tempo por não terem sido feita as perguntas certas no passado.
— O que aconteceu no caso Cemex com a confissão de dois envolvidos, que estão nos EUA? Por que não foram assinados os acordos preliminares?
As aproximações e negociação foram lideradas por mim, de mãos dadas com promotores do Departamento de Justiça de Washington e do escritório do FBI em Nova York. Viajei duas vezes a convite do Departamento de Justiça para falar com as pessoas que você mencionou. Os depoimentos foram recebidos na presença de funcionários do Ministério Público da Colômbia, do FBI e do Departamento de Justiça [americano]. No caso de Édgar Ramírez — executivo para a América Latina da Cemex —, analisadas as informações, ele recebeu uma oferta de acordo, mas a rejeitou em agosto. Com Eugenio Correa, não foi possível chegar a um acordo, porque ele não forneceu todas as informações solicitadas pelo Ministério Público. Apesar disso, a investigação ainda está sendo conduzida de forma independente pelas autoridades dos Estados Unidos. O caso está progredindo e o país conhecerá em breve o alcance desta investigação.
UNIDADE DE PESQUISA
u.investigativa@eltiempo.com
Fonte: tradução livre de El Tiempo
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