domingo, 29 de junho de 2008

Os Atravessadores da Vida

por Arlindo Montenegro
O agro negócio, somado aos negócios de pequenas propriedades agrícolas, tem produzido cada vez mais. As quantidades de alimentos essenciais à manutenção da vida e da força para o trabalho se avolumam, suprem as mesas da roça, chegam aos supermercados e atravessam fronteiras para gerar dividendos, para os grandes negociantes.
E os grandes são: Monsanto, Bunge, Nestlé e outros nomes estrangeiros, com sedes na Suíça, no Reino Unido e nos EUA. Negociam através de corretores internacionais, normalmente fixados em Wall Street, Londres ou na Suíça, como a Mercuria em Genebra que negocia 4 milhões de barris de petróleo numa tacada só e mais outros 40 milhões de barris, apenas no papel, para garantir lucros no mercado futuro.
Também produzimos o tal combustível fóssil em quantidades crescentes e suficientes para exportar, além do que as ‘novas’ reservas (há muito tempo conhecidas e agora anunciadas de modo retumbante), nos colocam em vantagem para emitir mais gases, fabricar mais veículos, transportar mais por estradas (esburacadas e mal traçadas), desprezar energias limpas.
Temos a vantagem do biodiesel ‘inventado’ e anunciado ao mundo pelo sagaz governante que atormenta tantas consciências pátrias, como alivia dificuldades de sobrevivência imediata de uma massa eleitores pobres e desempregados, gente desprezada e abandonada pelos poderes públicos há séculos.
O que para uns é solução imediata, para outros é a expressão de um pensamento político de cabresto, de uma ação predatória contra a liberdade e emancipação, de escolhas e prioridades que exigem decretos à margem da Lei e anulam as iniciativas independentes dos Três Poderes.
Vivemos em ambiente de economia globalizada. O preço do arroz com feijão, produzido aqui, sofre influencias das decisões tomadas por especuladores internacionais. Mas este detalhe é omitido, não e esfregado no nariz da gente como o preço do produto na prateleira do supermercado.
As pessoas comuns não sabem que produzimos a gasolina que consumimos, mas os preços são determinados lá fora. Produzimos o milho, o feijão, o arroz, a soja, a carne, o frango, o leite que consumimos, mas os preços são atrelados aos interesses internacionais.
E os governantes elegem políticas que, em vez de proteger o nosso consumo de pobres, aumentam os preços já viciados por altos impostos. Os atravessadores nacionais e mais ainda os internacionais, ficam com o lucro e os consumidores brasileiros com as perdas e o medo da inflação.
Aí o governo “dá” uma oportuna “bolsa família”, um alívio para alguns. No México recentemente copiaram o modelo esmola, fornecendo onze dólares mensais para os mais pobres poderem comprar o fubá de milho para as tortillas.
A dieta de pobres e ricos tem praticamente a mesma base em cereais. A diferença é que os ricos consomem mais carne, leite, queijo que exigem mais cereais para a alimentação das vacas, cabras, galinhas e perus.
O preço do petróleo entra no preço de tudo que depende de transporte, transformação, eletricidade. E todos os preços alteram a demanda da economia do planeta. Mais ainda quando alguns cereais estão entrando para o rol de matérias primas de combustíveis.
Os especuladores, melhor dizendo os atravessadores internacionais do petróleo e do arroz com feijão, da soja e do milho, do açúcar e do café, contribuem a todo instante para a alta do custo de vida.
Atuam, investindo o dinheiro dos outros em alta tecnologia, mineração, petróleo, trigo, arroz, soja, milho, com conseqüências para a qualidade de vida de cada pessoa que busca adquirir alimentos no mundo inteiro.
Vem o governo e diz que somos auto suficientes! Mas não somos autônomos, não ganhamos a emancipação para produzir e consumir sem as amarras da economia global! O que nos impede são as políticas predatórias que privilegiam a economia e desprezam o bem comum, o interesse humano. Humanidade passou a ser uma ficção, lembrada apenas quando se refere a ‘direitos humanos’ para a escória marginal.
Podemos esperar a curto prazo as maiores pressões e exigências dos que comandam a economia globalizada na forma de taxas de juros, arrocho nas economias dependentes de investimentos estrangeiros. A crise atual e as futuras crises, todas as ameaças apontam para a implantação do governo mundial de fato.
Na Europa, o que é decidido em Bruxelas, pode ser contrário a qualquer constituição nacional. Na América do Sul, já temos uma organização que se propõe unificar políticas em um parlamento supra nacional. Todos os países obedientes a uma mesma vontade supra nacional.
“O que será do amanhã? Seja o que Deus quiser!”
Uma saca de arroz, de trigo, de feijão, de milho, custa quase três vezes mais que há alguns meses atrás. Os miseráveis vão ter que reduzir o volume do prato ou então passar fome. Na Tailândia e na Indonésia registraram-se movimentos pedindo mais dinheiro para a sobrevivência de agricultores e operários. Uma greve geral aqui e outra acolá. Protestos na Somália. Na Argentina desabastecimento por causa das políticas governamentais. No México o governo distribuindo esmola. Na França, na Itália, na Espanha e na Inglaterra, protestos de agricultores, pescadores, caminhoneiros protestam porque não conseguem mais pagar as contas.
Preços repassados, vida de milhões de pessoas em risco e a nossa possível — fantasiosa até o momento — prosperidade ameaçada, por especuladores e atravessadores que controlam as finanças mundiais, tirando proveito da “crise” pré fabricada, para ganhar muito dinheiro e exercer mais rapidamente o controle total.
As decisões de natureza política exigem estatura ética e altamente moral. Toda a credibilidade do sistema depende da atitude de cada pessoa. O Presidente da Alemanha, H. Kohler disse numa entrevista para a revista “Stern” que os mercados financeiros se transformaram num monstro que precisa ser domado.
A inflação "é uma boa” para eles, porque concentra mais a riqueza, prejudicando os mais pobres que têm de pagar mais juros e maiores impostos. A especulação afeta cada cidadão, cada empresa. Agora atinge os alimentos. Mas eles ‘nem tão ligando’, ignoram os resultados de suas ações, de olho nos volumes financeiros que controlam. Exercendo seu poder sobre governos, empresas e finalmente países, povos, maneiras de pensar e agir, a globalização da economia faz crescentes lucros para os especuladores e aumenta a fome no mundo dos pobres.
Os sinais estão nos preços do que os operadores de bolsa chamam de “commodities”, onde os valores são dezenas de vezes superiores ao que se pratica na ponta produtiva. Por exemplo, na bolsa de Chicago, já estão negociando o que se vai produzir daqui a 30 anos. E os preços atuais de tudo quanto se consome hoje no mundo, são determinados por financistas que nunca pisaram num milharal, num canavial, ou conheceram as condições de vida de quem produz.
O Almirante Gama e Silva em artigo publicado pelo Alerta Total, “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, dá algumas indicações que poderiam minimizar a nossa dependência destes cenários conturbados:
Diz o Almirante:
— “ por que não condicionar as licenças para exportações maciças à manutenção de preços internos compatíveis com o padrão de vida dos brasileiros, embora tendo o cuidado de reservar margem de lucro razoável para os produtores rurais?
por que não promover o fortalecimento de cooperativas agrícolas até o ponto de torná-las capazes de contornar o bloqueio do oligopólio cerealífero?
Acrescento para terminar: por que não se mobilizar e exigir do governo que cumpra as Leis e tome vergonha na cara? Por que não punir os que assaltam os cofres da nação, enganam o povo e desprezam a consciência Pátria?
Arlindo Montenegro é Apicultor.
Fonte:   Alerta Total
COMENTO: (ATUALIZAÇÃO DE POSTAGEM) é interessante o fato de algumas pessoas demonstrarem um conhecimento "além de sua época". Acredito que o hábito de serem bons leitores ajudam a aquisição dessa característica. Além disso, as experiências de vida facilitam a visão das coisas que a maioria das pessoas não percebem. Sempre admirei os escritos de Arlindo Montenegro, e tinha a curiosidade de saber mais a respeito dessa pessoa. Isto foi esclarecido em março de 2022, por ocasião do falecimento de José Anselmo dos Santos, o famoso "Cabo Anselmo", quando o jornalista Jorge Serrão revelou que Arlindo Montenegro era um nome fictício que José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, usava para publicar seus textos no blog do amigo que o apoiava.  
https://jovempan.com.br/jorge-serrao/a-morte-do-cabo-anselmo-o-homem-que-nao-existiu.html

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