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A bagunça sangrenta na Geórgia obedece a duas lógicas internas: uma nova e uma velha:
A bagunça sangrenta na Geórgia obedece a duas lógicas internas: uma nova e uma velha:
A nova: Estamos na Era pós-Kosovo. Atualmente, toda etnia ou região vagamente autônoma possui pelo menos algum respaldo moral e diplomático para buscar uma separação, devido ao precedente na antiga Iugoslávia. Sob esta ótica, as turras entre a Geórgia e a Ossétia do Sul não são surpresa alguma. Eram inevitáveis.
A velha: Ninguém brinca quando oleodutos estão em jogo. Um dos motivos do conflito na Chechênia ter a duração e sanguinolência que todos podemos ver é a existência de um oleoduto importante na região. Da mesma forma a Geórgia serve de zona de passagem para sistemas de gás natural e petróleo sem cruzar território russo e fora de sua zona de influência.
Ambos os lados afirmam que o outro foi o agressor, e de certa forma, ambos estão certos. O presidente Mikhail Saakashvili, que até ano passado chamava a atenção principalmente pelo feroz estilo Pinochet que empregava para conter manifestações da oposição, declarou mais de uma vez que reaver a Ossétia do Sul era sua intenção. Uma semana após um referendo garantiu status autônomo para a região, Saakashvili pisoteou a Ossétia com tropas. Desde a resposta russa, passa mais tempo na frente das câmeras do que falando com diplomatas ou com seu próprio gabinete.
Por outro lado, a Federação Russa está de olho na situação e buscando uma desculpa para se envolver há cerca de cinco anos. O pavoroso ataque terrorista checheno na Ossétia do Norte, que culminou no massacre de Beslan, apenas reforçou a paranoia russa em relação ao status de suas fronteiras. Apesar da Rússia tradicionalmente trair seus aliados com uma casualidade perturbadora, parece que os ossetas deram sorte. Foi um dominó estranho: Saakashvili reagiu com rapidez e violência incomuns a um revés na Ossétia, sugerindo que já estava preparando um ataque. A Rússia, por sua vez, reagiu à reação com rapidez e violência incomuns, sugerindo ... a mesma coisa.
Alianças comprometedoras
Geórgios e ossetas já trocavam tapas quando Lênin ainda estava na primeira fralda. É triste recorrer a clichês, mas o Cáucaso e o Bálcãs são assim: uma série de vales entre montanhas, cada um contendo uma tribo, e cada tribo prefere atear fogo aos próprios filhos a ir jantar no vale vizinho. Assim tem sido desde o nascimento da escrita. A exploração política e nacional desta tendência é apenas alguns segundos mais jovem.
Alianças comprometedoras
Geórgios e ossetas já trocavam tapas quando Lênin ainda estava na primeira fralda. É triste recorrer a clichês, mas o Cáucaso e o Bálcãs são assim: uma série de vales entre montanhas, cada um contendo uma tribo, e cada tribo prefere atear fogo aos próprios filhos a ir jantar no vale vizinho. Assim tem sido desde o nascimento da escrita. A exploração política e nacional desta tendência é apenas alguns segundos mais jovem.
A única coisa que mudou (e permitiu o agravamento atual) foi que ambos os lados ficaram autoconfiantes demais devido a alianças recentes. A Geórgia caiu no colo dos EUA, chegando a mandar mais de dois mil soldados ao Iraque (Após os EUA e a Inglaterra, são o maior contingente na ocupação). Isso custou caro: quando tanques russos estão tesourando suas linhas de suprimento, ter uma brigada de suas melhores tropas assando no verão bagdáli é uma enorme desvantagem para um país pequeno.
Já os ossetas reforçaram seus laços com a parte russa da região, como foi dito, desde o ataque em Beslan. Dezenas de milhares de cidadãos da Ossétia do Sul possuem passaporte russo e são culturalmente integrados. Duas propostas de cessar-fogo já foram deletadas. A oferecida pelos russos exigia a remoção das forças da Geórgia de toda a Ossétia do Sul, primeiro passo para uma independência da província. A oferta da Geórgia foi apenas que todos parariam de atirar, mas suas tropas ficariam onde estão. A propaganda tem sido intensa dos dois lados.
Não é nada estranho que Saakashvili tenha rejeitado as ofertas de cessar-fogo até o presente momento. Para o presidente, cronicamente impopular antes desta crise (“Não economizaremos balas para lidar com manifestantes”, declarou em 2007), sair da matança de mão vazias será um suicídio político. Por agora, todo o país está a seu lado, e após anos de treinamento e reequipamento fornecido pelos EUA e Israel, as forças armadas geórgias estão dando trabalho aos russos. O problema é que apenas causar baixas não é o bastante; a doutrina militar russa sempre priorizou objetivos e logística acima de segurança total de suas forças (ao contrário dos EUA e Israel). Para segurar os russos, a Géorgia precisaria de uma vitória estratégica. Por algum motivo, eles falharam em interromper a estrada que conecta as Ossétias Sul e Norte, uma passagem sinuosa pendurada nas montanhas. Alguns quilos de dinamite e todos os suprimentos russos teriam que ser transportados pelo ar, de forma cara, lenta e arriscada. Por ter esquecido esse detalhe, a Geórgia pode já ter lutado em vão. Um segundo movimento e reforço por parte do Exército russo não poderá ser contido.
No palco internacional, as mensagens sendo enviadas são muitas. A Rússia anuncia que não vai aceitar bagunça com suas fronteiras e seus aliados. A Ossétia desafia a comunidade internacional a manter o Padrão Kosovo e pede independência. A Geórgia posa de vítima e cobra maior envolvimento de seus parceiros ocidentais, talvez até mesmo sua efetivação na OTAN. Os Estados Unidos tentam equilibrar o suporte aos seus aliados (parco até o momento) com seus planos futuros de projeção, especialmente visando um camarada da Rússia, o Irã.
Em tempos de Guerra Fria, uma crise como a atual poderia ser uma das temidas faíscas que acenderiam a explosão final. No contexto atual, são um reposicionamento de potências globais e regionais, testando limites e buscando ganhos políticos e territoriais. O conflito de hoje semeia a crise amanhã.
fabiojardim@mundori.com
ftjardim@gmail.com
ftjardim@gmail.com
Fonte: Mundo RI
COMENTO: Por aqui, temos as Terras Indígenas dos Ianomami e Raposa Serra do Sol, ricas em minerais raros e caros, com suas "populações indígenas" sendo incentivadas a encaminhar-se para serem os Kosovos cucarachas.
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