terça-feira, 16 de junho de 2009

Especial FARC: 2 - As Falsas Promessas

por Marcelo Rech
Depois de passarem pelos piores dois anos de sua história, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) embarcaram em uma nova campanha de relações públicas.
Lutando para reconquistar o apoio perdido em decorrência de suas táticas terroristas, a guerrilha liberou seis de seus reféns este ano.
Há ainda a libertação do policial Pablo Moncayo, cativo há onze anos, prometida em março, mas que não se concretizou.
A libertação de reféns, no entanto, está longe de um gesto humanitário. Serve apenas para a organização ganhar tempo em relação às demais atividades ilícitas que pratica.
Dentre os últimos reféns libertados, destaca-se o ex-deputado Sigifredo Lopez, mantido em cativeiro desde 2002.
Ele foi capturado com outros parlamentares quando guerrilheiros fingiram ser policiais e invadiram o prédio do governo de Cali.
Do grupo seqüestrado, apenas Lopez foi poupado porque estava preso numa solitária, longe do local do massacre perpetrado contra os prisioneiros.
O que se percebe hoje é uma mudança de comportamento dentro da guerrilha. Mudança esta que nada tem a ver com arrependimento e sim com uma estratégia que pretende dar uma sobrevida à organização.
Não restam dúvidas de que se os membros das FARC pudessem realizar mais atrocidades, seguramente o fariam.
A guerrilha está enfraquecida e sofre com as deserções, problemas financeiros e a morte de alguns de seus principais líderes.
Já não há um só território na Colômbia controlado pelas FARC e os minguados recursos econômicos não permitem que o grupo mantenha suas vítimas seqüestradas por longos períodos.
Libertá-los unilateralmente lhes serve, portanto, de duas maneiras: livrar-se de um custo econômico e fazer propaganda humanitária.
No lugar dos seqüestros, as FARC passaram a extorquir e chantagear por meio do terror.
Durante todo o ano de 2008, a guerrilha travou uma guerra contra os comerciantes de Bogotá. Foram mais de 30 ataques à bomba, 26 dos quais contra grandes lojas de varejo.
Em 27 de janeiro, bombardearam uma filial da Blockbuster, matando duas pessoas. A rede já foi atacada três vezes pela guerrilha.
Pode parecer estranho que as FARC estejam interessadas em impedir que os moradores de Bogotá aluguem vídeos, mas o motivo é bem mais simples de se entender. Esses ataques são realizados apenas por dinheiro.
Os criminosos das FARC têm sido incrivelmente consistentes. Primeiro ligam para uma empresa avisando de um ataque, e depois dizem que ele pode ser evitado se for pago uma quantia considerável em dinheiro.
Quando alguém mais corajoso resolve desafiá-los, eles bombardeiam a loja.
Mesmo quando uma empresa cede às exigências das FARC, a loja ainda assim pode ser bombardeada como uma lição para os demais.
Qualquer que seja a situação, os comerciantes e cidadãos da Colômbia são os que perdem.
A maioria das vítimas comuns da atual onda de ataques das FARC são as grandes cadeias de lojas como o Carrefour, que eles consideram dispor de grandes somas em dinheiro à disposição.
Somente as FARC sabem quantas lojas já sofreram ameaças. Muitos dos crimes não são relatados porque os proprietários têm receio de informar à polícia.
Até recentemente, os únicos casos que receberam atenção foram os que resultaram em explosões. Agora, no entanto, com a polícia totalmente informada sobre a nova tática das FARC, várias organizações do governo estão coordenando ações para combater esse crime.
Por enquanto, a extorsão das FARC já deixou quatro mortos e mais de 30 feridos, além de provocar prejuízos consideráveis.
Devido a esta última onda de violência, a emblemática libertação de vários reféns cumpre uma estratégia de recuperação da opinião pública.
Após a perda catastrófica de líderes e territórios, as FARC foram forçadas a mudar o foco de suas ações, passando do seqüestro para a extorsão.
Na essência, o grupo continua o mesmo que há décadas aterroriza os colombianos.
Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e
especialista em Relações Internacionais e
Estratégias e Políticas de Defesa.
E-mail: inforel@inforel.org.
Fonte:  Mundo RI

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