Stiuso: "Os Kirchner tinham Serviços paralelos que lhes 'resolviam' os problemas"
O ex espião falou com La Nación, em sua primeira entrevista desde que regressou ao país |
por Agustina López
É manhã de domingo. Um homem chega a um bar na Calle Echeverría, em Belgrano. Se senta à mesa do fundo, à esquerda do salão, em uma cadeira que lhe permite ver a porta de entrada. Veste roupa informal: jeans, sapatos e jaqueta esportiva. Abre o diário Clarín e pede dois croissants de manteiga, um café com leite e água sem gás. Passará cerca de uma hora lendo minuciosamente as noticias, com os óculos apoiados na ponta do nariz. Antonio "Jaime" Stiuso parece um homem comum e não um ex agente temido por políticos, juízes e empresários.
O identificamos e nos aproximamos até sua mesa, e ainda que a principio tenha rido ante a proposta de responder algumas perguntas e sido conclusivo ("não falo com a imprensa, somente com a Justiça", disse) finalmente concordou. Quando viu o telefone celular na mesa, reagiu: "¿Por que me gravas?". Depois se tranquilizou quando a jornalista guardou o telefone. Foi se acalmando aos poucos, a medida que se sucediam as perguntas: "¿Como estás?", "¿Quando voltastes?", "¿Como te sentes?". Se permitiu, então, algumas respostas mais concretas. As primeiras à imprensa depois de seu regresso ao país, em fevereiro passado. Afirmou que está "tranquilo" agora que a ex presidente Cristina Kirchner "perdeu seu poder", porque, disse, nem ele nem sua família sofrem mais ameaças. Apontado como armador de "carpetazos" ("finalizamentos" irregulares) contra opositores durante o kirchnerismo, disse que naqueles anos havia um "serviço de inteligencia paralelo" que se ocupava dessa tarefa e do qual, garante, ele não fez parte.
Seu rosto parece muito com o retrato falado difundido pelo então ministro Gustavo Béliz em 2004: o mesmo corte de cabelo, agora um pouco grisalho e magro, com olheiras e um olho caído. Minguém o reconhece: é só mais um lendo o jornal. É difícil não imaginar que ele observou detidamente cada um que tenha adentrado ao bar.
Durante anos, sua relação com o casal Kirchner se manteve em bons termos. O ex presidente havia apresentado Stiuso a Nisman para que trabalhassem ombro a ombro, ainda que o ex agente agora o negue. Uma série de escândalos relacionados com Cristina, em 2014, lhe valeu a acusação de que seria ele quem vazava aquelas informações o que lhe custou a aposentadoria.
Ele lamenta a morte de Nisman, mas acredita que esse desfecho era inevitável: "as gravações que tinha como provas envolviam o Governo", afirma; as acusações contra o kirchnerismo são parte da estratégia judicial que prepara. Descontraído, riu várias vezes e se esquivou com habilidade de muitas perguntas. Depois de tudo, segundo ele mesmo afirma, a sua "é uma profissão que nunca se abandona".
Ele lamenta a morte de Nisman, mas acredita que esse desfecho era inevitável: "as gravações que tinha como provas envolviam o Governo", afirma; as acusações contra o kirchnerismo são parte da estratégia judicial que prepara. Descontraído, riu várias vezes e se esquivou com habilidade de muitas perguntas. Depois de tudo, segundo ele mesmo afirma, a sua "é uma profissão que nunca se abandona".
- ¿Como estás?
- Bem, muito tranquilo agora.
- ¿Quando voltastes ao país?
- Voltei depois do aniversário de Cristina (19 de fevereiro). Estive nos Estados Unidos com asilo por todas as ameaças que recebemos, tanto eu como minha família. Ameaças de morte do governo anterior.
- ¿A que te dedicas agora?
- Trabalho em minha empresa, que tenho desde 1997 e na qual sempre trabalhei.
- ¿Se pode deixar de ser do serviço?
- Não, é uma profissão que nunca se abandona.
- ¿Que opinas sobre a causa AMIA?
- Que as coisas não foram bem feitas. Veja que em todos os países do mundo em que houve ataques terroristas a situação se manejou de outra maneira. Aqui nunca se pode esclarecer nada porque os governos sempre trataram de esconder as coisas, de subornar juízes, pressionar funcionários.
- ¿Que te parece o memorando com Irán?
- O governo anterior quis fazer crer que os iranianos não tiveram nada que ver, que a culpa foi dos sírios. ¿Não te parece estranho que Timerman tenha negociado este memorando em Alepo (Siria), onde os sírios supostamente só patrocinaram o encontro?
- ¿Que houve com Alberto Nisman?
- O mataram. Eu podia ter terminado como ele. Houve perseguição, o ameaçaram muitas vezes, tanto a ele como a mim, ameaçaram a sua família.
- ¿E por que seguiu adiante então?
- Porque era seu trabalho e porque o não seguir adiante não implicava que viveria. Nas gravações que tinha como evidencia envolvia o Governo. De uma forma ou outra teria ocorrido o mesmo. Ele antes de fazer a denuncia já havia comentado com alguns jornalistas, era assunto sabido.
- ¿E tu, por que te salvastes?
- Porque não puderam me encontrar, me fui a tempo.
- Quer dizer que foi o governo de Cristina que o mandou te matar.
- Isso!
- ¿Suspeita da figura de Lagomarsino?
- Eu suspeito de todos.
- Tu fostes o último a quem Nisman telefonou, mas não o atendestes. ¿Por que?
- Porque não escutei o telefone, estava no modo vibrador.
- Nisman e Arroyo Salgado foram aliados de Cristina. Sem ir mais lonje, Arroyo Salgado foi quem mandou tirar as calcinhas da filha de Herrera de Noble. ¿Que houve?
- Isso não tem nada que ver, eles cumpriam com seu trabalho. Eu também já tirei pentes de casas para tratar de identificar filhos de desaparecidos. Alberto era uma pessoa muito inteligente, muito bom no que fazia. Ele investigou o que pediram, encontrou evidencias contra o Governo e as fez públicas.
- ¿Acreditas que vão esclarecer a morte de Nisman?
- Creio que em algum momento vamos saber. A Alberto lhe inventaram uma "estória" depois de falecido, trataram de desmerecer tudo o que havia feito. Agora que já não estão no poder, a "estória" se esvai.
- Dizem que tu armavas os "carpetazos" para Néstor e Cristina, contra os opositores...
- Isso é mentira, eu não armava nenhum "carpetazo", eu não entendo de política, eu fazia outras coisas: me ocupava de coisas exteriores, de inteligência, contrainteligência, terrorismo. Os Kirchner não utilizavam a SIDE porque tinham seus serviços paralelos, com gente que investigava para eles e lhes armava seus próprios "carpetazos".
- ¿Quem estava a cargo desse serviço de inteligencia paralelo?
- Isso eu direi quando me chame a Justiça.
- ¿Oscar Parrilli?
- Parrilli é um palhaço, não podia manejar nada.
- ¿Conheceu a Néstor e Cristina?
- A ela, a vi uma vez somente, a ele nunca o vi.
- As escutas passarão de novo para a AFI (Agência Federal de Inteligência). ¿Qual tua opinião?
- Que nada muda. Não é um buraco negro, como todos dizem. O sistema funciona assim: há uma central que grava as conversações, o "grampo" se pede por ordem da Justiça às companhias telefônicas, que as desviam à "ojota" (Direção de Observações Judiciais - central de interceptações).
- ¿Tu nunca grampeastes telefones ilegalmente?
- Tem que ter um equipamento especial. Não contávamos com esse equipamento, mas esse serviço de inteligência paralelo manejado por Cristina o possuía.
- ¿Qual tua opinião sobre a detenção de Pérez Corradi?
- Me parece que é um peão. Eu detive o verdadeiro rei da efedrina, Mario Segovia, em 2008; e aí estourou o tema da mafia dos medicamentos. De todo modo, a mim nunca deram ordem de buscar a Pérez Corradi.
- ¿Acredita que Aníbal Fernández está implicado?
- (Dando de ombros.) O que eu tenha que dizer farei na Justiça.
- Dizem que fostes tu quem informou sobre o dinheiro de José López, e que por isso o pegaram.
- Não, eu não tenho nada que ver. Agora aparecem todas estas coisas porque Cristina já não tem o aparato do Estado e não pode forçar o silenciamento.
- ¿Por que te removeram da SI?
- Quiseram fazer crer que eu era o demônio e que com minha saída tudo seria transparente. O problema foi que começaram a aparecer as denuncias contra Cristina e isso a incomodou; através da mídia fez recair em mim uma serie de acusações.
- ¿Que sabes de Cristina para que tenha se enfurecido tanto?
- Pergunte a ela.
- ¿Mudou a situação com a criação da AFI?
- A AFI segue sendo o mesmo que antes era a SIDE, porém com gente de Cristina, que agora suponho será gente de Macri. Me tiraram, a mim e a muitos que estávamos desde bastante tempo para poder por a sua gente.
- ¿Conhece a Aníbal Fernández?
- O vi em um par de oportunidades. Uma vez com Alberto (Nisman), e ele estava nos gravando. Aníbal era um dos que mais queriam, junto com Cristina, que eu voltasse ao país para me assassinar. Agora que estão fora do governo não veio me visitar. Ninguém veio me visitar. Eles pensaram que seriam eternos, já não tem poder, não tem o aparato do Estado.
- ¿Cristina não tem poder?
- ¿Te parece que sim? Já era, agora é só uma mulher louca, sem força, sem o aparato do Estado.
Fonte: tradução livre de La Nación
COMENTO: para melhor entender este tema, recomendo as leituras nos atalhos que se seguem.
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