por Gabriel Novis Neves
Leandro Narloch nos diz que, “durante os três primeiros séculos da conquista portuguesa, nenhuma família teve mais poder na vila, que deu origem a Niterói, no Rio de Janeiro, quanto os Souza”.
O interessante é que os membros da família Souza, não eram descendentes de nenhum poderoso fidalgo português.
O homem que criou a dinastia dos Souza de Niterói chamava-se Araribóia. Era o cacique dos índios temiminós, que ajudou os portugueses a expulsar os franceses e os tupinambás do Rio de Janeiro.
Com a guerra vencida, muitos temiminós e tupiniquins foram batizados, e adotaram um sobrenome português.
Araribóia virou Martim Afonso de Souza (em homenagem ao primeiro colonizador do Brasil) e ganhou a sesmaria de Niterói, onde alojou a sua tribo.
Menos de cem anos depois, seus descendentes já não se viam como índios: eram os Souza, e faziam parte da sociedade brasileira. Talvez eles se identifiquem até hoje dessa forma.
Muitos historiadores mostram números desoladores sobre o genocídio que os índios sofreram depois da conquista portuguesa.
Dizem que a população nativa diminuiu dez, vinte vezes. As tribos passaram por um esvaziamento, mas não só por causa de doenças e ataques.
Costuma-se deixar de fora da conta do índio colonial, aquele que largou a tribo, adotou um nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira, ao lado de brancos, negros e mestiços — e cujos filhos, pouco tempo depois, já não se identificavam como índios.
Por todo o Brasil, índios foram para as cidades e passaram a trabalhar na construção de pontes e de estradas, como pedreiros, carpinteiros, músicos, vendendo chapéus, plantando hortaliças e cortando árvores - e até caçando negros fugitivos.
Em 2006, o historiador Márcio Marchioro achou documentos com nome, cargo, idade, profissão e número de filhos dos chefes indígenas na virada do século XVIII para o século XIX.
São todos nomes portugueses, antecedidos da palavra “índio”. A escravidão indígena tinha sido proibida pelo rei D. Pedro II de Portugal em 1680.
Com a expulsão dos jesuítas do Brasil — 1750 — Portugal resolveu transformar as aldeias indígenas em vilas e freguesias. Com isso acabou a proibição de brancos nas aldeias.
Na Amazônia, quem visita a região se espanta ao conhecer pessoas com cara de índio que ficam contrariadas ao serem chamadas de índio — 25% da população indígena da Amazônia já moram em cidades.
Em 2000, a Universidade Federal de Minas Gerais, mostrou que 33% dos brasileiros que se consideram brancos, têm DNA vindo de mães índias.
Em outras palavras: embora desde 1500, o número de nativos no Brasil tenha se reduzido a 10% do original (de cerca de 3.5 milhões para 325 mil), o número de pessoas com o DNA ameríndio aumentou mais de 10 vezes — escreveu o geneticista Sérgio Danilo Pena no livro Retrato Molecular do Brasil.
Estes números sugerem que muitos índios largaram as aldeias e passaram a se considerar brasileiros.
Hoje, seus descendentes vão ao cinema, andam de avião, escrevem livros e, como seus antepassados, tomam banho todos os dias.
Fonte: ABV Notícias
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