por Janer Cristaldo
Alguém ainda lembra do último massacre de ianomâmis? Aquele ocorrido dia 5 de julho passado e denunciado pela Horonami Organización Yanomami (HOY), organização que reúne indígenas ianomâmis? Segundo Luis Ahiwei, secretário-executivo da ONG, 80 índios teriam sido massacrados por garimpeiros brasileiros, que atiraram, de helicóptero, contra um shabono (cabana), onde restaram só cadáveres carbonizados. A notícia surgiu na imprensa internacional dia 29 de agosto e rolou mundo, desde a BBC à France Presse, desde o El País a L’Express, desde o Süddeutsche Zeitung ao New York Times. Dois meses já são passados e ninguém mais fala no bárbaro massacre.
É óbvio que se tratava de mais uma farsa, idêntica àquela de agosto de 1993, na qual teriam sido massacrados, na aldeia Haximu, na Venezuela, primeiro 19 ianomâmis, depois 40, mais tarde 73, 89 e finalmente 120. Como não se achou cadáver algum, voltou-se a 16 cadáveres, mesmo assim continuando sem cadáveres. No massacre de julho passado, a contabilidade passou de 80 para zero. Sem que jornal algum se desculpasse pela barriga. Diga-se de passagem, exceção deste que vos escreve, não vi jornalista algum no Brasil denunciando o embuste.
Em fevereiro deste ano, os jornais de São Paulo noticiaram o estupro de duas jovens pelos policiais da ROTA, durante a retomada de posse de uma área invadida pelos sem-teto em Pinheirinho, no interior de São Paulo. Ou melhor, durante a invasão policial, como preferem os jornais. Li na Folha de São Paulo:
Mais um crime para a lista de violências no Pinheirinho
MULHERES DENUNCIAM ESTUPROS POR POLICIAIS DA ROTA
Família relatou a noite de terror na noite da ação Polícia, em São José dos Campos
8 de fevereiro de 2012
Moradores de São José dos Campos, no interior de São Paulo, na região do Pinheirinho, desocupado pela Polícia numa operação de barbárie completa, registraram documento no Ministério Público com novos relatos de abusos: mulheres foram estupradas por policiais.
Se as câmeras que possibilitam divulgar e denunciar toda a brutalidade e violência de sua ação não intimidam os policiais, imagine o que não são capazes de fazer às escondidas.
O jovem conhecido nacionalmente pelo seqüestro do ônibus 174 sabe. Diante das câmeras a ação da polícia no centro da capital fluminense também foi um fiasco e resultou na morte de uma passageira. Sandro Barbosa, o seqüestrador, foi preso e levado no camburão pela polícia. Apesar de ter sido colocado no carro sem nenhum ferimento, o jovem que sobreviveu à chacina da Candelária, não sobreviveu à ação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), do Rio de Janeiro.
Algo semelhante marca a história do Pinheirinho. Se as imagens revelam o horror da atuação da Tropa de Choque, a experiência dos que receberam a ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Águia) dentro de casa, sem câmeras para registrar os fatos, é ainda mais terrível.
Segundo o relato, seis pessoas de uma mesma família (quatro homens e duas mulheres) “sofreram violência física e psicológica, sendo que três jovens, um homem e duas mulheres, sofreram abuso sexual”.
Na noite da invasão policial, domingo, dia 22, os moradores do bairro vizinho, Campo dos Alemães, também foram alvo da polícia. Três carros da ROTA pararam em frente à casa dessa família e invadiram a casa supostamente a procura de drogas. As duas jovens foram levadas para dentro do carro e mantidas em cárcere privado por pelo menos cinco horas, e estupradas. O adolescente na casa foi ameaçado de ser “empalado”, com um cabo de vassoura.
A denúncia foi feita formalmente, registrada no Ministério Público. A Polícia primeiro negou as acusações e agora diz que vai apurar o caso.
Esses homens armados violentaram duas jovens e aterrorizaram uma família inteira, na noite do terror que já tinha acontecido com a reintegração de posse são da ROTA. Segundo a jovem violentada eles diziam: “Deus faz, a mãe cria e a Rota faz o que?”; para ela responder: “A Rota mata, senhor”.
Esse era o crime que faltava para ser imputado aos policiais que realizaram a barbárie do Pinheirinho. Como se o Brasil estivesse em guerra, com soldados estrangeiros invadindo o País e estabelecendo o terror contra a população. Essa é a Polícia Militar brasileira.
Dramático o relato, não? Oito meses são passados após os estupros ... e não se fala mais no assunto. A violência dos policiais da ROTA sumiu, como que por milagre, dos jornais. Processo nenhum contra os policiais, ação nenhuma por parte das vítimas, desmentido nenhum por parte dos jornais. Os bravos jornalistas nossos confiam na falta de memória dos leitores.
Ontem ainda (14/9), o Terra noticiava:
Os recorrentes incêndios em favelas na cidade de São Paulo, que só nesse ano já foram 67, colocam em lados opostos os candidatos à prefeitura pelo PT, Fernando Haddad, e pelo PSDB, José Serra.
67 incêndios em favelas só neste ano, em São Paulo. Curiosamente, nenhum cadáver. Os incêndios são todos gentis, não produzem vítimas. Incêndios em favelas são como massacres de ianomâmis: avaros em cadáveres.
Na edição de amanhã, que saiu hoje em São Paulo, a Folha noticia em primeira página: PREFEITURA PAGA ALUGUEL PARA 100 MIL EM SÃO PAULO
Total de inscritos no principal programa para desalojados dobrou desde 2010
A Prefeitura de São Paulo paga até R$ 500 mensais a 27 mil famílias desalojadas de favelas. O total de beneficiados equivale a 100 mil pessoas — número superior à população dos 645 municípios do Estado.
No principal programa, o Aluguel Social, estão inscritas 21 mil famílias — eram 11 mil em 2010. Outras 6.000 recebem a ajuda financeira por meio da Parceria Social. O custo dos dois programas é de R$ 8 milhões por mês. A gestão de Gilberto Kassab atribui o aumento de desalojados a incêndios e obras de emergência.
Jornalista algum associou os incêndios sem cadáveres aos aluguéis pagos pela Prefeitura.
Fonte: Janer Cristaldo
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