por Diana Carolina Jiménez
Em novembro passado, os argentinos elegeram Presidente um empresário "de direita" que enfrentou o candidato designado pela presidente Cristina Fernandez, e o Congresso no Brasil iniciou uma investigação para determinar se submete a julgamento político a Presidente Dilma Rousseff, cujos índices de aprovação nas pesquisas permanecem perto de 10 por cento.
No que constitui, talvez, a reviravolta mais importante, o eleitorado venezuelano, onde começou o giro à esquerda da região, entregou a vitória à oposição, por uma margem esmagadora nas eleições legislativas, pela primeira vez desde que o "anti yanqui" Hugo Chavez ganhou a Presidência em 1988.
A reação se produz em meio a uma tormenta econômica que não se via há décadas. Todas as dinastias políticas estão pagando o custo de ter economias em quebra e uma corrupção desenfreada, e os analistas ressaltam que a maioria desses governos em mãos de esquerdistas assumiram quando a economia da China iniciava uma época de forte crescimento nos últimos 15 anos, demandando matérias primas da região.
Agora, que o colosso asiático enfrenta problemas, os preços do cobre, da soja e do petróleo caíram, arrastando as moedas e, com elas, as aspirações de milhões de famílias que ascenderam à classe média surfando na crista daquele "boom".
Ao mesmo tempo, as taxas de juros nos Estados Unidos estão aumentando pela primeira vez em sete anos, o que se soma à pressão sobre as entidades endividadas em dólares.
"No fundo, estamos vendo na América do Sul, de forma geral, um lembrete de que o pêndulo político se move" disse o Senador Antonio Navarro Wolff, ex dirigente da guerrilha esquerdista M-19. "Na última década parecia não mover-se porque a situação econômica era muito favorável".
Sem dúvidas, especialistas consideram que seria um erro dizer que a esquerda tenha perdido toda sua força. O movimento peronista, do qual surgiu Cristina Fernández, conserva a maioria no Senado argentino; o Partido dos Trabalhadores de Rousseff segue sendo a agrupação política mais poderosa do Brasil e os aliados de Maduro obtiveram 33% dos votos, apesar dos prognósticos de uma contração econômica que poderia chegar aos 10%.
Outros esquerdistas obstinados ainda pisam firme, como o equatoriano Rafael Correa, com um índice de aprovação de 41% apesar de sua economia dependente do petróleo se esforçar para não cair em recessão.
Uma possível explicação: em lugar do ressurgimento das direitas, poderá existir uma divisão entre pragmáticos e ideólogos, diz Chistopher Sabatini, um especialista na região e professor na Universidade de Colúmbia.
Até mesmo a Cuba socialista, que há décadas serve como pedra angular da esquerda latino americana, olha para o norte e se esforça para superar meio século de desconfianças da potência norte americana.
Os primeiros sinais de mudança apareceram na posse de Macri. Enquanto que uma amargada Cristina e Maduro brilharam por sua ausência, Correa e o boliviano Evo Morales compareceram. Morales, inclusive, ensaiou jogar futebol com Macri, ex presidente do popular clube Boca Júniors, horas depois de assistir um ato de despedida de Cristina e seus partidários.
Além de tudo, políticos conservadores partidários do livre mercado tem acolhido a tradição esquerdista dos programas sociais para combater a pobreza. Macri insistiu muitas vezes durante sua campanha que manteria uma rede social para os pobres. A coalizão opositora venezuelana, acusada pelo oficialismo de querer entregar os recursos nacionais ao Fundo Monetário Internacional, disse que uma de suas prioridades legislativas seria entregar títulos de propriedade às milhões de famílias a quem Chávez deu moradias gratuitas.
Para o futuro, a centro-direita promete diminuir tanto a hostilidade para com Washington com seus gestos grandiloquentes, quanto as relações com Irã, promovidas por Chávez e a Argentina. Deve concentrar-se em fortalecer as economias mediante controle fiscais e monetários, a luta contra a corrupção e a devolução da independência ao poder judicial e outras instituições.
"É evidente que a direita aprendeu as lições" disse Sabatini, diretor de Global Americans, um grupo promotor do livre mercado. "Enquanto muita gente segue acreditando na esquerda, a crise econômica é tão grave que muitos mais estão dispostos a apostar na mudança".
A reação se produz em meio a uma tormenta econômica que não se via há décadas. Todas as dinastias políticas estão pagando o custo de ter economias em quebra e uma corrupção desenfreada, e os analistas ressaltam que a maioria desses governos em mãos de esquerdistas assumiram quando a economia da China iniciava uma época de forte crescimento nos últimos 15 anos, demandando matérias primas da região.
Agora, que o colosso asiático enfrenta problemas, os preços do cobre, da soja e do petróleo caíram, arrastando as moedas e, com elas, as aspirações de milhões de famílias que ascenderam à classe média surfando na crista daquele "boom".
Ao mesmo tempo, as taxas de juros nos Estados Unidos estão aumentando pela primeira vez em sete anos, o que se soma à pressão sobre as entidades endividadas em dólares.
"No fundo, estamos vendo na América do Sul, de forma geral, um lembrete de que o pêndulo político se move" disse o Senador Antonio Navarro Wolff, ex dirigente da guerrilha esquerdista M-19. "Na última década parecia não mover-se porque a situação econômica era muito favorável".
Sem dúvidas, especialistas consideram que seria um erro dizer que a esquerda tenha perdido toda sua força. O movimento peronista, do qual surgiu Cristina Fernández, conserva a maioria no Senado argentino; o Partido dos Trabalhadores de Rousseff segue sendo a agrupação política mais poderosa do Brasil e os aliados de Maduro obtiveram 33% dos votos, apesar dos prognósticos de uma contração econômica que poderia chegar aos 10%.
Outros esquerdistas obstinados ainda pisam firme, como o equatoriano Rafael Correa, com um índice de aprovação de 41% apesar de sua economia dependente do petróleo se esforçar para não cair em recessão.
Uma possível explicação: em lugar do ressurgimento das direitas, poderá existir uma divisão entre pragmáticos e ideólogos, diz Chistopher Sabatini, um especialista na região e professor na Universidade de Colúmbia.
Até mesmo a Cuba socialista, que há décadas serve como pedra angular da esquerda latino americana, olha para o norte e se esforça para superar meio século de desconfianças da potência norte americana.
Os primeiros sinais de mudança apareceram na posse de Macri. Enquanto que uma amargada Cristina e Maduro brilharam por sua ausência, Correa e o boliviano Evo Morales compareceram. Morales, inclusive, ensaiou jogar futebol com Macri, ex presidente do popular clube Boca Júniors, horas depois de assistir um ato de despedida de Cristina e seus partidários.
Além de tudo, políticos conservadores partidários do livre mercado tem acolhido a tradição esquerdista dos programas sociais para combater a pobreza. Macri insistiu muitas vezes durante sua campanha que manteria uma rede social para os pobres. A coalizão opositora venezuelana, acusada pelo oficialismo de querer entregar os recursos nacionais ao Fundo Monetário Internacional, disse que uma de suas prioridades legislativas seria entregar títulos de propriedade às milhões de famílias a quem Chávez deu moradias gratuitas.
Para o futuro, a centro-direita promete diminuir tanto a hostilidade para com Washington com seus gestos grandiloquentes, quanto as relações com Irã, promovidas por Chávez e a Argentina. Deve concentrar-se em fortalecer as economias mediante controle fiscais e monetários, a luta contra a corrupção e a devolução da independência ao poder judicial e outras instituições.
"É evidente que a direita aprendeu as lições" disse Sabatini, diretor de Global Americans, um grupo promotor do livre mercado. "Enquanto muita gente segue acreditando na esquerda, a crise econômica é tão grave que muitos mais estão dispostos a apostar na mudança".
EM RESUMO
Em lugar do ressurgimento das direitas na América Latina, poderá ocorrer uma divisão entre pragmáticos e ideólogos, segundo analistas. Dizem que há flexibilidade de ambos os lados.
Em lugar do ressurgimento das direitas na América Latina, poderá ocorrer uma divisão entre pragmáticos e ideólogos, segundo analistas. Dizem que há flexibilidade de ambos os lados.
MACRI DERRUBOU O MODELO POPULISTA
Em apenas uma semana a frente do poder na Argentina, o conservador Mauricio Macri implementou uma série de medidas de alto impacto para dar o troco ao modelo populista vigente nos últimos 12 anos: uma aposta arriscada na qual põe em jogo seu capital político. Macri, de 56 anos, derrubou o modelo econômico de sua antecessora, Cristina Fernández, em que o Estado tinha o controle da economia mediante fortes regulamentações financeiras e comerciais e implementou, em questão de dias, uma política de livre mercado. O mandatário eliminou as restrições para a compra de dólares, conhecidas popularmente na Argentina como "el cepo" (arapuca) cambiário, vigente durante todo o segundo mandato de Cristina (2007 - 2015).
Era uma das disposições mais esperadas pelos mercados. Também eliminou os impostos sobre exportações de vários grãos, como trigo e milho, e reduziu os da soja, uma das principais fontes de divisas e de financiamento dos inéditos planos sociais que o kirchnerismo destinou aos setores mais vulneráveis da população. Foram isentas, ainda, as vendas externas de produtos industriais.
Os direitos às exportações, principalmente, assim como as somas retidas pelo fisco na compra de dólares para poupança e em pagamentos de cartões em moeda estrangeira, abasteciam o Estado kirchnerista com boa parte dos recursos para a destinação universal por filho, que beneficia com uma média de 100 dólares ao mês a dois milhões de famílias sem emprego/renda.
Os direitos às exportações, principalmente, assim como as somas retidas pelo fisco na compra de dólares para poupança e em pagamentos de cartões em moeda estrangeira, abasteciam o Estado kirchnerista com boa parte dos recursos para a destinação universal por filho, que beneficia com uma média de 100 dólares ao mês a dois milhões de famílias sem emprego/renda.
CORRUPÇÃO E RECESSÃO PÕEM O PT EM APERTOS NO BRASIL
Uma economia que a cada dia naufraga mais e um escândalo de corrupção de proporções gigantescas, não só ameaçam derrubar a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, como também destruir o legado do governante Partido dos Trabalhadores e sua luta por liderar a esquerda latino americana.
Especialistas consultados concordam que o partido sofre o pior momento desde sua criação, principalmente por um escândalo de corrupção e subornos na estatal Petrobras, que coincidiu com a queda nos preços das matérias primas, cujas exportações haviam impulsionado o desenvolvimento do país nos últimos anos. A rede de corrupção se desenvolveu por mais de uma década e envolveu cerca de 60 políticos e as maiores das grandes empresas do setor petrolífero e da construção em momentos em que a economia sentia fortes quedas nos últimos três trimestres.
Segundo economistas entrevistados pelo Banco Central, o PIB se contrairá uns 3,6% em 2015. Tudo isto pode derrubar o trabalho de anos do PT - como é conhecido popularmente - que construiu sua liderança lentamente desde inícios dos anos 80 quando o período dos governos militares brasileiros se findava. Naquela época, o partido encontrou sua base política em sindicatos e movimentos sociais, e seu discurso, baseado no exercício ético da política, convenceu o eleitorado.
Também, durante anos, foi granjeando a simpatia das classes populares com seus programas sociais que tiraram milhões de brasileiros da pobreza e os inseriram na classe média.
Segundo economistas entrevistados pelo Banco Central, o PIB se contrairá uns 3,6% em 2015. Tudo isto pode derrubar o trabalho de anos do PT - como é conhecido popularmente - que construiu sua liderança lentamente desde inícios dos anos 80 quando o período dos governos militares brasileiros se findava. Naquela época, o partido encontrou sua base política em sindicatos e movimentos sociais, e seu discurso, baseado no exercício ético da política, convenceu o eleitorado.
Também, durante anos, foi granjeando a simpatia das classes populares com seus programas sociais que tiraram milhões de brasileiros da pobreza e os inseriram na classe média.
VENEZUELA, EM UMA SEMANA CHAVE
O maior risco de turbulência, de longe, é apresentado na Venezuela.
Após sua vitória nas eleições legislativas, a oposição parece estar em condições de desafiar o presidente Nicolás Maduro, que se encontra em posição de crescente debilidade. Ao invés de permitir que seus inimigos compartilhem o custo político das reformas necessárias para frear a inflação galopante e a escassez de produtos básicos, Maduro até agora só tem prometido reforçar as políticas estatizantes que mergulharam o pais no pântano ao mesmo tempo em que ignora o que denomina um "Parlamento burguês".
Após sua vitória nas eleições legislativas, a oposição parece estar em condições de desafiar o presidente Nicolás Maduro, que se encontra em posição de crescente debilidade. Ao invés de permitir que seus inimigos compartilhem o custo político das reformas necessárias para frear a inflação galopante e a escassez de produtos básicos, Maduro até agora só tem prometido reforçar as políticas estatizantes que mergulharam o pais no pântano ao mesmo tempo em que ignora o que denomina um "Parlamento burguês".
Na quinta-feira (31/12) a oposição venezuelana fez um chamado aos militares para que garantam o respeito ao resultado das eleições de 6 de dezembro, após confirmar seu desprezo pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça que ordenou suspender de maneira "preventiva e imediata" a proclamação de três dos 112 deputados eleitos.
A Mesa da Unidade Democrática - MUD taxou de ridículas estas impugnações e seus 112 parlamentares eleitos, dois terços do Parlamento, assumiram seus respectivos cargos em 5 de janeiro, como estava previsto, junto aos 55 chavistas eleitos.
A Mesa da Unidade Democrática - MUD taxou de ridículas estas impugnações e seus 112 parlamentares eleitos, dois terços do Parlamento, assumiram seus respectivos cargos em 5 de janeiro, como estava previsto, junto aos 55 chavistas eleitos.
EVO MORALES SERÁ JULGADO EM FEVEREIRO
O presidente da Bolívia, Evo Morales, se colocará em julgamento em fevereiro quando os bolivianos decidirão em referendo se permitirão que ele se apresente a outra reeleição, em um cenário adverso por apresentar os primeiros despontes de recessão e com o populismo latino americano em retrocesso. Os cidadãos do país andino foram convocados para uma consulta popular em 21 de fevereiro, um mês depois que Morales celebre dez anos ininterruptos no poder, que lhe parecem pouco, pois se ganha no referendo e nas eleições de 2019, governará até 2025, estabelecendo assim um recorde de permanência no antigo volátil Palácio Queimado.
Será a competição mais arriscada de Morales, já que não concorre contra a débil oposição, mas contra si mesmo. O mandatário deve demonstrar que sua popularidade saiu ilesa dos escândalos de corrupção que salpicaram seu Governo nos últimos meses; das acusações de autoritarismo por parte da oposição e da retirada de apoio de vários setores indígenas que antes foram seus aliados. Um dos estorvos mais graves que poderá influir no resultado do referendo é o do Fundo Indígena, que destinou milionárias ajudas para cerca de 200 projetos de desenvolvimento que nunca chegaram a ser executados.
Será a competição mais arriscada de Morales, já que não concorre contra a débil oposição, mas contra si mesmo. O mandatário deve demonstrar que sua popularidade saiu ilesa dos escândalos de corrupção que salpicaram seu Governo nos últimos meses; das acusações de autoritarismo por parte da oposição e da retirada de apoio de vários setores indígenas que antes foram seus aliados. Um dos estorvos mais graves que poderá influir no resultado do referendo é o do Fundo Indígena, que destinou milionárias ajudas para cerca de 200 projetos de desenvolvimento que nunca chegaram a ser executados.
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