quinta-feira, 15 de julho de 2021

Colombianos e o Magnicídio no Haiti

Momento em que os eventuais mercenários chegam à residencia do presidente enquanto uma vizinha grava e narra os fatos. 
Fonte: Canal de Marcel Ramirez Rhor
Cabos soltos do magnicídio no Haití
Ex-militar revela detalhes do recrutamento de colombianos: ‘Estão escondendo informação'.
Doze tiros de fuzil e de pistola 9 mm, orifícios de bala na testa e em cada mamilo, três disparos no quadril, outro no abdome, e seu braço e pé direitos fraturados.
A necropsia do assassinado presidente do Haití, Jovenel Moïse, e imagens de varias câmeras de segurança estão deixando em evidencia o que ocorreu na noite e madrugada de 6 para 7 de julho, em Pétion-Ville, o exclusivo bairro de Porto Príncipe onde está localizada a residencia do mandatário morto.
Agencias de quatro países estão investigando quem está por trás do magnicídio de Moïse, que liderava a cinco anos esse convulsionado país.
O presidente Jovenel Moise permaneceu 5 anos no poder.
Planejava um referendum para uma nova constituição.
Foto: AFP / Valerie Baeriswyl
Nas ruas de sua capital, hordas de cidadãos e autoridades realizaram uma caça aos membros do comando armado que esteve no local do crime. Ao mesmo tempo, o primeiro ministro, Claude Joseph, declarou o estado de sitio.
Para piorar a situação, 24 horas depois do magnicídio, o comandante da Polícia, León Charles, fez uma revelação bombástica. Afirmou que 26 colombianos conformavam o comando armado, três dos quais foram aniquilados na Rue Pinchinat, em Pétion.
Até agora, são 26 os colombianos envolvidos no crime do presidente do Haití. Foto: EFE/ Jean Marc Hervé Abélard

Nesse momento, Charles já tinha em suas mãos um informe com dados dos ex-militares, que o presidente Iván Duque havia ordenado elaborar para as autoridades haitianas.
Também, foi pactuado que pessoal de Inteligência da Polícia e da Direção Nacional de Inteligencia (DNI) apoiarão no terreno a investigação levada a efeito pelo FBI.
Recrutadores e Hérard
Duberney Capador, segundo
 sua família, foi ao Haití para 
trabalhar em uma empresa
de segurança.
Foto: Arquivo familiar
Sem que a investigação sequer tivesse tomado impulso, a noticia de que ex-militares colombianos estavam envolvidos no magnicídio deu a volta ao mundo.
Internacionalmente se fala da Colômbia como uma fonte de mercenários, resquícios do conflito interno.
Por enquanto há evidência de que sete civis e treze ex-militares — dois oficiais, três suboficiais e oito soldados (todos veteranos)  estão implicados nos fatos. Mas há mais.
Houve contato com um dos militares colombianos (*), que narrou como terminou encurralado no Haití, depois de ser um combatente condecorado.
Ele diz que foi contratado pelo Vice-primeiro Sargento (r.) Duberney Capador, de 40 años, que morreu depois da operação. Capador serviu na Brigada 30 de Cúcuta, até janeiro de 2020 — a mesma onde explodiu um carro bomba há um mês atrás. Além desse detalhe, ele é apontado como um dos recrutadores, ainda que isto seja negado por  conhecidos dele.
Dimitri Herard, Chefe da Segurança Presidencial, 
deverá depor em 13 de junho.  Foto: Arquivo Particular


Também buscam saber se Marco Antonio Palacios, que viajou com o grupo, tem ascendência haitiana. E o FBI rastreia se a empresa de segurança privada de Dimitri Hérard, o Chefe de Segurança do Palácio Nacional, teve contato com os colombianos.
Além disso, querem estabelecer o quê fez Hérard em sua viagem relâmpago ao Equador em 22 de maio deste ano — país onde foi treinado, em 2012 —, e que incluiu uma escala em Bogotá.
Foram apreendidas armas, e
 passaportes dos colombianos
detidos. Foto: Polícia do Haití
Dimitri Hérard já vinha sendo investigado por possível tráfico de armas. E está citado para depor na próxima semana, junto com Jean Laguel Civil, coordenador de Segurança do presidente Moïse.
As autoridades querem que expliquem como permitiram que o presidente fosse torturado com sanha e depois assassinado em sua própria residencia; por que ninguém do anel de segurança resultou ferido; e como o grupo armado ingressou sem ser detetado e sem que houvesse sequer um intercambio de disparos.
Segundo o ex-militar colombiano (*), o Haití oculta informação. Diz que a entrada de colombianos naquele país foi rápida e sem perguntas. Foi dito a eles que estavam sendo contratados pelo Governo.
Como em maio ou junho, se criou um grupo de WhatsApp no qual começaram a oferecer o trabalho. A ideia era prestar segurança em setores afetados por bandos de sequestradores, em especial uma que opera em Laule 12. Também, proteger o presidente se fosse preciso. Ofereciam entre 2.300 e 2.800 dólares por mês, dependendo do treinamento”, explicou.
E acrescentou que, para atrair gente, houve reuniões em hotéis na zona de Corferias, em Bogotá.
A vivenda onde assassinaram o presidente do Haití está situada no bairro Perelin, en Puerto Príncipe. 
Foto: Jean Marc Herve. EFE
As Mensagens
Irão os que tenham passaporte em dia, Curso de Comandos, de Lanceiro ou de Forças Especiais”, se lê em uma das mensagens que ele mostra.
E em outra, se lê: “Levem duas camisetas pretas e duas calças caqui [para usar] enquanto esperam chegar o suprimento (...). Vão receber armas longas e curtas (...). Vamos lá!”.
Vários tinham esses cursos, entre eles Capador, Manuel Grosso Guarín e Francisco Eladio Uribe Ochoa, que estiveram juntos no Batalhão de Chiquinquirá, Boyacá, diz um investigador.
Manuel Antonio Grosso Guarín, um dos colombianos que estaria envolvido. Foto: obtida em redes sociais.
Grosso (primo distante do conselheiro presidencial para a Segurança, Rafael Guarín) foi motorista de confiança do Chefe do Estado-Maior da Brigada de Forças Especiais, em Tolemaida. E Uribe, membro do GAULA (Grupo de Ação Unificada para Liberdade Pessoal)  Militar, onde terminou envolvido em ‘falsos positivos’.
Agora, os colombianos capturados estão pedindo que as autoridades revisem as câmeras de segurança. Ali, dizem, está registrado que o presidente foi assassinado por volta das 1:30 horas; e o comando de colombianos chegou pelas 2:40 horas.
Dois dos detidos declararam que se dirigiram ao lugar porque lhes relataram que ocorria um tiroteio. E também, que eles socorreram a primeira dama, Martine Moïse, gravemente ferida.
Mas os estadunidenses de origem haitiana, capturados — James Solages e Joseph Vincent —  deram uma versão diferente. Dizem que foram à casa do presidente para efetivar uma ordem de detenção de um juiz e não para matá-lo.
Em todo caso, aos investigadores, chama a atenção que o recrutamento na Colômbia — que teria tido apoio de quatro firmas de segurança privada locais — se deu pouco depois da decisão de Moïse de permanecer no poder por mais um ano.
Três dos colombianos foram mortos após o assalto à casa presidencial. Há oito fugitivos e outros implicados.
Foto: Jean Marc Hervé Abélard / EFE
Esse anuncio desatou a ira da oposição e de alguns poderosos (do setor energético, bancário, da construção e inclusive juízes) e líderes de vários partidos, já muito incomodados pelo fato de que Moïse vinha governando por decreto desde 2020, ante a não realização de eleições para o Congresso em outubro de 2019.
De fato, o mandatário já havia advertido que sabia de um plano para assassiná-lo ou dar um golpe de Estado, apesar de ter convocado as eleições de 26 de setembro.
Inclusive se acredita que a fratura em seu braço, encontrada na necropsia, se deveu a terem forçado para assinar sua demissão.
Mas, no aspecto penal, as duas grandes interrogações são: 
— ¿quem ordenou o assassinato? e 
¿os  colombianos  estão  envolvidos  no magnicídio ou foram utilizados para desviar a investigação?
A maneira como foi pago o deslocamento dos ex-militares — que se moveram desde Bogotá, via aérea, por Panamá e República Dominicana — pode esclarecer para quem eles trabalhavam.
Também traria pistas, saber quem alugou as luxuosas casas em que foram hospedados. Una destas, situada no exclusivo bairro Thomassin, foi ocupada, meses atrás, por Magalie Habitant, do partido haitiano PHTK, aliada do presidente Moïse. Segundo ela explicou, um advogado alugou a casa dela.
Ainda chamou a atenção o fato que James Solages, um dos estadunidenses de origem haitiana capturados, trabalhou para a empresa Sogener. Se trata da eletrificadora vinculada à família do falecido ex-presidente René Preval. Por sua vez, Solages assegurou que encontrou na internet, a oferta de ser tradutor do grupo de ex-militares.
Mas, no Haiti, muitos já concluem quem são os responsáveis: achegados de Moïse, inclusive seu embaixador na Colômbia, Jean Mary Exil, tem dito que a guerra que este desatou contra a corrupção, com vistas a executar uma mudança estrutural, trouxe incômodo a muitos.

A primeira dama
O presidente haitiano, Jovenel Moise, durante a cerimonia de investidura com sua esposa, Martine Marie Etienne Joseph, no Palácio Legislativo em Porto Príncipe. Foto: Efe

Ela é o caminho mais curto para saber o que ocorreu. De fato, no sábado começou a dar pistas. Em um áudio, de 2 minutos e 20 segundos, atribuiu o ataque a “mercenários que não deixaram nem trocar uma palavra” com seu esposo.


E assegura que ele foi eliminado pelo desejo de celebrar um referendum para aprovar uma nova Constituição.

Tormenta interna
Na Colômbia, houve quem arremetesse contra o Exército e o Governo pela falta de controle sobre os militares altamente treinados que passam à inatividade. Mas para o doutor em direito internacional Eric Tremolada, não é pertinente ligar o sucedido no Haiti com o Governo ou o Exército.
Ao não ser agentes do Estado, o tratamento que teriam é o de criminosos comuns e ordinários ante a justiça haitiana. Enquanto não sejam militares ativos, Colômbia não tem que assumir responsabilidade internacional”, explica o acadêmico.
E John Marulanda, líder da Associação Colombiana de Oficiais Retirados (ACORE), saiu a rechaçar que se tente estigmatizar o Exército. E advertiu que uma coisa é contratar militares (inativos) qualificados, como os colombianos, para labores de segurança; e outra, lançar mão de mercenários, uma atividade proscrita no âmbito internacional.
Não foi uma operação de comando para abater a um objetivo. Parece mais uma emboscada”, pontualizou Marulanda.

A pista do narcotráfico na ilha
Na classificação que o Departamento de Estado faz sobre países vinculados ao tráfico de drogas, Colômbia e Haití sempre aparecem. 
O Cel (r) John Marulanda é
 consultor de segurança nacional
 e internacional.
Foto Twitter: @JohnMarulandaM
Por isso não se descarta que mafias do narcotráfico hajam articulado o plano para assassinar o presidente Jovenel Moïse, em conjunto com outras forças.
A DEA considera que a ilha é o centro de distribuição da cocaína produzida na Colômbia (que sai via Venezuela), e da mariguana da Jamaica.
A corrupção de seu sistema judicial e o pouco controle de suas fronteiras marítimas são capitalizados por poderosos carteis.
República Dominicana prometeu que em julho iniciaria a construir um muro para fechar a fronteira com o Haití, devido ao alto contrabando de carros, tráfico de pessoas, narcotráfico e delinquência.
Essa ampla fronteira é propicia para que ocorram fatos como o de ingresso de mercenários”, diz John Marulanda, líder da ACORE e consultor internacional em segurança.
Observação: (*) - Não identificado visando preservar sua integridade.
Unidad Investigativa
u.investigativa@eltiempo.com
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Fonte: tradução livre de  El Tiempo
COMENTO: Dois pontos a serem destacados. Primeiro, os candidatos a mercenários não aprenderam que no mundo das operações veladas praticamente nada é o que parece serSegundo ponto. O Presidente morto se propôs a reerguer seu país  batendo de frente contra a criminalidade consolidada no Haiti — e ousou querer sustentar sua luta por mais um mandato. Acabou a paciência dos delinquentes, que uniram-se para dar cabo em quem ousou enfrenta-los. Que nos sirva de  lição. Há povos que não possuem capacidade de discernimento para viver em estado democrático, só a mão firme do Leviatã os mantém sob controle. Bandidos são bandidos e cometem ações inerentes a bandidos. Em todos os lugares! Repito: que nos sirva de lição!!
ATUALIZAÇÃO: Não há muito de novidade. Quatro dos colombianos presos confessaram que o assassinato do Presidente haitiano foi planejado por Joseph Badio ex-funcionário do Ministério da Justiça do Haiti. O Presidente teria sido executado pelo colombiano Victor Albeiro Pinea Cardona, o Mike. 19 Ago 2021.
Fonte: El Tiempo

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