por Lenilton Morato
Quando se diz que estamos em um regime democrático, pressupõe-se que a vontade da maioria deva prevalecer. Afinal, mesmo que democracia seja traduzida por "governo do povo" (embora seja o governo dos Demos, unidade política fundamental ateniense formada pelos cidadãos, sendo aqueles uma subdivisão da Ática) é preciso que a maioria "do povo" decida ou apoie as decisões emanadas pelo governo que foi eleito pelo voto. Democracia é, pois, a vontade da maioria da população representada nas ações de seus representantes que foram eleitos para tal.
O sistema democrático não pode (ou pelo menos não deveria) priorizar ações propostas por minorias, especialmente quando se sabem que essas ações localizam-se no espectro oposto ao das opiniões e expectativas da parcela majoritária da população. Caso ocorra uma situação onde uma pequena parcela dos cidadãos ganha privilégios quase divinos em relação à maioria, decreta-se o fim da democracia de fato e passamos a viver uma democracia de fachada. E é precisamente isto que está ocorrendo no Brasil.
Para que possamos ilustrar o fato, basta que nos voltemos a algumas leis e projetos de leis que, ou estão aprovadas ou serão aprovadas, a fórceps que seja. As cotas para as universidades, o casamento homossexual, a lei anti-homofobia, lei pró aborto, a adoção para gays, a proibição da palmada como forma de educar nossas crianças e mesmo a lei que proíbe o tabagismo em bares e restaurantes, enfim, a lista é grande. Vejam que nenhum desses assuntos foi levado a questionamento por parte da população. Pior! Pesquisas de opinião apontam que a maioria da população é contra essas leis (menos a do tabagismo porque aqui não sabe o significado da palavra liberdade).
O brasileiro não acha certo que gays adotem filhos, que pessoas matem crianças ainda no ventre materno e acreditam que os pais devem decidir como educar seus filhos. Entretanto, leis e mais leis vão sendo empurradas goela abaixo, sem que se questione se é realmente isso o que quer a maioria. Ademais, opinião pública acerca desses assuntos é muito diferente da opinião pública que é publicada em nossa imprensa. Chegamos, então, a outro problema da nossa "democracia".
O cerne da questão é: Quem tem o poder de tomar decisões, fazer uma lei ou de propor uma mudança de comportamento da população (a ponto de chamarem de homofóbico assassino qualquer pessoa que ache que ser gay é errado)? A resposta a este questionamento é simples: os detentores deste poder são ONGs, intelectuais, donos te empresas de jornal, rádio e televisão, jornalistas, atletas e artistas famosos, os chamados formadores de opinião. E o que eles têm em comum? Ora, nenhuma, absolutamente nenhuma dessas pessoas foi eleita para representar a opinião e os desejos da população. No entanto elas nos representam.
Como resultado, cada vez mais uma parcela minoritária dos cidadãos vai angariando direitos que são inimagináveis para os meros mortais, como o direito de não serem criticados ou questionados. E quem lhes deu (e está lhes dando) estes direitos e imunidades? Aquelas pessoas, eleitas por ninguém, mas que fazem um barulho enorme para terem suas demandas atendidas... E conseguem.
Por trás deste aparente conflito, encontra-se a estratégia de conquista de poder por parte do partido e, para fazê-lo, é necessária a desconstrução total do sistema e a reconstrução da nova e maravilhosa ordem revolucionária (os cadáveres da URSS, China, Cuba, Camboja, Laos, Vietnã e Coreia do Norte que o digam). O objetivo final, pois, não é garantir às minorias melhores condições de vida. O foco é a criação de tensões, desconforto e criar forças opostas que entrem em colapso, justificando que um governo cada vez mais centralizador e autoritário ascenda ao poder para poder colocar "ordem na casa". Claro que este governo já está previamente escolhido. Mas como chegamos nesta fase da revolução?
O processo já vem de longa data, ainda na década de 1970 com a infiltração e aparelhamento das universidades, da igreja e da imprensa de pessoas simpáticas à causa e disposta a educarem (doutrinarem) uma nova leva de profissionais que, trinta anos depois, atingiriam o poder. E foi o que aconteceu. A guerra cultural gerou como rebento um organismo auto-renovável e replicante que é capaz de se perpetuar nos setores citados e continuar a fazer a cabeça dos futuros líderes de ONG, jornalistas et caetera, que irão abraçar a causa das minorias, repetindo o ciclo. Para agravar a situação, na grande maioria dos casos essas pessoas realmente acham que estão fazendo o bem, mas não estão.
Muitas outras leis poderiam ser citadas, mas de forma inversa: prisão perpétua, fim dos privilégios para os advogados quanto ao acesso à clientes presos, redução da maioridade penal. Todas elas têm o apoio popular, mas não conseguem sequer serem colocadas à discussão. Por quê? Simples: não há "não eleitos" com interesse na defesa dessas causas, tornando a demanda popular inútil. O quadro, portanto é o seguinte: pessoas que não foram eleitas fazem leis contrárias ao interesse da população e impedem aquelas que a maioria deseja. Interessante não.
Como se não bastasse, qualquer pessoa que se opõem às tentativas de deificação das minorias é acusada de ser preconceituosa, racista ou fascista (pior ainda, conservadora). Aqueles que lutam pela defesa da vontade da maioria são os mais duramente criticados e mesmo criminalizados. São rotulados de ... Antidemocráticos.
A situação é grave e muito preocupante. Infelizmente, poucas pessoas conseguem prestar atenção nos pequenos, porém fundamentais, detalhes do processo.
* Um exemplo primordial da democracia brasileira: agora a TV fechada tem cotas para programação nacional em seus canais, com o objetivo de ... democratizar o produto. Só faltou o governo (que não deveria se meter no setor de entretenimento de forma alguma) consultar aqueles que pagam pela programação, o assinante que não foi ouvido jamais acerca do assunto.
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