terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Colômbia - Valores Invertidos

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A vergonhosa e inoportuna manifestação, sem propósito e incompatível com os fatos, além do histórico do delinquente, apresentam muitas questões a uma sociedade onde ainda se busca exemplo em bandidos e corruptos.
As imagens falam por si: centenas de pessoas acompanham o féretro de Luis Orlando Padierna Peña, vulgo "Inglaterra", chefe do "Clã do Golfo", na tarde de segunda-feira (27/11/17) no município de Carepa. Alguns assistentes levam balões brancos e vestem camisetas onde se lê: "Viverás para sempre em nossos corações". A Polícia Nacional, que abateu na semana passada a esse conhecido delinquente, vigia para que não haja distúrbios nem excessos entre a multidão.
Já no sábado e domingo anteriores havia ocorrido manifestações similares quando o cadáver chegou a essa localidade do Urabá Antioquenho. Caravanas de automóveis e motocicletas a partir das quais era louvada a figura de um homem com um prontuário revelador de suas realizações e qualidades: aparecia na Lista Clinton por operações financeiras de lavagem de dinheiro; estava pedido em extradição para os EUA por tráfico de cocaína; em 2001 esteve preso por homicídio e fugiu da cadeia; liderava a "Frente Carlos Vásquez" do Clã do Golfo e se mudou para a fronteira com Venezuela para estabelecer corredores de drogas e outras atividades ilícitas da organização.
Em sua perseguição, em agosto de 2015, um helicóptero da Polícia caiu na zona rural de Carepa, causando a morte de dezessete agentes. Mais ainda, sendo parte da cúpula dessa quadrilha era, também, responsável pelo "plano-pistola" [NT: série de assassinatos seletivos] que entre abril e maio passados deixou dez policiais mortos e 37 feridos.
¿O que estará acontecendo com um país onde um grupo considerável de cidadãos vai ao enterro de um criminoso tão daninho e perigoso, para despedi-lo como se fosse um herói?
A primeira explicação que surge é a universal, histórica e cultural, da fascinação e identificação de comunidades e cidadãos com vilões e anti-heróis com máscaras de benfeitores dos despossuídos, que protagonizam resistências e atos de violência e desacato contra outros poderes e setores, legais ou ilegais.
Na história da Colômbia proliferam figuras surgidas de levantes e projetos contra-estatais e paraestatais, e de fenômenos de delinquência que, em diferentes momentos e conjunturas, obtiveram a atenção, simpatia ou submissão de camadas da população, nem sempre marginais periféricas ou desatendidas.
A romaria por "Inglaterra" não nos mostra somente pessoas de estratos afetados pela pobreza e a miséria. Vimos alguns comerciantes e outros urabaenses cuja esfera sugere identidade mais preocupante, com os delitos e a ilegalidade.
É nessa Colômbia em que a bandidagem e a corrupção fizeram carreira como estados de "normalidade e enriquecimento aceitáveis" e que motivam admiração e reflexo. Crimes que não provém só de atores fora da lei, mas também de dentro da ordem e até mesmo do Estado.
A multidão que carrega e corteja o ataúde de um delinquente de larga carreira obriga a pensar nas responsabilidades institucionais públicas e privadas, na tarefa individual e coletiva de liderança e no desafio como sociedade e Estado que temos, para desmontar tantos valores invertidos e essa atitude de anomia (indiferença e passividade) ante o ilegal e o antiético.
Não podem ser pabloescobares, carloscastaños, inglaterras e outroras timochenkos”, nem tampouco os fraudadores do erário, os que convoquem e sirvam de guia, exemplo e inspiração para um país necessitado de dar o salto para a modernidade, os direitos e à paz, em uma democracia legítima.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO:  esta inversão de valores não é privilégio dos colombianos. Por aqui, também temos uma grande parcela da população que não tem pejo em demonstrar sua simpatia para com bandidos de toda espécie. Os maus exemplos vão desde os que - apesar de todas as provas, jurídicas ou não - se negam a aceitar a culpa de grandes ladrões do erário, chegando a nomina-los de "guerreiros do povo brasileiro", até os traficantes e chefes de milícias que se adonam das favelas por todo o país, com a cumplicidade da população que se nega a auxiliar as autoridades omitindo informações que as levem a esses criminosos chegando aos "protestos" por ocasião da prisão ou morte desses bandidos. A cultura popular é dinâmica, e na América Latrina essa dinâmica conduz à estrumeira!
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