sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Górgona Medusa

por Péricles da Cunha
Eu não assinei o manifesto e os meus interlocutores mais próximos sabem disso desde o início. Não por falta de solidariedade aos companheiros que estavam na frente de combate e que, por isso, continuam a ser hostilizados, porque eles sabem que sempre estive do lado deles, mas porque creio que este não é o melhor caminho. E luto para convencê-los disso desde os tempos da Constituinte quando tentei influir para que se mudasse o papel dos militares, para que assumissem um papel mais ajustado às nossas demandas e aos nossos recursos. Não gosto de ficar olhando para trás. Cada vez mais convicto fico de que se adotada a via indireta, hoje teríamos supridas todas as nossas demandas por pressão da sociedade reconhecida.
Na promulgação da Constituição de 1988, na frente de cinco ministros quatro estrelas, o todo poderoso Ulysses Guimarães culpou-nos pelo assassinato de Rubens Paiva, chamando-nos de facínoras. Escrevi um artigo para “O Estado de S.Paulo” (A mulher de Lot - 18/10/1988), comparando-o àquela personagem bíblica que ao olhar para trás se transformou em uma coluna de sal (Gênesis 19, 26): “Violências e desrespeitos aos direitos humanos ocorreram no passado recente, mas não é justo pinçar um caso reconhecidamente lamentável e condenável, para avivar feridas que a todos interessa ver cicatrizadas. Por acaso não era também sociedade o pracinha de 18 anos que foi pulverizado por um carro-bomba enquanto guarnecia o Quartel do Ibirapuera?”.... 
Não será avivando feridas do passado que construiremos uma grande nação, não será lembrando a Intentona de 35 ou os momentos difíceis do regime militar que resolveremos nossos problemas”. “Pensei que a Constituinte tivesse nos ensinado a olhar para a frente, mas o seu presidente deu uma demonstração de que pelo menos os nossos políticos continuam propensos a obsessões retrospectivas, com o futuro limitado à próxima eleição. Talvez esta atitude seja fruto de incertezas; quando não se tem seguro o presente, é difícil pensar o futuro, é mais fácil cair na recriminação mútua. Não se alcança a grandeza buscando explicação para a própria debilidade. A grandeza se alcança fazendo o difícil e o difícil é evitar o atalho da demagogia e enfrentar o duro caminho por onde só transitam os estadistas”.
Passados quase 25 anos, recorro à mitologia grega para tentar convencer os companheiros. De lá tiro a Górgona Medusa, criatura representada por um monstro feroz de aspecto feminino. Górgona, apavorante, terrível. Seu olhar transformava em pedra aqueles que a fitavam. É o símbolo da mulher rejeitada, e por sua rejeição incapaz de amar e ser amada. Odeia tanto os homens como as mulheres, e estas pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para ser monstro. Medusa é a própria infelicidade, seus filhos não são humanos, nem deuses, são monstros. Seu semblante é o símbolo da histeria forjada com ira, raiva, fúria, ódio e rancor.
E o atual ícone desta campanha contra as Forças Armadas é a ministra Maria do Rosário que incapaz de pensar o futuro se atém a cultivar a ira, a raiva, a fúria, o ódio e o rancor. A sua figura até lembra a mais conhecida das representações da Górgona Medusa, a de Arnold Bocklin (1878). Notem a semelhança.
Diz a lenda que Perseu foi o único que conseguiu vencê-la. Para decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar, Perseu se sustenta com suas sandálias aladas e mira a Górgona através da visão indireta captada pelo seu escudo espelhado. 
Os militares não fizeram outra coisa neste quarto de século do que desafiar a Górgona encarando seus olhos frios da ira, da raiva, da fúria, do ódio e do rancor. E o resultado foi aquele: petrificaram no sentido de que nada mais fizeram do que se entrincheirar atrás da Lei da Anistia e se lamuriar sobre o revanchismo.
O que venho propondo desde aquele tempo é que sigamos o exemplo de Perseu, a visão indireta para decepar a cabeça dessa Górgona. É sairmos da trincheira e partirmos para a luta, para fazermos aquilo que já demos inúmeras provas de competência. Aquilo que propus naquele artigo do Jornal do Brasil (“Por trás do Urutú” - 25/10/1987): “Não é uma nova intervenção que está na cabeça da maioria dos militares, mas o desejo de participar ativamente da luta pelo desenvolvimento social”. Propus porque estava certo de que em pouco tempo assumiríamos uma posição relevante que faria a sociedade reconhecida pressionar pelas nossas demandas. Em poucos anos poderíamos fazer uma revolução silenciosa dentro do jogo democrático, dentro da lei.
Agora, para isso, duas coisas deveremos fazer. A primeira é arrancarmos dos nossos corações as raízes da amargura de que fala o Apóstolo Paulo, na sua carta aos Hebreus: “Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos”. E a segunda é sairmos da zona de conforto, seguir o conselho de Felipe Gonzáles: “No se modifica la realidad desde la orilla. Si quieres modificarla, hás de mojarte”. Somente assim conseguiremos contribuir eficazmente para a construção de um Brasil melhor. 
O nosso inimigo não é o Lula, ícone deste projeto de poder que aí está, mas a lassidão moral que, conjugada com a miséria, leva milhões de brasileiros a relevar o mar de lama que estão gerando para mantê-los no poder. A lassidão moral que forma o terreno fértil para o surgimento de novos Lulas e para que projetos alienígenas cravem suas raízes no solo pátrio.
A revolução silenciosa, para a qual estou propondo a elaboração de uma agenda, não precisará das armas que faziam revolução, mas daquelas que dispomos e que são mais eficientes nos tempos em que vivemos. O Filho do Senhor dos Exércitos, quando dava as últimas instruções aos seus discípulos, ao encerrar a Sua missão redentora, disse-lhes: "Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mateus 10,16).
Poderemos ser como Ele nos mandou: “astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas”, ou seja, usarmos a visão indireta de Perseu para decepar a cabeça da Górgona que ameaça transformar este país em uma grande Cuba. Esta, a essência da revolução silenciosa que poderemos iniciar. Acesse Poder Cidadão e verá uma proposta ajustada ao nosso perfil que poderá servir de base para o início deste debate.
O Brasil não pode ficar oscilando entre ingênuos e oportunistas surtos de juras de legalismos e retardados faniquitos de indignação. Porque não tem mais tempo para perder. E muito menos, nós, pobres mortais que já passamos da metade de uma existência que só Deus sabe quando terminará.
O que me leva a propor essa revolução silenciosa é a convicção de que possuímos a massa crítica necessária para iniciar tão grandioso empreendimento. Somos frutos de uma mesma árvore. Estamos espalhados pelo território nacional, mas mantemos uma identidade ideológica pautada pelo civismo e pelo amor ao Brasil, acima de tudo.
Com todo este potencial, estamos marginalizados e nos limitamos a nos indignar enquanto o país vai perdendo o tempo que não mais dispõe e, nós, desperdiçando uma geração que muito tem a dar porque muito recebeu.
Enquanto isso, o Brasil vem sendo tocado por políticos menores que se preocupam unicamente com a próxima eleição, com seus interesses e dos grupos que os financiam e que se perpetuam no poder através de uma democracia fajuta, mantida por massas de miseráveis, sustentados por verbas públicas, na mais rudimentar das práticas assistencialistas.
O grande problema que enfrentamos foi certamente criado por nós, militares, que durante o regime militar não soubemos consolidar um processo eficiente de geração de líderes, gente capaz de praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações.
A visão indireta que vai decepar a cabeça dessa Górgona que nos atormenta nas últimas décadas é esta revolução silenciosa, a revolução brasileira que os Tenentes não conseguiram: transformar o brasileiro em cidadão para escrever o projeto de nação, necessário para um crescimento ordenado, auto sustentado, duradouro e capaz de construir um Brasil melhor.
Péricles da Cunha é Ten Cel do Exército.
Fonte:  Alerta Total
COMENTO: lendo o final do texto, lembrei de um velho instrutor no meu tempo de EsSA que volta e meia repetia. Vocês terão anualmente um pelotão de cerca de trinta soldados nas mãos. Vocês tem que se esforçar para fazer de cada soldado um cidadão aliado!  Eu me esforcei no sentido de cumprir essa 'missão' do meu amigo Renê.
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