por Humberto Aquino,
Brasília, DF
Dona Esther, ariana nascida em Tuparaí, 1º distrito de Itaqui, em 28 de março de 1921, nesta segunda-feira de já outro século atinge seu nonagésimo aniversário.
Na pia batismal e na certidão de nascimento recebeu o nome de Esther Gonçalves dos Santos, mudando para Esther dos Santos de Aquino, ao casar com meu pai, Mercês Marques de Aquino, no já distante setembro de 1946. Desse casamento, que durou cinqüenta e cinco anos, até a morte de seu cônjuge, em outubro de 2000, nasceram dois filhos, que casados já lhe brindaram com dois netos, duas netas, três bisnetas e um bisneto.
Minha mãe teve seus rudimentos culturais adquiridos na Escola XV de Novembro, lá mesmo em Tuparaí e aos vinte e seis anos casou com um peão campeiro, seis anos mais velho, peão esse que se transformou em carpinteiro e mudou para a cidade, para propiciar uma possível ascensão social a seus filhos que, se na campanha continuassem, talvez nem passassem, também, do segundo livro.
Mas Dona Esther não é de se laçar com sovéu curto, pois é extremamente lépida, ágil e a imobilidade, se a ela for aplicada, certamente a matará.
Dona de casa dedicada à família, em todos os sentidos. Ainda na década de sessenta meu pai, à época dos IAP... – IAPB, IAPC, IAPI, IAPETEC, etc. – sofreu um acidente que lhe impediu de trabalhar por quase dois anos e o instituto previdenciário ao qual era vinculado, o IAPI – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários – só lhe pagou uns dois ou três meses, acredito que nem isso, só vindo a receber o que lhe era devido mais de dois anos após tendo, inclusive que entrar na justiça e também teve de ir a Porto Alegre para resolver o impasse.
Na pia batismal e na certidão de nascimento recebeu o nome de Esther Gonçalves dos Santos, mudando para Esther dos Santos de Aquino, ao casar com meu pai, Mercês Marques de Aquino, no já distante setembro de 1946. Desse casamento, que durou cinqüenta e cinco anos, até a morte de seu cônjuge, em outubro de 2000, nasceram dois filhos, que casados já lhe brindaram com dois netos, duas netas, três bisnetas e um bisneto.
Minha mãe teve seus rudimentos culturais adquiridos na Escola XV de Novembro, lá mesmo em Tuparaí e aos vinte e seis anos casou com um peão campeiro, seis anos mais velho, peão esse que se transformou em carpinteiro e mudou para a cidade, para propiciar uma possível ascensão social a seus filhos que, se na campanha continuassem, talvez nem passassem, também, do segundo livro.
Mas Dona Esther não é de se laçar com sovéu curto, pois é extremamente lépida, ágil e a imobilidade, se a ela for aplicada, certamente a matará.
Dona de casa dedicada à família, em todos os sentidos. Ainda na década de sessenta meu pai, à época dos IAP... – IAPB, IAPC, IAPI, IAPETEC, etc. – sofreu um acidente que lhe impediu de trabalhar por quase dois anos e o instituto previdenciário ao qual era vinculado, o IAPI – Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários – só lhe pagou uns dois ou três meses, acredito que nem isso, só vindo a receber o que lhe era devido mais de dois anos após tendo, inclusive que entrar na justiça e também teve de ir a Porto Alegre para resolver o impasse.
Foi um período muitíssimo doloroso para todos nós, não só pelo sofrimento físico de meu pai, também pela falta de dinheiro do arrimo da família. Não pudemos nesse período, eu e meu irmão, desfilarmos no dia da Independência, pois não havia dinheiro para a aquisição dos tênis conga, dos jalecos e das calças azuis e, além disso o sonho de integrar a banda do São Patrício foi por água abaixo, pelo preço do uniforme.
Mas minha mãe, entretanto, não se achicou. Fazia rapadurinhas, docinhos, bolinhos, pirulitos, que entregávamos nos bares e bolichos de Itaqui. Seu Luís Camargo, açougueiro, fiava a carne, de segunda, é lógico, por ser mais barata e a ela eram acrescidas vísceras, que também eram mais em conta, como tripas, cabeças, fígado, rins e tudo o mais que não aumentasse ainda mais a conta. Desse período, apesar dos maus bocados vividos, ainda guardo boas recordações, recordações de orgulho de uma dona de casa que, ao ver o barco adernar, ao invés de se ajoelhar e clamar aos céus por socorro e rezar pedindo proteção, pegou nos remos, assumiu o timão e dirigiu esse barco, enfrentando todas as adversidades e todas as tempestades a seguro porto, sem que nada de mal acontecesse a nenhum passageiro dessa embarcação.
Essa é dona Esther, minha mãe. Católica praticante, suas práticas religiosas são sinceras, humildes e de extrema pureza. Viu seu maior sonho ser realizado: visitar o santuário do Padre Reus e também o túmulo do Padre Cláudio Mascarello, capelão da Rede Ferroviária, que em todas comemorações de São João oficiava missa na capela São Pedro.
Moradora há mais de cinqüenta anos à Rua Coronel Fernandes, esquina Antônio Neto, quando para lá mudamos, a vizinhança ainda era parca e espalhada e as touceiras de maricás e unhas-de-gato eram componentes majoritários dos terrenos do bairro nos finais dos anos cinquenta e na década de sessenta.
Dona Esther é extremamente conhecida, pois ela se faz conhecer. Se não a visitarem, ela visita, mesmo quem não a visita. Quando menos idosa não se pejava em andar a pé a cidade toda, pois não tinha paciência em esperar os ônibus, raríssimos em quantidade, demorados nos horários e bastantes antigos.
Quando da febre das tele-motos, dona Esther mais uma vez não se achicou e, até pouco tempo, era fiel passageira desse meio de transporte, rápido, barato mas, paradoxalmente, nem sempre seguro.
Essa aí é minha mãe, minha primeira alfabetizadora, pois antes dos cinco anos, graças a ela aprendi os rudimentos da leitura, ainda pela cartilha do “B + A = BA”, ensinamento basilar, que jamais me afastou dos livros, do letramento e da leiturabilidade. Com ela também aprendi a amar, pois como nunca a vi enraivecida ou eivada de rancores, rogando pragas ou tramando maldades de qualquer natureza, fiquei vacinado contra tais práticas e tais comportamentos.
Desejo, enfim, de coração, do meu e todos os meus, toda a sorte de felicidades para minha mãe, dona Esther, neste seu nonagésimo aniversário, incluindo nesses desejos meus paralelos e descendentes, filhos, noras, netos, seus cônjuges e bisnetos: Josenilda (Jô), Janaína (Jana), Rafael (Rafa), Érico, Isabela (Isa), Adalberto (Bebeto), Maria, Timóteo, Luciane, Rogério, Juliana (Juju), Carolina (Carol), Camila e Eduardo.
Com sua bênção, minha mãe! Feliz aniversário!
Mas minha mãe, entretanto, não se achicou. Fazia rapadurinhas, docinhos, bolinhos, pirulitos, que entregávamos nos bares e bolichos de Itaqui. Seu Luís Camargo, açougueiro, fiava a carne, de segunda, é lógico, por ser mais barata e a ela eram acrescidas vísceras, que também eram mais em conta, como tripas, cabeças, fígado, rins e tudo o mais que não aumentasse ainda mais a conta. Desse período, apesar dos maus bocados vividos, ainda guardo boas recordações, recordações de orgulho de uma dona de casa que, ao ver o barco adernar, ao invés de se ajoelhar e clamar aos céus por socorro e rezar pedindo proteção, pegou nos remos, assumiu o timão e dirigiu esse barco, enfrentando todas as adversidades e todas as tempestades a seguro porto, sem que nada de mal acontecesse a nenhum passageiro dessa embarcação.
Essa é dona Esther, minha mãe. Católica praticante, suas práticas religiosas são sinceras, humildes e de extrema pureza. Viu seu maior sonho ser realizado: visitar o santuário do Padre Reus e também o túmulo do Padre Cláudio Mascarello, capelão da Rede Ferroviária, que em todas comemorações de São João oficiava missa na capela São Pedro.
Moradora há mais de cinqüenta anos à Rua Coronel Fernandes, esquina Antônio Neto, quando para lá mudamos, a vizinhança ainda era parca e espalhada e as touceiras de maricás e unhas-de-gato eram componentes majoritários dos terrenos do bairro nos finais dos anos cinquenta e na década de sessenta.
Dona Esther é extremamente conhecida, pois ela se faz conhecer. Se não a visitarem, ela visita, mesmo quem não a visita. Quando menos idosa não se pejava em andar a pé a cidade toda, pois não tinha paciência em esperar os ônibus, raríssimos em quantidade, demorados nos horários e bastantes antigos.
Quando da febre das tele-motos, dona Esther mais uma vez não se achicou e, até pouco tempo, era fiel passageira desse meio de transporte, rápido, barato mas, paradoxalmente, nem sempre seguro.
Essa aí é minha mãe, minha primeira alfabetizadora, pois antes dos cinco anos, graças a ela aprendi os rudimentos da leitura, ainda pela cartilha do “B + A = BA”, ensinamento basilar, que jamais me afastou dos livros, do letramento e da leiturabilidade. Com ela também aprendi a amar, pois como nunca a vi enraivecida ou eivada de rancores, rogando pragas ou tramando maldades de qualquer natureza, fiquei vacinado contra tais práticas e tais comportamentos.
Desejo, enfim, de coração, do meu e todos os meus, toda a sorte de felicidades para minha mãe, dona Esther, neste seu nonagésimo aniversário, incluindo nesses desejos meus paralelos e descendentes, filhos, noras, netos, seus cônjuges e bisnetos: Josenilda (Jô), Janaína (Jana), Rafael (Rafa), Érico, Isabela (Isa), Adalberto (Bebeto), Maria, Timóteo, Luciane, Rogério, Juliana (Juju), Carolina (Carol), Camila e Eduardo.
Com sua bênção, minha mãe! Feliz aniversário!
Recebido por correio eletrônico do meu Amigo Humberto Aquino
COMENTO: o Jornal A Verdade, da cidade de Itaqui, tem o Aquino como colaborador desde seu número um, há dezessete anos, pois seu primeiro exemplar foi às bancas em 29 de janeiro de 1994. É de autoria, dele o slogan do jornal: "QUE A VERDADE PREVALEÇA SOBRE TUDO E SOBRE TODOS'! Pois o jornal A Verdade, publicou no sábado (26/3) e eu não poderia deixar de repercutir aos meus amigos, esse lindo texto de meu Amigo descrevendo a excepcional trajetória de vida traçada por sua Mãe. Quero aqui, também, me incluir entre os "paralelos" do Aquino e expressar meus Parabéns a ela por seus anos bem vividos e fazer votos de que Deus permita que ela continue por muitos anos difundindo esse primoroso exemplo de como viver a vida. Meus respeitos, Dona Esther e Feliz Aniversário!!
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