por Pedro Luiz Rodrigues
O problema das empresas estatais é que elas, sob o pretexto de que precisam salvaguardar seus segredos operacionais, tornam-se verdadeiros monstros de opacidade. E num ambiente de sombras coisas muito cabeludas podem acontecer.
O presidente de uma dessas empresas, que conte com uma diretoria flexível, pode fazer o que lhe der na telha. São verdadeiros reizinhos (ou rainhazinhas) do período absolutista. Não têm de prestar satisfações a ninguém, em particular à sociedade.
Quando o dirigente é um gestor temerário, ou coisa pior, sabe que nunca nada lhe ocorrerá, pois ficará sempre protegido pelas inexpugnáveis muralhas do corporativismo. Os malfeitos são ocultados. Não há Justiça, não há Polícia Federal, não há Ministério Público, não há TCU que consiga achar malfeitos nas estatais mais poderosas e levar os responsáveis às barras dos tribunais.
Volto, provocado por impactantes revelações feitas hoje pelo jornal Valor, ao tema Petrobras. A mesma que ainda ontem anunciava na televisão o quanto maravilhosa é, incluindo entre suas grandes obras a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Nenhuma palavra sobre o brutal atraso em sua construção, nem ao fato de que a previsão inicial de investimentos (US$2,5 bilhões) era uma balela. O custo final vai passar dos 20 bilhões de dólares, oito vezes mais.
Mas nosso foco de atenção, agora, é a notícia de que desde que assumiu o comando da Petrobras, Graça Foster tenta desarmar, com a discrição possível, o verdadeiro campo minado que lhe deixou seu antecessor (Sérgio Gabrielli, que foi tirado da empresa em janeiro do ano passado, e secretário no governo da Bahia). As minas são inúmeros contratos, muitos dos quais assinados na área internacional, que não têm bom cheiro nem boa consistência.
É foco particular da atenção da Sra. Foster, contrato assinado na gestão Gabrielli com a Construtora Norberto Odebrecht, no valor de US$ 860 milhões, para prestação de serviços nas áreas de Segurança, Meio Ambiente e Saúde nos Estados Unidos e países da América do Sul e a aquisição de refinaria em Pasadena (Califórnia, EUA). Segundo registrou o Valor, esse contrato vem sendo investigado internamente. O chefe da auditoria, Gerson Luiz Gonçalves, o teria considerado como um dos piores que já vistos na história da empresa.
Segundo o Valor, dos US$ 860 milhões do contrato com a Odebrecht, US$ 500 milhões seriam destinados à refinaria de Pasadena, o que elevaria o investimento total naquela refinaria a US$ 1,68 bilhão. Um ativo cujo valor de mercado atual não chega a 200 milhões de dólares.
A Petrobras não dá um pio sobre o assunto. Não diz quem tomou decisões, quem assinou, os serviços envolvidos. Ao jornal a empresa defendeu seu silencio, por considerar que "os dados pretendidos referem-se a informações empresariais que refletem estratégias negociais, cuja divulgação teria o condão de gerar risco à competitividade da companhia, visto que possibilitaria que outras empresas, no futuro, negociassem operações similares com a companhia em posição privilegiada, prejudicando a capacidade de competição da Petrobras".
Uma boa sessão secreta das Comissões de Assuntos Econômicos e de Infraestrutura do Senado Federal poderia ser a solução para se preservar os segredos empresariais alegados pela Petrobras, sem deixar de prestar contas de seus atos à sociedade.
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