por Valmir Fonseca
Em passado recente, conhecemos e lamentamos as chamadas “décadas perdidas”.
Das de 80 e 90, até hoje, ouvimos as lamúrias do pouco que foi feito, do ridículo avanço, da patinação no mesmo lugar, ou até do penoso passo atrás, isto enquanto alguns países iniciaram ou prosseguiram sua trajetória rumo ao deslanche econômico.
Países como a China, a Índia, a Coréia do Sul e outros, de repente atracaram-se nas asas de uma pujança econômica, e impressionaram aos demais com o seu “milagre”.
Contudo, o milagroso desempenho não aconteceu por artes de qualquer duende ou por Deus ser chinês, coreano, ou simpatizante de alguma nação.
“Milagres” daquele tipo, mesmo os mais crentes sabem, não ocorrem gratuitamente, e não despencam dos céus no cocuruto das nações.
Eles são planejados, construídos, e somente após alguns anos, quando não décadas, tal qual frondosa árvore frutífera, florescem e apresentam aos que a cultivaram, os seus frutos.
Aqueles governos plantaram condutas e normas exóticas para a nossa tacanha compreensão, cultivaram com esmerado cuidado as sementes da educação, fertilizaram os recursos humanos com os nutrientes da meritocracia, sulcaram estradas com parcimônia, adubaram a infraestrutura com honestidade, irrigaram a indústria com determinação, selecionaram criteriosamente os agentes da produção, separaram o joio do trigo e, após inaudito esforço, sedimentaram uma sólida base para uma colheita farta.
Quanto a nós, eufóricos, encantados com a nossa imagem no espelho, com a bunda grande das nossas damas, com as peripécias futebolísticas de nossos craques, com a alegria esfuziante dos nossos carnavalescos, com os embalos dos trios elétricos, com as incentivadoras palavras de nossos populistas e amados líderes, e embriagados de prazer, acreditamos que o futuro é agora, e o depois a Deus pertence, e que Ele, nunca nos faltará.
Assim, desgovernados por um inconseqüente, muitos acreditaram no papo furado, desprezaram os fatos e riram das evidências. E, assim, foi-se um, dois, três... quase dez anos e, quem sabe, muitos mais.
Dos emergentes, alguns atingiram resultados de tirar o chapéu, outros menos; o Brasil, na comparação geral, menos ainda.
Foi uma década arruinada, esbanjada. Se a esbórnia tivesse cara ela seria a de um viscoso molusco.
Dizem que, “quem não faz leva”. Não fizemos, fingimos, não semeamos, não plantamos, não adubamos, não lavramos, não irrigamos, não fertilizamos, não sulcamos, não separamos o joio do trigo, não tivemos o necessário patriotismo, apenas comemoramos, por isso estamos levando.
Inútil pretender que a incúria dos dirigentes e acólitos não cobraria o seu preço, não deles, que erraram tanto, que nada será suficiente para remediar os seus desatinos. No caso de uma população, somente ela, em especial ao seu futuro, caberá o ônus da incúria desbragada.
O estranho não será pagarmos a conta (estamos acostumados, é uma sina), o esquisito será prosseguirmos na crença de que os pilantras não sofrerão qualquer ônus, e apesar de iminente a cobrança de suas inconseqüências, ainda afirmarem, sem pudor, que os outros "estão inventando uma pseudo-crise econômica”.
No momento, cumpre acenar para a década esbanjada, e rezar para que o continuísmo que escolhemos, não patrocine outras décadas perdidas, pois será difícil, mesmo para uma nação de pascácios suportar tanta esbórnia.
De repente, como os cubanos, a tchurma agüenta até o fim dos tempos.
Valmir Fonseca Azevedo Pereira, General de Brigada Reformado,
é Presidente do Ternuma.
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