domingo, 30 de março de 2008

A Complacente Sociedade Brasileira


Aos amigos que ainda acreditam na restauração da dignidade humana
Quando dava os últimos retoques nas idéias que pretendia desenvolver na montagem deste trabalho sobre os rumos que vem tomando a sociedade brasileira, fiquei apreensivo porque pretendia abordar algumas das questões que ultimamente têm agitado a vida dos que ainda acreditam no bom senso dos homens e trabalham para que os exageros do momento sejam em breve superados. Mas o tema sugere largo conhecimento dos meandros do poder.
Essa apreensão era porque não conseguia entender a mudança vertiginosa no caráter de homens que até há pouco tempo davam aos seus liderados o exemplo dos que realmente se preocupavam com a defesa dos interesses da pátria, mas que hoje, no governo, não estão só apáticos, mas às vezes até defendem a debochada conduta dos partícipes da pilhagem dos recursos públicos, numa clara ofensa à dignidade das pessoas de bem. Muitos dos e-mails divulgados pela Internet relatam fatos que realmente nos deixam desesperados porque ultrapassam as raias do bom senso. Pura sem-vergonhice!
Até as pessoas tolerantes se enchem de justa indignação, tamanha é a desfaçatez dos partícipes da ladroeira que a mídia noticia quase diariamente. E nada é censurado, porque parece que tudo está sendo feito em nome do governo, pelo menos é a conclusão que se tira da versão oficial sobre a roubalheira desenfreada.
A bem da verdade, não se sabe mais distinguir o que é benéfico ao povo, do que convém apenas aos agentes espoliadores. A complacência dos que têm o dever de pôr fim a esse estado de coisas, se mostra preocupante. O povo não pode ser tolo o bastante para acreditar que tudo está sendo feito em nome da nação. Está, sim, é em favor dos que dizem ter "se sacrificado por ela e foram injustamente perseguidos pelas forças da repressão"!
A verdade é que sob o manto dessa falácia enganosa, milhares de aproveitadores estão se locupletando do erário público por meio de polpudas indenizações pelos "serviços" prestados à subversão da ordem em nome do comunismo, como se incendiar o Brasil a serviço de regime totalitário estrangeiro fosse trabalho para o bem da Nação. Se não o foi, é lógico que não há que se falar em "indenização", porque a Nação não pode ser responsável por gastos com "serviços" que visavam sua destruição como país democrático.
Essa relativa complacência está ligada à própria história do Brasil, desde o ideário como nação independente. Pelo que se vê, parece que a nossa é uma sociedade enferma, pois mesmo diante de descalabros de toda ordem, a maioria ainda aplaude certas condutas, mesmo que claramente tipificadas nas normas penais incriminadoras.
Sobre este momento histórico, registra-se que a sociedade brasileira, como todas as outras, não passou incólume pelo vendaval das transformações sociais que o processo encerra no seu evoluir constante. Repensando-se as últimas gerações, se constata que em muitas vezes, retrocederam; em tantas outras seguiram caminho enviesado; mas em todas as épocas marcaram o seu tempo e indicaram o grau de cultura do povo brasileiro.
Mas mesmo assim é conveniente lembrar que não se pode deixar de fazer alusão ao destempero de dirigentes que perderam a noção do que deve se entender por honra e dignidade, isto porque o silêncio pode levar-lhes a crença de acerto no seu proceder.
É bem possível que essa turbulência que vem sacudindo a sociedade brasileira nas últimas décadas, de um modo geral seja em razão da ventania evolucionista ou mesmo revolucionária das carências sociais, e porque não dizer, pela própria vontade de alguns em mudar o governo com o estabelecimento de um regime político socialista.
Esse processo turbulento nos faz lembrar dos primeiros anos da década de 60, quando sindicatos, trabalhadores do campo, praças do Exército, Fuzileiros Navais, etc., iniciaram pelo Brasil afora um movimento de subversão pondo em risco a segurança nacional. Passaram pela guerrilha de Caparaó, a Setembrada, a reunião dos Marinheiros e dos Sargentos no Rio de Janeiro e o exaltado discurso do então Presidente da República no Automóvel Clube pregando a indisciplina no interior dos quartéis, numa clara mostra de que a subversão eclodia pelo país com todo vigor, cujos dirigentes "já estavam no governo e que lhes faltava apenas assumir o poder", como à época afirmou PRESTES em Moscou.
Diante desse quadro de grave ameaça às instituições da pátria, o povo em multidão foi às ruas exigindo um basta na anarquia instalada no governo e pedindo proteção para a Família e tudo o mais que estava sendo extorquido da sociedade brasileira.
Os reclamos do povo foram atendidos, e os governantes responsáveis pela balbúrdia, escorraçados da vida pública antes da metade daquela década, sobressaindo-se o grande esforço dos novos dirigentes da nação para manterem o povo brasileiro unido. Mas o seu maior erro foi não levar ao conhecimento público as ações dos envolvidos na luta armada, que hoje se jactam locupletando-se dos recursos de uma nação que eles queriam destruir.
Assim, ainda no alvorecer desses novos tempos, principalmente a partir de 1964 buscou-se um crescimento econômico mais acelerado. Sob o ponto de vista estritamente material, a riqueza do Estado passou a ser o carro-chefe do pensamento nacional, já que a meta era colocar o Brasil entre as primeiras potências econômicas do planeta (à época ocupávamos o 64º lugar, e em pouco tempo chegamos ao 8º), mas foram esquecidos valores como a saúde, a alfabetização, a cultura ético-moral e a religiosidade.
Ficando em segundo plano a formação moral e ética dos jovens, eles passaram a ser fortemente influenciados em grande parte pelos defensores da doutrina comunista nos mesmíssimos moldes cubanos, a qual havia sido repelida pelo movimento moralizador.
Deve-se registrar que nas escolas dava-se início à era da banalização do sentimento de brasilidade, com a doutrinação dos jovens pelos profissionais da baderna, estes formados na luta armada pelos países financiadores da guerra subversiva no Brasil.
Na visão de muitos, essa abafada educação e a deficiente formação ético-moral dos indivíduos gerava a anti-cultura nas escolas. Também a ausência da educação moral e cristã descortinava um campo fértil para as mentes "ignorantes" do saber, mas "sábias" para o arbítrio no submundo do enriquecimento ilícito! O resultado está hoje estampado na mídia, com a ladroagem grassando em quase todos os setores da atividade pública, num processo de pilhagem verdadeiramente preocupante.
Como conseqüência, em período recente desta geração uma parcela de maus cidadãos se apoderou dos mais influentes setores da vida pública e iniciou verdadeira devastação do que de útil ao povo havia sido construído nas últimas décadas. O desenvolvimento de um processo de corrupção, igual ainda não visto, foi muito rápido, a começar pela dilapidação do patrimônio público que pôs de joelhos a ética nas instituições políticas que governam a Nação.
Diante desse descolorido quadro político-social desagradável de se ver, porque pintado com as cores berrantes da corrupção, do deboche, da mentira, da dilapidação dos cofres públicos e do desmonte de instituições que velam pela nossa soberania, a conclusão é de que as conseqüências dessas turbulências perturbadoras vão nos afetar por muito tempo, pois a banalização da roubalheira está em franco desenvolvimento. Não há cenário otimista nesse sobe e desce do caminhar incessante da sociedade à procura do seu destino.
Até mesmo na Internet, os internautas completamente descompromissados com a ética estão banalizando esse instrumento que se constitui, se bem utilizado, num dos maiores incentivadores da solidariedade e da fraternidade entre os povos.
Viu-se também que com a banalização do senso ético-moral em alguns seguimentos da sociedade e da economia surgiram "líderes" de diversos grupos de interesses sem qualquer base intelectual, moral e ética. Era a presença do banal promovendo a desorganização da sociedade e do Estado, com cidadãos à margem da instrução e da educação cívico-moral atuando em todas as esferas do Governo nos três poderes da República.
E para vergonha nossa, há que se registrar que a subserviência de muitos dos homens que deveriam influir de forma positiva para a mudança desse estado de coisas impede que os rumos da decência sejam tomados. Até parece que para atender interesses estritamente pessoais agem com escancarada conivência, nada além do "sim, senhor", ao invés de indicar os caminhos desejados para a ordem pública e orientar os rumos que o dever lhes impõe em razão do cargo que ocupam. Sem dúvida que falam "grosso" só com seus subordinados.
Assim, somos obrigados a pensar que quando os chefes perdem a vergonha, os subordinados perdem o respeito, e o deboche vai continuar não se sabe até quando.
O momento atual está mostrando que se não houver uma substancial mudança de mentalidade, o cenário que se descortina para um futuro próximo sugere que é possível que tenhamos pela frente uma sociedade complacente com a desonra, sem forças para o grito de revolta, nem vontade para lutar por reformas político-sociais há muito desejadas.
Tudo isso tem conserto com o escorraçamento dos esbanjadores públicos, cuja sanha devastadora a Internet vem mostrando de forma estarrecedora nos últimos dias. Também a completa transformação desse estado de coisas está no desenrolar de um processo de conscientização da sociedade brasileira sobre o futuro que deseja construir, certamente fincado nos alicerces do conhecimento, da verdade, da civilidade, da ordem e do progresso, em consonância com os valores do trabalho, da política, da família e da religião, verdadeiros norteadores do campo moral-ético.
Nesse caso, o ponto de partida deve ser a preocupação primordial com o interior da criatura, num processo que se consolide primeiro no íntimo, para, só depois, refletir-se externamente de modo que o cidadão seja conhecido principalmente pelo exemplo.
Há instituições sérias que podem e devem ajudar nisso, trabalhando para se chegar ao fim dessa era de banalização dos bons costumes, pela volta aos diversos segmentos da sociedade organizada dos homens sérios, competentes, cumpridores dos ditames legais e bem aprimorados para buscar novos rumos para esta complacente sociedade, isto certamente em decorrência da distorcida informação acerca da verdade histórica. Só assim se pode dizer que é auspicioso o cenário de amanhã.
Brasília-DF, 29 de fevereiro de 2008
JUVENAL ANTUNES PEREIRA
é Subprocurador-geral do Distrito Federal aposentado
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