sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Os Serviços de Inteligência dos EUA — Uma Análise Retrospectiva

Um roteiro para tentar entender o que aconteceu com as agências de Inteligência dos EUA.
"A eficácia de um Serviço de Inteligência depende muito mais daqueles que recebem suas Informações, prestando atenção a elas, especialmente quando contradizem suas opiniões“.
(MARKUS WOLF, chefe do Serviço de Inteligência Exterior da RDA de 1951 a 1985; in “O Homem sem Rosto, Autobiografia do Maior Mestre de Espionagem do Comunismo”).
Hoje, passados 6 anos do ataque terrorista ao World Trade Center e às vésperas de um novo governo nos EUA, uma reflexão se impõe: a Inteligência norte-americana é incompetente ou os receptores da Inteligência é que são os incompetentes? Que os leitores julguem, com base no noticiário dos últimos quatro anos segundo a matéria que o autor escreveu em 30 de março de 2006, da qual vale a pena recordar alguns trechos, complementados com declarações do presidente Bush em 1 e 5 de dezembro de 2008, atestando a incompetência das 15 agências de Inteligência do seu governo.
Em 3 de junho de 2004, o diretor da CIA, George Tenet — nomeado por Bill Clinton e mantido no cargo por George W. Bush —, apresentou sua renúncia ao cargo alegando “razões pessoais”. A demissão ocorreu num momento em que os Serviços de Inteligência eram investigados a respeito das informações que levaram o país a invadir o Iraque sob a alegação de que Saddam possuía arsenais de armas de destruição em massa.
Os EUA invadiram o Iraque em março de 2003 pois, segundo o presidente Bush, o regime do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e mantinha vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda. Não foram encontrados, no entanto, nem o suposto armamento nem as provas de vínculos entre a Al-Qaeda e Saddam Hussein.
Por sua vez, o Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, admitiu em novembro de 2005, que “houve erros de boa fé” nos dados de Inteligência que foram utilizados para decidir pela invasão do Iraque.
Dois dias depois, em 5 de junho de 2004, mais uma baixa na direção da CIA. Depois de 31 anos na Agência, o vice-diretor operacional, James Pavitt, anunciou sua aposentadoria. A CIA afirmou que a saída de Pavitt não tinha relação com a surpreendente renúncia do diretor George Tenet.
Em 24 de junho de 2004, segundo um despacho da Reuters, desde Washington, “os EUA estão perdendo a guerra contra o terrorismo e o aprofundamento das atuais políticas só vai fazer seus inimigos no mundo islâmico ficarem mais fortes”, escreveu um analista da CIA em um livro de “autor anônimo”: “Excesso de confiança imperial: por que o Ocidente está perdendo a guerra contra o terror”, é o título do livro que deveria ser lançado em 15 de julho, o mais recente de um integrante do governo a criticar a política de segurança nacional da administração George W. Bush. Esta obra é ainda mais insólita, considerando que o papel da CIA no governo de Washington é fornecer informações de inteligência aos responsáveis pela elaboração da política americana, e não formular opiniões sobre essas políticas.
Em 17 de julho de 2004, telegrama da agência France Press, anunciou que a comissão de investigação independente dos atentados de 11 de setembro de 2001 recomendará a criação do posto de encarregado geral, para que o mesmo supervisione as diversas agências americanas de inteligência, informou o jornal “The New York Times”.
Esse funcionário supervisionaria as 15 agências do país, entre elas a própria CIA. A criação do cargo seria a recomendação mais importante da comissão, que divulgará seu relatório final no próximo dia 22 de julho, segundo o jornal.
Ao emitir um relatório sobre dois anos de investigação dos atentados de 11 de setembro de 2001, a Comissão teria criticado a falta de coordenação dos organismos nacionais de inteligência assim como sua recusa em compartilhar informações.
Em 2 de agosto de 2004, o presidente George W. Bush anunciou a criação do cargo de Diretor Nacional de Inteligência e de um Centro Nacional Anti-terrorista para melhorar a coordenação de todas as agências e órgãos envolvidos na luta contra o terrorismo. A nova figura do Diretor Nacional de Inteligência e a criação do Centro Nacional Anti-terrorista foram duas das recomendações-chave da Comissão que investigou os ataques de 11 de setembro de 2001.
O Diretor Nacional de Inteligência será o principal assessor do presidente em todos os assuntos relativos à informação obtida pelas diversas agências de espionagem americanas. O ocupante do novo cargo coordenará os resultados da espionagem e prestará contas diretamente ao presidente, que o nomeará com a confirmação do Senado. O Centro Nacional Anti-terrorista se concentrará na análise das informações obtidas, para coordenar e controlar os planos e as atividades de todas as instituições do governo contra o terrorismo.
Em 10 de agosto de 2004, George W. Bush anunciou o nome do legislador republicano pela Flórida, Porter Goss, para chefiar a CIA (serviço de inteligência dos EUA). “Porter Goss é um líder com grande experiência em inteligência e luta contra o terrorismo”, disse Bush. “É o homem certo para dirigir estes importantes serviços em um período crítico na história do nosso país”, referiu Bush, afirmando que Goss “conhece a CIA profundamente”.
Ex-agente da CIA (1962-1971), Goss é presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes. Segundo a Casa Branca, o novo diretor terá um papel no processo de seleção dos altos funcionários nas diversas agências de inteligência americanas — 15 no total —, e sua aprovação será necessária para nomeações-chave.
Segundo a agência EFE divulgou, em 18 de setembro de 2004, autoridades de Inteligência dos Estados Unidos intensificaram, a partir do 11-9, a espionagem anti-terrorista no Oriente Médio, mas se depararam com um grave problema: não há quem traduza a enorme informação obtida.
Uma auditoria no FBI (polícia federal americana) indicou hoje que centenas de milhares de horas de gravações resultantes de investigações de terrorismo e espionagem não foram transcritas nem traduzidas, apesar do aumento de orçamento e pessoal empenhado nesses trabalhos.
Glenn Fine, inspetor geral do Departamento de Justiça, contou que mais de um terço das supostas comunicações da rede terrorista Al-Qaeda não foi revisto nas primeiras 12 horas após sua interceptação, como exigem as normas. Um relatório do Departamento indicou que, desde o 11-9, foram gravadas mais de 123 mil horas de comunicações vinculadas a operações contra o terrorismo que não foram revisadas. Apesar da contratação de 620 lingüistas desde o 11-9, o FBI admitiu que cerca de 24% da informação de contra-espionagem e contra-terrorismo não havia sido analisada.
Além das 123 mil horas de áudio em línguas associadas a terroristas que deixaram de ser analisadas, também o foram mais de 370 mil horas de áudio associadas à Contra-Inteligência. Mensagens da Al-Qaeda como “Amanhã é a hora zero” e “O jogo está para começar”, foram interceptadas em 10 de setembro de 2001 mas só traduzidas dias depois.
A tradução, todavia, não é o único problema segundo o inspetor geral. Os sistemas digitais de arquivo do FBI têm capacidade limitada, o que significa que uma parte importante da informação é apagada automaticamente antes de ser revisada. E aduziu:Três de cada oito escritórios submetidos a exame tiveram em seu poder sessões de comunicação da Al-Qaeda que foram apagadas pelo sistema antes que os lingüistas as analisassem”. A auditoria apresentou ao FBI dezoito recomendações para melhorar o serviço de transcrições e traduções, muitas das quais já foram aplicadas, disse Fine. “O FBI precisa tomar medidas para resolver esses problemas, que são componentes cruciais dos esforços desse organismo contra o terrorismo e a contra-espionagem”.
Em 14 de novembro de 2004 o jornal chileno “La Tercera”, transcrevendo notícia publicada pelo “The Washington Post” anunciou que a posse de Porter Goss no cargo de novo diretor da CIA provocou discussões e litígios entre as chamadas “velha e nova guarda” da Agência. Em conseqüência, renunciaram a seus cargos o “número dois” da CIA, John McLaughlin e o vice-diretor de Operações, Stephen Kappes. Nesse mesmo dia, o senador John McCain criticou o funcionamento da CIA e disse que ela deve ser reformulada. “Uma reforma é absolutamente necessária”, afirmou o senador do Arizona em entrevista à rede de TV ABC. “É uma agência que não funciona”, criticou.
Em 25 de novembro de 2004 outros dois altos funcionários da CIA pediram demissão: o chefe da Divisão da Europa e o da Divisão da Ásia, elevando para seis o número de demissionários de alto nível em uma semana.
Em 26 de novembro de 2004, dois anos após o início da Guerra ao Terror, ainda existiam divergências entre a CIA e o Pentágono sobre quem deveria dirigir e realizar operações clandestinas contra o terrorismo no exterior, segundo o jornalista José Meirelles Passos, correspondente da TV Globo em Washington, o Departamento de Defesa vem tentando minar um projeto de lei — endossado pelo presidente George W. Bush e por seu vice, Dick Cheney — que passaria o controle de toda a comunidade de inteligência a um civil.
O motivo básico da pressão contra o projeto de lei é que hoje o Pentágono controla 80% do orçamento de US$ 40 bilhões do setor, e essa verba — na qual está incluído o orçamento da CIA — passaria a ser distribuída por quem assumir o novo cargo de Diretor Nacional de Inteligência. O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, não quer perder o controle dos recursos e, ao mesmo tempo, pretende expandir o papel do Pentágono na área da espionagem e das operações clandestinas, até agora tarefas essenciais da CIA.
Em 30 de novembro de 2004, o secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Tom Ridge — departamento criado pela administração Bush após os atentados do 11 de Setembro, que emprega mais de 170 mil funcionários nos setores de imigração, aduana, guarda-costeira e segurança nos transportes — apresentou sua demissão, tornando-se o sétimo integrante do governo a fazê-lo desde que George W. Bush foi reeleito, em 2 de novembro. Dias depois, também o subsecretário para a Segurança Interna, almirante James Loy, renunciou.
Em 8 de dezembro, o Senado aprovou a maior reforma do sistema de inteligência americano em mais de 50 anos, encaminhando uma nova legislação ao presidente George W. Bush — que já disse que a assinará.
A decisão do Congresso põe fim a meses de disputa política. A reforma foi motivada por falhas da inteligência que favoreceram os atentados do 11 de Setembro. Mas alguns especialistas afirmam que não está claro como — ou mesmo se — as mudanças ajudarão espiões a obter segredos, desvendar planos terroristas de atacar e intimidar países que desenvolvam armas de destruição em massa. As mudanças mais significativas atingem a cabeça da burocracia da Inteligência, em vez de agentes que trabalham em campo, recrutam espiões, penetram em organizações ou descobrem conspirações.
A nova lei cria o cargo de Diretor de Inteligência Nacional para supervisionar a CIA e outras agências de inteligência americanas. Ele terá controle sobre a maior parte do orçamento das agências de espionagem. O Diretor de Inteligência Nacional (DNI), dirigirá as tarefas de anti-terrorismo de cerca de 15 organismos de inteligência, principalmente militares, além da CIA; cria o Centro de Contra-terrorismo Nacional, que coordenará a Inteligência relacionada a terrorismo e conduzirá planos; cria a Junta de Supervisão de Privacidade e Liberdades Civis, para assegurar que regulamentos e políticas não ameacem direitos civis; aumenta as exigências para a concessão de vistos de entrada nos EUA, passando a exigir uma entrevista consular pessoal à maioria dos estrangeiros; e, por fim o Departamento de Segurança Interna deverá aumentar o número de agentes para patrulhas de fronteira em pelo menos dois mil por ano, e de agentes de alfândega e imigração em pelo menos 800 por ano, durante cinco anos.
Em 9 de dezembro de 2004, foi anunciado que um agente despedido da CIA está processando a agência por supostas represálias, por ele ter se negado a falsificar relatórios sobre as armas de destruição em massa (ADM) no Iraque, publicou The Washington Post. Descrito como um alto funcionário da CIA que foi demitido em agosto “por razões não especificadas”, a ação parece ser a primeira denúncia pública de um funcionário da CIA sobre a pressão que sofreu para produzir falsos documentos de inteligência e assim apoiar os argumentos de Washington.
Como se recorda, Washington afirmou, antes de invadir o Iraque, que as armas de destruição em massa eram uma grave ameaça contra a segurança dos Estados Unidos.
Em 29 de dezembro de 2004 a chefe do Departamento de Analistas da CIA, Jami Miscik, pediu demissão, informou The Washington Post. Segundo o jornal, Jami, de 46 anos, enviou um e-mail no dia anterior a todos os seus subordinados, avisando-os de que estava sendo “forçada” a renunciar ao cargo pelo novo diretor da CIA, Porter Goss. Jami exercia o cargo desde maio de 2002. Também sairão o sub-chefe Scott White e o diretor-executivo A. B. “Buzzy” Krongard. Como eles, já deixaram a CIA o sub-diretor John McLaughlin e os chefes de operações, Stephen Kappes e Michael Sulick, que alegaram sérias divergências com o novo diretor designado pelo presidente Bush.
O relatório de uma investigação interna da CIA realizada pelo inspetor-geral John Helgerson, deverá concluir que autoridades do mais alto escalão da agência têm culpa pelos erros de inteligência que antecederam os atentados de 11 de setembro de 2001. O relatório conclui que os principais líderes da principal agência de espionagem dos EUA devem ser responsabilizados por não oferecer os recursos adequados para o combate ao terrorismo. As informações constam da edição de 7 de janeiro de 2005 do The New York Times. Entre os que recebem as críticas mais duras estão o ex-diretor da CIA, George Tenet, e o ex-vice-diretor de Operações, Jim Pavitt, diz o jornal.
Ambos renunciaram a seus cargos há seis meses atrás. Em 14 de janeiro de 2005, foi noticiado que uma reforma nos sistemas de informática orçada em US$ 170 milhões, e que deveria dar aos agentes e analistas do FBI um modo instantâneo e digital de administrar investigações deverá voltar à fase de planejamento, provavelmente com um custo muito mais alto. O FBI espera conseguir salvar algumas partes do projeto, batizado de “Arquivo de Casos Virtual”. Mas autoridades reconhecem que é possível que todo o sistema se mostre tão impróprio e ultrapassado que tenha de ser totalmente remodelado.
Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o diretor Robert Mueller tratou a reforma do sistema de informática da agência como prioridade. Membros do Congresso e a comissão independente que investigou os atentados declararam a reforma dos computadores do FBI como um fator crítico.
Em 23 de janeiro de 2005, o jornal The Washington Post anunciou que o Pentágono criou uma nova agência de espionagem que realiza operações no exterior sob o controle direto do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. A agência, denominada Departamento de Apoio Estratégico, operou secretamente durante dois anos no Iraque e Afeganistão, bem como em outros locais que as fontes do jornal não revelaram, afirma a reportagem, que cita documentos e entrevistas com seus participantes. Um documento do planejamento original, encaminhado a Rumsfeld pelo chefe do Comando Conjunto, general Richard Myers, afirma que o objetivo original da iniciativa era “países emergentes tais como Somália, Iêmen, Indonésia, Filipinas e Geórgia”, segundo o Washington Post.
A nova agência secreta de espionagem foi elaborada para fornecer a Rumsfeld ferramentas para as chamadas tarefas de inteligência humana, como interrogatório de prisioneiros e recrutamento de espiões estrangeiros.
Essa iniciativa do Pentágono invade um território que tradicionalmente pertence à Agência Central de Inteligência (CIA), além de dar a Rumsfeld uma autoridade sem precedentes sobre a espionagem internacional num momento em que o Congresso está tentando criar uma rede de agências de informações controlada por um novo diretor nacional de inteligência, de acordo com o jornal.
Em 1 de fevereiro de 2005, foi anunciado que a CIA publicará relatórios nos quais reconhece ter errado ao afirmar que o Iraque tinha armas de destruição em massa antes da invasão do país, em março de 2003. Recorde-se que a principal justificativa para a invasão do Iraque foi a denúncia sobre a existência de armas químicas e biológicas no país que o presidente dos EUA, George W. Bush, considerou como membro de um “eixo do mal”, juntamente com Irã e Coréia do Norte.
Em 2 de fevereiro de 2005, George W. Bush nomeou John Negroponte, atual embaixador no Iraque, como o primeiro Diretor Nacional de Inteligência do país, a quem definiu como um homem “capaz de tomar as decisões corretas”. Negroponte terá comando direto sobre o orçamento e o funcionamento das quinze agências de Espionagem e Inteligência dos EUA, que atualmente estão mergulhadas em batalhas internas sobre suas atribuições.
Em 1 de abril de 2005, uma Comissão criada pelo presidente Bush para investigar as falhas das agências de Inteligência, comandada pelo juiz Laurence Silberman e o ex-senador Charles Robb, concluiu que grande parte das agências de inteligência ainda estava utilizando linhas de raciocínio idênticas aos dos tempos da Guerra Fria. Os serviços de espionagem americanos estavam errados em suas afirmações sobre o Iraque antes da invasão do país, o que provocou um golpe na credibilidade da Inteligência, que poderá levar anos para ser restaurada. Além disso, Washington tem à sua disposição quase nenhuma informação sobre os programas nucleares de Irã e Coréia do Norte. “Concluímos que a inteligência estava totalmente errada em quase todos os seus julgamentos anteriores à guerra sobre as armas de destruição em massa do Iraque”, escreveram os integrantes da comissão. Segundo o documento, as graves falhas não apenas se repetem hoje como podem ser ainda piores em relação a norte-coreanos e iranianos. Segundo o relatório, agentes americanos têm ainda menos acesso a estes países do que tinham ao Iraque do ditador Saddam Hussein. O presidente Bush, ao receber o relatório ontem, prometeu “corrigir o que precisa ser consertado”. Ele ordenou que o assessor de segurança interna da Casa Branca, Fran Townsend, forme um grupo para estudar as falhas apresentadas no documento da comissão em 90 dias. Ou seja, mais um grupo de trabalho…
Em 10 de junho de 2005, o presidente Bush indicou Henry Crumpton, um alto funcionário da CIA, para o posto de coordenador da política contra o terrorismo, informaram fontes oficiais. Crumpton, que também trabalhou para o FBI, substituirá Cofer Black, que renunciara no ano passado.
Em 29 de junho de 2005, o presidente Bush adotou 70 das 74 recomendações de uma comissão que analisou os serviços de Inteligência do governo americano. Nesse dia, ele informou a criação de um Serviço de Segurança Nacional dentro do FBI, como parte de uma ampla reforma do sistema de espionagem do país. Entre as 70 medidas estão as de pôr o diretor da CIA no comando de todas as operações de “inteligência humana no exterior”, ou seja, dos espiões tradicionais atuando no estrangeiro, bem como implementar procedimentos para permitir que as opiniões de analistas que discordem da maioria cheguem aos superiores.
Em 13 de outubro de 2005, foi noticiado que os analistas de inteligência dos EUA foram pressionados para encontrar vínculos entre o governo de Saddam Hussein e a Al-Qaeda, e por isso adotaram uma “abordagem propositalmente agressiva” sobre o tema, de acordo com um informe da CIA recém-liberado. Os analistas nunca encontraram os supostos vínculos e permaneceram firmes em sua convicção de que “não existia uma relação operacional ou de colaboração”, disse o informe.
Trechos do estudo intitulado “Inteligência e Análises sobre o Iraque: Temas para a Comunidade de Inteligência”, foram divulgados pelos Arquivos de Segurança Nacional, um grupo privado que acompanha questões de Inteligência. O informe também apontou que a Casa Branca aceitou erroneamente análises anteriores à guerra sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, enquanto negligenciava dados significativos levantados pelos serviços de Inteligência sobre questões culturais e políticas no país árabe que criariam difíceis problemas para a reconstrução no pós-guerra. O governo Bush “aparentemente prestou pouca ou nenhuma atenção” aos dados levantados pela CIA sobre uma possível fase pós-guerra. Segundo os analistas, o governo Bush não quis que fosse dada ênfase à advertência, porque ela poderia comprometer o lançamento da guerra.
Em 14 de dezembro de 2005, segundo um despacho da agência EFE, o presidente Bush admitiu que foi à guerra com base em dados falsos e aceitou a responsabilidade por ter usado informações incorretas para tomar a decisão de ir à guerra com o Iraque, mas disse que remover Saddam Hussein do poder era a escolha correta. “É verdade que muito da informação acabou se mostrando errada. Como presidente, sou responsável pela decisão de entrar no Iraque”, declarou Bush. “E também sou responsável por consertar o que deu errado, reformando nossos serviços de informação. E estamos fazendo exatamente isso”.
Em 7 de março de 2006, Jeffrey Nyquist, no artigo “Narcisismo e Viés em Causa Própria”, escreveu: “Os serviços secretos americanos preferem excomungar ou expelir todos os que contradizem suas análises. Se desertores iranianos ou russos são tratados com desdém, e só porque sua verdade não é aceitável para a comunidade de inteligência americana (que favorece sua própria versão da “verdade”). Para julgar pessoas e informações, são necessárias qualidades intelectuais especiais. Há tempos tenho sustentado a tese de que a inteligência americana não possui mais essas qualidades, se conformando com um viés previsível e em causa própria. Acredito que os americanos tornaram-se escravos psicológicos de um tipo de narcisismo consumista, que paralisa as análises das questões de segurança sobre infiltração hostil no governo e nos negócios. Ao lado disso, temos as pobres vigilâncias nas fronteiras, a crescente imigração ilegal e o impensado envolvimento estrangeiro na economia americana”.
Finalmente, em 20 de março de 2006, segundo a agência EFE anunciou, o Pentágono está terceirizando milhares de postos de trabalho no interrogatório a suspeitos de terrorismo, tradução de textos e elaboração de análises, informou nesta segunda-feira o jornal “The Washington Post”. A publicação indicou que a companhia All Word Language Consultants, de Maryland, procura “interrogadores militares experientes”, e oferece remunerações anuais de US$ 153,5 mil, mais gratificações para trabalhar no Iraque. O Exército dos Estados Unidos procura ainda “uma empresa particular que faça vigilância aérea” sobre o Iraque e forneça “conhecimento total da situação da área de operações”, diz outro anúncio na Internet citado pelo “Post”. “Esses empregos, além de outras milhares de vagas, são parte de uma tendência crescente no Pentágono de terceirizar cargos de inteligência que antes eram realizados, prioritariamente, por funcionários civis e militares do governo”. Essa constitui, sem dúvida, uma debilidade extrema.
Sobre todo esse emaranhado de uma burocracia composta por departamentos, órgãos e serviços, demissões e nomeações, e até, pela primeira vez na História, a absurda decisão de terceirização de interrogadores civis a suspeitos de terrorismo, tradução de textos e — acreditem! — elaboração de análises, o que significa um desastre para qualquer órgão de Inteligência, será que ainda é importante saber quem nasceu primeiro — se o ovo ou a galinha —, ou seja, agora, seis anos depois da invasão, se o Iraque tinha ou não um arsenal de armas de destruição em massa e se essas armas chegaram ou não a ser encontradas? Sobre o tema, passamos a palavra ao presidente George W.Bush. Segundo telegrama da Reuters, publicado na imprensa em 1 de dezembro de 2008, ele declarou que “o fato mais lamentável de seu governo foi a informação equivocada de que havia armas de destruição de massa no Iraque”. Quatro dias depois, em 5 de dezembro, falando no Centro Saban do Instituto Brookings, em Washington, Bush admitiu que Saddam Hussein nada teve a ver com o 11 de setembro e que a invasão do Iraque foi mais longa e custosa do que o previsto.
John F. Kennedy, 40 anos antes, em 1962, após o fiasco da Baía dos Porcos, já havia declarado: “O sucesso da Inteligência não traz reconhecimento e glória. Mas seu fracasso pode trazer escândalos e desgraças”.
A conclusão de tudo isso pode ser resumida em uma frase, a cada dia mais atual, do coronel Valter Nicolai, chefe do Serviço de Informações da Alemanha durante a I Guerra Mundial: “O Serviço de Informações é o apanágio dos nobres. Se confiado a outros, desmorona”.
Fonte: Mídia Sem Máscara
COMENTO: Em resumo, a arrogância e a politicagem aliadas aos "interesses econômicos" de pessoas colocadas indevidamente em cargos estratégicos, fizeram naufragar o sistema de inteligência norte-americano.

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