sábado, 9 de maio de 2009

Você Sabe o Que É Memória Seletiva?

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A memória seletiva é o modo como a mente trabalha. Quer um exemplo? Você não se lembra nunca de tomar aquele remédio horroroso que o médico receitou para sinusite. Mas lembra todos os detalhes do dia em que conheceu seu marido/ esposa.
A memória seletiva também pode ser causada por uma doença degenerativa do cérebro. Bastante comum em idosos, ela não deve ser confundida com a amnésia senil. Exemplo: os idosos preferem lembrar episódios da infância e da juventude que correspondem ao 'tempo da felicidade': aquele em que eram ágeis, fortes, bonitos, potentes, com toda uma vida pela frente.
A memória seletiva também pode servir como desculpa para os cínicos. Algumas pessoas assimilam somente o que é importante para elas. Se alguém lhes pede para comprar pão, elas não lembram de jeito nenhum. Mas se perguntarem coisas que foram interessantes para elas, são capazes de lembrar detalhes, mesmo que tenha acontecido há muitos anos.
A memória seletiva não atinge pessoas apenas. Por vezes, ela incide até em instituições. Em especial, às que deveriam zelar pela memória do Brasil.
Vejamos um caso típico de memória seletiva:
Fechou suas portas no RJ, por falta de recursos, a Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), que guarda em seu museu o acervo de objetos utilizados e capturados pelos pracinhas na II GM. O museu possui 1.500 peças: são fotografias, armamentos, fardas, uniformes, e documentos com valor histórico inestimável.
A situação é crítica: as estruturas de madeira do museu estão sendo corroídas por cupins, enquanto a farda do Marechal Mascarenhas de Moraes, é devorada lentamente pela traças, indiferentes de estarem abrindo dezenas de buracos nos trajes que vestiram o Comandante da FEB.
A falência da associação aguça ainda o apetite de alguns colecionadores inescrupulosos, interessados no furto de relíquias a serem vendidas, depois, a peso de ouro pela internet.
O museu foi inaugurado em 1976, num terreno doado pelo governador Carlos Lacerda, e foi construído com as contribuições dos próprios veteranos.
Desde então, a Casa da FEB, foi sendo mantida sem qualquer apoio do Estado, vivendo das contribuições mensais oriundas das pensões dos pracinhas ainda vivos. Um caso raro num país onde os museus recebem polpudas verbas do governo e/ou estatais.
Mas, com o passar dos anos, os associados foram desaparecendo (o mais “jovem” veterano possui 84 anos). A receita da entidade foi diminuindo, diminuindo... até o limite do suportável.
A solução foi apelar para as autoridades, o que foi feito ao longo dos últimos anos.
Numa cerimônia no Itamaraty, um veterano, já octogenário, reuniu forças e literalmente agarrou o Presidente Lula e o Governador Sérgio Cabral pelo braço, implorando por ajuda. De nada adiantou. O estreito e modesto prédio de cinco andares que abriga a Casa da FEB, não poderá mais funcionar.
Você pôde notar que as nossas autoridades parecem não se importar com o destino da memória da FEB.
Será um caso de:
a. Memória seletiva;
b. Falta de recursos;
c. Falta de vergonha;
d. Desconhecimento da História;
e. Cinismo;
f. Todas as opções acima são verdadeiras
Vamos adiante, vejamos um outro exemplo:
Um projeto de Lei, enviado pelo Presidente Lula ao Congresso Nacional, reconheceu a responsabilidade do Estado pela destruição da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). No projeto, foi proposta uma nababesca indenização de até R$ 36 milhões de reais à entidade, dentro dos recursos disponibilizados pela Comissão de Anistia da Câmara dos Deputados — mais conhecida como a sede do bolsa-ditadura.
O projeto prevê a reconstrução da sede da UNE, na Praia do Flamengo - RJ, onde funcionava em 1942 a Sociedade Germânia — um clube freqüentado por imigrantes alemães, muitos naturalizados brasileiros.
Na época, em virtude dos afundamentos de vários navios mercantes da nossa frota, os estudantes cariocas, liderados pela UNE, promoveram diversas passeatas que determinaram a declaração de guerra ao Eixo, em 22 de agosto.
Nesse mesmo dia, com a complacência da polícia, os estudantes ocuparam à força o prédio do clube, após seguidas ameaças aos seus proprietários. Como prêmio pela invasão criminosa, o presidente Getúlio Vargas desapropriou o imóvel, doando-o à UNE.
Mas o rompante patriótico dos estudantes durou pouco. Quando o governo lançou uma campanha de alistamento militar voluntário, para formar os quadros da Força Expedicionária Brasileira, foram pouquíssimos os estudantes que se apresentaram.
Como a campanha não apresentou o resultado esperado, foi determinado o alistamento obrigatório. Tal qual acontece até hoje, os filhos dos mais ricos e instruídos logo fizeram uso de “pistolões”, a fim de escaparem da prestação do Serviço Militar.
Os homens que nós levamos para a guerra não foram da elite; essa ficou na rua gritando que queria a guerra, mas na hora de ir, não foi, compreendeu! Contam-se pelos dedos os estudantes que nós tínhamos na FEB, agora, aqui na rua, gritando que queria a guerra, era só estudante....
...Foram para a Itália o agricultor de Minas; de São Paulo; o pessoal da Baixada Fluminense; comerciários; bancários; essa era a massa da FEB.” Relatou em suas memórias o já falecido general Meira Mattos, um dos principais biógrafos da FEB.
As baixas da UNE na II Guerra Mundial se limitaram a alguns universitários, com as gargantas acometidas pela faringite. Já as da FEB foram de 443 mortos.
A Divisão Brasileira ainda teve mais de 12.000 baixas em campanha: mutilação ou outras causas que incapacitaram milhares de jovens para o combate — e também para a vida futura.
Com papéis tão distintos, como justificar a tamanha disparidade no tratamento dado às sedes das duas entidades? Desconhecimento da História? Cinismo? Talvez. O paradoxo da postura governamental é um caso típico de MEMÓRIA SELETIVA.
O paradoxo dessa postura, ainda que absurda é compreensível: a UNE é comandada há quase vinte anos pela União Juventude Socialista (UJS), tentáculo estudantil do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) — partido da base aliada do governo.
Com seus quadros aparelhados até o último fio de cabelo, foi-se a postura historicamente contestadora e atuante da entidade nos rumos da educação e da ética na política.
A UNE ignorou solenemente os maiores escândalos já vistos na história recente brasileira. Mensalões, valeriodutos, cartões corporativos, ligações petistas com o MST, Foro de São Paulo, etc...
A UNE limitou a sua ação ao que considera “temas de relevância”: o boicote ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENADE), o “passe-livre” e a adoção da meia-entrada nos cinemas...
No plano jurídico e moral, o “afago” generoso do governo à UNE, de R$ 36 MILHÕES DE REAIS, representa um triplo equívoco:
Primeiro por deixar de reconhecer a responsabilidade do Estado, durante a ditadura varguista, na arbitrariedade da desapropriação do clube;
Segundo por não devolver o terreno da Sociedade Germânia aos herdeiros dos seus legítimos proprietários;
E o pior, ao recompensar, por um patriotismo de passeata, justamente àqueles que se furtaram ao chamado cívico quando o Brasil mais precisou.
Já os pracinhas tentam uma última cartada. Em ofício, pediram ao Palácio do Planalto a doação R$ 300 mil reais para a entidade — menos de 1% da receita aprovada para a UNE. Mas o atendimento a e esse apelo é pouco provável.
A vitoriosa participação do Exército Brasileiro na II GM é uma passagem histórica ideologicamente desconfortável para a coligação de partidos de esquerda que governa o Brasil.
Mas nem tudo está perdido. A verba astronômica destinada à reconstrução da sede da UNE só será liberada na Câmara dos Deputados com o aval dos partidos de oposição.
E o mais importante: tornando público esse surto de memória seletiva, a ANVFEB poderá obter ajuda para continuar funcionando.
Discursando para os estudantes da UNE, o Presidente Lula afirmou que o Brasil é um país que não sabe transformar os seus mortos em heróis.
Raríssimas vezes esteve coberto de tanta razão.
Fonte: mensagem eletrônica
COMENTO: este texto, retirado de um "Power Point" que circula na internet, deveria ter sido postado ontem, em virtude dos 64 anos do final da 2ª GM, data denominada "Dia da Vitória", mas tive dificuldades em encontrá-lo. É a forma que me pareceu mais honesta de reverenciar os bravos que foram enfrentar o perigo desconhecido, imbuídos pelo desejo de liberdade ante a ameaça nazifacista. Me parece o melhor momento de lembrar o desprezo destinado aos heróis remanescentes daquela epopeia. No dia 21 de abril de 2009, faleceu no Rio de Janeiro o Maj Inf da FEB Joaquim Thiago da Fonseca. O herói da FEB morreu sem ver cumprida a promessa (mais uma) que recebeu do presidente brasileiro de ajuda à ANVFEB, já que em janeiro deste ano o Museu da FEB foi fechado. O acervo histórico foi transferido temporariamente para o Museu Militar Conde de Linhares (MMCL), subordinado ao Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), também no Rio de Janeiro. Essa é a retribuição que o país - que destina vultosas verbas a atividades sociais como a reunião de maconheiros e desajustados ocorrida há pouco tempo no Pará (Foro Social Mundial) - dá aos seus heróis.
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