domingo, 21 de agosto de 2022

A Duvidosa Estória da Espiã Que se Infiltrou nas FARC

Magaly tem 17 anos e chegou à Colômbia em 6 de novembro de 2021. Diz que passou um mês usando eletrônicos para que a Polícia localizasse o líder da coluna móvel Franco Benavides.
FOTO: copiada de vídeo - Cortesia.
por Javier Alexandre Macias
Na noite em que Magaly* recebeu o envelope de dinheiro, se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Não lembra o dia da semana, a única coisa que recorda é que não conseguia lidar com tantas notas: as mãos tremiam enquanto agarrava a sacola, os olhos dispersos olhavam para todos os lados, vigiando para que não chegasse ninguém para roubar o que era dela, e quando tentou ir guardar tanto dinheiro, seus pés não responderam bem e ela terminou de bruços no solo.
Nessa noite correu tanto para se esconder, que quando caiu da cama e abriu os olhos, se liberou rapidamente da almofada que tinha apertada contra o peito e com amarga dor descobriu que só havia sido um sonho. Mas não se desesperou. Na penumbra, seguiu sonhando desperta. Sonhava com o carro que sempre havia querido, sonhava tirar sua irmã do bar de má fama em que trabalhava lá em Nariño desde que deixaram seu país, e sonhava com uma moradia rodeada de luxos para sua mãe.
Distraída pelos pensamentos Magaly* foi surpreendida pela alvorada. Sabia que com os 120 mil dólares (504 milhões de pesos colombianos) que receberia se cumprisse o trabalho proposto, arrumaria a vida dela, de sua pequena de 3 anos e de toda sua família que havia ficado em seu país.
O que Magaly* não desconfiara nas noites de insônia que se seguiram a quando disse sim ao contrato, era que matar um homem custasse tanto, e muito mais o que lhe haviam ordenado assassinar: o chamado "Marlon", comandante da coluna Franco Benavides, das dissidências de as FARC.

Seus dias na Colômbia
Com a promessa da terra prometida, Magalychegou à Colômbia em 6 de novembro de 2021. E foi para Policarpa, Nariño, onde sua irmã trabalhava como garçonete em um salão de bilhar.
Como decidi trabalhar fui fazer uns exames. Usei o nome de minha irmã mais velha para poder começar a trabalhar em um clube. Como as enfermeiras conheciam minha irmã, elas avisaram a SIJIN (Secional de Investigações Judiciais da Polícia Nacional) e me levaram para a Fiscalía (Procuradoria) porque sabiam que não era eu no documento nem tinha essa idade. Fiquei um mês presa, me soltaram com a obrigação de que minha irmã se responsabilizasse por mim. Me levaram para a delegacia de Policarpa, Nariño” relata Magaly*.
Durante os 30 dias que esteve atrás das grades, Magaly*, de 17 anos de idade e figura miúda, só pensava no que iria fazer quando saísse da prisão. No dia em que a libertaram se foi com sua irmã ao local conhecido como La Playa para fumigar coca, mas o odor dos produtos químicos fazia arder “suas narinas”, então decidiram deixar o emprego e  foram trabalhar em um outro local.
Enquanto laborava em seu novo trabalho, uma mulher cuidava de sua filha. Em um descuido da babá, a pequena deu uma cambalhota, e terminou com a cabeça sob a cama e com um hematoma que provocou sua internação por um mês na clínica infantil de Pasto.
Mas como as dores continuaram, o choro da menina se tornou entre anormal e insuportável e Magalyterminou, outra vez, no hospital. Tivemos que levá-la a Pasto e a hospitalizaram no Infantil. Estive um mês com ela, recorda.
A longa estadia em Pasto pareceu curta a Magalypor uma razão: o amor que acreditava ter se extinguido pelos maltratos e má vida que  seus dois companheiros anteriores lhe deram, renasceu quando um agente da SIJIN, que havia conhecido em dezembro em uma discoteca, a encontrou no hospital.
Nossa relação seguiu normal. Um dia me disse que tinha uma  proposta que iria me agradar, algo que ia ser bom para mim economicamente, para sair da situação em que estava, conta.
Mauricio, como chamaremos o investigador da Polícia, cortejou Magalyaté que uma tarde revelou o que ela não esperava, mas ele tinha planejado milimetricamente.
Ele me disse que a proposta era eles me darem 120 mil dólares para que eu ingressasse nas FARC-EP e entregasse cinco comandantes que estavam prejudicando o povo. Como estava necessitada, disse que sim, e depois contei a uma de minhas irmãs e ela me disse que não; eu liguei para ele e disse que aquilo era ruim e que eu não distinguiria as pessoas que deveria entregar, e ele me disse: bem, és tu quem perde”.
Passaram quinze dias daquela declaração, que não foi precisamente de amor, conta Magaly*, que uns agentes da SIJIN a procuraram. Me disseram que se não colaborasse me separavam de minha filha. Tive que me meter nas matas, disse.

Assim ela se infiltrou
Na noite em que Magalydecidiu infiltrar-se como espiã nas fileiras das dissidências das FARC, intuiu que aquele poderia ter sido seu último dia de vida sobre a terra.
Com dor no peito, a jovem de 17 anos se despediu mentalmente de cada um dos integrantes de sua família. Chorou por sua filha que, segundo conta, ficou nas mãos do ICBF, e apresentou-se cedo à SIJIN.
Sem entender o que se passava, Magalyfoi recebida por mais de 15 homens que vociferavam em um salão. Todos ditavam instruções, até que um deles, se acercou e explicou qual seria sua missão.
Ela teria três meses para entregar a eles cinco líderes do grupo dissidente. Os prazos foram determinados em um por mês, e nos primeiros 30 dias ela teria que entregar o chefe principal, vulgo “Marlon”.
Com o plano em sua cabeça, e ao melhor estilo de um filme de espionagem, entregaram a Magalyum par de brincos que serviriam de microfones e, ao mesmo tempo, para ela ouvir. Eram pequenos e pretos e eles me rastreavam onde eu estava. Me escutavam todas as conversas que tinha e as registravam em um computador, diz; e no cotovelo esquerdo lhe implantaram um chip sob a pele para saber como, quando e para onde se movia.
Pensei que a missão seria fácil e que fazer as sabotagens também. Me disseram que a ideia era que eu poderia ir para a cama com um dos comandantes para eu mesma mata-lo e eles fariam o desembarque. Me tocava cativa-lo e mata-lo. Eu não planejei, essa foi a instrução que eles me deram e, como me haviam tirado a menina, eu decidi pois por minha filha faço o que seja; e então, eu estive com o comandante”, conta Magaly*.
Com os apetrechos prontos, a jovem caminhou varias horas até onde sabia que estava o grupo armado ilegal. Ao achar os primeiros homens armados, disse que queria ingressar na quadrilha. Preguntaram por que, e ela respondeu que estava cansada dos maltratos e também necessitava dinheiro para levar comida a sua casa. A partir daí, puseram um quadrilheiro que vigiou todos seus passos e se converteu como sua sombra.
O olheiro, um homem experto nos pormenores da guerra, começou a notar que cada vez que Magalyse isolava os helicópteros voavam baixo e sentiam que as tropas se aproximavam “respirando-lhes na nuca”.
Magalytambém notou que o dissidente começou a segui-la mais que o normal e se encheu de temor, então, na primeira oportunidade avisou aos da SIJIN que não continuaria com o plano para matar “Marlon”.
A jovem equatoriana convertida em espiã, aproveitou um castigo aplicado por insubordinação (?) e se foi até o rio. Subiu em uma canoa tirou os brincos e os lançou ao rio. Depois, com um bisturi fez uma pequena incisão no braço, que cobriu com o uniforme e tirou o chip rastreador, enterrando-o na margem do rio. Desde esse dia e como em um ato de desespero ao perder o contato com a infiltrada, começaram a sobrevoar a baixa altura e a desembarcar tropas, mas as dissidências se moveram selva adentro para evitar o confronto.
Nas palavras da jovem: “Somente uma vez bombardearam e tentaram um assalto. Nós nos movemos para a montanha. Quando me mandaram para baixo subi na canoa os joguei (brincos) no rio, um deles me indagou que por que me desfazia dos brincos e respondi que era porque estavam velhos e oxidados”. Depois daquele episodio, o combatente informou a Marlon, e ele deu a ordem de que algemassem Magaly*. Ela ficou assim durante um mês amarrada a um pau.
Diga a verdade, diga a verdade e te pouparemos sua vida”, recorda a adolescente que lhe diziam, mas ela só desejava que a “atirassem no buraco porque de todas formas iam me matar fora ou lá dentro”.
Contrariando seus pedidos, o tal Marlon decidiu não fuzilar Magaly*, como é norma nos grupos criminosos fazer com quem os traem. Em vez disso, decidiu entregar a garota ao CICR (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) no passado dia 5 de agosto, como registraram em um vídeo que publicaram.

La columna móvil Franco Benavides, del Comando Conjunto de Occidente, hacemos (sic) entrega de la menor MBDP, identificada con el número 33... al Comité Internacional de la Cruz Roja, CICR, en perfectas condiciones de salud para que se inicien los trámites pertinentes para su deportación”, diz o comunicado.
De Magalynão se sabe hoje a sua localização. Antes de ir-se assegurou que depois de ter uma segunda oportunidade sobre a terra, não quero voltar a meter-me nunca em nenhum grupo armado.
* Nome trocado por segurança.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: Brincos com transmissores? Chip com localizador? E as baterias para fornecer energia? A "menina", com 17 anos  um histórico de dois ex-companheiros, e uma filha de três anos  foi para a Colômbia seguindo uma irmã, tendo a mãe e o "restante da família" (inclusive a filha de três anos) ficado no Equador. Depois, a criança aparece com ela, mais uma "irmã mais velha" que a aconselha não aceitar a aventura. Por fim, ninguém com um mínimo de conhecimento do assunto, realizaria um "recrutamento" de forma mais atabalhoada. A história, muito mais romanceada do que o normal, parece uma narrativa marqueteira com o objetivo de mostrar os narcoterroristas remanescentes das FARC como bons meninos que evitaram "prejudicar" a jovem equatoriana. Esperei alguns dias e, como não houve desmentidos sobre o caso, estou publicando este texto só como "fato curioso", e para não perder o trabalho da tradução.

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