por Janer Cristaldo
Há horas venho afirmando que a militância homossexual, que pretende proibir qualquer crítica ao homossexualismo, mais dia menos dia vai tropeçar com a Bíblia. Aconteceu. Antes de ir adiante, algumas considerações sobre certos neologismos mal construídos. Segundo o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.
Comentei há pouco. Em defesa da nova terminologia, o ministro diz que o vocábulo foi cunhado pela vez primeira na obra União Homossexual, o Preconceito e a Justiça, de autoria da desembargadora aposentada e jurista Maria Berenice Dias, consoante a seguinte passagem: “Há palavras que carregam o estigma do preconceito. Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se 'homossexualismo'. Reconhecida a inconveniência do sufixo 'ismo', que está ligado a doença, passou-se a falar em 'homossexualidade', que sinaliza um determinado jeito de ser. Tal mudança, no entanto, não foi suficiente para pôr fim ao repúdio social ao amor entre iguais”.
Acontece que o neologismo está errado. O homo, de homossexual, é palavra grega que quer dizer mesmo. Homossexual, mesmo sexo. A palavra homoafetivo, se formos fiéis ao étimo, quer dizer mesmo afeto. Ora, mesmo afeto não quer dizer nada específico. Quer dizer apenas que você tem o mesmo afeto que outra pessoa tem por você. Mas homoafetivo, segundo a desembargadora desocupada, seria um eufemismo para homossexual. Não é. É palavra que foi construída errada.
Da mesma forma, homofobia. Pretendeu-se associar o homo a homossexual, quando homo continua tendo seu significado original, mesmo. Homofobia, etimologicamente, quer dizer “mesmo medo”. Ora, a palavrinha pretende ser sinônima de repulsa ao homossexualismo. Não é. Também foi construída errada. É espantoso ver jornalistas, profissionais que todos os dias lidam com as palavras, aceitarem conceitos sem pé nem cabeça, sem sequer questioná-los.
Volto à Bíblia. O livro é claro. No Levítico, lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”.
Terça-feira passada, um aviso postado no site da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) teria convocado simpatizantes a um evento em Brasília, programado para ontem, em que seriam queimados exemplares da Bíblia. Na primeira versão publicada na seção de "eventos nacionais" da página virtual, o texto dizia que "em frente a Catedral, nós ativistas LGBTT iremos queimar um exemplar da Bíblia Sagrada". Em seguida, a mensagem defendia que "um livro homofóbico como este não deve existir em um mundo onde a diversidade é respeitada."
Por fim, o autor da postagem, que se identificava como João Henrique Boing, ativista GLSBTT, conclamava o público para seu suposto ato: "Amanhã iremos queimar a homofobia. Compareça". Segundo Toni Reis, presidente da associação, tudo não passou de um ataque de hackers. "Não somos nós que estamos publicando esse tipo de coisa. Temos respeito total pelas religiões. A Bíblia é para ser respeitada", disse ele, que afirmou ter teólogos no corpo diretivo da entidade.
Ataque de hackers ou não, não vejo como a Bíblia possa ser respeitada pelos ativistas gays. O Levítico é claro: homossexuais devem ser mortos. Verdade que há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Quanto às lésbicas, nada contra. Profitez-en, jeunes filles!
Vou usar, à guisa de argumentação, a palavrinha mal construída. Se você sair por aí pregando a pena de morte para homossexuais, evidentemente será condenado como homófobo. Mas é o que diz o Livro. Será a Bíblia então proibida? A senadora Marta Suplicy, ciente desta implicação absurda, abriu uma exceção no projeto de lei. Nos templos, seria permitida a condenação do homossexualismo. Com isto deixa claro que, fora dos templos, qualquer crítica ao homossexualismo está sujeita às penas da futura lei. Se um padre ou pastor ler o Levítico em um templo, tudo bem. Se ler em praça pública, cadeia nele.
Quem está patrocinando esta tal de legislação anti-homofóbica, como também o malsinado kit anti-homofobia, é o PT. E só podia ser. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, as viúvas do Kremlin, saudosas da finada luta de classes, criaram agora outros conflitos. Se você for pesquisar os arquivos de jornais — e eu fiz esta pesquisa na Folha de São Paulo — verá que na década de 90 a palavra racismo se multiplica por mil na imprensa. Se a luta de classes obsolesceu, vamos agora jogar raça contra raça. Se isto não bastar, jogamos sexo contra sexo. Sem lutas, a Idéia — como se dizia no início do século passado — não avança.
Quem vos fala é um cronista que sempre defendeu a liberdade de uma pessoa optar pelas práticas sexuais que bem entender. Mas se defendo esta liberdade, defendo também a de não gostar — e mesmo condenar — determinadas sexualidades. O mundo está cheio de pessoas às quais repugna a prática do homossexualismo. Porque repugna, não sei. Afinal, se outros gostam disto ou daquilo, ninguém tem nada a ver com isso. Mas considero que estas pessoas têm todo o direito a manifestar tal repulsa.
Tenho mais de dez bíblias em minha biblioteca. Gosto de ver cada religião traduzindo-as como lhes convém. Isto mostra cabalmente que os sacerdotes são vigaristas que, durante a História toda, puxaram brasas para seu assados. Considero a Bíblia um livro importante, tanto como registro de épocas históricas, mas também como repositório de mitos e lendas, poesia e filosofia. Mas jamais a consideraria um código normativo. Se ela condena à morte os homossexuais — e também as adúlteras —, isto foi nos tempos de Abraão e Moisés. Não se pode transpor para nossos dias códigos de mais de três mil anos.
A Bíblia também prega a lei de talião: olho por olho, dente por dente. Talvez pudesse ser hoje traduzido por lente por lente, ponte por ponte. Mesmo assim, tal lei fere qualquer código de Direito contemporâneo. Os católicos já não insistem muito nas antigas interdições sexuais, tanto que até os últimos papas foram complacentes com o homossexualismo e pedofilia de seus padres. Quem ainda insiste nisto são os evangélicos.
Suma av kardemuma: simbolicamente ou não, os tais de anti-homofóbicos terão, mais dia menos dia, de queimar a Bíblia. Só acho que não vai ser fácil.
Comentei há pouco. Em defesa da nova terminologia, o ministro diz que o vocábulo foi cunhado pela vez primeira na obra União Homossexual, o Preconceito e a Justiça, de autoria da desembargadora aposentada e jurista Maria Berenice Dias, consoante a seguinte passagem: “Há palavras que carregam o estigma do preconceito. Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se 'homossexualismo'. Reconhecida a inconveniência do sufixo 'ismo', que está ligado a doença, passou-se a falar em 'homossexualidade', que sinaliza um determinado jeito de ser. Tal mudança, no entanto, não foi suficiente para pôr fim ao repúdio social ao amor entre iguais”.
Acontece que o neologismo está errado. O homo, de homossexual, é palavra grega que quer dizer mesmo. Homossexual, mesmo sexo. A palavra homoafetivo, se formos fiéis ao étimo, quer dizer mesmo afeto. Ora, mesmo afeto não quer dizer nada específico. Quer dizer apenas que você tem o mesmo afeto que outra pessoa tem por você. Mas homoafetivo, segundo a desembargadora desocupada, seria um eufemismo para homossexual. Não é. É palavra que foi construída errada.
Da mesma forma, homofobia. Pretendeu-se associar o homo a homossexual, quando homo continua tendo seu significado original, mesmo. Homofobia, etimologicamente, quer dizer “mesmo medo”. Ora, a palavrinha pretende ser sinônima de repulsa ao homossexualismo. Não é. Também foi construída errada. É espantoso ver jornalistas, profissionais que todos os dias lidam com as palavras, aceitarem conceitos sem pé nem cabeça, sem sequer questioná-los.
Volto à Bíblia. O livro é claro. No Levítico, lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”.
Terça-feira passada, um aviso postado no site da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) teria convocado simpatizantes a um evento em Brasília, programado para ontem, em que seriam queimados exemplares da Bíblia. Na primeira versão publicada na seção de "eventos nacionais" da página virtual, o texto dizia que "em frente a Catedral, nós ativistas LGBTT iremos queimar um exemplar da Bíblia Sagrada". Em seguida, a mensagem defendia que "um livro homofóbico como este não deve existir em um mundo onde a diversidade é respeitada."
Por fim, o autor da postagem, que se identificava como João Henrique Boing, ativista GLSBTT, conclamava o público para seu suposto ato: "Amanhã iremos queimar a homofobia. Compareça". Segundo Toni Reis, presidente da associação, tudo não passou de um ataque de hackers. "Não somos nós que estamos publicando esse tipo de coisa. Temos respeito total pelas religiões. A Bíblia é para ser respeitada", disse ele, que afirmou ter teólogos no corpo diretivo da entidade.
Ataque de hackers ou não, não vejo como a Bíblia possa ser respeitada pelos ativistas gays. O Levítico é claro: homossexuais devem ser mortos. Verdade que há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Quanto às lésbicas, nada contra. Profitez-en, jeunes filles!
Vou usar, à guisa de argumentação, a palavrinha mal construída. Se você sair por aí pregando a pena de morte para homossexuais, evidentemente será condenado como homófobo. Mas é o que diz o Livro. Será a Bíblia então proibida? A senadora Marta Suplicy, ciente desta implicação absurda, abriu uma exceção no projeto de lei. Nos templos, seria permitida a condenação do homossexualismo. Com isto deixa claro que, fora dos templos, qualquer crítica ao homossexualismo está sujeita às penas da futura lei. Se um padre ou pastor ler o Levítico em um templo, tudo bem. Se ler em praça pública, cadeia nele.
Quem está patrocinando esta tal de legislação anti-homofóbica, como também o malsinado kit anti-homofobia, é o PT. E só podia ser. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, as viúvas do Kremlin, saudosas da finada luta de classes, criaram agora outros conflitos. Se você for pesquisar os arquivos de jornais — e eu fiz esta pesquisa na Folha de São Paulo — verá que na década de 90 a palavra racismo se multiplica por mil na imprensa. Se a luta de classes obsolesceu, vamos agora jogar raça contra raça. Se isto não bastar, jogamos sexo contra sexo. Sem lutas, a Idéia — como se dizia no início do século passado — não avança.
Quem vos fala é um cronista que sempre defendeu a liberdade de uma pessoa optar pelas práticas sexuais que bem entender. Mas se defendo esta liberdade, defendo também a de não gostar — e mesmo condenar — determinadas sexualidades. O mundo está cheio de pessoas às quais repugna a prática do homossexualismo. Porque repugna, não sei. Afinal, se outros gostam disto ou daquilo, ninguém tem nada a ver com isso. Mas considero que estas pessoas têm todo o direito a manifestar tal repulsa.
Tenho mais de dez bíblias em minha biblioteca. Gosto de ver cada religião traduzindo-as como lhes convém. Isto mostra cabalmente que os sacerdotes são vigaristas que, durante a História toda, puxaram brasas para seu assados. Considero a Bíblia um livro importante, tanto como registro de épocas históricas, mas também como repositório de mitos e lendas, poesia e filosofia. Mas jamais a consideraria um código normativo. Se ela condena à morte os homossexuais — e também as adúlteras —, isto foi nos tempos de Abraão e Moisés. Não se pode transpor para nossos dias códigos de mais de três mil anos.
A Bíblia também prega a lei de talião: olho por olho, dente por dente. Talvez pudesse ser hoje traduzido por lente por lente, ponte por ponte. Mesmo assim, tal lei fere qualquer código de Direito contemporâneo. Os católicos já não insistem muito nas antigas interdições sexuais, tanto que até os últimos papas foram complacentes com o homossexualismo e pedofilia de seus padres. Quem ainda insiste nisto são os evangélicos.
Suma av kardemuma: simbolicamente ou não, os tais de anti-homofóbicos terão, mais dia menos dia, de queimar a Bíblia. Só acho que não vai ser fácil.
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