por Pedro Marangoni
Cena real, Brasil, Julho de 2013. Dialogo na multidão, filmado por uma emissora de TV após a passagem do carro que levava o Papa Francisco, cerca de dois metros à frente de dois jovens:
— NÃO SEI, deixe-me ver! E procura freneticamente em seu aparelho celular. E desolado:
— Não ... NÃO VÍ ... não pegou ...
Relatório: O planeta é chamado de Terra pelos seus habitantes, os humanos. Estes humanoides pouco evoluíram até que introduzíssemos através de nossos infiltrados o computador e o chip, visando acelerar a busca de soluções para uma melhor administração deste departamento do Sistema Solar tão atrasado. Passado algumas décadas os dados são desanimadores, pois a maioria dos usos populares encontrados para as novas tecnologias o foram para simples distração, diversão eletrônica e comunicação fútil entre os tribais.
Declinando fisicamente diante das telas dos computadores em jogos infantis ou quimeras, os terráqueos acrescentaram mais um proceder psicologicamente perigoso quando finalmente saem às ruas, viajam ou participam de eventos, aventuras, tragédias, ou seja, quando largam o computador e supostamente deveriam voltar a viver com a intensidade animal dos desafios e emoções. Paradoxalmente transformaram-se em um misto de homem-máquina que transportam toda a vivência imediata para o passado, recusando o presente como participante. Diante de algum evento que ocorre, inesperado ou aguardado, os humanos não olham para a cena diretamente, desviam o olhar do real e se concentram em uma pequena tela de seus aparelhos de comunicação, filmando ou fotografando para posteriormente se emocionar ou recordar! Recusam a realidade frente aos seus olhos em troca de um registro eletrônico para ser visto mesmo segundos depois como mero espectador de fatos já ocorridos, como qualquer outro que esteja a milhares de quilômetros!
Uma celebridade, uma tragédia, uma cena romântica, engraçada, triste, provoca o aparecimento imediato dos tais aparelhinhos estendidos à frente e os espectadores ao invés de olharem diretamente a cena com olhos e mentes, coração, emoção, todos manejam freneticamente as teclas e miram fixamente as telinhas que reduzem à polegadas a imensidão visual à sua frente!
Revendo os arquivos do planetinha podemos certificar que os antigos habitantes antes de nossa precipitada intervenção eletrônica, participavam efetivamente dos eventos com seus próprios olhos e mãos livres e posteriormente, emocionados pela realidade vivida, aí sim costumavam se reunir e fotografar ou filmar, criando lembranças para a posteridade, mas como complementos de momentos vividos com intensidade e não como atos de digitação frenética.
Erramos. Eles não estavam preparados.
Fonte: P.A.Marangoni
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