quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Lucho, o Policial Que Aniquilou 19 Chefes das FARC


O agente da Polícia morreu de câncer.
Partiu com 14 condecorações e a gratidão de sua pátria.
 Luis Sierra em dois momentos de sua vida: internado na selva (dir.) e recebendo o Premio de melhor policial
 Foto:   Arquivo particular
Por Unidad Investigativa
A Polícia se prepara para render honras póstumas a Luis Eduardo Sierra Guerrero, o Subintendente (grau hierárquico superior aos Patrulheiros e subordinado aos Comissários) especialista em Inteligência que passou a metade de seus treze anos de carreira infiltrado nas FARC.
Aos 26 anos se internou na zona de Darién e do Urabá para localizar acampamentos, camuflar dispositivos de localização por satélites que permitir o Exército e a Força Aérea colombiana bombardear com precisão pelo menos quinze objetivos de alto valor da guerrilha.
Suas atuações foram retribuídas por dezenove citações elogiosas e quatorze Condecorações de seus superiores, que ele só podia receber durante os dias de descanso que tinha entre uma missão e outra.

Para se infiltrar nos bandos de ladrões de joalherias e de guerrilheiros, Sierra assumiu os papéis de indigente, serralheiro, fornecedor de víveres e até de pretendente da prima de um líder guerrilheiro.
“Quando alguém se infiltra tem que trocar o chip. Adeus família e adeus até a teu nome. Se não souberes manejar a situação, isto pode te custar a vida”, disse Sierra a El Tiempo há um mês, quando recebeu o Prêmio Coração Verde, como melhor policial da Colômbia.
Nessa ocasião, chegou à entrevista ajudado por uma bengala e admitiu que o prêmio revigorava seu desejo de viver, depois que foi diagnosticado com um câncer agressivo e terminal
Suas batalhas
Apesar da evidente deterioração física, Sierra conseguiu revelar ao país alguns episódios desconhecidos que ele e seus companheiros da Direção de Inteligência da Polícia (DIPOL) vivem para subjugarem a guerrilha e a outras organizações armadas à margem da lei.

Eles passam meses infiltrados na selva, sem contatar a família e até choram em silêncio. Mas depois que as operações são lançadas, o esforço vale a pena. Desarticulamos várias estruturas de guerrilha e apoiamos operações de  outras forças”, disse o Subintendente a El Tiempo.
Sierra nasceu em Manizales em 2 de maio de 1985 e cresceu no bairro Cervantes, que na época era um dos mais turbulentos da capital de Caldas.

Seus amigos contam que desde sua infância identificava e se acercava dos delinquentes da zona, como meio para proteger sua vida e a de sua família. 
Ingressou na Polícia em maio de 2004, com apenas 19 anos, no cargo de Auxiliar. Dois anos depois já era Patrulheiro de Vigilância no Departamento de Polícia do Valle.

Mas foi em 2007 que iniciou sua carreira na Inteligência Policial.
Nessa época, foi nomeado Investigador em Buenaventura, onde chegou até a dormir na rua, fazendo-se passar por indigente, com a finalidade de desarticular uma quadrilha de ladrões que assolavam o porto.
Urinei sobre uma roupa velha, deixei no sol, a coloquei e me caracterizei como mendigo para executar minha primeira missão como membro de Inteligência da Polícia Nacional: capturar uma quadrilha de assaltantes que roubava joalherias e casas de penhores em Buenaventura. Depois de dormir varias noites na rua e fingir que consumia alucinógenos, tivemos sucesso, e meu Major pediu que me indicassem ao Grupo Especial de Inteligência de objetivos de alto valor das FARC”, contou Sierra a este diário.

E afirmou que, embora muitos não acreditem, foi difícil seduzir uma parente de um guerrilheiro a fim de localizar outros acampamentos na fronteira com o Panamá.
Lá, noivei com a prima de um dos chefes da segurança da guerrilha, em uma questão puramente estratégica. Foi difícil corteja-la e estar com ela. Eu tinha 27 anos, e ela era uma morena nove anos mais velha, e eu concebo o amor de uma maneira diferente. Foi incômodo, mas consegui até compartilhar um sancocho (ensopado típico) com o primo. Me convidaram até para as festas de fim de ano. Aguentei porque visávamos o chefe das FARC que manejava o narcotráfico da zona e a compra de armamento para quase todas as frentes guerrilheiras. E logramos captura-lo”, narrou.
Conforme seu currículo, Sierra participou de sete Operações chaves e classificadas como Secretas, que permitiram a eliminação de quinze chefes de bandos e capturar dezenove criminosos classificados como de "alto valor", inclusive um chefe das FARC que posteriormente compôs a delegação de paz dos guerrilheiros em Havana.
O Ocaso
Quando Sierra recebeu o reconhecimento como melhor policial da Colômbia, em 28 de setembro passado, já estava tomando uma dúzia de diferentes medicamentos diariamente, a maioria à base de morfina, para amenizar a dor.
E, ainda que tenha chegado altivo para receber o prêmio, uma semana depois confessou a El Tiempo que já havia perdido a mobilidade em 60% de seu corpo e que tinha que se deslocar usando uma cadeira de rodas.
O tumor de 19 por 14 centímetros, descoberto em 2016 em sua glândula suprarrenal direita, se converteu em seu pior inimigo. Apesar de ter sido retirado cirurgicamente, já havia feito metástases em seus pulmões, fígado, coluna e em outras cinco partes de seu corpo. E, mesmo que Sierra o tenha enfrentado bravamente, terminou levando-o.
O Diretor da Polícia, General Jorge Nieto, se encarregou de informar ao país que o valente Subintendente Sierra havia falecido.
Semanas antes de o internarem em uma clínica de Medellin, tudo estava pronto para que o promovessem a Intendente, um reconhecimento que a Instituição fará postumamente à sua família.
Creio firmemente em Deus e vou lutar por minha vida. Recebi o premio em nome dos 180.000 policiais bons que saem diariamente a arriscar suas vidas pela pátria”, disse em sua última entrevista.
Unidad Investigativa
u.investigativa@eltiempo.co
Twitter: @uinvestigativa
Fonte:  tradução livre de El Tiempo

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