por Ipojuca Pontes
Aos 78 anos, a maioria dos quais vividos na base do que o comediante italiano Totó chamou de “grandinare de brillante chimico” (tradução possível: “cascata”, sinônimo de conversa fiada), Fernando Henrique Cardoso vai ser a estrela de documentário nativo sobre a descriminalização da maconha, cujo uso, ainda considerado crime no nosso código penal (Lei 11343/2006), o ex-presidente tem como inimputável. Só como lembrete: embora negue, FHC declarou em New York que fez uso da cannabis sativa, o nome científico da velha “erva do diabo”.
Para voltar às manchetes, além das que já industrializa numa bulha de mentira como o ex-pupilo Lula da Silva (usual devorador de bebidas destiladas e fermentadas), FHC vem considerando, com energia que dá para desconfiar, o ato de fumar maconha como um “problema de saúde pública” — o que significa encarar o viciado não como contraventor, mas um enfermo a merecer cuidados especiais do Estado. Em termos concretos, em vez dos rigores da lei a punir o consumidor, principal sustentáculo do narcotráfico, seriam instituídas “políticas públicas”, com a grana do contribuinte, para controlar, financiar, distribuir e tratar de milhões de viciados em todo território nacional.
Projetemos aqui o quadro vivo, no futuro, mas já agora em andamento, do desempenho de uma dessas “políticas públicas” do Estado-Babá no campo do controle do vício, defendido por FHC: o dependente adulto (ou mesmo o pit-boy ou o pivete desvalido), depois de puxar a erva para ficar “numa boa”, cai na “pista” para “curtir o barato”. Como o dependente, de um modo geral, não é nem de longe o “bom selvagem” de Rousseau, na sua “curtição” pelas ruas ele tanto pode cair na exaustão e puxar um ronco quanto — o mais rotineiro — assaltar ou trucidar o próximo, para arrancar “algum”, se possível sem deixar vestígios.
Mais tarde, torrada a grana da vítima, mas sem ânimo (ou chance) para cometer um outro achaque, o viciado, com a carteirinha do PAD (“Plano de Apoio ao Drogado)” em mãos, passa no “posto oficial de saúde” para receber assistência psicológica, doses homeopáticas de conselhos fraternais e, como tratamento químico complementar, a cota de maconha ou de outra droga considerada ilícita — o que na certa o conduzirá a novos crimes, pois o viciado, com ou sem tratamento, “sempre quer mais, e em maior escala” (Charcot, “Les maladies du Système Nerveux”).
No seu universo vocabular pedante, FHC classifica a prática acima descrita como “política de diminuição de dano” — artifício de linguagem na certa criado nos intestinos do “Diálogo Interamericano”, a entidade dos socialistas fabianos. Só para refrescar a cabeça do leitor: o DI, que tem em FHC um agente ativo, é uma organização globalista financiada pela Fundação Rockefeller, cujos objetivos básicos são, entre outros,
1) debilitar as Forças Armadas da América Latina,
2) promover a substituição do aparato estatal pelas ONGs esquerdistas (“sociedades de redes”) e,
3) liberar o uso da droga ilícita, a maconha incluída.
Antes de dar tratos a bola, convém repassar alguns dados sobre o negócio da droga no Brasil: segundo relatório do “Escritório das Nações Unidas contra a Droga e Crime” (UNOFC), cerca de 80% do contrabando de armas, tráfico de mulheres e crianças, assaltos à mão armada, seqüestros, estupros, roubos e crimes de morte por execução violenta ocorridos em solo pátrio estão de algum modo ligados ao narcotráfico. Por sua vez, o citado relatório informa que em 2008 prevaleceu no país a supremacia do consumo da maconha sobre a cocaína, a primeira abrangendo universo de prováveis nove milhões de usuários e a segunda, mais cara, somando cerca de 870 mil dependentes.
Para o UNOFC, cujos dados são avaliados sempre para menos, o comércio da droga em escala mundial rendeu na temporada alguma coisa em torno de 400 bilhões de dólares. Segundo o relatório, o narcotráfico teria lucrado muito mais não fosse a “guerra total” de repressão às drogas empreendida pelos americanos, não só contra a produção, mas o seu consumo. As razões apontadas para a expansão do uso da droga nos últimos dois anos dizem respeito não ao fracasso da ação repressiva, mas a dois fatores considerados “decisivos” para que isso ocorresse: a qualidade do produto, de maior “pureza”, e a forçada queda no preço da cocaína, uma bem-sucedida estratégia dos traficantes levada adiante para a melhor oferta no mercado internacional.
Voltemos ao “cascateio” de FHC: em recente entrevista concedida à “Veja” (23/09/2009), o presidente de honra do PSDB se apresenta como o paladino da liberação da maconha em solo pátrio. Depois de tecer considerações negativas sobre o conceito de “guerra total” às drogas, defende a tese de que “o usuário da droga deve ser visto como um problema médico e o traficante como bandido” — uma mistificação inapelável, óbvio, visto que o traficante não pode existir sem a grana do consumidor, tipo já classificado em estudos críticos como tendente ao “parasitismo social e à criminalidade”.
Na entrevista, pretendendo mudar o “paradigma” da abordagem convencional, o venturoso acadêmico puxa a brasa para a própria sardinha e dá a fórmula para se enfrentar a questão da droga. Diz ele: “Em vez de concentrar esforços na repressão, você poupa os recursos existentes para as campanhas educacionais e para a busca da redução do consumo”.
Bonito, é. Mas, bem examinada, há nesta fórmula a contradição enfrentada pela cobra de duas cabeças: na prática, enquanto o governo torra a grana do contribuinte em campanhas educativas em geral inócuas, na mídia, nos colégios e universidades, professores e intelectuais engajados mostram-se tolerantes (ou quando não coniventes) com o uso da droga, muitos deles — como FHC e o seu Diálogo Interamericano, por exemplo — empenhados na campanha aberta pela sua liberação.
Neste sentido, convém lembrar que a expansão em massa do uso da droga nos colégios e universidades se deu a partir da ação dos pensadores da Escola de Frankfurt, vivendo nos Estados Unidos, no início dos anos 1960. Um deles, Herbert Marcuse, juntando Freud à Marx em “Eros e a Civilização” (a Bíblia dos drogados), promovia entre estudantes da Universidade de Berkeley, na Califórnia, o consumo da droga como “ato político” e instrumento da “contracultura” — vale dizer, contra os valores da civilização ocidental.
Levando adiante o seu discurso insensato na defesa do maconheiro, FHC radicaliza: “Mas não adianta a repressão ser dura com o consumidor. Se você o colocar na cadeia, ele vai continuar fumando, só pagará um preço maior por isso”. Bem, pergunto eu: e daí? Vai se deixar o viciado nas ruas, como de resto já está se deixando, para exercer livremente a sua criminalidade potencial? Neste caso, quem se responsabiliza pelas 50 mil mortes anuais provocadas pelo uso e tráfico da maconha, cocaína, crack e ecstasy no País? Os intelectuais revolucionários? Os legisladores engajados? Os professores permissivos?
Na defesa da descriminalização da maconha, o paladino do DI adota tom escorregadio, na base do “sim, mas...”, e cita como exemplo o caso de Portugal, que, em 2008, liberou em pequena quantidade o uso da droga ilícita e, segundo se diz, viu o seu consumo diminuir em 10%. Os dados de Portugal, que é um país de apenas dez milhões de habitantes, são recentes e na verdade ainda não permitem um exame acurado da questão. Mas, a persistir a experiência atual, como será a vida em Portugal nos próximos dez anos?
Por outro lado, perito na desconversa, FHC não aprofunda a discussão. Por exemplo, não menciona os dados estatísticos da Holanda, país que liberou o uso da droga em 1976 e viu o seu consumo aumentar em 400%. Nem se reporta ao caso da Bélgica que, depois de liberar o uso da droga, teve de recuar e adotar severas medidas contra o seu consumo, tão logo a população indignada saiu de casa e, no que se chamou a “Batalha de Bruxelas”, tratou de expulsar os viciados das ruas da cidade.
E tampouco revela que por trás do negócio bilionário do narcotráfico se esconde a ação revolucionária das FARC sob a guarda dos integrantes do Foro de São Paulo, a entidade supra nacional fundada por Lula da Silva e Fidel Castro, que tem por objetivo impor o socialismo na América Latina.
Pior ainda: sequer questiona a denúncia do GAO (Government Accoutability Office), a auditoria geral do Congresso americano que associa atos como o da “materialização” do deposto Zelaya na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, ao projeto de Chávez e das FARC (quem sabe monitorados por Marco Aurélio Garcia, o executivo do FSP e assessor de Lula para “assuntos revolucionários”) de fazerem de Honduras um posto avançado para a melhor distribuição da cocaína nos EUA — o que faz sentido.
No final do “show” das Páginas Amarelas, FHC se atribui o direito de achar-se um homem superior, em contraposição ao “homem comum”. Ao ser indagado se o seu partido compartilharia de suas opiniões, ele blasona: “A maioria do PSDB pensa como o homem comum — e o homem comum tem horror de pensar nesse assunto (liberação da droga). Mas (...) ou se toma consciência de que temos de fazer algo diferente de que temos feito, sem covardia e sem leniência, ou seremos irresponsáveis. Alguém tem de ter coragem de dizer essas coisas”.
Ao refletir sobre o receituário de FHC relacionado à maconha, tive um agudo sentimento de horror. Palavra de honra! — nunca vi tanta degradação moral saída da boca de um intelectual laico, e olha que sou um expert em ler todo tipo de estupidez. Como pode o sujeito que já foi presidente da República duas vezes, conhecendo os males humanos e sociais provocados pela droga, defender o seu consumo com argumentos tão falaciosos? Nem mesmo a irracional vontade “marxiana” de destruir a “sociedade burguesa” serve como justificativa.
Talvez seja por causa de tais opiniões que grande parte da população brasileira manifesta o maior desprezo pelos seus intelectuais, especialmente os que se acham no direito de ditar regras e formar juízos, pessoas que, se nas suas vidas privadas são capazes das piores vilanias, em público, falando ou escrevendo, têm a pretensão soberba de conduzir os destinos da humanidade.
Claro, o “homem comum” está coberto de razão: é preciso cada vez mais olhar esse tipo gente com muita cautela, sobretudo no que diz respeito aos seus diagnósticos em matéria de cultura, moral e política, pois, o mais das vezes, quando o intelectual salvacionista resolve “fazer algo diferente do que temos feito”, ficamos sempre a mercê das maiores desgraças e dos piores crimes.
Que o digam Lenin, Stalin, Hitler, Mussolini, Mao, Che e Fidel, todos aplicados idealizadores de monstruosas experiências de engenharia social.
Fonte: Claudio Humberto
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