sábado, 10 de fevereiro de 2018

Pensando Como um Analista de Inteligência - Parte 1

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Todos nós gostamos de pensar que tomamos decisões lógicas. Afinal, se decidimos um problema, nossa conclusão faz sentido para nós, ou então não teríamos chegado a essa conclusão, certo?
Além disso, quando descobrimos que outros analisaram a mesma questão e chegam a uma conclusão diferente, o que fazemos? Se formos honestos, a maioria de nós pensará que os outros estão errados e imediatamente procuramos evidências para provar isso.
A verdade é que somos todos suscetíveis a pensar de forma errada. De fato, os processos intelectuais que ajudaram a raça humana a crescer e prosperar são os mesmos processos que nos deixam suscetíveis a um julgamento equivocado.
Esses são os processos que o Analista de Inteligência deve deixar para trás.
Oratória versus Pensamento Crítico
Os Analistas de Inteligência reúnem enigmas. Eles analisam informações de várias fontes para tentar entender o que os adversários estão fazendo e o que é provável que façam a seguir. O pensamento crítico é a chave para o sucesso.
O problema é que muitos de nós não sabem como pensar de forma crítica. David T. Moore, um profissional de IC e autor de "Pensamento Crítico e Análise de Inteligência", afirma que o pensamento crítico não é ensinado em muitos cursos universitários, apesar de muitos dos programas de estudos classificarem o "pensamento crítico" como um objetivo.
O mais próximo que muitos estudantes chegam do pensamento crítico, diz Moore, geralmente é quando aprendem o Método Científico. Por outro lado, é provável que os alunos de cursos não-científicos não tenham o treinamento necessário para serem bem-sucedidos. Isso porque o que é ensinado nas escolas mais frequentemente é uma espécie de retórica, a arte de argumentar para provar um ponto de vista. Começando no ensino médio, somos ensinados a desenvolver uma tese e a "provar" através da argumentação.
Infelizmente, a oratória reforça alguns dos processos mentais que tornam o pensamento crítico tão desafiador, como a busca seletiva de informações que confirmem nosso ponto de vista. E talvez nem tenhamos consciência de que estamos fazendo isso.
Modelos mentais: o bom e o mau
Nossas mentes estão cheias de informações que acumulamos ao longo dos anos, desde a infância até hoje. Nossos cérebros fazem o trabalho maravilhoso de usar essa informação para criar modelos mentais do mundo. Usamos esses modelos mentais diariamente para tomar decisões sobre a vida. Eles fornecem um atalho intelectual que é altamente útil no dia a dia. Mas eles têm um lado ruim.
Richards J. Heuer, autor da "Psicologia da Análise de Inteligência", explica que os modelos mentais muitas vezes colorem e controlam nossa percepção de eventos em medida tão grande que podemos realmente não perceber o que está acontecendo na nossa frente. Em outras palavras, tendemos a perceber o que esperamos perceber.
Como exemplo, dê uma olhada na seguinte imagem *: o que você vê?
Imagem de “Psychology of Intelligence Analysis” de Richards J. Heuer.
Nossos modelos mentais podem nos concentrar nas três formas idênticas. Ou eles podem nos concentrar nos três termos ouvidos comumente. A maioria das pessoas, no entanto, não perceberá que os advérbios em cada uma das três frases são repetidos. (Se você notou, parabéns! Você está na minoria.) Como não esperávamos ver os advérbios repetidos, a maioria das pessoas simplesmente não vê a repetição.
Analistas de Inteligência, explica Heuer, desenvolvem expectativas sobre as motivações dos atores adversos. A evidência que se adapta a essas expectativas tende a ser facilmente assimilada, enquanto a evidência que contradiz essas expectativas tende a ser ignorada.
Esses modelos são notoriamente difíceis de quebrar. Mesmo quando nos são apresentadas evidências que invalidam o modelo, relutamos em ceder. Em vez de analisar a questão de forma objetiva desde vários pontos de vista, ficamos rodopiando a informação que valida aquilo em que já acreditamos.
Olhe ao redor e veja por si mesmo. Os discursos atuais são feitos por pessoas que fazem julgamentos desde modelos mentais muito diferentes. Um lado olha para o outro e simplesmente não consegue entender por que certos fatos não influenciam suas opiniões.
É porque não queremos que nossas opiniões sejam influenciadas. Queremos que os nossos modelos sejam validados. E faremos uma enorme ginástica mental para que isso aconteça.
Na próxima publicação, analisaremos uma amostra de técnicas utilizadas na Comunidade de Inteligência para quebrar esses processos e fazer o pensamento crítico justificar seu próprio nome.
Fonte: tradução livre de Intelligence Community

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