Prezado Amigo
Tomei conhecimento através de vários comunicados de leais Soldados Brasileiros, da proibição em todas as Unidades Militares do País das tradicionais comemorações do dia 31 de março, dia da Contra-Revolução que salvou o Brasil de ser hoje uma miserável e torturada Cuba. Pelos jornais – melhor seria dizer folhetins financiados pelo dinheiro público – soube que até mesmo o General de Exército Augusto Heleno teve que renunciar às homenagens do dia.
Há somente três anos dirigi a palavra a centenas de oficiais das Forças Armadas no Comando Militar do Leste a convite de seu então Comandante, Gen Ex Luiz Cesário da Silveira Filho e do Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa, Gen Ex Paulo Cesar de Castro. Pela primeira vez um ex-comunista falava à alta oficialidade sobre o real significado da Contra-Revolução de 64. Hoje, três anos depois, nem mesmo vocês podem se dirigir a seus colegas de armas.
O que mais me chocou, no entanto, foi a notícia das ocorrências no 23º BC, oportunamente denominado Batalhão Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, onde, como o caro amigo sabe, estive preso de 10 de outubro a 20 de dezembro de 1965.
Imagino como o amigo dever ter sentido com a recusa, triste ao que consta, do Comandante que, ao obedecer a ordem superior, cancelara a justíssima homenagem ao Patrono da unidade. Como o conheço bem, um homem sentimental e entusiasmado pelos seus feitos, imagino a decepção que dever ter sentido com esta recusa.
Na época de minha prisão o hoje Ilustríssimo Patrono do Batalhão, presidia nosso País, eleito pelo Congresso Nacional contando inclusive com o voto do ex-presidente JK, então Senador por Goiás. Lembro como nós, da esquerda ‘pelo povo’ ficamos decepcionados com o rapidíssimo desenrolar dos acontecimentos nos últimos dias de março e primeiros de abril de 64. Não conseguíamos acreditar que a população do Brasil em peso apoiava um movimento de ‘milicos reacionários’ que tomavam o poder para ‘manter as oligarquias e os privilégios, contra os legítimos interesses do povo’ que, por alguma mágica ou alquimia, só nós sabíamos quais eram.
Por estas sendas cheguei a Vice-Presidente da UNE e fui incumbido de levar a palavra da Une – e sigilosamente da AP, Ação Popular – aos estudantes do Ceará. Minha prisão nesta unidade serviu-me de lição, muito embora casmurro que sempre fui, levei mais dois anos para ver a degradação à qual a militância comunista me levara, e só ao desencadearem a ‘luta armada’ consegui perceber.
Mas certamente uma das maiores lições foi ter o privilégio de conhecer seu ilustre pai, com sua vasta cabeleira branca que me visitara sem poder me dirigir a palavra, nem eu a ele. Não obstante, percebi em seus olhos a simpatia e a confiabilidade que pude atestar pouco tempo depois. Quando fui solto me dirigi à loja As Duas Torres, de propriedade de seu pai e fui tratado com carinho, respeito e confiança a tal ponto de me oferecer o quanto eu precisasse para voltar ao sul sem mesmo aceitar um recibo, pois, como me disse, irmãos não deixam de pagar a irmãos – ele e meu pai eram maçons.
Caro amigo, não se deixe abater pelos acontecimentos de ontem, a verdade sempre prevalecerá, apesar de certas ‘comissões’ que jamais aceitariam um testemunho como o meu.
Um grande e afetuoso abraço do amigo
HEITOR DE PAOLA
Ex-preso político do Batalhão Castelo Branco
Fonte: Heitor de Paola
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