por Anthony Garotinho
Como escrevi na chamada para esta matéria coincidências existem, mas quando elas se sucedem e envolvem as mesmas pessoas, qualquer um sabe que não pode ser apenas coincidência. Em meio ao noticiário ufanista da prisão de Nem e da ocupação da Rocinha muitos fatos importantes foram deixado de lado, assim como informações relevantes foram sonegadas da população. Mas antes de chegarmos aos dias de hoje, para facilitar o entendimento de vocês e lhes possibilitar tirar as próprias conclusões vamos voltar um pouco no tempo.
O acordo entre Cabral e o representante político de Nem
Cabral, Claudinho da Academia e Pezão |
Em 2008 é eleito vereador do Rio, o polêmico Claudinho da Academia, presidente da Associação de Moradores de Rocinha. Segundo o Ministério Público vinha a ser o braço-político do traficante e só ele, Claudinho da Academia teve permissão para fazer campanha na Rocinha, além dos promotores terem denunciado também que moradores foram coagidos por Nem a votar no seu candidato.
Cabral e o PMDB queriam entrar na Rocinha, de olho nas eleições de 2010, e também precisavam negociar a realização das obras do PAC de Lula. O vice governador Pezão foi encarregado da missão de conseguir um acordo político para dominarem a Rocinha. Enquanto vários deputados em primeiro mandato do Rio nunca pisaram no gabinete de Cabral, no Palácio Guanabara, Claudinho da Academia era recebido como tapete vermelho e todas as reverências. Coincidência ou não, depois do acordo, veio a ordem de Beltrame que a polícia não estava autorizada a subir na Rocinha.
A morte de Claudinho da Academia
Depois da morte de Claudinho da Academia, a ordem na Rocinha foi para apoiar André Lazaroni (PMDB) |
Em junho de 2010, o vereador Claudinho da Academia morreu de ataque cardíaco. Em cima das eleições estaduais, o espólio político de Claudinho, na verdade pertencente a Nem de quem era apenas um preposto, passa a ser disputado. Mais uma vez Pezão entra em cena para negociar o reduto eleitoral para os seus aliados. Fica então acertado, com a óbvia concordância de Nem, que os candidatos da Rocinha seriam André Lazaroni (PMDB) para estadual e Marcelo Sereno (PT) para federal. Foi o próprio André Lazaroni, hoje Líder do PMDB na ALERJ quem revelou ao jornal O Dia, que Pezão foi avalista do acordo. Já Marcelo Sereno para quem não sabe é um dos homens mais próximos de José Dirceu, era seu assessor na época do Mensalão e foi secretário de Benedita da Silva. Só eles puderam fazer campanha livremente na Rocinha, mesmo sem qualquer ligação anterior com a comunidade. Era ordem do chefe Nem. Como poderão ver abaixo, os dois tiveram uma votação extraordinária na Rocinha.
Reprodução do site do TSE. André Lazaroni só teve
menos votos que William, que foi o presidente
anterior da associação de moradores
|
Reprodução da coluna de Ancelmo Gois (14/11/2011) |
A Conexão Maricá - Rocinha
Os secretários de Maricá: delegado Alexandre Neto e Marcelo Sereno |
Marcelo Sereno não se elegeu e virou secretário de Desenvolvimento Econômico de Maricá, cidade a 60 km do Rio, administrada pelo prefeito Quáquá, do PT. Lá o secretário de Segurança passou a ser o delegado Alexandre Neto, ligado a Beltrame. Neto conseguiu de Beltrame a indicação para delegado titular em Maricá, do seu amigo Roberto Gomes Nunes, que também é seu sócio. Para quem não está ligando o nome à pessoa foi o delegado Roberto Gomes Nunes que apareceu na prisão de Nem querendo que ele não fosse levado para a Polícia Federal como poderão ver abaixo.
Reprodução da Folha de S.Paulo |
Para quem não sabe, o delegado Roberto Gomes Nunes (titular de Maricá) era sócio do delegado Alexandre Neto em um escritório de advocacia pertencente ao Dr. Otávio Brandão Gomes (ex-presidente da OAB/RJ). O Dr. Otávio Brandão Gomes revelou à CPI das Escutas Clandestinas que demitiu os dois quando descobriu que eles fizeram uma escuta clandestina para grampear os próprios colegas de trabalho.
Alexandre Neto foi nomeado Secretário de Segurança de Maricá em janeiro de 2011. Logo em seguida, em fevereiro de 2011, ele conseguiu de Beltrame o favor de nomear como Delegado Titular de Maricá o seu sócio MARCELO GOMES.
Numa outra coincidência, o advogado Luiz Carlos Cavalcante Azenha preso pelo Batalhão de Choque quando escoltava o traficante Nem para fora da Rocinha com uma mala de dinheiro, também é advogado de policiais que foram presos na Operação GUILHOTINA como podem comprovar abaixo.
Reprodução do site do Tribunal de Justiça do Rio |
Como mostrei na nota anterior reproduzindo uma postagem do site do jornalista Paulo Henrique Amorim, uma das questões que ele coloca é por que o delegado Roberto Gomes Nunes queria levar Nem para a delegacia de Maricá. É bom lembrar que o delegado Roberto Gomes Nunes é amigo e sócio de Alexandre Neto, secretário de Maricá junto com Marcelo Sereno, um dos herdeiros políticos de Claudinho da Academia, sob as bênçãos de Nem.
O NEM VAI VIRAR MODELO! COMO O MISTER M, É MOLE?!
A Associação de Moradores da Rocinha
ONDE ESTÁ O NEM? AQUI ALGUÉM SABE?
André Lazaroni (o da seta da esquerda) e Marcelo Sereno aparecem na propaganda da chapa de Nem, que ganhou a eleição para a Associação de Moradores da Rocinha |
Todos os jornais falam que é preciso realizar novas eleições para a Associação de Moradores, uma vez que a chapa vencedora era ligada a Nem e a votação teria sido sob coação. Como podem ver pela foto acima, essa chapa, sob todas essas acusações de envolvimento com o tráfico, também teve o apoio de André Lazaroni (PMDB) e Marcelo Sereno (PT) que fizerem questão de posar com os demais integrantes.
Está bem claro que há coincidências demais nessa história, que evidencia claramente o acordo político entre Cabral e seus aliados com o poder da Rocinha, representado por Nem, através da Associação de Moradores. Se deixarem Nem falar, se continuar vivo até lá, muito mais coisas virão à tona - podem estar certos – nessa estranha conexão Maricá-Rocinha.
Fonte: Blog do Garotinho
COMENTO: o histórico de Garotinho não me faz confiar plenamente nas suas afirmações. Porém creio que ele tem razão ao apontar as "coincidências" acima. São muito reveladoras de como se dá a política atual. Não só no Rio de Janeiro, mas em todo o país, o conluio de políticos com "apoiadores" se dá sem que sejam observados princípios morais mínimos. Desde que renda votos ou 'financiamento de campanha', qualquer acordo é bem vindo! Quanto aos advogados presos na companhia de Nem, nem uma palavra mais se leu na "grande imprensa". Ninguém sabe nem ninguém viu!
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atravanca um palpite aqui: