por Geyson Santos
Em julho deste ano se tornaram notícia nacional as ofensas raciais sofridas pela jornalista Maria Julia Coutinho, carinhosamente apelidada de “Maju”, postadas na página do Facebook do Jornal Nacional:
“A jornalista Maria Júlia Coutinho foi alvo de comentários racistas na página do Jornal Nacional no Facebook, em post publicado na noite de quinta-feira (...) Alguns internautas escreveram comentários racistas no post que tem uma foto de Maju ...” (G1 – 03/07/2015).
Uma horda saiu em defesa da jornalista. Novamente palavras como “racismo”, “preconceito”, “injuria racial”, “reparação social” e outras mais, foram compartilhadas centenas e centenas de vezes. Mais uma vez, foi dito que a sociedade brasileira é uma sociedade racista e que os negros precisam de maiores proteções legais contra esses tipos de agressividade cibernética.
Diante da comoção de parcela da sociedade e, tendo em vista, ser uma “global”, o poder público precisava dar uma resposta à altura. Foi o que aconteceu. O Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO – Ministério Público) criou a “Operação Tempo Fechado”, disponibilizando mais de 50 Promotores de Justiça de todo o Brasil para esclarecer as circunstâncias e autor (es) do crime, visando buscar e punir os envolvidos.
Após, aproximadamente, quatro meses de investigações, a quais conclusões chegaram? É aqui que as coisas começam a ficar interessantes e a realidade supera, em muito, a ficção.
As investigações levaram a Érico Monteiro dos Santos, 27 anos. Érico, jovem negro do interior de São Paulo, declarou ser administrador de um grupo que usava de falsos ataques racista para angariar fama à si. Os ataques eram sempre direcionados a pessoas conhecidas, tendo em vista que, dessa forma, a repercussão seria maior.
“De acordo com Santos, os grupos atuam a partir de uma dinâmica de disputa e competição. Quanto maior for a atenção midiática e o número de curtidas e compartilhamentos dos ataques, maior é o prestígio entre os "rivais (...) ‘Eles querem notoriedade, competem entre si e agem como gangues de pichadores, em que uma quer sempre aparecer mais do que a outra’, afirma o promotor.” (BBC-Brasil – 10/12/2015)
Apesar de Érico ter negado as acusações, também foram encontradas fotos de nudez infantil em seu celular. Quando questionado sobre o conteúdo impróprio, disse que seria usado para lançar ataques contra seus inimigos virtuais. Essas fotos seriam postadas em suas páginas, como se de autoria deles, fazendo que as respectivas fossem bloqueadas e os mesmos respondessem judicialmente. Tudo “fake”. (G1 – 11/12/2015)
Ou seja, era tudo mentira, não existia racismo... Não existia pornografia infantil... Os ataques não eram verdadeiros... Era tudo mentira visando causar comoção social... “compartilhamentos”... Reportagens... Nada era verdade... Era tudo “fake”! A realidade superando a ficção.
E, aqui está o ponto de inflexão de minhas considerações: por que um jovem negro faria falsas ofensas raciais à uma jornalista negra? Por que usaria de falsos ataques racistas à uma personalidade de destaque? Por que usar de pornografia infantil falsamente para detratar seus adversários virtuais? Tudo “fake”!
A priori, como o próprio acusado declarou, era tudo uma questão de guerra entre grupos virtuais, para saber quem angariaria mais fama. Mas será que era só isso? Sim. Na visão do acusado, pode até ser que sim. Entretanto, não quero permanecer só na superfície da notícia, quero ir além. A quem mais interessaria essas circunstâncias?
Sabemos que pornografia infantil, ataques racistas e homofóbicos às personalidades de destaque, geram clamor social. Artistas saem em defesa dos ofendidos. A mídia expõe os “fatos” em suas “primeiras páginas”. A sociedade pede rigor na punição dos envolvidos. E, quando se trata da internet, logo aparece alguém dizendo que a internet é um lugar livre demais, que é necessário maior regulação. Mais “marcos civis da internet”. E, o cidadão, diante do caos “fake”, anui, considerando ser necessárias leis mais rígidas e maior controle para punir os envolvidos.
Mas quem ganha com isso? O Estado.
Por meio de um ato de mentira o Estado ganha mais poder. Você me pergunta, como? A partir de mentiras, haverá novas leis, que nos regulamentarão ainda mais. Agora novas delegacias são criadas. “Delegacias de Crimes Virtuais”. Mais policiais, mais aparato repressor. Mais dinheiro, do contribuinte sendo gasto. Mais impostos. Menos dinheiro sobrando aos cidadãos. O Estado cada vez maior. Uma máquina burocrática gigantesca.
Cada vez mais Estado, menos liberdade. Cada vez mais o Estado se intrometendo na vida e liberdade individuais. Cada vez leis mais intrusivas. A ponto de o Estado ditar se podemos ou não disciplinar nossos próprios filhos, por meio de uma “Lei da Palmada”. Mais controle. Algumas décadas atrás isso seria um absurdo. Hoje, somos lenientes com este tipo de poder avassalador.
O pensamento do homem moderno se resume da seguinte forma: “Um errou, todos pagam”. Não ignoro que haja crimes sendo perpetrados na internet, mas não sou leniente com o discurso que em face do erro de um, todos devem ser punidos. É o que está acontecendo. O criminosos estão usando o Whats, ele é bloqueado. Pessoas cometem crimes virtuais e minha liberdade é cerceada. Onde isso vai parar? Já há instrumentos para investigar, prender e punir os envolvidos em crimes virtuais, não há a necessidade de novas leis mais controladoras que venham à afetar inocentes que não tem nada a ver com isso. Que façam uso delas, não tenho nada a ver com isso. Minha liberdade foi algo conquistado com luta e sangue ao longo de muitos séculos, para ter de vê-la sendo demolida pelo Estado moderno.
O homem moderno no afã de resolver seus problemas, pede mais soluções ao Estado. O Estado em sua sanha dominadora concede-lhe. O homem moderno “incapaz”, pedindo mais “cuidado” ao seu Estado-babá.
“Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”.
Isso não é novo. Para àqueles que já estudaram teoria do poder, dentro de ciências políticas, sabem que desde Lenin isso já é falado: “Fomente o caos e depois denuncie-o”. “Gere crises e aufira os ganhos decorrentes delas.” Consiste em criar o “caos”, deixar que as pessoas peçam ajuda e depois criar instrumentos que darão mais controle sobre a sociedade. Isso é velho, mas, incrivelmente, no Brasil, a grande maioria das pessoas nunca ouviu falar.
Esse é um princípio imanente à sociedade moderna. Perceba o que aconteceu nos Estados Unidos após o 11 de setembro. Nunca ninguém havia ouvido falar da Nacional Security Agency (NSA). Após o caos, em forma de terror, ter sido espalhado, milhões de americanos se dispuseram à abster-se de suas liberdades individuas em troca de uma maior “segurança”. O que aconteceu? A NSA se tornou o maior mostro na questão de espionagem que já se teve notícia. “Grampos” para todos os lados. Telefones, computadores, pessoas, veículos... Todos, de aliados a inimigos sendo monitorados. Até os neutros, como o Brasil. A partir do caos, mais poder ao Estado que tudo quer ver, tudo quer ouvir, tudo quer saber.
Por fim, o “Big Brother”. E, não, eu não estou falando do programa de televisão.
“Dividir para conquistar”. Essa é a estratégia do Estado socialista moderno. Negros contra brancos, pobres contra ricos, nordestinos contra paulistas, héteros contra gays, o “terceiro mundo” contra o “primeiro”: o “imperialismo”, os “yankees”, etc. Mas no fim das contas, quando esses grupos clamam por mais proteção, quem ganha é sempre o Estado. Cada vez mais dominante, imiscuindo-se na vida privada, nas relações sociais, com legislações cada vez mais intrusivas. Cada vez mais poderoso em face de um cidadão que clama, cada vez mais, por proteção estatal, sem saber que esse é o estratagema no qual está sendo engodado.
Parafraseando Stálin: “Aos burgueses devemos dar-lhes a corda, que farão o laço, com o qual se enforcarão”. Quando todas essas leis e controles começarem a, desgostosamente, nos afetar; lembremos que, fomos nós mesmos que pedimos.
"O Grande Irmão está te observando"
(George Orwell)
Geyson Santos é Bacharel em Direito,
Servidor Público e Pesquisador Independente.
Fonte: JusBrasil
COMENTO: gostei do texto, e lendo os comentários na publicação original - e uma das respostas do autor - penso que ele evitou propositalmente fazer referência à denominada Militância em Ambientes Virtuais (MAV), criada no Congresso do PT de 2011 para não comprometer-se. Quem quiser saber mais sobre o assunto, há um texto do sociólogo Demétrio Magnoli publicado originalmente na Folha, mas que também pode ser lido aqui, ou clicando na imagem, abaixo. Já me referi a esse pessoal no blog, denominando-os de beneficiários da "bolsa-web" em 2013 e em 2014. Afinal, como se pergunta nas investigações: a quem interessa o crime? É muita ingenuidade acreditar que se trata de simples disputa entre "grupos em busca de notoriedade".
O "ato falho" da confissão de uso de pornografia infantil contra adversários indica muito mais do que disputas por audiência. A repetição dos "ataques racistas" coevos a eventos cuja ênfase em sua divulgação não interessa ao atual governo (dizem que Maju é esposa de um diretor da Pepper, agência envolvida no Petrolão; a Thaís Araújo e a Cris Vianna foram ofendidas na época da prisão do senador Delcídio; e depois, a Sheron Menezes foi atacada quando da formalização do pedido de impedimento presidencial). Esperemos que estes outros fatos também tenham seus autores identificados e devidamente punidos, e que não surjam atos de extrema bondade das ofendidas para com seus ofensores. Como li em um comentário a respeito do assunto, se a coisa seguir esse ritmo, com tanta patifaria para ser abafada, vai terminar sobrando até para a Tia Anastácia da versão original do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Imagem do blog Força Militar |
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plataforma VOTENAWEB é uma ferramenta usada por parlamentares para consulta popular de seus projetos, que eles usam como balizadora da vontade do eleitorado e de suas atividades parlamentares.
ResponderExcluirVotem pelo impeachment:
www.votenaweb.com.br/projetos/impeachment
Lembrem-se que milhões de reais dos nossos impostos são usados para pagar uma milícia virtual que possui muitos perfis, que frauda enquetes, que falseia a verdadeira opinião e vontade da população brasileira.
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