domingo, 11 de setembro de 2022

A Espiã Russa que Infiltrou-se na OTAN

María Adela Kuhfeldt, a espiã russa que logrou infiltrar-se na OTAN
María Adela Kuhfeldt Rivera chegou à Itália há mais de dez anos e, fingindo ser a dona de uma exitosa empresa de joias, conseguiu acessar a alguns dos melhores clubes de Nápoles, frequentados por executivos e oficiais da OTAN.
Uma investigação levada a cabo pelo diário italiano Repubblica, o meio independente The Insider e a revista alemã Der Spiegel, descobriu que a mulher que dizia chamar-se María Adela era, na realidade, Olga Kolobova, uma espiã russa pertencente ao GRU (Glavnoje Razvedyvatel'noje Upravlenije ou Departamento Central de Inteligência), o serviço de inteligência militar das Forças Armadas da Rússia.
O GRU preparou a identidade falsa de Kolobova. Segundo seu passaporte falso, ela nasceu no Peru, mas sua mãe a abandonou ainda  com pouca idade, pelo que teve que enfrentar a vida desde muito jovem. Entre 2009 e 2011 viveu na Europa e chegou a registrar sua própria marca de joias na França.
“Maria Adela”, ao centro, com amigos, inclusive Marcelle D’Argy Smith em Malta em 2010. Foto: Bellingcat, cortesia de Marcelle D’Argy Smith.
Em 2012 se casou com um homem que, segundo disse ela, era italiano, e que morreu no ano seguinte em Moscou. Pouco depois, se mudou para Nápoles, abriu uma loja de joias e começou a ganhar fama como uma exitosa desenhista de joias.
Fotos do casamento de “Maria Adela” e seu marido.
Foto: Bellingcat, cortesia de Marcelle D’Argy Smith
Dessa forma, obteve acesso ao Lions Club Napoli Monte Nuovo que, longe de ser uma organização comum, foi fundado por oficiais napolitanos da OTAN. María Adela, estabeleceu vínculos com alguns destes oficiais a quem convidava para eventos e festas de sua marca de joias.
“Maria Adela” listada como secretaria do Lions Club Monte Nuovo é vista com outros membros em uma foto postada na página da organização.
Em setembro de 2018 desapareceu da Itália de forma repentina. Dois meses depois, publicou uma mensagem no Facebook onde dizia estar passando por um câncer. Porém, a investigação levada a cabo por vários jornalistas, descobriu que, no mesmo dia de seu desaparecimento, Bellingcat e The Insider haviam publicado uma investigação sobre as identidades encobertas de dois espiões do GRU implicados no envenenamento, com Novichok, de Sergey e Yuia Skripal.
Postagem no Facebook sugerindo que “Maria Adela” estava presente em um baile das Forças do Comando Conjunto da OTAN.
Através dessa pista foram descobertas as identidade de muitos outros espiões russos que haviam estado encobertos por anos, entre eles, María Adela Kuhfeldt. Depois de um telefonema de apenas dois minutos, Kuhfeldt comprou uma passagem de ida para Moscou e nunca regressou.
Fonte: tradução livre de LISA News
COMENTO:  temos aí uma rápida descrição de uma Operação de Inteligência que deve ter rendido bons frutos, e poderia render mais se não fosse o cometimento de um assassinato de utilidade duvidosa. As obras de arte sobre Inteligência (livros e filmes) são prodigas em mostrar cometimentos de crimes, como se estes fossem coisas comuns na Atividade de Inteligência. Nada mais falso! A Atividade de Inteligência pressupõe discrição e uso da inteligência. Ações atabalhoadas como um assassinato implicam exatamente na atração da atenção das autoridades sobre o que deveria ser executado em sigilo. Atraindo a atenção, sempre há quem se dedique a buscar pormenores do ocorrido. E a identificação de detalhes até então silentes. No presente caso, alguns jornalistas (de verdade) se dedicaram e descobriram uma falha na elaboração dos documentos que embasaram as identidades falsas dos agentes. O fornecimento de Passaportes com numeração seriada para os agentes russos — provavelmente para facilitar o controle desse fornecimento, o órgão expedidor deve ter selecionado uma série específica para o GRU — deu início a uma investigação, em 2018, que culminou no descobrimento de outra falha. Ao montar a Estória-Cobertura da agente Olga, usaram uma certidão de batismo com data anterior à fundação da paróquia citada como origem do documento. Dessa forma, um erro inoportuno revelou duas Operações e seus Agentes desperdiçando recursos financeiros e, principalmente, humanos.
Para quem gosta de histórias reais de espionagem e Inteligência — bom para quem atua na área — recomendo a página da Bellingcat, que relata mais detalhes desta história da postagem, e contém outras investigações sobre o assunto.

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