por Haroldo P. Barboza
As barbaridades executadas pelos poderes da nação (todas as esferas) se sucedem sem cerimônia pois a “manada” está domesticada há dezenas de anos e não sabe protestar. Os poucos lúcidos que ainda restam estão acomodados ou anestesiados pelo elenco (entre dezenas) de medidas que relato a seguir.
Os grupos das elites que sugam a nossa qualidade de vida possuem menos de 0,01% de elementos (ardilosos) da população. É o típico cenário de “escravos” que servem à preguiçosa “majestade”.
Desde o tempo da “proclamação” da república estão aperfeiçoando os pontos básicos do “dodecálogo” que lhes permite subtrair enormes parcelas de valores arrecadados que deveriam estar sendo aplicados nas áreas sociais objetivando menos misérias e mais oportunidades de crescimento para cada indivíduo e por extensão, para o país.
Para evitar um crescimento gradual da qualidade de vida geral, conservam aquecidas as causas que geram o caos coletivo e encobrem suas atitudes nocivas e camufladas.
Para que tal caos não seja extinto, as seguintes 12 ações básicas (sem ordem de prioridade) são praticadas em paralelo pelas diversas “máfias” que patrocinam e corrompem grandes parcelas de gerentes públicos.
1) Governantes — Apresentam sempre os mesmos candidatos corrompidos e corrompíveis (afilhados dos mais antigos) a cada pleito. A agenda (de A a Z) possui milhares de elementos comprometidos com os dominadores dos nichos e se locupletam docilmente diante das determinações impostas (em todas as esferas). Quando eventualmente cometem um “deslize” (algo que causa alvoroço na população durante 15 dias ou entre “paredões” do Big Besta Brasil), são congelados por alguns meses em locais menos focados pela imprensa. Às vezes retornam trocando de sigla partidária (sem nenhum compromisso com os ideais). Ou até inventam uma nova (com boa sonoridade) para camuflar o “arrependido”. Na pior das hipóteses, somem com o incauto para sempre.
2) Educação — O mesmo modelo arcaico de ensinamento e avaliação é disponibilizado nas escolas públicas para 98% das populações debilitadas que não podem ter acesso às informações que realmente as capacitem para melhores funções com remunerações mais justas. Mantendo o povo sem capacidade de raciocinar com lógica, fica mais fácil conduzir a “manada” domesticada. Professores mal remunerados que precisam dar aulas (inadequadas) em 3 colégios, não têm tempo para reciclagem nem promover debates elucidativos com seus alunos para melhorar o futuro destes. O tempo que lhes sobra é gasto em idéias para defender a integridade contra maus alunos protegidos por confusos “direitos” da infância. Por isto alunos dos municípios são aprovados após exames que pedem apenas para eles marcarem um “X” em colunas onde as respostas quase estão grifadas.
3) Religião — As edificações são mantidas para comprovar o quanto o povo é religioso (apesar de notarmos que a cada domingo a missa tem menos expectadores). Mas os líderes espirituais bem esclarecidos são orientados para todos os domingos repetir apenas as passagens bíblicas que imortalizaram nossos santos preferidos e lembrar ao “rebanho” sobre as festas visando arrecadação para o templo. Jamais estes formadores de opiniões aproveitam o agrupamento das “ovelhas” para debaterem futuras atitudes no sentido de combater os problemas comuns abandonados pelas autoridades e que afetam os devotos fiéis. Afinal, podemos liberar Deus de algumas ações que nós mesmos podemos praticar.
4) Mídia — jornais e rádios são “orientados” para usar 50% de seus espaços para notícias costumeiras: acidentes de carros em ruas escuras e esburacadas; chacinas em bares afastados dos subúrbios abandonados; policial envolvido em roubo de carga; jogador de futebol fotografado na madrugada antes de jogo decisivo; artista de novela aos beijos com noivo de cantora popular. O restante do espaço útil (já descontada a área de propaganda) fica para horóscopo, resultado da loteria, gato retirado do poste pelos bombeiros e enquete para saber que uniforme fica mais elegante no time de vôlei feminino. A TV deve exibir receitas de bolos (inclusive salgados), filmes infantis, mapa das chuvas pelo país, filmes com 60 anos de idade, novelas demoradas e “shows de realidade” com direito a “paredão” arrecadador. Nenhum destes canais usa 5% do espaço para cobranças constantes das falhas da administração pública nem para conscientizar os pagadores de impostos sobre seu direito cívico de exigir ética transparente de seus governantes.
5) Segurança urbana — forças policiais são mantidas em estado de falência permanente. Policiais mal pagos e mal treinados. Ferramentas obsoletas e sem manutenção. Poucos laboratórios arcaicos e sem equipamento adequado para investigações alimentam processos judiciais por 15 ou 20 anos. Câmeras são colocadas nas esquinas sob pretexto de dar segurança ao cidadão, quando na verdade são fontes de renda para multar veículos a cada minuto. Manter a população com medo de andar nas ruas traz dois benefícios aos lacaios do poder:
a) evitar reuniões onde os habitantes possam aperfeiçoar ideias para controlar ações das autoridades omissas;
b) permitir o livre comércio de drogas para contaminar jovens que poderiam sonhar com mudanças de tal cenário.
6) Desemprego — apesar das centenas de novas atividades nascidas em diversas áreas, uma política de desvalorização da atividade humana é mantida perversamente para provocar altas filas e baixos salários para favorecer com velocidade os altos ganhos dos gestores. Elementos esfomeados não possuem tirocínio para reivindicar direitos e curvam-se agradecidos diante das migalhas oferecidas pelos “generosos” manipuladores do chicote social. E pela base de estudo citada no item 2, não possuem qualificação para ocupar as vagas técnicas em aberto.
7) Trânsito — ainda que estudiosos do assunto possuam dezenas de soluções para amenizar o caos viário que encarece os serviços e degrada a condição humana, os gerentes que usam helicópteros não as aplicam. Talvez se divirtam com a depressão coletiva da população que perde 4 a 5 horas de produtividade e lazer. Certamente auferem enormes lucros com a venda de combustíveis e componentes para os veículos. O mal se alastra nos transportes de trens, barcos e aviões. Um sujeito que chega esgotado ao seu destino, não tem ânimo para se reunir com a comunidade e debater assuntos de interesse coletivo. E nas épocas de eventos com enorme demanda, resolvem o problema decretando “ponto facultativo”.
8) Saúde — as edificações condenadas por infiltrações de chuvas e ratos, fiações prestes e um curto e estruturas atacadas pela ferrugem representam a menor parte da doença. A falta de equipamentos, de profissionais bem pagos e bem treinados aumentam o índice de contaminações e mortes que se alastram exponencialmente, cada vez mais aumentam os astronômicos lucros dos laboratórios que burlam normas na certeza da impunidade dos gerentes públicos que aceitam suas “doações” para as campanhas eleitorais. Efetivamente assumir a postura da prevenção não gera lucros para eles.
9) Segurança nacional — as forças armadas, baluarte fundamental da sociedade na preservação da democracia, estão sendo sistematicamente depreciadas através de orçamentos acanhados que impedem a manutenção adequada de seus equipamentos e a qualificação apropriada de seus integrantes. Os símbolos nacionais (civis e militares) que deveriam servir de orgulho para nossos herdeiros, não são consagrados adequadamente para enaltecer tais ícones com orgulho. Sumiram dos cadernos escolares. Hino Nacional só é tocado (pela metade) antes de atividades esportivas. Nem o programa “A voz do Brasil” o toca. Cenário que piora paulatinamente com a impunidade disseminada que contempla os dirigentes corruptos e servem como exemplo para mentes não doutrinadas para corretas atitudes cívicas.
10) Família — os sucessivos decretos e normas não discutidos com a sociedade estão sendo gradativamente elaborados de forma a reduzir a autoridade de pais e professores sobre crianças que se imaginam mais sabidas por usarem a Internet desde 5 anos. Tal anomalia é rotulada de “direitos” dos jovens (“estaputo do menor”) que naturalmente contestam orientações de respeito, disciplina e organização. Desta forma se sentem livres para desacatarem os mais velhos e os Professores, e perderem noites de sono nas portas de bares arquitetando “brincadeiras” do tipo “queimar índio”. Grandes parcelas tornam-se escravas das drogas que circulam livremente nas comunidades, minando os alicerces de uma sociedade apodrecida.
11) Agricultura — nosso país poderia auferir monumentais lucros pelo simples fato de possuir um volume enorme de terras produtivas para quase todas as espécies de alimentos que o mundo necessita nos próximos 250 anos. No entanto, a política deste setor é uma das mais complicadas por não pagar o preço justo ao plantador, não possuir meios adequados de armazenamento e transporte deficiente para escoar a grande produção ao longo do ano. Isto ocasiona um desperdício de quase 30% do que se produz. Encarece no ponto de venda ao consumidor. E a cadeia de atravessadores fica com quase 75% dos lucros!
12) Justiça — As redações das Leis são longas e muitas vezes usam palavreados que fogem à compreensão do lúcido médio. Uma vírgula (a mais ou a menos) inocenta um “amigo do poder” e condena um “opositor”. As contradições se sucedem. As instâncias de recursos não possuem conduta padrão entre seus Juízes. Tal cenário conduz mais de 90% dos processos a terem prazos dilatados para suas conclusões. Alguns passam de 20 anos. A má redação atende aos próprios legisladores quando apanhados nas falcatruas que costumam praticar. Esta lerdeza atende aos interesses de poderosos conglomerados quando em litígio com os explorados que recorrem e naturalmente, por falta de conhecimento e/ou má fé de advogados subornáveis, tendem a aceitar “acordos” onde normalmente perdem quase 50% do que têm direito. Surpreendentemente, quando os prejudicados são os poderosos, as velocidades dos processos caem para meses.
Resta-nos calcular (mesmo sem uma equação nítida) quando tal mistura provocará a ebulição de uma convulsão dolorosa. O estopim poderá ser antecipado em 30 ou 50 anos se eventualmente numa determinada noite os “burros-expectadores” não puderem usar as linhas telefônicas para livrar uma desnuda do paredão do cultural programa Big Besta Brasil. Ou se a seleção de futebol não for campeã durante 20 anos seguidos.
Quem não aprender a lição, não ganha “sopão”.
Haroldo P. Barboza é Professor.
Autor do livro: Brinque e cresça feliz.
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