I - Paixão fatal em noite de primavera
por Alfredo Dinho Daudt
Paixões costumam ser avassaladoras.
Se você é jovem ocorrem com frequência situações irresponsáveis, intensas e, até, inconsequentes. Quando se é maduro, paixões abalam certezas, alicerçadas em nossas pretensas experiências. A partir do limite entre a meia e a terceira idade, paixões acabam criando complexidades.
É que são anos em que estamos acostumados a reagir de uma forma pré-concebida e, de repente, tudo pode, pode?
Pois foi numa noite de primavera em Garopaba que, assistindo ao filme Fatal, na Sky, passei a idealizar uma identificação com o ator sessentão, Ben Kingsley, vivendo o papel de David, professor universitário, separado, que mantinha uma relação casual há vinte anos com uma “colega”, além de ficar, eventualmente com algumas alunas.
A outra atraente personagem: Consuelo, interpretada pela deusa Penélope Cruz – entra na vida do professor e a desestrutura. Mais em função dos temores e inseguranças dele, do que por alguma rejeição ou apatia romântica dela. Fazer o que, galera?
É aquela história já batida de que não nos olham mais com aquela mesma atração fatal comum aos romances ou casos de nossa juventude. E se ou quando ocorre pira nossa cabeça. Já pensou? Afinal, aprendi que o passar dos anos nos traz desconfortos bem mais ardilosos do que simples rugas ou desaceleração nos movimentos, e isto contrasta com o fato de que nada se aquieta por mais que a gente envelheça.
Sei que não estou sendo original e já escreveram sobre isso: Inspirado no livro “O Animal Agonizante”, de Philip Roth, o filme é dirigido por Isabel Coixet.
Pensei até que era do Almodovar, pois assim como eu, ele adora Penélope. O drama me prendeu a atenção ao expor as angústias daquele cara letrado, que se vê só, após a perda de um camaradinha dele, um amigo. Ao nos depararmos com a incapacidade do professor de rever conceitos arraigados, nos sentimos viajando com nossas próprias defesas para quando o amor - talvez um dia - chegar.
Aparece também, é claro, o normal preconceito contra casais com idades diferentes. Quando um dos namorados é veterano ou uma veterana, por exemplo, reparem que, normalmente, o personagem acentua um contraste, parecendo mais velho ou velha, ainda, sob o olhar crítico das pessoas em volta deles. Isso parece ser paradoxal no entendimento de alguns que acreditam demonstrar menos idade ao decidir por companheiros mais jovens.
Eu mesmo já cheguei a pensar desta maneira.
Pois a vulnerabilidade deste tipo de aventuras e relacionamentos e a banalização dos encontros estão presentes na história. Como que expondo de uma forma geral a incapacidade do ser humano de aceitar e ser aceito pelo outro na mesma proporção, o que rola em qualquer idade. Vocês sabem. O final não conto.
E, embora trágico, me encantou.
O filme é um golpe demolidor em sua sensibilidade. Só resta saber se será fatal, como preconiza o título.
Se você é jovem ocorrem com frequência situações irresponsáveis, intensas e, até, inconsequentes. Quando se é maduro, paixões abalam certezas, alicerçadas em nossas pretensas experiências. A partir do limite entre a meia e a terceira idade, paixões acabam criando complexidades.
É que são anos em que estamos acostumados a reagir de uma forma pré-concebida e, de repente, tudo pode, pode?
Pois foi numa noite de primavera em Garopaba que, assistindo ao filme Fatal, na Sky, passei a idealizar uma identificação com o ator sessentão, Ben Kingsley, vivendo o papel de David, professor universitário, separado, que mantinha uma relação casual há vinte anos com uma “colega”, além de ficar, eventualmente com algumas alunas.
A outra atraente personagem: Consuelo, interpretada pela deusa Penélope Cruz – entra na vida do professor e a desestrutura. Mais em função dos temores e inseguranças dele, do que por alguma rejeição ou apatia romântica dela. Fazer o que, galera?
É aquela história já batida de que não nos olham mais com aquela mesma atração fatal comum aos romances ou casos de nossa juventude. E se ou quando ocorre pira nossa cabeça. Já pensou? Afinal, aprendi que o passar dos anos nos traz desconfortos bem mais ardilosos do que simples rugas ou desaceleração nos movimentos, e isto contrasta com o fato de que nada se aquieta por mais que a gente envelheça.
Sei que não estou sendo original e já escreveram sobre isso: Inspirado no livro “O Animal Agonizante”, de Philip Roth, o filme é dirigido por Isabel Coixet.
Pensei até que era do Almodovar, pois assim como eu, ele adora Penélope. O drama me prendeu a atenção ao expor as angústias daquele cara letrado, que se vê só, após a perda de um camaradinha dele, um amigo. Ao nos depararmos com a incapacidade do professor de rever conceitos arraigados, nos sentimos viajando com nossas próprias defesas para quando o amor - talvez um dia - chegar.
Aparece também, é claro, o normal preconceito contra casais com idades diferentes. Quando um dos namorados é veterano ou uma veterana, por exemplo, reparem que, normalmente, o personagem acentua um contraste, parecendo mais velho ou velha, ainda, sob o olhar crítico das pessoas em volta deles. Isso parece ser paradoxal no entendimento de alguns que acreditam demonstrar menos idade ao decidir por companheiros mais jovens.
Eu mesmo já cheguei a pensar desta maneira.
Pois a vulnerabilidade deste tipo de aventuras e relacionamentos e a banalização dos encontros estão presentes na história. Como que expondo de uma forma geral a incapacidade do ser humano de aceitar e ser aceito pelo outro na mesma proporção, o que rola em qualquer idade. Vocês sabem. O final não conto.
E, embora trágico, me encantou.
O filme é um golpe demolidor em sua sensibilidade. Só resta saber se será fatal, como preconiza o título.
Dinho Daudt colabora com jornais e sites da região de Garopaba
e participa do programa Onda 1380, na Rádio Frequência de Garopaba.
-----
II - Tropa de Elite 2 é quase tudo verdade
por Luciano Ramos
Surge um diretor de cinema com criatividade e capacidade que produziu um filme que pode ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ele é José Padilha, realizador de Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro.
Padilha iniciou a carreira com o documentário Os Pantaneiros, com Marcos Prado em 2001, em 2002 dirigiu Ônibus 174, relato de uma tragédia urbana carioca ocorrida em 2000. Entre Tropa de Elite 1 e 2 fez o documentário Garapa, sobre a fome no nordeste e Charcoal, um curta documental a pedido da ONG Live Earth, que aborda a cadeia de produção do carvão vegetal no Brasil e os danos ambientais que provoca para o aquecimento global.
Acostumado com documentários, Padilha fez de Tropa de Elite 1 uma espécie de apresentação da bem sucedida parceria com o roteirista Bráulio Mantovani e o ator Wagner Moura. Tropa 1 foi uma introdução ao que ainda estava por vir: a mais contundente crítica social e política produzida no cinema nacional. Tropa 2 não é apenas um filme excelente, é o melhor documentário ficcional de todos os tempos e vai além disto, pelo menos uma dúzia de personagens do filme são conhecidos do grande público, tanto do lado do bem como do lado do mal.
A obra é um grande mosaico de personagens e fatos reais muito conhecidos e atuais da realidade carioca e brasileira, para quem já viu, o deputado estadual vivido por André Mattos é uma alusão direta a vários políticos, como o ex-policial civil e ex-deputado estadual Natalino José Guimarães e ao seu irmão o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerôminho, os dois presos em 2002 por serem ligados a milícias na zona oeste do Rio de Janeiro. O personagem lembra ainda, pelo uso da mídia, o deputado estadual carioca Wagner Montes, que entrou para a política através da projeção como repórter e apresentador de telejornais policiais como o Aqui e Agora do SBT e atualmente o Balanço Geral da Rede Record ou ainda o radialista, jornalista, advogado e publicitário paulista, deputado estadual Afanásio Jazadji, conhecido pela truculência e sensacionalismo no noticiário policial.
O governador que aparece no morro em uma festa organizada por milicianos do filme, aponta dois caminhos, um para o ex-governador carioca Marcello Alencar que criou na sua administração um "prêmio" chamado gratificação faroeste, que premiava com dinheiro os policiais do Rio de Janeiro que matavam mais bandidos, visto como nascedouro das milícias. Algumas cenas do governador e do secretário de Segurança do filme lembram ainda o ex-deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins e o ex-governador e ex-secretário de Segurança, deputado federal eleito Anthony Garotinho, denunciados pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada, facilitação de contrabando e corrupção passiva.
O deputado Fraga vivido por Irandhir Santos no filme é na vida real inspirado no deputado estadual reeleito Marcelo Freixo, defensor dos direitos humanos e combatente das milícias cariocas. O personagem "Beirada" vivido pelo ator/cantor Seu Jorge em Tropa 2, é o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar líder do motim de 2002 em Bangú 1 e que matou entre outros rivais, o traficante Enaldo Pinto de Medeiros, o Uê, que morreu carbonizado e foi encontrado empalado com um cabo de vassoura sobre um tonel no pátio da prisão.
Na época do motim o secretário de Segurança era Roberto Aguiar e a governadora que deu a ordem para o BOPE invadir o presídio foi Benedita da Silva, já o personagem "Curió" é o o agente penitenciário Marcos Vinícios Tavares, acusado de ter facilitado a rebelião em Bangu 1 fornecendo armas e munições ao bando de Beira-Mar.
Diferente do filme Tropa de Elite 2 onde o personagem "Beirada" foi morto, Beira-Mar escapou quando o BOPE invadiu Bangú 1 em 2002 graças ao negociador. Quem acompanhou o noticiário policial carioca de 1990 para cá, sabe que Tropa de Elite 2 deu um final mais adequado para alguns bandidos, por exemplo, não podemos citar quem é na vida real o "Major Rocha" interpretado pelo ator Sandro Rocha no filme, pois em Tropa 2 ele foi morto, mas de fato ele agora é Coronel e continua agindo impune até hoje.
O episódio de um parlamentar ter sido contestado por outro deputado ao assumir a presidência da Comissão de Ética da Câmara, é real, a diferença é que na vida real os deputados da Comissão de Ética não eram Fraga (Marcelo Freixo) e o ex-Secretário de Segurança no filme eleito deputado federal. Os envolvidos eram o então corregedor da Câmara, o pernambucano Inocêncio Oliveira e o presidente da Comissão de Ética, o gaúcho Sérgio Moraes. Oliveira acusou Moraes de atrasar propositalmente a abertura de processo de cassação do deputado paulista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, envolvido em uma denúncia de desvio de dinheiro do FAT e do BNDES.
A brilhante obra de Padilha conseguiu em duas horas mostrar ou contar e retratar centenas de pessoas e acontecimentos reais do chamado “sistema” e da luta de seus integrantes por poder a qualquer preço. É ficção, mas é quase tudo verdade.
Padilha iniciou a carreira com o documentário Os Pantaneiros, com Marcos Prado em 2001, em 2002 dirigiu Ônibus 174, relato de uma tragédia urbana carioca ocorrida em 2000. Entre Tropa de Elite 1 e 2 fez o documentário Garapa, sobre a fome no nordeste e Charcoal, um curta documental a pedido da ONG Live Earth, que aborda a cadeia de produção do carvão vegetal no Brasil e os danos ambientais que provoca para o aquecimento global.
Acostumado com documentários, Padilha fez de Tropa de Elite 1 uma espécie de apresentação da bem sucedida parceria com o roteirista Bráulio Mantovani e o ator Wagner Moura. Tropa 1 foi uma introdução ao que ainda estava por vir: a mais contundente crítica social e política produzida no cinema nacional. Tropa 2 não é apenas um filme excelente, é o melhor documentário ficcional de todos os tempos e vai além disto, pelo menos uma dúzia de personagens do filme são conhecidos do grande público, tanto do lado do bem como do lado do mal.
A obra é um grande mosaico de personagens e fatos reais muito conhecidos e atuais da realidade carioca e brasileira, para quem já viu, o deputado estadual vivido por André Mattos é uma alusão direta a vários políticos, como o ex-policial civil e ex-deputado estadual Natalino José Guimarães e ao seu irmão o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerôminho, os dois presos em 2002 por serem ligados a milícias na zona oeste do Rio de Janeiro. O personagem lembra ainda, pelo uso da mídia, o deputado estadual carioca Wagner Montes, que entrou para a política através da projeção como repórter e apresentador de telejornais policiais como o Aqui e Agora do SBT e atualmente o Balanço Geral da Rede Record ou ainda o radialista, jornalista, advogado e publicitário paulista, deputado estadual Afanásio Jazadji, conhecido pela truculência e sensacionalismo no noticiário policial.
O governador que aparece no morro em uma festa organizada por milicianos do filme, aponta dois caminhos, um para o ex-governador carioca Marcello Alencar que criou na sua administração um "prêmio" chamado gratificação faroeste, que premiava com dinheiro os policiais do Rio de Janeiro que matavam mais bandidos, visto como nascedouro das milícias. Algumas cenas do governador e do secretário de Segurança do filme lembram ainda o ex-deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins e o ex-governador e ex-secretário de Segurança, deputado federal eleito Anthony Garotinho, denunciados pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada, facilitação de contrabando e corrupção passiva.
O deputado Fraga vivido por Irandhir Santos no filme é na vida real inspirado no deputado estadual reeleito Marcelo Freixo, defensor dos direitos humanos e combatente das milícias cariocas. O personagem "Beirada" vivido pelo ator/cantor Seu Jorge em Tropa 2, é o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar líder do motim de 2002 em Bangú 1 e que matou entre outros rivais, o traficante Enaldo Pinto de Medeiros, o Uê, que morreu carbonizado e foi encontrado empalado com um cabo de vassoura sobre um tonel no pátio da prisão.
Na época do motim o secretário de Segurança era Roberto Aguiar e a governadora que deu a ordem para o BOPE invadir o presídio foi Benedita da Silva, já o personagem "Curió" é o o agente penitenciário Marcos Vinícios Tavares, acusado de ter facilitado a rebelião em Bangu 1 fornecendo armas e munições ao bando de Beira-Mar.
Diferente do filme Tropa de Elite 2 onde o personagem "Beirada" foi morto, Beira-Mar escapou quando o BOPE invadiu Bangú 1 em 2002 graças ao negociador. Quem acompanhou o noticiário policial carioca de 1990 para cá, sabe que Tropa de Elite 2 deu um final mais adequado para alguns bandidos, por exemplo, não podemos citar quem é na vida real o "Major Rocha" interpretado pelo ator Sandro Rocha no filme, pois em Tropa 2 ele foi morto, mas de fato ele agora é Coronel e continua agindo impune até hoje.
O episódio de um parlamentar ter sido contestado por outro deputado ao assumir a presidência da Comissão de Ética da Câmara, é real, a diferença é que na vida real os deputados da Comissão de Ética não eram Fraga (Marcelo Freixo) e o ex-Secretário de Segurança no filme eleito deputado federal. Os envolvidos eram o então corregedor da Câmara, o pernambucano Inocêncio Oliveira e o presidente da Comissão de Ética, o gaúcho Sérgio Moraes. Oliveira acusou Moraes de atrasar propositalmente a abertura de processo de cassação do deputado paulista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, envolvido em uma denúncia de desvio de dinheiro do FAT e do BNDES.
A brilhante obra de Padilha conseguiu em duas horas mostrar ou contar e retratar centenas de pessoas e acontecimentos reais do chamado “sistema” e da luta de seus integrantes por poder a qualquer preço. É ficção, mas é quase tudo verdade.
Luciano Ramos é jornalista e advogado,
ex-secretário de Segurança de Cachoeirinha/RS.
Simplesmente genial o comentário sobre o filme, eu assisti e não tinha me dado conta que tudo era tão real e possível como o autor descreve.
ResponderExcluirParabéns (atrasado) a Mujahdin Cucaracha. Por transcrever e citar fontes e autores. Pelo muito que passo a respeitar seu trabalho e em agradecimento por se identificar e publicar crítica de minha autoria a um filme ocasionalmente assistido na TV.
ResponderExcluir