por Nelson Matta Colorado
O COPES (Comando de Operações Especiais) colombiano foi criado em novembro de 1984 e está subordinado à Direção de Segurança Cidadã. Seu primeiro desafio foi no ano seguinte, na tomada do Palácio da Justiça realizada pelo M-19. Os primeiros Comandos desse Esquadrão desembarcaram desde um helicóptero no teto do Capitólio em Bogotá.
Outra de suas missões importantes foi em 2008, na operação com o Exército e a Força Aérea, na qual foi morto, no Equador, o vulgo “Raúl Reyes”, um dos chefes das FARC.
Outra de suas missões importantes foi em 2008, na operação com o Exército e a Força Aérea, na qual foi morto, no Equador, o vulgo “Raúl Reyes”, um dos chefes das FARC.
Em cada disparo eles arriscam a própria vida e a de seus companheiros. Não é um oficio do qual se vangloriem, mas seu trabalho é tão especializado, que no país não mais de 20 o desempenham. Quatro deles estão no Valle do Aburrá e mantém atenção contínua nos 350 combos (grupos de delinquentes) daquela área.
- “Atirador, cada vez que você dispara, ¿faz isso para matar?”.
- “Nem sempre, mas é um estigma que carregamos”, responde o patrulheiro Guillermo*, que carrega consigo um rifle Sig Sauer 3.000 de calibre .308.
Seu rosto está lambuzado de pintura de camuflagem e veste um traje "guillie" - inventado há três séculos pelos caçadores escoceses - que o mimetiza com a vegetação da região.
Junto a ele, executando um exercício de observar um objetivo em um bosque de Altos de Niquía (Bello), está o patrulheiro Juan*, sua sombra, seu protetor, seu irmão, porque um atirador não é um lobo solitário, senão um binômio. Um é o observador, o outro dispara, igual aos leões quando saem a caçar.
Junto a ele, executando um exercício de observar um objetivo em um bosque de Altos de Niquía (Bello), está o patrulheiro Juan*, sua sombra, seu protetor, seu irmão, porque um atirador não é um lobo solitário, senão um binômio. Um é o observador, o outro dispara, igual aos leões quando saem a caçar.
Eles pertencem ao Comando de Operações Especiais (COPES), o grupo de assalto de elite da Polícia colombiana. Sua base está em Bogotá, porém em 22 de dezembro de 2013 o presidente Juan Manuel Santos, durante uma reunião do Conselho de Segurança, ordenou o translado de 20 unidades (duplas) ao Valle do Aburrá.
Pela primeira vez os combos que delinquem na zona enfrentam uma equipe altamente especializada. São muito poucos, porque não é qualquer um que pode integrar esta seleção.
“Como diz Sun Tsu em a ‘Arte da Guerra’: é melhor ir à luta com 10 tigres do que com 100 ovelhas”, recita o Major Byron*, Comandante do Esquadrão, enquanto inspeciona a seus rapazes no patio da estação policial de Bello.
Com um orgulho que lhe transborda no olhar, o Oficial os apresenta um a um: “veja jornalista, este é especialista em assalto urbano, aquele em combate fluvial, esse em explosivos com curso de enfermagem, o outro é Comando Jungla (de Selva), este aqui sabe Krav Magá (arte marcial militar de origem israelense), ele é 'expert' em abrir brechas, esse ali em desminagem, aquele maneja os dispositivos eletrônicos e as armas de apoio...”.
Todos exibem uniformes, arsenal e equipamento de intendência de última geração. A dotação destes 20 homens e três caminhonetes, custou 2.000 milhões de pesos (cerca de 2 milhões de reais), sem incluir salários nem alimentação, segundo o Major.
O secretário de Segurança de Medellin, Coronel (r) Sergio Vargas, diz que a Prefeitura pôs o equivalente a R$ 500 mil desse montante. “A Administração Municipal valoriza muito o trabalho do COPES. Eles participam em quase todas as operações de captura e apreensão contra o crime organizado, por seu alto nível de treinamento e especialização”.
Desde 2014, o Esquadrão executou as missões que mandaram ao cárcere os bandidos conhecidos como “Mayo” (bando de “Altavista”), “Pipe Rata” (da “Agonia”), “la Mona” (da “Convivir”) e “Ojón” (“os Camacoleros”), entre outros.
“O COPES nos dá a tranquilidade de que a operação sairá bem e com riscos reduzidos”, opina o General José Acevedo, Comandante da Polícia Metropolitana.
Os últimos a serem apresentados pelo Major são os patrulheiros Guillermo e Juan, dois dos quatro atiradores que existem na área metropolitana. Não lhes agrada ser chamados “franco-atiradores”.
“Pelos estatutos que nos regem, e em função dos direitos humanos, somos 'Atiradores de Alta Precisión' [TAP na sigla em espanhol]. Os franco-atiradores são os utilizados pelos grupos delinquenciais como assassinos”, explica Guillermo.
Questão de Psicologia
O binômio avança sigiloso pelo matagal. De repente se param quietos e apontam. Nossos olhos começam a duvidar de sua posição. ¿Onde estão? Desde o ar são invisíveis, pelo traje 'guillie', e em terra, o objetivo só os percebe quando já é demasiado tarde.
Os atiradores fazem aproximações profundas, são os que se aproximam do inimigo de modo avançado, para recolher informação útil ao resto da patrulha, que aguarda a 500 metros ou um quilômetro de distancia.
É uma técnica arriscada que se aprende com repetição e muito sacrifício. Guillermo relata que para ser COPES, o candidato deve ser aprovado em um curso de 4 meses no Centro Nacional de Treinamento e Operações Policiais (CENOP), em San Luis, Tolima.
É um inferno de trabalho físico, pressão psicológica, extenuantes jornadas carregando peso, explosivos, gases, saltos desde helicópteros, sendo levados ao limite pelos instrutores, em que uma das provas finais implica não dormir durante três dias.
A taxa de desistência é altíssima, em media, se inscrevem 80 e se graduam 20. Só ficam os mais duros. Por isso na Colômbia não há mais de 200 membros do COPES na ativa, segundo o Major Byron.
Guillermo é boiacaense, filho de uma professora e um camponês, tem 31 anos e assegura que está felizmente casado. É o primeiro e único policial de sua família.
“Um atirador tem que ser exato em sua maneira de pensar e atuar. Se um falha, está em jogo a vida dos companheiros e das pessoas que ele está protegendo no momento”, assinala.
Não lhe pesa a mão para combater uma ameaça. Seu recorde de disparo é de 800 metros, mas ele não se vangloria. “Eu tenho uma memória seletiva muito curta, prefiro não recordar de nada de meus procedimentos”.
A ideia do pós conflito motiva Guillermo a encher sua mente com melhores ideias que combater com a força. “Estamos ante uma mudança iminente, esperamos que nos chegue a paz, por isso, comecei a estudar Psicologia, estou no segundo semestre, pensando que me sirva para o trabalho com a comunidade”.
O lado duro da lei
Juan, bogotano de 28 anos, chegou à Força Pública por esses acasos do destino. Cursava o quinto semestre de Direito na Universidade Distrital, quando teve que resolver a questão do serviço militar.
Sem condições de alcançar a segunda categoria, resolveu prestar o serviço na Polícia. E portando o uniforme, representando o lado forte da justiça que antes estudava nas aulas, se sentiu completado.
Se destacou nas aulas práticas de tiro e os seus superiores o animaram a que se convertesse em atirador. Colocou esse ideal em sua mira, mas foi antes de chegar ao COPES que teve seu encontro mais próximo com a morte.
Em 2008 acompanhava um grupo de erradicação manual de cultivo de drogas em La Macarena, Meta, e durante uma caminhada foram emboscados pela guerrilha. Gritos, rajadas, explosões e, sobre a grama, o sangue e a vida de seu companheiro, o patrulheiro Chacón.
Não foi por vingança, mas algum tempo depois, já sendo atirador profissional, quis o azar que Juan regressasse a Meta para fazer seu disparo de maior alcance em uma operação. A 850 metros, em um área rural, caiu de bruços seu inimigo.
Atualmente, sua profissão está na moda. O filme “Franco-atirador” ["Sniper Americano", no Brasil], do diretor Clint Eastwood, tem sido aclamado pelo público e a crítica.
Ele narra a biografia do militar estadunidense Christopher Scott Kyle, apelidado de “a Lenda” e “o Demônio de Ramadi”. Durante seu serviço na invasão do Iraque, como atirador dos Navy Seals, o Pentágono lhe atribuiu 160 mortes confirmadas, com recorde de distancia de 2.100 metros, convertendo-se no 'sniper' mais letal nas guerras dos E.U.
Juan conhece bem essa historia, mas se recusa a mitifica-la. Para ele, o pior do trabalho é despedir-se da família quando surge o chamado para uma missão. Eles só sabem que ele é um policial comum e nada mais.
- “Nunca vamos com um pensamento de matar, isso é um equívoco que as pessoas imaginam. Se desafortunadamente nos toca fazer, fazemos, porém nossa tarefa vai mais além, queremos prestar um bom serviço e proteger aos nossos, porque somos uma família. Se temos que liquidar alguém, isso não nos dá gloria”.
- “Atirador, ¿quantos objetivos já liquidastes?”, lhe pergunto.
- “¿Não podemos mudar esta pergunta?”.
- “¿Por que?”.
- “Creia que tirar a vida de uma pessoa é algo que não se pode doutrinar a ninguém. Assim, quando eu faço meu disparo, não posso ficar conferindo se morreu ou não. Por que em geral ele está longe, há vento, bruma...”.
- “E cumprindo seu dever, ¿quantos disparos já fizestes?”.
- “Já gastei muita munição”.
Os atiradores afirmam que seu labor vai mais além de disparar, pois estão na primeira linha de risco, recolhendo informações.
* Identidades preservadas por nomes fictícios.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: é só uma demonstração de que as estorias glamorosas que nos são mostradas, quase sempre são mentirosas. A missão de matar outros seres não é uma coisa comum! Infelizmente, para a segurança da sociedade em geral, ela deve ser cumprida. No Brasil, ainda não chegamos ao ponto de termos que regular esse tipo de atividade. Mas não falta muito para alcançarmos esse ponto crítico.
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