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Em junho de 2018, um dos oficiais mais jovens e experientes da Diretoria de Investigações Judiciais e Interpol (DIJIN) da Polícia Colombiana se converteu em "Camilo", um elegante diplomata com passaporte azul, caminhonete blindada e a possibilidade de viajar a qualquer parte do mundo sem que sua bagagem fosse revistada.
Com essa fachada se infiltrou na organização do narcotraficante espanhol e começou a identificar rotinas, substitutos, celulares criptografados e seus contatos mafiosos em três continentes.
Oficiais do departamento de Imigração e Aduanas dos Estados Unidos (ICE) haviam alertado o diretor da DIJIN, General Jorge Luis Vargas de que Merlo, vulgo "Mono" e "Pálido", procurava um transportador para levar cocaína de Cali para a Austrália, Espanha e Turquia, e aí começou o planejamento dos detalhes para infiltrar a sua rede, no qual participaram funcionários colombianos do mais alto nível.
Pelo menos em duas oportunidades, a Polícia da Colômbia havia tentado por a mão no bandido matreiro. Uma delas, quando tentou retirar cocaína em um avião-ambulância desde o aeroporto El Dorado, de Bogotá; e a outra, na denominada Operação Jaguar.
Nesta ocasião, Merlo foi identificado tentando transferir drogas em aviões tipo Cessna desde a Venezuela para a América Central e Estados Unidos. Foi armada uma cilada, mas o ardiloso espanhol nascido em Granada não foi ao local na fronteira onde seria feita a entrega da cocaína e, assim, a operação fracassou.
Mas desta vez, depois do infiltrado ser instruído, Vargas deu a ordem de por em marcha a Operação Embaixador. "Camilo" foi apresentado - por meio de um informante - a John Jairo Coy, vulgo "Coqueto", feitor de Merlo, que coordenava o transporte de cloridrato de cocaína desde o sudoeste do país para aeroportos e portos.
A Armadilha
“Mudei meu sotaque, comprei um broche com a bandeira do país que estaria representando e o coloquei na lapela para participar das reuniões do bando. Em uma delas, ofereci minha mala diplomática para levar um primeiro carregamento para Madri. Depois que me entregaram os 35 Kg de coca em Bogotá, combinamos com uma empresa aérea para que minha bagagem passasse sem ser revistada, e coordenamos a chegada do carregamento com "Ortega", um agente encoberto da Guarda Civil espanhola. Conforme o combinado com Coy, comprei um jornal local, joguei-o sobre o carregamento e enviei uma foto como prova de que havia cumprido o trato”, disse "Camilo".
Ainda que no mesmo dia, em princípios de junho, houvesse a prisão de quatro membros da quadrilha, ninguém suspeitou que "Camilo" fosse um agente infiltrado, e até lhe pediram desculpas pelo "impasse". Além disso, quase imediatamente lhe encomendaram uma tarefa maior: levar 97 Kg para a Austrália.
“Esta missão foi mais difícil. Como não há voo direto de Bogotá a Austrália, a Polícia Federal deste país teve que forjar três maletas iguais às que Merlo havia determinado para levar a cocaína, inclusive uma que tinha uma das rodinhas danificada, para fingir que o carregamento havia chegado. Merlo estava tão entusiasmado com o envio que, no dia em que me entregaram a coca no hotel Torre de Cali mandou me dizer que havia preparado, em outro lugar, uma 'penthouse' (festa) com cocaína e seis pré-pagamentos, que não aceitei, dizendo que primeiro tínhamos que completar o trabalho antes de celebrar”, acrescentou o funcionário.
Isca em Nova Orleans
O plano traçado pela DIJIN resultou ser tão exitoso que Merlo se arriscou a aparecer para a terceira viagem. Inicialmente, disseram a "Camilo" que devia levar 54 Kg à Espanha, mas logo depois ele foi chamado a um McDonald's, em Bogotá, para entregar-lhe 15 Kg adicionais que deviam ser levados com urgência a Nova Orleans.
“A coca para os Estados Unidos era a prova que os agentes do ICE estavam necessitando para autuar as 16 investigações que tinham contra Merlo, por isso concordei. Eu sempre ia acompanhado por um poderoso, mas discreto, esquema de segurança e ver os rostos de meus companheiros me cuidando me tranquilizava nos momentos mais tensos da negociação. Uma das vezes mais difíceis foi quando saí da lanchonete e vi Merlo no estacionamento. Só tive tempo para avisar que o seguissem. Mas, sem dúvidas, o mais angustiante foi quando "desapareceram" um dos meus contatos em uma reunião no Sanandresito da 38 (mercado de importados), depois que um dos carregamentos foi apreendido", recordou "Camilo".
Para comprovar que a coca que ia para Madri havia chegado, Merlo viajou de primeira classe à Espanha e começou a telefonar para o jovem "diplomata" para que celebrassem tomando uns tragos. Ante a negativa do agente encoberto e depois que o carregamento também caiu nas mãos da Polícia, viajou para Istambul (Turquia) para reunir-se com "Tatoo", seu novo e poderoso aliado.
Sem desconfiar que "Camilo" era um oficial, ponta de lança de uma operação transnacional - e imaginando que ele havia se apropriado da droga -, Merlo e seus cúmplices começaram a enviar-lhe ameaças: “Não sabes com quem te metestes; vamos te encontrar; logo terás notícias nossas”.
Mas quando o chefão voltou à Colômbia, já estava tudo pronto para a sua captura - que foi efetivada em 22 de outubro - junto com outras 30 pessoas na Austrália, Espanha e Estados Unidos. A evidência era tão demolidora que o espanhol não teve outra alternativa que aceitar as acusações.
Por isso, o próprio diretor da Polícia, General Jorge Nieto, se encarregou de anunciar os resultados da Operação Embaixador e de condecorar seus participantes, inclusive o falso diplomata, outro herói anônimo na luta contra a máfia.
"Tatoo", o novo objetivo
Segundo informações de agências antimáfia, em uma de suas viagens à Turquia, o criminoso Jorge Merlo se reuniu com "Tatoo", um perigoso narcotraficante nascido em Istambul e com ordem de prisão por terrorismo, emitida pela Alemanha. El Tiempo teve acesso ao prontuário de "Tatoo" e verificou que ele está envolvido no transporte de mais de uma tonelada de drogas para Holanda, Ucrânia, Reino Unido e Alemanha. Além disso, é ligado a "Ismael", alcunha de um curdo que costuma lavar dinheiro de drogas para financiar atividades terroristas.
O suposto sócio de Merlo possui o registro de uma prisão em Istambul, junto a um cidadão espanhol com antecedentes de porte de heroína e morfina. Agências antimáfia, especialmente o ICE, avaliam solicitar a extradição de Jorge Merlo para que responda pelos 16 processos abertos contra ele nos Estados Unidos e, aproveitando a ocasião, revele detalhes a respeito de "Tatoo" e de seus outros contatos para o transporte de coca, inclusive um grupo de narcotraficantes da Costa Rica, com os quais foi visto reunido na Colômbia, em várias ocasiões.
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Na mala diplomática, ele transportou cocaína para o espanhol Jorge Merlo e obteve provas para sua captura.
Por Unidad Investigativa
Foto que Camilo enviou a Jorge Merlo (dir.) como prova de que havia levado uma carga de coca até Madrid. - Foto: Arquivo particular
“Comprei sapatos Hugo Boss, umas roupas elegantes e maletas finas. Mesmo arriscada, a única maneira de capturar o chefão espanhol Jorge Juan Merlo era me infiltrando em sua organização. Agências de quatro países estavam a dez anos tentando captura-lo, sem conseguirem. Mesmo sabendo que era o cérebro dos envios de droga para Europa e Estados Unidos, não havíamos conseguido capturar sequer um quilo para poder prendê-lo, e era essa a minha missão.”Em junho de 2018, um dos oficiais mais jovens e experientes da Diretoria de Investigações Judiciais e Interpol (DIJIN) da Polícia Colombiana se converteu em "Camilo", um elegante diplomata com passaporte azul, caminhonete blindada e a possibilidade de viajar a qualquer parte do mundo sem que sua bagagem fosse revistada.
Com essa fachada se infiltrou na organização do narcotraficante espanhol e começou a identificar rotinas, substitutos, celulares criptografados e seus contatos mafiosos em três continentes.
Oficiais do departamento de Imigração e Aduanas dos Estados Unidos (ICE) haviam alertado o diretor da DIJIN, General Jorge Luis Vargas de que Merlo, vulgo "Mono" e "Pálido", procurava um transportador para levar cocaína de Cali para a Austrália, Espanha e Turquia, e aí começou o planejamento dos detalhes para infiltrar a sua rede, no qual participaram funcionários colombianos do mais alto nível.
Pelo menos em duas oportunidades, a Polícia da Colômbia havia tentado por a mão no bandido matreiro. Uma delas, quando tentou retirar cocaína em um avião-ambulância desde o aeroporto El Dorado, de Bogotá; e a outra, na denominada Operação Jaguar.
Nesta ocasião, Merlo foi identificado tentando transferir drogas em aviões tipo Cessna desde a Venezuela para a América Central e Estados Unidos. Foi armada uma cilada, mas o ardiloso espanhol nascido em Granada não foi ao local na fronteira onde seria feita a entrega da cocaína e, assim, a operação fracassou.
Mas desta vez, depois do infiltrado ser instruído, Vargas deu a ordem de por em marcha a Operação Embaixador. "Camilo" foi apresentado - por meio de um informante - a John Jairo Coy, vulgo "Coqueto", feitor de Merlo, que coordenava o transporte de cloridrato de cocaína desde o sudoeste do país para aeroportos e portos.
A Armadilha
“Mudei meu sotaque, comprei um broche com a bandeira do país que estaria representando e o coloquei na lapela para participar das reuniões do bando. Em uma delas, ofereci minha mala diplomática para levar um primeiro carregamento para Madri. Depois que me entregaram os 35 Kg de coca em Bogotá, combinamos com uma empresa aérea para que minha bagagem passasse sem ser revistada, e coordenamos a chegada do carregamento com "Ortega", um agente encoberto da Guarda Civil espanhola. Conforme o combinado com Coy, comprei um jornal local, joguei-o sobre o carregamento e enviei uma foto como prova de que havia cumprido o trato”, disse "Camilo".
Ainda que no mesmo dia, em princípios de junho, houvesse a prisão de quatro membros da quadrilha, ninguém suspeitou que "Camilo" fosse um agente infiltrado, e até lhe pediram desculpas pelo "impasse". Além disso, quase imediatamente lhe encomendaram uma tarefa maior: levar 97 Kg para a Austrália.
“Esta missão foi mais difícil. Como não há voo direto de Bogotá a Austrália, a Polícia Federal deste país teve que forjar três maletas iguais às que Merlo havia determinado para levar a cocaína, inclusive uma que tinha uma das rodinhas danificada, para fingir que o carregamento havia chegado. Merlo estava tão entusiasmado com o envio que, no dia em que me entregaram a coca no hotel Torre de Cali mandou me dizer que havia preparado, em outro lugar, uma 'penthouse' (festa) com cocaína e seis pré-pagamentos, que não aceitei, dizendo que primeiro tínhamos que completar o trabalho antes de celebrar”, acrescentou o funcionário.
Isca em Nova Orleans
O plano traçado pela DIJIN resultou ser tão exitoso que Merlo se arriscou a aparecer para a terceira viagem. Inicialmente, disseram a "Camilo" que devia levar 54 Kg à Espanha, mas logo depois ele foi chamado a um McDonald's, em Bogotá, para entregar-lhe 15 Kg adicionais que deviam ser levados com urgência a Nova Orleans.
“A coca para os Estados Unidos era a prova que os agentes do ICE estavam necessitando para autuar as 16 investigações que tinham contra Merlo, por isso concordei. Eu sempre ia acompanhado por um poderoso, mas discreto, esquema de segurança e ver os rostos de meus companheiros me cuidando me tranquilizava nos momentos mais tensos da negociação. Uma das vezes mais difíceis foi quando saí da lanchonete e vi Merlo no estacionamento. Só tive tempo para avisar que o seguissem. Mas, sem dúvidas, o mais angustiante foi quando "desapareceram" um dos meus contatos em uma reunião no Sanandresito da 38 (mercado de importados), depois que um dos carregamentos foi apreendido", recordou "Camilo".
Para comprovar que a coca que ia para Madri havia chegado, Merlo viajou de primeira classe à Espanha e começou a telefonar para o jovem "diplomata" para que celebrassem tomando uns tragos. Ante a negativa do agente encoberto e depois que o carregamento também caiu nas mãos da Polícia, viajou para Istambul (Turquia) para reunir-se com "Tatoo", seu novo e poderoso aliado.
Sem desconfiar que "Camilo" era um oficial, ponta de lança de uma operação transnacional - e imaginando que ele havia se apropriado da droga -, Merlo e seus cúmplices começaram a enviar-lhe ameaças: “Não sabes com quem te metestes; vamos te encontrar; logo terás notícias nossas”.
Mas quando o chefão voltou à Colômbia, já estava tudo pronto para a sua captura - que foi efetivada em 22 de outubro - junto com outras 30 pessoas na Austrália, Espanha e Estados Unidos. A evidência era tão demolidora que o espanhol não teve outra alternativa que aceitar as acusações.
Por isso, o próprio diretor da Polícia, General Jorge Nieto, se encarregou de anunciar os resultados da Operação Embaixador e de condecorar seus participantes, inclusive o falso diplomata, outro herói anônimo na luta contra a máfia.
"Tatoo", o novo objetivo
Segundo informações de agências antimáfia, em uma de suas viagens à Turquia, o criminoso Jorge Merlo se reuniu com "Tatoo", um perigoso narcotraficante nascido em Istambul e com ordem de prisão por terrorismo, emitida pela Alemanha. El Tiempo teve acesso ao prontuário de "Tatoo" e verificou que ele está envolvido no transporte de mais de uma tonelada de drogas para Holanda, Ucrânia, Reino Unido e Alemanha. Além disso, é ligado a "Ismael", alcunha de um curdo que costuma lavar dinheiro de drogas para financiar atividades terroristas.
O suposto sócio de Merlo possui o registro de uma prisão em Istambul, junto a um cidadão espanhol com antecedentes de porte de heroína e morfina. Agências antimáfia, especialmente o ICE, avaliam solicitar a extradição de Jorge Merlo para que responda pelos 16 processos abertos contra ele nos Estados Unidos e, aproveitando a ocasião, revele detalhes a respeito de "Tatoo" e de seus outros contatos para o transporte de coca, inclusive um grupo de narcotraficantes da Costa Rica, com os quais foi visto reunido na Colômbia, em várias ocasiões.
Fonte: tradução livre de El Tiempo
COMENTO: para maiores informações, convém ver o vídeo publicado pela rede de televisão Canal1
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